Londres 23: 45

Estava escuro naquela noite. Se fosse um ser humano normal, talvez a garota não conseguisse enxergar um palmo na frente do nariz. Mas mesmo que não enxergasse, seus pés continuariam a obrigá-la a correr e lutar por sua sobrevivência. Ela era uma menina durona, mas pela primeira vez na vida, estava assustada por estar sozinha. Seu bando estava longe dali.

Como podia ter sido tão idiota em deixar isso acontecer? Um lobo não sobrevive sem a sua alcatéia, e ela tinha sido estúpida o bastante para andar por aí sozinha. O que não sabia, é que estava sendo seguida por dias e não havia sido realmente um descuido de sua parte e sim de um plano elaborado previamente do qual ela era a vitima.

A garota loba ainda corria pela calçada molhada pela chuva, chocando suas botas de combate contra as poças de água. Os prédios antigos de Londres deixavam tudo ainda mais assustador, como se o lendário serial killer ainda estivesse caminhando por ali procurando alguém para matar. Mas agora ela era a presa. Podia sentir os outros lobisomens chegando perto. De vez em quando um lhe arranhava a costela e desaparecia rapidamente, e antes que ela pudesse se curar, era ferida de novo.

Estava prestes a cair e não adiantava rosnar; quem quer que estivesse atrás dela, não estava com medo. Respirava com dificuldade, e suas forças estavam se esvaindo. Seus joelhos finalmente cederam quando um dardo envenenado atingiu sua jugular. Podia sentir sua garganta queimar enquanto o wolfsbane invadia seu sangue. Ela gritou de dor, em um uivo agonizante de desespero e não viu mais nada.


Scott McCall acordou aos gritos. Aquele pesadelo havia sido muito real. Ele não havia conseguido ver o rosto da garota, mas havia sentido cada parte de sua dor. Sua mãe abriu a porta do quarto e suspirou preocupada, ao mesmo tempo em que demonstrava compreensão. Ela sabia do mundo em que ele vivia, mas nunca iria conseguir entender o que realmente acontecia no mundo sobrenatural.

Ele pegou sua moto e se dirigiu para o velho prédio onde Derek morava, sem saber porque havia pensado em ir até lá. Talvez ele estivesse dormindo; já era de madrugada e ele acabaria com Scott se ele o perturbasse. Mas não foi nada disso que aconteceu. Quando chegou lá, Derek estava acordado e parecia bem zangado com alguém que, graças a Deus, não era ele.

Scott fez um barulho com a garganta, para anunciar que estava ali. Derek levantou a cabeça.

- O que você quer? – Perguntou impaciente. Sua voz soou alta pelo espaço vazio, amplo e enferrujado.

Scott olhou para o garoto que Derek segurava pelo braço antes de responder.

- Eu tive um sonho estranho.. – Scott começou a dizer.

Derek rolou os olhos.

- Eu tenho cara de psicólogo? – Respondeu – Procure o seu chefe vodu!

- Mas tinha lobos nele – Scott disse – E uma garota...

O menino olhou para ele.

- Você é Scott McCall? – Perguntou.

- Sim..

- Vim até aqui procurando por você. – Ele disse, com um sotaque carregado. – Jackson me mandou.

- Jackson? – Scott perguntou. Ele não via Jackson desde que ele havia se mudado para Londres. O que poderia ter acontecido? – Por qual motivo?

- Tem um alfa novo aqui na cidade. – Ele tentava explicar, enquanto Derek o fuzilava com os olhos. – Ele quer me matar para tomar o meu bando. Jackson disse que você podia ajudar...

- E daí? – Derek disse – Isso não é problema meu!

- Derek! – Scott brigou – Porque esse alfa veio até Beacon Hills? – Perguntou ao garoto, enquanto caminhava até ele. – Se ele quer te matar, porque se daria ao trabalho de sair de Londres e vir até aqui?

- Porque ele sabe sobre você.

Scott arregalou os olhos.

- Sim – O garoto continuou. – As histórias sobre o alfa genuíno chegaram até nós.

- Olha, sinto muito – Derek disse, sem vontade. – Mas não eu não tenho nada a ver com isso. Não sou mais um afla, não posso ajudar.

- Mas você é meu amigo! – Scott disse e olhou para Derek, pedindo silenciosamente que ele tomasse algum partido.

- Olha aqui, eu não vou ajudar um loirinho inglês metido só porque ele é amigo do Jackson. Sabe quanto trabalho aquele cara me deu?

- Por favor! – O garoto implorou. – Ele levou a minha namorada!

Ele se ajoelhou aos pés de Derek. Scott podia ver as lágrimas escorrerem pelos olhos azuis do garoto.

- Hey você.. – Ele se aproximou.

- Lewis Stark.

- Ok, Lewis. Nós vamos ajudar. – Scott olhou para Derek, que não parecia feliz em arranjar mais problemas. – Parece que você a ama.

- Sim ! – Lewis tocou o cordão em seu pescoço e fechou os olhos. A luz da lua refletiu em seu pingente e chamou a atenção de Derek.

- Onde conseguiu isso? – Perguntou, agora bem atento à conversa.

Lewis olhou para ele.

- Ela me deu. – Respondeu.

Derek uniu as sobrancelhas, enquanto olhava a tríscele dourada e brilhante que Lewis segurava.

-Qual o nome dela? – Perguntou. - Qual é o nome da sua namorada?

Lewis se levantou e disse bem sério:

- Cora. O nome dela é Cora Hale.

Scott e Derek trocaram um olhar de imediato.

- E se for uma armação? – Ele disse. – Se você for do bando desse alfa e estiver nos levando para uma emboscada que irá matar todos nós?

- Você sabe que estou falando a verdade ! – Lewis se levantou. – Consegue sentir, não consegue? O cheiro dela em mim.

Scott sabia que Derek estava errado. Ele podia ouvir o coração de Derek acelerar de raiva e o barulho dos ossos da mão ao estalando. Lewis estava dizendo a verdade e Cora estava mesmo em perigo.

Lewis compartilhava do mesmo sentimento de raiva. Seus olhos azul-elétricos estavam frios e medonhos quando Scott olhou dentro deles, e ele sentia que poderia ser congelado por eles.

Quem quer que tivesse levado Cora, iria se arrepender feio de ter feito aquilo.

Não importa o quão alfa ele fosse.


- Outro alfa ? – Stiles perguntou à Scott durante a aula de economia. – Ai meu deus, será que não poderemos viver mais nenhum dia de nossas vidas sem pensar que alguém do mal estará lá fora pronto para fazer churrasquinho de Stiles?

- Ele não quer matar você, Stiles – Scott suspirou. - Ele quer que o Lewis me entregue. E depois vai matar nós dois.

- Ta, mas eu não sei se você percebeu, que sempre acabam querendo me matar também. Sabe, essas pessoas malvadas, elas não tem coração, Scott. – Ele disse rápido e desesperado. – Elas vão querer matar você, eu, e se você tiver uma vaca, vão querer matar a vaca também!

- Stilinski e McCall ! – Gritou o professor - Vou matar vocês dois se não calarem a boca!

- Desculpe treinador. – Scott disse, se endireitando.

- Viu – Stiles sussurrou – Eles querem nos matar! Pessoas maaalvadaaas!


O sinal tocou, anunciando o final da aula, e Scott e Stiles se levantaram ao mesmo tempo em que um grito ensurdecedor pode ser ouvido pelo prédio.

Todos os alunos correram na direção dos gritos. O treinador tentava controlar todos que estavam em pânico.

- Abram caminho! – Ele dizia – Enquanto passava pelos estudantes que estavam parados no vestiário masculino. – Meu Deus.

Todos olhavam para o chão manchado de sangue. Um garoto do time de lacrosse estava caído no chão, pálido e sem vida. Ele tinha uma expressão de pânico no rosto e sua garganta estava rasgada.

Scott seguiu a linha de sangue até a parede. Havia um desenho nela, escrito com o próprio sangue. Um triângulo.

- O que isso significa? – Ele pensou alto. Ele olhou para Stiles, lembrando do que o amigo havia acabado de lhe falar sobre morte.

Stiles parecia ter se petrificado enquanto olhava para o corpo.

- Eu sabia. – Ele disse em voz baixa, sem nenhum tom de ironia desta vez.