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Olá, é com muito prazer que eu vos trago mais uma adaptação de um livro que eu gostei por demais vamos dizer assim. Espero que vocês se divirtam assim como eu me diverti.

Disclaimer: Nem a história e nem os personagens são de minha autoria. Atenção: a história contém cenas de violência, sexo e tortura. Estejam avisados.

Os personagens pertencem ao tio Kishimoto

Livro: Esposa Cativa - Jessica Trapp

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Esposa Cativa

Classificação +18

Primeiro Capítulo

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Lady Sakura não se importava por ter sido banida para a torre norte do castelo, que cheirava a bolor.

Estremecendo sob a emoção da rebeldia, atirou o manto no piso de tábuas, aboletou-se nua em um banco de três pernas e ergueu um de seus muitos pincéis para captar o que via no espelho.

Sozinha, isolada do resto das pessoas no castelo, adorava poder se desfazer das roupas que a definiam como um objeto nas mãos dos homens. Sua recusa em se casar e a insistência em ingressar no convento não agradara nem um pouco a seu pai.

O aroma de óleo de lavanda inundava o ar, enquanto ela dava pinceladas no pergaminho, transformando o quarto onde estava aprisionada em santuário. Ali podia pintar. E sonhar. Ali estava livre das exigências e deveres da sociedade.

Um lastro vermelho se estendia da ponta do pincel: um rastro escaldante sobre a figura pintada de uma jovem dama com as pernas entreabertas e cabelos de um ruivo estranho e pálido, lembrando muitos à pétalas cor-de-rosa . Um auto-retrato de Sakura despida, feito enquanto ela se mirava no espelho.

Uma pintura muito mais lasciva e atrevida do que as várias outras de santos e anjos que ocupavam, de maneira desordenada, as paredes do cômodo.

A barra de ferro passada na porta do quarto foi sacudida, fazendo Sakura dar um pulo e borrar uma pincelada.

— Diabos carreguem quem quer que seja! — praguejou, correndo como louca para cobrir a tela e atirar o manto sobre o corpo antes que o intruso descobrisse o tema de sua pintura.

O manto dançou sobre seus tornozelos no instante em que a porta foi escancarada. O banquinho de três pernas oscilou e caiu.

— Sakura, você precisa nos ajudar!

Sua irmã Karin entrou esbaforida, trajando um amassado vestido de noiva de mangas largas, azul e prateado. Um grande arranjo com véu pendia de seus cabelos e estava para cair. As tranças ruivas dançavam em seus ombros, enquanto o arminho nas bordas do vestido soltava fiapos no ar.

Com o coração batendo forte, Sakura protegeu sua pintura como uma mãe protegeria seu filho. Fazia um ano que fora banida para aquela torre porque desejava ter uma vida própria e uma oportunidade de abrir caminho no mundo.

Desafiara o pai recusando-se a casar, e lhe dissera com audácia que fugiria para ingressar em um convento. Caso o pai descobrisse suas obras eróticas, iria atirar na fogueira seu material de pintura. E se Danzou, o bispo da cidade, as encontrasse, ela seria atirada a fogueira.

— Meu noivo... Uchiha... O casamento...

As palavras de Karin saiam aos botões, sua voz cada vez mais histérica. Mechas de cabelos vermelhos escapavam das tranças cuidadosamente penteadas, como se ela tivesse tentado arrancar os cabelos. O Arranjo da cabeça desabou para um lado, o véu prendeu desenxabido, preso apenas por um grampo.

Atirando o pincel em um jarro com óleo de lavanda, Sakura tratou de ficar composta enquanto a irmã se aproximava.

— O casamento foi hoje de manhã, não foi? — perguntou. Sakura tentara ouvir os gritos de júbilo que deveriam ter enchido os corredores horas antes, e como não conseguira, imaginara que a cerimônia tivera poucos convidados.

— Papai... A floresta... Nascer do sol... — Com as mãos trêmulas, Karin andava de um lado para o outro. Quase tropeçou em uma prancha de madeira que exibia a pintura do nascimento de Cristo, e que secava a um canto. — Os homens... As armas...

Sakura apertou os lábios; sua preocupação com as pinturas eróticas desapareceu, porque não tinha sentido. Karin estava envolvida demais com a própria angústia para dar atenção à arte de qualquer natureza.

— Respire fundo, irmã.

Obedecendo, Karin, puxou a manga do manto de Sakura, coberto de manchas de tinta.

— Papai foi capturado! — conseguiu finalmente dizer. Sakura sentiu uma garra de gelo apertar seu ventre.

— Santo Deus! O que aconteceu?

— Papai armou uma emboscada para os convidados quando se dirigiam para cá, e o Fiscal o tomou como refém.

O Fiscal.

Sasuke Uchiha, conde de Sasuke . Um corsário de navio de guerra, um homem comandado pelo rei para aniquilar contrabandistas e rebeldes.

O noivo de sua irmã.

— Maldição — praguejou Sakura, lembrando com uma careta da surra que o pai lhe dera na última vez em que dissera impropérios em voz alta.

Apertou os ombros da irmã. O Fiscal punia qualquer um que ousasse se rebelar contra a autoridade do rei. Diziam que matara tripulações inteiras de navios e confiscara cargas honestas, assassinando e roubando sempre em nome da Coroa.

Sakura e o pai tinham lá suas divergências, mas ele continuava sendo seu pai, e ela não queria vê-lo destruído nas mãos de um aventureiro.

— Papai tentou impedir o casamento — balbuciou Karin.

O medo se transformou em fúria. Sakura sentiu uma onda de frustração dominá-la por estar presa em uma torre e saber tão pouco sobre os acontecimentos no castelo.

— De todas as coisas idiotas... Papai é um cabeça-dura, pode crer! Por que diabos planejou uma emboscada para o conde? Pensei que queria que ele se casasse com você.

E você sempre faz o que lhe ordenam, concluiu em pensamento.

— Planejou. Mas eu...eu...

Karin deixou que lágrimas deslizassem por sua face pálida em forma de coração, até o queixo delicado. Sakura resistiu ao impulso de sacudir a irmã.

— Conte-me — ordenou.

— Sasuke Uchiha é um an... animal! Matou sua outra esposa a sangue-frio. Mas o rei ordenou que se casasse com alguém da nossa família. — Karin cobriu os olhos com as mãos e começou a soluçar. — Não queria desposá-lo... e disse a papai... e...

— Ora, ora...

Girando a irmã pelos ombros, Sakura a conduziu até a grande cama de dossel, sentou-se nela e a embalou enquanto Karin balbuciava de maneira incoerente. Suas sobrancelhas tinham sido depiladas e ela cheirava a essências florais... lavanda fresca e flores silvestres.

Sakura sentiu uma ponta de ciúme. Ambas haviam se recusado a casar. Porém seu pai a fizera prisioneira enquanto protegera Karin, impedindo que se casasse com quem não queria!

Afastou a inveja do coração e fitou o vaso com dedaleiras roxas sobre a mesa de pintura. Enquanto os demais a haviam esquecido, Karin lhe trazia flores.

Não era culpa da irmã se o pai a amava mais, refletiu.

Karin enxugou as lágrimas com as costas das mãos e fungou.

De seu canto na cama, Sakura fitou a porta, sempre abraçando a irmã. Era uma boa hora para fugir. Estava pronta; ouro e comida tinham sido embalados em um pequeno pacote debaixo da cama, além de potes de tinta e seu pincel favorito, pequeno e feito de cerdas de porco. Tinha uma carta de Madre Tsunade, a abadessa de La Signora dei Lago, um convento na Itália ao longo da costa.

O Irmão Asuma, monge itinerante, arrumara uma passagem para ela em um navio que partiria para a Itália no final da semana. Seria uma viagem perigosa, porém alguém a escoltaria, e Sakura planejava se abrigar na casa do irmão até poder chegar ao convento. Se Sasori soubesse que ela vinha, tentaria impedi-la, porem não lhe recusaria abrigo se ela aparecesse à sua porta. E durante meses Sakura andara praticando com uma faca para poder se proteger em caso de necessidade.

Partir enquanto a porta estivesse aberta e o castelo mergulhado no tumulto seria bem fácil. Sua irmã se casaria com Sasuke , querendo ou não, seu pai seria libertado, o incidente seria esquecido, e ela teria partido antes que alguém percebesse sua ausência.

Após os momentos de histeria, Karin ergueu o rosto ainda banhado em lágrimas e começou a mexer nos botões de madrepérola do vestido.

— Karin! O que está fazendo?

— Sasuke pretende enforcar papai ao entardecer, a menos que eu concorde em me casar com ele. Mas não posso. Precisa me ajudar.

Oh, pelo amor de Deus. Afastando os dedos da irmã dos botões, Sakura acariciou-lhe a mão.

— Calma irmã. Sasuke é um conde, e muito rico. Não será um sacrifício tornar-se sua esposa.

— Sakura. — Karin engasgou com as lágrimas. — Eu... o vi ao chegar... ele é um discípulo de Satanás. Pode bater em um homem até a morte só com os punhos. É grande e forte. Foi preciso três homens para tirá-lo de cima do infeliz.

— Sem dúvida, teve seus motivos para...

— Não, irmã, não teve. Foi só porque o homem derramou algumas gotas de cerveja em sua túnica. Hinata e eu o seguimos pelo campo do torneio a fim de vê-lo sem a armadura e o elmo. E um monstro cheio de cicatrizes... a pele do rosto é branca e vermelha por causa das marcas. As crianças fogem dele.

Com um puxão, Karin retirou uma adaga do corpete do vestido. A lâmina era curta, e o objeto era do tamanho da palma de uma mão feminina, mas brilhava de modo perigoso. O cabo tinha um rubi incrustado.

— Nossa família nunca ficará a salvo se eu me casar com ele. Sasuke precisa morrer!

A irmã enlouquecera!

— Pare com isso, Karin! E loucura. Não conseguiria matar ninguém.

— Eu não, irmã... Você!

— Eu?

Karin sacudiu a adaga no ar, apontando para uma recente pintura comportada de Sakura, meio escondida atrás de uma grande tela com a cena de Cristo glorioso e seus seguidores olhando para o céu. Usar telas, um presente do Irmão Asuma, alegrara Sakura, que estava cansada de pintar em toras de madeira e pergaminhos.

— Conheço sua habilidade com facas — disse Karin com ênfase, sem prestar atenção na nova obra de Sakura.

Sakura piscou diversas vezes e afastou a frustração por a irmã não ter notado sua arte. Era verdade que passava horas atirando facas em alvos de madeira, preparando-se para ir à Itália, mas não era nenhuma assassina.

— Minhas facas são para proteção!

— Então trate de nos proteger. — Karin tornou a erguer a adaga parecendo um anjo vingador. — Mate o Fiscal. Esta lâmina é especial... L'occhio Del diavolo.

Sakura andara estudando italiano e sabia que isso queria dizer "O Olho do Diabo". Que nome estranho para uma adaga...

Levantou-se da cama com ímpeto. Era melhor assumir o controle da situação antes que a irmã se ferisse.

— Dê-me isso, sua tola! Ninguém vai matar ninguém. — Agarrou a arma e a depositou sobre a mesa de pintura. Pincéis caíram no chão e o cheiro de terebintina e óleo de lavanda inundou o ar.

Rapidamente, cobriu seu auto-retrato com um trapo.

Nesse momento, Duncan, um cão terrier preto e dourado, e Hinata, irmã caçula de Sakura, entraram no quarto. Hinata também usava roupas para o casamento, um vestido pesado de veludo azul e uma tiara nos cabelos. Segurava St. Paul, seu gato cinza, em uma das mãos, e seu cajado na outra; os cabelos negros dançavam sobre os ombros e alcançavam seus quadris onde se via enfeites dourados. Panthos, o grande mastim, seguia ao seu lado, bufando,

Apoiando se pesadamente no cajado, Hinata passeou os olhos pela parafernália artística da irmã.

— Sasuke chegou ao castelo! Papai está amarrado e está sendo arrastado de joelhos pelo pátio. Apresse-se, Sakura! Precisa ajudar Karin com esse casamento e matar Sasuke esta noite.

Sakura olhou de uma irmã para a outra. Como podiam lhe pedir tal coisa depois de tudo por que ela passara sem pedir ajuda a ninguém? Olhou para as pinturas de santos e anjos, seus companheiros nos últimos meses em que estivera confinada.

— Não vou matar ninguém.

— Precisa — insistiu Karin. — Só você tem chance de sucesso.

O mastim latiu, e Hinata estendeu a mão para acalmá-lo, parecendo muito pensativa.

— A vitória terá início com a morte de Sasuke . Informaremos o padre Peter sobre a mudança de noivas. Você precisa assassinar o Fiscal no quarto nupcial quando vir à chama de uma vela no quarto em frente do outro lado do muro do castelo. Esse será o sinal de que nossos homens estarão a postos e prontos para retomar o castelo e libertar nosso pai.

E então seu pai a amará, disse uma voz na mente de Sakura. Você será uma heroína em vez de um fardo.

— Isso é loucura. — Sakura se forçou a afagar o grande crucifixo de madeira que costumava trazer ao pescoço. Quando percebeu que não o tinha colocado, pegou um pincel e começou a revirá-lo entre os dedos. — Vou ser a noiva de Cristo. Não posso ferir ninguém, nem me casar.

Karin ergueu os olhos em um gesto impaciente.

— Como diz papai, você não tem jeito para freira.

— De qualquer modo, pretendo dedicar minha vida a Deus. — Indicou a grande quantidade de pinturas religiosas espalhadas pelo quarto, esperando assim convencer as outras duas.

De jeito nenhum terminaria como sua mãe, servindo um homem indelicado com um bando de crianças para criar, até sucumbir de pura exaustão. Era melhor viver em um convento.

O fato de o bispo Danzou se recusar a pendurar seus quadros em qualquer parte da catedral, até mesmo nas salas internas, era uma prova de que precisava deixar a Inglaterra e ir para a Itália, onde poderia ingressar em um convento e se tornar poderosa a seu modo.

— Já a vi atirar facas. Usa uma adaga com a mesma perícia com que maneja um pincel — insistiu Hinata. — Pode realizar essa tarefa.

— Ter passado meses praticando não significa...

— Você pode! — gritou Karin. — Você me defendeu contra lorde Deidara. E pôs fogo na calça de sir Shikamaru . E atingiu Chouji no traseiro com uma flecha... Fez tudo isso porque eu não queria me casar com nenhum deles.

— Chega, irmã. — Sakura tapou os ouvidos com as mãos, não querendo ouvir mais nada sobre seus pecados. Seu pai já a aborrecia o suficiente, e além do mais, aqueles homens haviam merecido castigo.

Olhou em volta da prisão que era o quarto.

— Continuo presa. Estou cumprindo a pena que nosso pai me aplicou.

Karin se aproximou, tocando-lhe o braço.

— Conheço seus planos de ir para a Itália. Sei que andou trocando correspondências com a abadessa de La Signora dei Lago.

Sakura estremeceu por ter sido descoberta. Mas era normal que Karin soubesse. Adorada pelos criados e muito sociável, a irmã sabia de tudo que acontecia no castelo.

— Faça essa última tarefa, e nós a ajudaremos em sua jornada. Então, com certeza papai, permitirá que vá para o convento.

Permissão. A única coisa da qual Sakura precisava para ingressar na ordem religiosa.

Hinata bateu com o cajado no assoalho, fazendo os cabelos negros dançar. Duncan latiu e subiu em um baú.

— Arrumaremos homens para que a levem até o navio assim que Sasuke morrer. Estarão do lado de fora desta porta quando dermos o sinal, e Panthos irá conduzi-la pelos fundos até um chalé seguro na margem do rio.

— Panthos? — Sakura olhou para o mastim. — Não vou cometer um crime e ser conduzida por um cachorro para escapar da ira dos homens do Fiscal.

Suas irmãs sem dúvida estavam loucas.

— Sim — disse Hinata com toda a calma. Seus corajosos olhos cor de chuva brilhavam com inteligência, não loucura. St. Paul se estirou languidamente em seus braços e ronronou. — Disse a Panthos que você corria perigo, e ele concordou em protegê-la, assim como Duncan, que irá acompanhá-la também. Ele é excelente caçador de coelhos. Não lhe faltará comida.

Sakura fitou a irmã mais nova, que estava calma e segura, o olhar sempre etéreo flutuando envolto em mistério, acima da dor de sua perna deformada e do caos na terra. Hinata tinha um relacionamento fora do comum com os animais, mas... ser guiada por um cão e alimentada por outro? Ridículo!

— Vocês duas estão surdas?

Panthos sentou-se nas patas traseiras e inclinou a cabeça para fitar Sakura.

— Você também está — disse ela, olhando o cão.

— Por favor, Sakura. — Karin deu de ombros, fazendo farfalhar o vestido pesado.

O traje de seda de Karin contrastava com o manto esfarrapado e desbotado de Sakura. Essa era mais uma prova do amor do pai para com a filha favorita. Se pelo menos pudesse conseguir um pouco do carinho dele, pensou Sakura. O pai confiscara todas as suas roupas bonitas anos atrás. Como freira, teria de desistir delas de qualquer jeito, mas seu peito ainda doía de ressentimento.

Karin arrancou o enfeite e o véu da cabeça e os colocou em Sakura. O véu era feito de um tecido grosso, bordado com pérolas.

— Somos da mesma altura, e se cobrirmos seus cabelos róseos, ele não irá suspeitar — disse Karin.

— Meu cabelo não é rosa! — disse enfurecida. Não gostava da tonalidade, mas ainda era ruivo, não rose. Não era uma palhaça.

— Claro que é. — a mais nova retrucou. — Mamãe detestava a cor. — murmurou para si mesma.

Sakura bufou. O arranjo sofisticado parecia bizarro em contraste com sua roupa pobre. Com exceção da altura, ela e Karin em nada se pareciam. Em especial depois que Sakura cortara os cabelos que antes lhe chegavam até as coxas. Os cabelos de Karin, por outro lado, quando soltos, formavam uma massa vermelha que lhe chegava abaixo da cintura.

Sakura tocou a cicatriz no rosto que ia da orelha até o nariz, e afastou para trás uma mecha dos cabelos de cor exótica. Possuía aquela cicatriz desde criança e nunca soubera como a adquirira.

— Com certeza o Uchiha ouviu dizer que você é a dama mais bonita de toda a Inglaterra — disse para Karin.

A irmã lhe lançou um olhar agradecido e aceitou o elogio. Ambas sabiam que a beleza de Karin era o maior orgulho de seu pai... um trunfo que atrairia um casamento rico, a fim de que ele tivesse mais ouro para sua causa contra o rei da Inglaterra porém, decidira que haveria um casamento entre Karin e seu homem de confiança, Sasuke Uchiha .

— Lamento pelos seus cabelos — disse Karin com afeição. — Apreciei de verdade seu sacrifício para me livrar de lorde Deidara. Foi corajoso de sua parte cortá-los e tomar o meu lugar, a fim de me livrar de um casamento odioso.

Corajoso? Droga nenhuma. Tudo que Sakura tivera que fazer fora se apresentar como Karin. Seu rosto marcado e os cabelos repicados, parecendo uma vassoura, haviam espantado o lorde que fugira. Como se ela fosse uma praga. Nenhum homem queria uma mulher com uma feia cicatriz para sua esposa. Mais um motivo para que seu pai a tivesse liberado para ingressar no convento. Por que era tão teimoso?

— O que passou, passou — disse Sakura, recusando-se a sofrer por causa dos longos cabelos perdidos. Pintoras e freiras não precisavam ser vaidosas.

Hinata tornou a bater com o cajado no assoalho

— Não há tempo para falar sobre cabelos! Vista-se, Sakura. Use o véu para cobrir sua cicatriz. Juro que eu mesma mataria o Uchiha se não fosse meu aleijão na perna. E não me pareço o suficiente com Karin para me passar pela noiva, pois só uma noiva poderá chegar perto dele na intimidade e matá-lo.

Antes que Sakura pudesse abrir a boca e insistir que também não se parecia com a bela Karin, a irmã despiu o vestido de noiva.

— Já se fez passar por mim antes, Sakura; pode fazer de novo.

Sakura pensou no pacote embaixo da cama e na fuga para a Itália.

— Essa luta não é minha. — Precisava partir. Não iria passar a vida livrando a bela irmã de um pretendente após o outro. — Case-se com Sasuke , Karin, e ele libertará nosso pai. Com sua beleza, poderá convencê-lo de qualquer coisa.

Ouviram passos pesados nas escadas da torre, e a porta do quarto se abriu com estrondo.

As três irmãs gritaram. Os cães ladraram, e St. Paul se enfiou embaixo da cama.

Os dois homens mais fortes que Sakura já vira na vida entraram, vestidos com armaduras, elmos na cabeça, e carregando armas.

Um tinha olhos tão pretos que pareciam brasas do inferno sob o elmo. O outro trazia um arco pendurado no ombro, e não tinha um dedo na mão. Examinaram cada detalhe do quarto e fitaram as três irmãs.

Karin, apenas usando as roupas de baixo, tentou se esconder atrás de Sakura e Hinata.

O mastim latiu, e Hinata murmurou algo para acalmá-lo.

— Estou aqui para pegar minha noiva — disse o homem de olhos negros . — Qual de vocês é ela?

Pousou o rosto na beleza de Karin e se aproximou. Era pior que lorde Deidara.

Karin endereçou um olhar de súplica a Sakura. Resoluta, Sakura puxou a irmã para trás e se apresentou.

Não podia permitir que Karin fosse violentada por aquele bruto. Sua habilidade com a adaga iria salvá-la. Agachou-se, recolhendo o vestido luxuoso, e disse:

— Sou sua noiva, milorde. Dê-me um minuto para vestir meu traje nupcial.

E esconder a adaga.

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Ele teria sua vingança.

Através das fendas no elmo, Sasuke Uchiha fitou a turba hostil reunida junto aos degraus da capela para o seu casamento. Kakashi, senhor do castelo e o bastardo que planejara uma emboscada contra ele naquela manhã, estava ajoelhado ao lado de dois guardas e amarrado por cordas. Era um homem excêntrico de cabelo grisalho e olhos de fanático. Sasuke jurou em silêncio que mandaria surrá-lo como um exemplo público em Londres.

Abriu as portas da igreja e conduziu seus homens para o interior escuro do Mutuário. Seu título de conde lhe permitia casar próximo ao altar em vez de nos degraus do lado de fora. Agarrou sua futura esposa pelo pulso e a arrastou consigo.

— Tragam seu pai para dentro a fim de que testemunhe a cerimônia — gritou para os dois homens que seguravam Kakashi.

Seu dever era trazer paz à região e pretendia fazer com que Kakashi percebesse que, apesar de sua emboscada patética, o casamento iria se realizar, como o rei comandara. O valorizado porto da cidade... no momento sob o comando do barão de Haruno, o pai de sua noiva, mas que seria de Sasuke segundo o contrato de casamento... iria incrementar seu comércio marítimo.

— Você não se sairá bem dis... — começou a dizer Kakashi, fustigado pelas lanças dos guardas.

Um dos homens segurou uma adaga perto de seu pescoço, e isso o silenciou.

Sasuke aprovou com um aceno e olhou para a mulher com quem iria se casar.

Por sorte sua noiva era forte e obstinada, ao contrário da lacrimosa irmã ruiva. Ela podia não gostar de se casar com ele, mas pelo menos Sasuke duvidava que tivesse de ouvir lamúrias a respeito da noite de núpcias. Não gostava de mulheres choronas. E não pretendia ter piedade.

Dois de seus homens haviam morrido no ataque daquela manhã. Pain e Hidan. Bons soldados. A culpa o consumia ao pensar que conduzira esses homens para a morte.

Era seu dever reforçar a lei do rei e dominar os rebeldes que ameaçavam a paz na Inglaterra. O porto estava sendo usado para contrabandear vinhos e armas, e precisava de um controle rígido. O casamento fora combinado para trazer estabilidade a região, portanto a mulher e o porto valioso seriam seus.

O rei o alertara sobre emboscadas e traições, porém Sasuke não esperara um ataque tão frontal.

A raiva o dominou ao se lembrar de seus soldados mortos. A emboscada fora algo muito vil. O pai da noiva o convencera a vir a Haruno para o casamento, e o fizera abrir mão da cerimônia no castelo em Uchiha . Tudo uma armadilha para matá-lo.

Sua futura esposa lhe mandara a mensagem em um pergaminho perfumado, mas ele duvidava que a mulher corajosa a seu lado naquele momento escrevesse uma mensagem tão rebuscada e delicada para enganá-lo. Fora outra mão feminina quem escrevera, tinha certeza.

Nesse instante Sasuke jurou que sua noiva e sua família aprenderiam a respeitá-lo e viveriam sob as ordens do Fiscal. Tinha ganas de matar o pai da noiva com suas próprias mãos, mas era o rei quem deveria julgar sua traição.

A noiva tropeçou no caminho para o altar, e ele pensou se seria mais um golpe. Dessa vez, não seria pego desprevenido.

— Não precisa me arrastar — murmurou ela sob o véu.

— Tome cuidado com o que diz, esposa.

— Ainda não sou sua esposa.

— Será em breve, menina.

Nenhum membro daquela família reconhecia quando era derrotado?

Uma harpista e um violinista tocavam na igreja, desafinando muito, como se não tivessem tido tempo para ensaiar. O padre em frente ao altar clareou a garganta.

— Caros amigos...

Sem soltar o pulso da mulher a seu lado, Sasuke relanceou o olhar para ela; estava coberta da cabeça aos pés pelo vestido prateado, e botões de madrepérolas cobriam as mangas, largas nas bordas e justas nos braços.

Ela não tentara se livrar do aperto no pulso, mas mantinha-se aprumada e orgulhosa.

Entretanto, aquele casamento era uma guerra. E Sasuke a faria se curvar na sua frente. O rei exigira essa união para trazer paz à região turbulenta, e Sasuke pretendia começar seu trabalho conquistando sua esposa.

Enquanto o padre Peter continuava com a cerimônia, Sakura pensava com raiva que seu noivo a arrastara ali como se fosse um prêmio, Bárbaro!

Relanceou o olhar em sua direção; era o homem mais alto e forte que ela já vira, com cerca de um metro e noventa de altura e ombros muito largos.

Enorme. Quase grotesco. Fazia Sakura lembrar de um dos guerreiros de suas pinturas secretas, mas aquele a seu lado estava coberto pela armadura, enquanto suas figuras pintadas estavam quase sempre nuas.

Ele cheirava a couro e sangue, além do odor masculino natural almiscarado.

Sakura sentiu certo alívio quando o padre Peter murmurou seu nome e o noivo nem notou. Graças a Deus, o bruto não percebera que estava se casando com a irmã errada. Quem sabe nunca se importara em saber o nome de sua futura esposa, só pensando nas ordens do rei. Ou, talvez, não escutasse bem com o elmo enfiado na cabeça.

Sakura desejava ver suas feições sob o elmo. Engoliu em seco, ao se lembrar do que a irmã lhe contara sobre seu rosto vincado de cicatrizes horrorosas. Não haveria nada naquele homem que fosse agradável?

Ela teria uma única chance de usar a adaga, e não podia falhar. Caso contrário, a morte mais misericordiosa para ela seria a forca. Entretanto, o Fiscal era conhecido por torturar seus inimigos antes de matá-los.

Sentindo-se minúscula a seu lado, ela estremeceu de leve.

— Pode beijar a noiva.

As palavras do padre a fizeram retornar ao momento presente.

— Este não é um casamento por amor — conseguiu murmurar — Não precisamos nos beijar.

— O beijo selará nosso compromisso — disse o noivo.

Ele apertara o pulso de Sakura durante toda a cerimônia, e só agora ela percebia com surpresa que não estava dolorida, pois o Uchiha a retinha com delicadeza, apesar de parecer uma besta selvagem. Além disso, tinha mãos limpas, e parecia ter tomado banho antes do casamento.

Sasuke começou a erguer o elmo para tirá-lo.

Paciência, menina, disse Sakura a si mesma. Em breve ele baixará a guarda e você poderá usar a adaga.

O homem a seu lado agora era seu marido.

Marido. A palavra fazia lembrar-se de deveres, tarefas e obrigações sem fim.

Porém não ficaria casada por muito tempo, refletiu. Seria viúva ao amanhecer. Sorriu de leve. As viúvas tinham uma liberdade que as donzelas não possuíam.

O elmo do Uchiha foi erguido. A primeira impressão de Sakura foi de um queixo firme. Depois o resto de seu rosto surgiu.

Sakura engoliu em seco. Ele não era um animal selvagem. Ele era perfeito. Até demais.

Como uma linda pintura, embora com um semblante desprovido de emoção. Como se não tolerasse as falhas humanas.

Sasuke tinha cabelos negros fartos, cortados rentes como os de um guerreiro romano, olhos de um negro-cobalto, nariz aquilino, maxilares salientes e uma boca severa. Mas não era uma besta humana, de jeito nenhum.

Karin lhe dera uma informação errada; não havia cicatrizes no rosto daquele homem. Na verdade, Sakura nunca vira um homem tão bonito.

Matá-lo? Como iria destruir tal perfeição humana?

Porém, belo ou não, ela se recusava a ser a escrava de um bruto que estuprava e surrava. Não deixaria a família à sua mercê.

Sakura podia sentir o olhar intenso do pai às suas costas. Essa era a oportunidade de se redimir aos seus olhos... então poderia partir para a Itália com sua bênção.

Karin se sentava ao lado do pai no banco da igreja, apertando as mãos. Usava uma sobressaia azul sobre o vestido vermelho. Sem dúvida, tentava passar despercebida, mas sua beleza resplandecia como o sol.

Hinata, sempre estranha, conseguira não comparecer à cerimônia.

— Esposa — disse o noivo, erguendo a mão para tocar o véu de Sakura —, você é minha.

Sasuke levantou o véu, segurando-a pelo queixo. Logo percebeu a cicatriz. Ótimo, pensou ela. Que ficasse aborrecido com a noiva que ganhara.

— Vamos logo com isso, marido — resmungou com ironia. Quem sabe devesse tirar o arranjo e o véu da cabeça com um gesto rápido para que ele visse bem com quem se casara. Quem sabe ele fugiria, como fizera lorde Deidara.

Porém, por mais que fosse desagradável, Sakura sabia que precisava ficar a sós com ele para matá-lo.

— Disseram-me que você era bonita — murmurou o noivo. As palavras a magoaram, apesar de ser ridículo.

— Bem, sou feia. — Sakura o desafiou com o olhar.

Ele deslizou o polegar sobre sua cicatriz, fazendo-a retesar-se. Não era segredo que Sakura não possuía uma beleza óbvia como a irmã, mas ele não precisava expô-la a uma inspeção pública, passando o dedo por sua cicatriz daquele modo.

— Como já disse — prosseguiu ela —, não precisa me beijar.

Um brilho estranho surgiu nos olhos de Sasuke . Sakura já vira aquela expressão masculina dirigida para Karin, para as criadas do castelo, e até para Hinata. Entretanto, jamais recebera tal atenção de um homem. E a intensidade do olhar quase a fez perder o fôlego. Então era assim que uma mulher se sentia ao ser desejada. Uma onda de euforia a dominou.

Ele continuou a fitá-la, e depois resmungou:

— Implore para que eu a beije, esposa cativa.

Sakura arregalou os olhos, de súbito compreendendo. Não fora o desejo físico que despertara o interesse do noivo, mas a vontade de conquistar e subjugar.

Que demônio!

— Não vou implorar por nada, bárbaro. Jamais.

O brilho de interesse se transformou em uma expressão diabólica. Seus lábios a tocaram, quentes e macios... Não frios ou indiferentes, como ela imaginara. O hálito do Uchiha era fresco, lembrando folhas de menta.

O beijo foi demorado.

Sakura tentou se afastar, mas ele a segurava pelos ombros.

— Abra os lábios para mim, mulher. Quero sentir seu gosto — murmurou ele de encontro à sua boca.

Sakura sentiu as faces em fogo. Ali estava um homem que desejava beijá-la de verdade. A sensação era tão inebriante como quando ela pintava um de seus quadros secretos.

Porém, continuou com os lábios cerrados.

— Ah, não é dócil — disse o marido, afastando-se um pouco. — Talvez seja melhor ir direto para o quarto nupcial, onde irei domá-la. Porque acho que gostou do beijo.

Que vilania! Sakura quase engasgou. Ergueu a mão e o esbofeteou, o som reverberando na igreja.

— Não sou um bicho para ser domado, bárbaro!

Ela ouviu o pai resmungar.

Sasuke ergueu a mão para a face esbofeteada, e Sakura arregaçou as saias, pronta para fugir se ele a ameaçasse. Mas, rápido como um raio, ele tornou a segurá-la pelo pulso e começou a puxá-la para fora da igreja.

Alguns dos guardas arregalavam os olhos e prendiam o fôlego.

Raios! O homem ia matá-la! Nenhum marido que se prezava aguentaria tal desaforo da esposa. E aquele era um conquistador e guerreiro.

— Eu... não pretendia... — gaguejou Sakura.

Precisava acalmá-lo para poder enfiar a adaga em seu peito mais tarde.

— Silêncio, esposa. Conversaremos no quarto, e quando eu terminar com você, desejará ter sido mais gentil comigo, e irá implorar por mais.

O vestido pesado impedia os passos da noiva, que tentava segui-lo aos tropeções.

Ele parou quando Sakura quase caiu no chão.

— Pare de lutar, ou lhe darei umas palmadas aqui mesmo na igreja.

Um dos guardas ouviu e começou a rir.

— Não ofenda minha filha! — gritou o pai de Sakura, de pé, lutando contra os guardas que o seguravam. Deu um passo à frente, apesar das cordas.

— Minha paciência também está por um fio com você, velho! —exclamou Sasuke.

Karin se ergueu aos soluços.

— Por favor, senhor, não a machuque. — Correu para Sakura e a abraçou, os cabelos cor de carmim esvoaçando ao vento.

Sakura se sentiu como se estivesse envolta pela teia de uma aranha. Lutou para se libertar dos tentáculos da irmã e conseguir respirar.

— Irei matá-lo por isso! — gritou o pai, lutando para se livrar das cordas.

Os guardas o contiveram.

Sasuke voltou-se e a fitou.

Sakura engoliu em seco; Karin podia ter se enganado sobre a aparência dele, mas o Uchiha continuava sendo um selvagem.

— Por favor, deixe minha família em paz — implorou. — Irei com o senhor. Pode fazer comigo o que quiser.

Ele a tocou, fazendo seu coração vibrar.

— E irá se submeter de boa vontade às punições que eu comandar?

Sakura piscou várias vezes, com o coração aos pulos. O que será que ele a forçaria a fazer? Se resolvesse lhe dar uma surra, teria sorte se sobrevivesse.

Ergueu os ombros e disse:

— Não tenho medo.

— Mentirosa.

Porco arrogante! Sentiu que não teria o menor remorso depois de apunhalá-lo.

— Pequena prostituta! — gritou seu pai com asco. — Você o quer, não é?

Espantada, ela fitou Kakashi. Como contar ao pai sobre a adaga? Sobre Karin?

— Pai...

Ele a interrompeu com um movimento rude de cabeça.

— Estava ansiosa para se casar com meu inimigo. — Sakura sentiu as faces coradas. Apesar do antagonismo, como seu pai podia pensar isso dela? Por que era tão cruel? Um momento atrás ele a defendera...

Sentiu um grande ódio por Sasuke, que jogava o pai contra ela.

— Eu não queria me casar com ninguém, pai — disse com calma.

Sasuke franziu a testa, o que a surpreendeu por ver que seu rosto de pedra podia mostrar alguma emoção.

— Chega, velho! — exclamou ele, virando-se para um dos guardas. —Naruto, leve-o para uma torre e prenda-o lá.

Sakura reteve a respiração quando o marido a segurou de novo.

Monstro!

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E ai pessoas da minha vida o que acharam?

Espero que gostem, particularmente adoro o toque de humanidade que a autora coloca nos personagens, se decidirem embarcar nessa comigo vão perceber também!

Até breve.

Kissus