Paraíso das Rejeições
Antes de começar a leitura, tenho algumas considerações a fazer:
1) Isso não é uma única fanfic sólida e contínua. É uma coletânea de shorts, ou então, se preferirem, vignettes. Cada capítulo pode ser lido independentemente, então, se você perdeu alguma coisa, pode seguir em frente sem se preocupar.
2) Sendo várias fics, não há um gênero fixo para o conjunto todo. Umas são para rir, outras para chorar, outras para refletir e outras para chegar à brilhante conclusão "essa autora é doente!".
3) Harry Potter, nomes, personagens, lugares e fatos relacionados são propriedade de J.K. Rowling, Warner Bros, Bloomsbury, Scholastic e todo o resto. Não ganho nada escrevendo isso, só diversão e algumas reviews. Tá, isso é o disclaimer, mas pode se encaixar em considerações também.
4) Boa leitura!
Queda livre
"Oh and you catch me if I'm falling
You catch me if I'm falling
You catch me cause I'm falling down on you"¹
- ...E BLACK REBATE O BALAÇO! Excelente tacada! Vamos ver como Higgs se sai dessa!
Estava-se distanciando do jogo e da arquibancada. Lá embaixo restaram apenas pontinhos vermelhos e verdes móveis, além do mosaico colorido que eram as duas torcidas misturadas entre si. O ar começava a ficar frio e a voz narradora de Florence desmaiava entre as nuvens, até que não ouvisse nada exceto o vento tentando expulsá-lo da vassoura. Felizmente bebera a tal poção despressurizadora que Remus lhe prescrevera na noite anterior (James, você quase morreu na última partida porque subiu alto demais!), e agora era capaz de amplificar sua perspectiva em até vinte vezes, sem danos físicos. Enxergar o pomo de ouro seria uma questão de segundos, apesar da pouca nitidez do quadro a metros abaixo de si.
Ajeitou os óculos ovalados sobre a ponte de seu nariz comprido - o nariz que já havia quebrado uma vez jogando aquela brincadeira perigosa. James não tinha culpa. Era sua tática e movimento preferidos; nada se comparava à sensação de despencar em alta velocidade dos céus, como uma águia mergulhando fatalmente à caça de sua presa. Nada fazia seu coração bater tão forte quanto aquela queda livre disfarçada de estratégia esportiva.
Desceu um pouco e a vassoura estagnou no ar, contrariando insolentemente todos os princípios da física, enquanto James perscrutava seu campo de visão em busca de um risco dourado. Pensou ter visto um, mas não. Era apenas a gola do uniforme de Longbottom, que se esquivava da defesa com uma habilidade incrível.
- É GOOOOOOOL!
Uma ola cresceu na platéia.
"Isso, Frank!", James não pôde deixar de comemorar, fazendo um estranho ziguezaguear em sua vassoura que mais lembrava uma dança.
Então ele viu.
Estava atrás da baliza da Grifinória, no aro mais próximo do público, na direita. Mas ele não foi o único que percebeu. A Grifinória mal pôde comemorar seus pontos - logo veio uma salva de gritos "É o pomo! Olha o pomo!" e Rosier, a alguns metros abaixo de si, inverteu sua direção, aumentando a velocidade agressivamente.
Era o momento.
Descreveu um meio-arco descendente e começou a despencar.
Devia estar caindo da altura de Hogwarts, um tombo vertiginoso em direção ao fim. Suas bochechas estavam insensíveis de tanto frio e vibravam com a resistência do ar. Se continuasse assim, suas roupas seriam arrancadas. Era uma injeção cavalar de adrenalina, era a morte e era a vida - um grito que explodia em sua garganta, formado por êxtase e todo o ar que havia retido em seus pulmões durante a descida. Estava vivo! Estava vivo e iria vencer o jogo! James Potter era imortal! Era a lenda do Quadribol de Hoggy!
Rosier e ele encontraram-se quando James finalizou seu mergulho com um vôo rasante. Quase tinha acertado a platéia!
- Se manda, Potter! - berrou, praticamente grudado em seu rival.
James abriu aquele seu sorriso arrogante e cheio de si.
- Como quiser... - e tirou Rosier da linha de vôo com uma trombada trapaceira.
O apanhador da Sonserina xingou alto e James soltou uma gargalhada maldosa, a alguns pares de metros do pomo.
O pequeno objeto alado lutava desesperadamente por sua liberdade. Deu a volta na baliza e contornou a arquibancada, causando euforia nos espectadores. Rosier se recuperara e agora estava em terceiro lugar naquela corrida, aproximando-se rápido.
- Vai, James! - ele ouviu, quando passou como um raio por Remus.
Haviam cruzado todo o estádio e estavam prestes a fazer uma nova curva, agora na área da Sonserina. O pomo ficava especialmente lerdo ao fazer mudanças de direção bruscas. Era sua chance. Ele ia vencer; o jogo ia acabar.
James esticou o braço. Estava quase lá...Estava quase pegando...Evans!
Só se ouviu um estouro, seguido de uma porção de berros e pessoas rolando arquibancada abaixo.
Seu corpo inteiro doía, e a única coisa que conseguia registrar era o imenso susto. Tinha avançado sobre a platéia, embora houvesse reduzido a velocidade para completar a dobra. Algo tinha atrapalhado. Gemeu ao tentar se mexer. Certamente havia quebrado algumas partes de seu corpo.
- James Potter, seu idiota! - alguma coisa gritou estridente embaixo de si. - Eu não consigo sentir minhas pernas! Socorro!
Uma pessoa o puxou para o lado, para outro nível. Tinha aterrissado em cima de alguém.
- Oh beu Deus, Evans! - exasperou-se ao ver a ruiva estendida e ensangüentada. - Focê está bem?
- É claro que não! - ela sentou-se de supetão, enfrentando-o. Só então James percebeu que o sangue nela, na verdade, era seu. - Estúpido, você não é o rei do quadribol? - fez troça, imitando seu jeito de se autovangloriar. - Como é que não me viu?
A questão era - ele a havia visto. E isso explicava tudo.
- Desculpe, eu dão consegui fazer a curfa...
Rosier comemorava com todo o time da Sonserina, o pomo de ouro em exibição para todos em sua mão erguida. Talvez James não fosse tão bom quanto imaginava. Coçou a cabeça, desapontado.
- Por acaso essa sua cabeça cheia de titica... - ela subitamente arregalou os olhos, soltando uma exclamação. - Merlin! O que aconteceu com o seu nariz, Potter?
Havia claramente uma centelha de preocupação faiscando nos olhos dela. E isso valia mais que uma vitória da Grifinória. Muito, muito mais.
James levou uma mão ao centro do rosto. Sangrava e ardia demais. Abriu um sorrisinho sem graça
- Acho que quebrei o nariz...de novo.
¹Oh, e me apanhe se eu estiver caindo/Me apanhe se eu estiver caindo/Me apanhe porque eu estou caindo em você – trecho de Round Here (Counting Crows). Essa música não tem absolutamente nada a ver com a fic; mas o duplo sentido da estrofe, sim.
Bom? Ruim? Pelo amor de Deus, apaga essa fic?
Me deixem saber o que acharam! Apertem o botãozinho roxo e façam uma autora feliz! Do contrário, ela vai deixar de escrever...chantagista
Beijo beijo!
