Título: Cheiro de Sundae e Fritas
Autora: Agente M (a.k.a. Patrica Emy)
Classificação: Inexplicável/Humor
Spoilers: Nenhum
Feedback: Ora, por que não? patricia_emy@hotmail.com


C h e i r o d e S u n d a e e F r i t a s

Agente M

Eram dez horas da manhã de sexta-feira quando os dois agentes
federais chegaram à cena do crime. Todo o perímetro da
lanchonete já havia sido cercado pelas indefectíveis fitas
amarelas. As portas foram fechadas e as janelas, encobertas de
forma a manter distantes os olhares da multidão que já se
aglomerava no lado oposto da rua. A dupla se aproximou do
detetive responsável pela investigação, mostrando suas
credenciais em um gesto quase simultâneo, arrancando um sorriso
forçado de seus colegas. Sem se prender a detalhes, o policial
se resumiu a descrever a forma como o cadáver fora encontrado,
assim como relatar os depoimentos dos empregados, que alegavam
não ter visto ou ouvido coisa alguma na fatídica noite anterior,
quando a vítima -- no caso, o gerente [sempre ele]-- teria sido
atacada nos fundos do estabelecimento. Um mendigo, que dormira
sob a marquise de um prédio vizinho, disse ter ouvido os gritos
e jurava ter avistado o suspeito.

O agente perguntou ao homem se ele pôde ver o rosto com clareza,
e ele lhe disse que o provável assassino usava uma pesada
maquiagem e tinha cabelos vermelhos.

"Por acaso ele se parecia com algo assim?", ele apontou para o
cartaz do lado de fora.

"Isso mesmo", disse-lhe o homem.

"Ótimo", resmungou sua parceira, "Estamos procurando por um
maníaco vestido de Ronald McDonald."

"Por que logo um palhaço?", lamentou o agente.

"O que tem o palhaço? Por acaso eles também fazem parte de uma
conspiração global?"

"Não, é muito pior do que isso."

Balançando a cabeça, ela se dirigiu ao local onde estava o
corpo.

"Isso é insano, Mulder."

"Agora você está começando a entender."

"Falei com o legista. O gerente morreu em conseqüência de um
infarto do miocárdio. Não tem nada de sobrenatural nisso."

"Não percebe? Este homem morreu de medo. Literalmente."

"Com a boca cheia de batatas fritas?", Scully ergueu a
sobrancelha, cética. "A nossa única pista se resume a isto." Ela
apontou para o chão. Os rastros saíam da poça de sorvete
derretido, que se espalhava ao redor do morto. Pelo tamanho das
pegadas, dava para perceber que a pessoa usava enormes sapatos.

"Não há como negar os fatos, Scully."



Horas mais tarde, os policiais deixaram o local, e o corpo já
havia sido retirado. Aos poucos, as pessoas foram perdendo o
interesse, esvaziando a calçada. Só restaram os dois,
concentrados na árdua tarefa de determinar o que acontecera ali,
com base nas pistas encontradas e no relato nada confiável de um
bêbado.

Enquanto vasculhava cada canto do lugar, o agente mal percebera
que sua parceira havia se separado dele. Ao chegar à geladeira,
sentiu um forte cheiro, que o fez se lembrar de um odor
familiar, comum às cenas dos crimes anteriores. O cheiro de
sundae e fritas, que se destacava em meio ao fedor de gordura
que impregnava o ar. Algo lhe ocorrera naquele momento e, ao se
virar, viu de relance um vulto passando pelo estreito corredor.

"Scully?", ele chamou, sem obter resposta. Temendo o pior, sacou
a arma. Mas, antes que pudesse fazer alguma coisa, algo o jogou
contra o chão com uma força descomunal. Ao erguer os olhos,
ainda atordoado pelo golpe, pôde vislumbrar o sorriso macabro
estampado no rosto pálido. O seu grito de horror foi abafado
pelas espessas paredes que agora o cercavam.


"Mulder!"

Scully gritava do lado de fora, tentando forçar a entrada, mas
sem obter êxito.

Lutando para desvencilhar-se do abraço mortal, ele se viu
indefeso, sua arma a vários metros de distância --
inexplicavelmente, ela caíra de sua mão. O rosto da criatura
estava bem próximo ao seu. O fim estava cada vez mais perto,
podia sentir. Com os braços e pernas imobilizados, viu suas
chances reduzidas a uma única alternativa. Sem pensar duas
vezes, usou o seu nariz para desferir um golpe no olho de seu
algoz. Dada a natureza descomunal do mesmo, o efeito foi
imediato... e devastador.




Depois do que parecia ser uma eternidade, ele ouviu uma voz
chamar o seu nome.

"Mulder?"

Ele abriu os olhos e gritou ao deparar-se com um vulto de
cabelos avermelhados.

"Mulder, sou eu!"

Ela tinha em seu semblante um olhar de preocupação. Alguns
policiais estavam em pé junto à porta, sem entender o que estava
acontecendo.

Estava deitado no sofá. Não havia palhaço algum.

Um pesadelo. Dos grandes.

"Os vizinhos chamaram a polícia porque estavam ouvindo ruídos
estranhos que vinham do seu apartamento. Deduzi que eles
poderiam estar inadvertidamente compartilhando a sua programação
noturna, mas acredito que tudo não tenha passado de um simples
mal-entendido", ela lhe disse, acenando para os policiais como
quem diz "está tudo bem".

"É... e um possível efeito colateral de um lanche estragado..."
Seu sorriso se transfigurou em uma expressão de dor quando ele
tocou o nariz.

"Eu o vi batendo o rosto contra a parede quando entrei. Com o
que estava sonhando, Mulder?"

"Nada com conotações freudianas, eu garanto."

"Parecia assustador."

"E era."

"Mas foi só um sonho."

"Será?"

Ele desviou o olhar para o rosto sorridente na embalagem vazia
de batatas fritas.


FIM...?

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