Dementor

"Entre as diversas formas de mendicância, a mais humilhante é a do amor implorado."
Carlos Drummond de Andrade

Ele caminha de mãos dadas com aquela garota, que sorri e o abraça forte, como se o tempo que ele passou longe não fosse mais do alguns minutos. Ela – presa, lixo da sociedade, maldita – sabe que é hipocrisia.
Ela entende muito bem o que é hipocrisia. Ela é hipócrita.

- O que tanto olha nele?

Ela olha e sorri amarelo. Ele nem ao menos percebe – tão preso em si! -, mas ela mantém o olhar, tentando absorver a essência dele antes de ir para outro lugar.
Ele a nota. Não sorri, não fala nada, só a observa e ela sabe que ele tem pena dela. Nada além de pena.
Ela olha a garota ruiva com os braços ao redor dele, como se quisesse protegê-lo com o próprio corpo, se possível; como se a guerra ainda não tivesse acabado.

- Você escolheu o lado errado, Pansy.
- Você não escolheu lado nenhum.

A cela é suja e ela só consegue se manter calma quando ele vem. Deseja lhe implorar um beijo, só para ter o quê se lembrar, mas sabe que não teria a coragem. Afinal, ela deseja o que não pode ter nem em sonhos.
- Você é uma boa pessoa, Pansy. – ele diz depois de várias visitas e nenhuma palavra.
- Você sempre vem. Por quê? – a voz rouca de quem não se lembra como falar.
- Alguma coisa no seu olhar parecia me implorar ajuda. – ele comentou num sussurro – Eu não poderia ignorar um pedido de ajuda.
- Eu não te ajudei quando tive a chance. – os olhos dela brilhavam febris, absorvendo o momento.
- Não me importa.
Ele parte com um sorriso e uma promessa muda de voltar. Ele gosta de voltar porque os olhos de Pansy o observam de uma maneira mais intensa que os de Ginny e isso lhe diz que existe alguma coisa por trás da expressão contida, por trás do medo.
Pansy Parkinson absorveu parte dele e ele não sabia quando isso aconteceu, mas necessitava voltar para vê-la. Semana após semana. Dia após dia.
Não haveria Expecto Patronum que o livrasse de Pansy. Nunca mais.


Eu gosto do tom amargo dessa fic, como todas as outras HPs que eu já escrevi. Sei lá.

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Beijos,

Misa Black