Flores e encantamentos
"Você é obrigada a conviver com ele, sabendo que ele jamais pensará em você como nada além da melhor amiga da irmã mais nova dele, até a morte, e mesmo assim você vai continuar adorando ele até que cada fibra do seu ser suplique para estar com ele, e você ache que provavelmente vai morrer, mesmo que sua professora de biologia diga que é fisiologicamente impossível morrer de coração partido."
A princesa, Sob os holofotes, pág. 142.
- Olá pai. - falou Draco Malfoy calmamente ao encontrar com Lúcio na manhã seguinte. Era natural que ele viesse ao castelo uma vez por mês.
- Olá filho. Como vão indo os estudos?
- Como sempre. Aquela maldita Granger...
- O velho amante de trouxas é que a favorece. - falou o homem entre dentes e o rapaz apenas concordou. - E, com quem irá ao baile de inverno?
- A menina Weasley. - respondeu simplesmente.
Lúcio o encarou com uma mescla de horror e fúria estampadas em seu rosto.
- Espero que tenha uma boa explicação para isso, Draco. - ele falou com a voz mais fria do que era seu normal.
- Claro que tenho. - falou com um sorriso no canto da boca. - Você não pensa realmente que eu levaria uma Weasley por pura e espontânea vontade, pensa?
- Eu supunha que não.
- Eu apostei com Potter. Quero dizer, ele está caidinho pela garota mas ela parece ter finalmente compreendido que é um cabeçudo e o desmoralizou na frente de toda escola ontem à noite. Então apostei que iria levá-la.
- Se empenhe nisso, Draco. Namorar a pobretona provavelmente perturbará ainda mais a mente daquele moleque. É tudo que o Lord precisa para derrotá-lo, mais uma desilusão. Ano passado aquela chinesinha o deixou à beira da morte.
- Ele não tem o menor jeito com meninas, pai. Será moleza.
- Eu conto com você para perturbar Potter. - deu um raro sorriso.- E fico feliz por esta sua nova idéia. Mostra que tem mais potencial do que eu esperava.
- Olá, Gina. - falou Harry na hora do café da manhã do dia seguinte. Colin olhou para ele mas disfarçou o interesse, como se mostrando a ela o que fazer.
- Olá. - ela respondeu distraída.
- Eu gostaria de conversar com você... Em particular.
Nesse instante, Marin e Colin começaram a dar risadinhas bobas e o garoto corou.
- Eu estou tomando meu café. - foi a resposta.
- No próximo intervalo, então? - perguntou esperançoso.
- Certo.
- Então... Tá. - e ele saiu quase correndo atrás de Rony e Hermione, que discutiam.
A ruiva suspirou profundamente e pôs a mão sobre o peito, como se tivesse corrido uma longa distância. Depois, levantou o rosto procurando a aprovação dos amigos e quase desfaleceu ao receber um par de sorrisos.
- Muito bom! Estou sinceramente impressionado com você!
- Continue assim Gina e na hora do almoço, Harry Potter será seu par!
- Ah, meninas... - ela falou sorridente. - Eu espero que valha a pena.
- Se não valer, pode deixar que eu o faço sofrer coisas horríveis.
- Como o quê, Colin? - perguntou Marin.
- Ah, não sei! - ele riu nada discretamente. - Mas eu juro que faço.
A essa altura tinham ainda algumas corujas retardatárias voando a esmo pelo Salão. Uma delas, de um tom de cinza-chumbo, mais escura que o restante, pousou entre Marin e Gina.
- Tem correio pra você, Marin!
- Desde quando eu me chamo "A mais bela ruiva"? - perguntou a menina, sacudindo os cabelos loiro escuro.
Intrigada, pois nunca recebia nenhum correio que não viesse por Errol (ou Píchi), ela abriu o envelope e um ramalhete de margaridas saltou de dentro dele. Dentro do ramalhete tinha apenas um pequeno bilhete:
"As margaridas combinam com a delicadeza e inocência dos teus olhos
De quem gostaria de te levar ao baile.
D.E.M."
- Nossa, mas que coisa! - falou Colin, sorrindo malicioso. - Este ano nossa pequena Gina será disputada, não?
- Mas, como todos sabem, ela^, no final, irá com o príncipe Harry. - respondeu Marin.
A ruiva apenas observava as flores, parcialmente encantada. Não tinha a menor idéia de quem seria D.E.M., mas certamente tinha vontade de acompanhá-lo. Mas esse seria o último ano em que poderia ir com Harry... Sempre sonhara com o dia em que o garoto que sobreviveu a conduziria firme para dentro do Salão, exibindo para todos a menina sorridente... Porém o romantismo e a delicadeza do tal D.E.M. a seduziam igualmente. Talvez fosse a hora de deixar para trás os sonhos infantis e tentar algo novo... Por um instante, fechou os olhos e imaginou quem seria o misterioso rapaz. Em sua imaginação, era um corvinal alto, cabelos negros e olhos cinzentos. Pela primeira vez, sua necessidade de ir ao baile com Harry vacilou.
Ela parou um instante para procurar pela décima vez seu conjunto de envelopes coloridos dentro da mochila, apesar de saber que eles não estavam lá. O único envelope que estava ali era o do misterioso D.E.M. Agora era oficial ela estava atrasada para aula de Feitiços, era isso que a sineta dizia. A única coisa que poderia piorar tudo naquele momento estava prestes a acontecer: Draco Malfoy vinha descendo o corredor na direção oposta. "Vou ser forte", pensou, "Vou passar de cabeça erguida, não importa o que ele disser, não vou...".
- Bom dia menina Weasley. - ele falou e continuou seu caminho, como se dar bom - dia a Gina fosse tão normal quanto os quadros se mexerem.
O incidente perturbou a menina por toda a aula, em que ficou distraída, sem perceber os risinhos de Marin os as piadinhas de Colin sobre suas dúvidas de com quem ir ao baile. "Príncipe encantado ou cavaleiro misterioso?"falavam. Passou tão rápido, que só quando a sineta tornou a tocar é que ela se deu conta de que teria que encarar Harry.
Antes era apenas charme. Agora ela não sabia mais sua resposta.
- Eu e Colin vamos ao baile juntos. - falou Marin por fim. - A menos que alguém realmente fora de sério me convide. Você não se importa, né?
Gina e Colin tinham ido ao baile de inverno juntos no ano anterior, sem o menor interesse amoroso, apenas porque ele precisava manter as aparências. Chegaram a forjar um namoro, com o duplo propósito de fazê-lo parecer mais másculo e de ver se Harry se importaria, mas a única reação dele foi impedir Rony de matar o garoto.
- Fawcett não vai ficar chateado? - perguntou a ruiva.
- Peter vai levar Pansy Parkinson. - ele respondeu enojado.
- Ela não vai com Malfoy? - perguntou Marin surpresa.
- Aparentemente não. Claro que Peter não levaria uma garota realmente atraente, ele sabe que eu me sentiria inseguro. - falou o não-exatamente-menino enquanto desciam o corredor. - Mas eu acho aquela garota com cara de buldogue um pouquinho demais. Bom, todo mundo sabe que negócio do Malfoy com ela era... Sexo, que ele a traiu com Deus e o mundo. Bem típico dele, não?
- Talvez Fawcett queira experimentar a frutinha dela. - implicou a loira.
- Sem essa! - falou Colin. - Ele é tão homem quanto...- sua respiração e sua fala se foram temporariamente suspensos quando um rapaz de cabelos bagunçados e olhos verdes se materializou na frente deles.
- Bom dia Madley, bom dia Colin. - ele falou educado.- Gina, será que poderíamos nos falar agora?
- Hum...Ok. - ela falou incerta.
Caminharam até fora do alcance auditivo dos dois, Colin entrelaçou a mão na de Marin e a puxou em direção as estufas. Por um instante, Harry pareceu parcialmente confuso mas depois pegou na mão dela de leve antes de falar.
- Quer ir ao baile comigo?
O coração da menina disparou mas tentou se controlar ou botaria tudo a perder.
- Posso te responder depois? É que eu recebi outros convites e...
- Malfoy. - ele falou irritadíssimo.- Não está pensando em ir com ele, está?
- Malfoy? - respondeu confusa.- Sinceramente, Malfoy jamais me convidaria!
- Foi Colin? - perguntou em seguida.
- Colin? - perguntou segurando o riso, como Harry poderia não perceber que Colin definitivamente preferiria ir com ele do que com ela?- Não, ele vai levar Marin. Eu simplesmente preciso pensar, entende? Não vou te dizer quem foi.
- Ahn... - ele murmurou desconcertado. - Está bem.
- Até mais. – falou, dando um beijo no rosto dele e saindo apressada. Estava atrasada mais uma vez, isso já estava se tornando rotina.
Gina Weasley devia saber, depois de dezesseis anos, que a pressa é inimiga da perfeição. Ao entrar correndo nas estufas ela quase caiu ao bater de encontro com uma coruja que estava na sua mesa e, pior de tudo, na frente da turma toda, Grifinória e Corvinal, que abafou risadinhas. Era a mesma coruja do café, com o mesmo envelope imaculadamente branco.
O animal voou imediatamente e a professora. Sprout falou com sua voz sempre meiga:
- Não é educado receber corujas durante a aula, querida.
- Eu sei, professora, me desculpe. - ela sussurrou em resposta.
Colin e Marin sorriram para ela, que abriu o envelope debaixo da meda, tentando ao máximo ser discreta e rezando para que nada mais saltasse do envelope e, para seu alívio, continha apenas um pergaminho, um pouco maior que o anterior.
"Olá, linda menina de cabelos de fogo, flor criada entre tantos espinhos, delicadeza e pureza estampadas no rosto. Venha ao baile comigo... Me permita ser o cara que vai acompanhar a garota mais bela da Grifinória.
D.E.M."
Ela reparou que a palavra "Grifinória" estava escrita de qualquer jeito, muito diferente da caligrafia cuidadosa e trabalhada do resto do bilhete. Cutucou Marin e a entregou o pergaminho, que esta leu aos sussurros para o amigo ao lado.
O convite de Harry, as misteriosas mensagens de "D.E.M." e o estranho "Bom dia menina Weasley" de Malfoy eram três problemas em sua mente. Quem conseguiria se concentrar em qualquer coisa assim? De repente, como se em um salto no tempo, já era a hora do almoço. Só então Colin perguntou.
- O gato te chamou?
- Chamou. - respondeu sem pensar.
- Mas agora tem o D.E.M., não? - falou Marin. - Ele é tão romântico! - suspirou. - Você não tem idéia de quem seja?
- A menor idéia. - falou Gina, suspirando também. - Mas, não é só isso. Tem uma coisa que eu ainda não contei a vocês.
Os dois aproximaram as cabeças dela, Colin quase derrubando as travessas ao se debruçar. Em tom bem baixo, ela contou sobre o bom dia de Malfoy.
- Bom, uma coisa eu tenho certeza - falou Colin. -, o tal D.E.M. não é Grifinório... Eu poderia apostar em um sonserino.
- Ah é? - perguntou Marin.- E como você chegou a essa conclusão?
- Bom, pela maneira que esse alguém escreveu Grifinória. Faz parecer completamente desprezível.
- Bom argumento mas, mesmo assim, quem seria D.E.M.?
- Ah, Gina, isso requer mais investigação. - Colin falou, piscando o olho e depois foi quase correndo sentar ao lado de Peter Fawcett na mesa da Corvinal.
- Gazela. - sacudiu a cabeça negativamente Marin. - Eu vou ao baile com uma bicha fofoqueira.
- Isso foi preconceituoso. - falou a outra.
- Você sabe que eu não me importo!
- Mas não deveria falar assim, é ofensivo.
- Querida, Colin acha graça disso. E parecer ser brincadeira, quero dizer, não soa como se estivesse dizendo a sério.
As duas se levantaram, seguindo com calma pelas escadas que levavam à Torre Norte. Não havia a menor urgência em chegar.
"Me atrasar para as aulas é uma coisa, ficar presa por um degrau é ligeiramente mais humilhante", ela pensou enquanto seguia apressada para o Salão Principal. "Agora vou chegar atrasada para o jantar."
Gina permanecera nas proximidades da Torre Norte por algum tempo depois da aula de Adivinhação e, na descida (entre o 5o. e o 4o. andar), tinha ficado presa por um dos degraus. "Quando a gente mais precisa essa meleca de castelo está deserto. Aí eu me atraso pro jantar. Droga. Tenho certeza que Colin levantou o nome e o sobrenome de todos os garotos dos últimos anos de todas as casas. Ainda hoje eu descubro quem é esse cara me convidando."
- Eu realmente espero que sim, Weasley. - falou uma voz que ela achou que conhecia mas não pôde identificar.
A menina levantou o rosto lentamente, quase com medo de quem iria ver. Quase com medo de quem é que a pegara falando sozinha. Desde os sapatos de couro preto cuidadosamente engraxados, passando pelo uniforme perfeitamente impecável, pelo broche-distintivo de Monitor Chefe até ao emblema e a gravata da Sonserina, ela sabia quem era. Mesmo assim quis ver o rosto para confirmar: o queixo pontudo e fino, a pele pálida, os lábios finos e claros com as bochechas muito levemente rosadas, o nariz reto e fino, os olhos rasgados cinzentos os cabelos lisos e platinados em corte asa-delta. Sem dúvida era Draco Malfoy.
- Acredito que você vai dormir essa noite sabendo quem é o seu cortejador misterioso.
- O que você sabe sobre isso, Malfoy? – perguntou, contrária ao impulso de ir embora.
- Bastante. - disse ele. - Mas o que eu gostaria de saber é, qual é seu nome?
- Ahn? - ela falou perdida.
- Quero saber seu primeiro nome. - ele falou, quase-paciente, quase-ríspido.
-Ah sim... Me chamo Virginia, mas me chamam de Gina.
Ela reparou agora que seus narizes já se encostavam e seus olhos não conseguiam mais focalizar nada que não fossem os olhos cinzentos de Draco. Uma imensa variedade de tons se misturavam em sua íris, como as nuances de um mar revolto, onde ela poderia mergulhar e se perder para sempre, se não fugisse logo.
Mas antes que ela conseguisse se libertar do encanto e ir embora, com um toque macio os lábios dele estavam sobre os seus. Gina nunca fora beijada antes e não sabia bem o que fazer: parte de si gritava de afobação e a outra parte gritava que saísse correndo pois vindo de Malfoy boa coisa não poderia ser.
Delicadamente, ele a induziu a separar seus lábios enquanto passava o braço pela cintura dela, abraçando-a firme. Passou a língua pela da garota, massageando-a carinhosamente enquanto ela retribuía com timidez. Quando ele terminou o beijo, ela corou completamente até a raiz dos cabelos.
- Tenha uma boa noite, Virginia Weasley. - falou com um sorrisinho e em algo como um segundo ele já estava nas escadas do 2o. pro 1o. andar.
Ainda estava em estado de choque quando se sentou à mesa da Grifinória de frente para Marin e Colin. O que certamente não melhorou quando no lado oposto do Salão Malfoy ergueu uma taça como se fazendo um brinde, olhando-a fixamente.
- Existem quatro pessoas que podem ser o misterioso D.E.M. - falou Colin, puxando um pedaço de pergaminho - Douglas Malcom, que se encaixa bem no perfil porque é sonserino, Dean McDougal, que é corvinal, você sabe, aquele moreno. Tem ainda Daniel Madley. – falou, sorrindo amarelo para Marin, já que se tratava do primo dela.
- O nome do meio dele é John.
- E o improvável Draco Malfoy.
- Mas ele não te chamaria para o baile sob hipótese alguma, não é? Ele odeia os Weasley. - falou Marin com uma careta. - Se bem que ele é o mais gato dos quatro. Eu tinha uma paixonite por ele antes de virmos para Hogwarts, afinal, mamãe era sonserina, não? Ela estudou com a Sra. Malfoy.
- Ele realmente é lindo. - ela ouviu a voz de Colin, como se fosse em outra vida, em sonho.
Mas Gina estava em estado de transe. D.E.M. Draco Malfoy. A estranha pergunta de Harry. O beijo no corredor. Ele tinha certeza que ela descobriria. Faltavam mais ou menos quarenta e oito horas para o baile e ela tinha acabado de descobrir que o maior inimigo do seu irmão a tinha chamado para ir com ele. Murmurou uma desculpa qualquer e subiu correndo para seu dormitório, sua cabeça rodava, tudo rodava violentamente.
Em cima da sua cama, a coruja cinza-chumbo a esperava com um envelope e um pacote.
"Querida Virginia,
Desculpe, não pude evitar te beijar esta noite. Você estava tão linda confusa, não consegui me impedir e não me arrependo de maneira nenhuma.
Por favor, vá ao baile comigo.
Draco Edward Malfoy."
O pacote tinha uma rosa branca e, preso nela, um belo anel de ouro branco com detalhes em ouro amarelo. Sem conseguir se segurar, ela o experimentou no dedo anelar esquerdo. Era absolutamente lindo. Tirou-o em seguida e guardou na gaveta, quase ao mesmo tempo em que Marin invadia o dormitório.
- O que houve, Gina, você não comeu...
- Marin, sabe o menino misterioso? –perguntou, cortando a amiga.
- O que tem? – ela falou quase entediada. Gina estendeu o pergaminho pra amiga dizendo.
- É Draco Malfoy.
