Disclaimer: Não, não, os cavaleiros não pertencem a mim, crianças... Não se enganem! u.u' O responsável pela criação deles é o Tio Masami. Já a responsável pelo que eles fazem nessa fic, aí sim, sou eu.
As duas primas chatas são criações minhas. Agüentem elas só um pouco, oui? Serão úteis... ;)
O Convite
Era domingo, não havia treinos. Acordara relativamente tarde, preparara um delicioso café da manhã, e agora podia sentar-se na varanda para ler um livro e comer um brioche. Kamus não poderia estar mais satisfeito consigo mesmo. O sol brilhava, mas sendo outono não estava aquele insuportável calor grego.
O francês estava particularmente de bom humor. O dia seria de paz e descanso, e nada poderia estragá-lo. A geléia no brioche brilhava contra o sol, Afrodite em seu jardim varria as folhas da estação, um bando de gaivotas voava, duas garotas subiam correndo as escadas, havia uma leve brisa... Duas garotas?
Oh, não. Ele havia se esquecido completamente. Seu dia estava arruinado.
Em tempos de paz, uma vez a cada três meses, eram sorteados dois cavaleiros de ouro para convidar seus familiares para passar um domingo no santuário. E Kamus simplesmente não suportava esses episódios. Se pelo menos algum dos cavaleiros tivesse uma família normal! O objetivo era que não precisassem abandonar seus postos para ir visitar a família, mas depois de algumas experiências ficara claro para o francês que seria bem mais seguro assim.
A família de Máscara, por exemplo. Um bando de italianos loucos que chegaram em massa no santuário, dispostos a passar o domingo inteiro fazendo festa. Resumindo: Barulho, baralho, macarronada, bebedeira, cantoria, confusões e um monte de palavrões em italiano. Kamus não teria se importado se tivessem deixado-o ficar na décima primeira casa, mas Máscara havia insistido para que todos os dourados aparecessem. Oh, quem dera tivesse pego uma pneumonia! Provavelmente não teria acordado no dia seguinte com uma enxaqueca sem precedentes.
Mas a maioria dos cavaleiros não possuía famílias imensas. Ele mesmo, só tinha um tio e um primo, que ele fez questão de levar para a cidade da vez que os convidou. Não ia importunar os outros. Pena que nem todos pensassem assim.
Sabia muito bem quem eram as duas garotas correndo. Perse e Kanna, primas de Miro e Afrodite, respectivamente. Como era possível que houvessem sido sorteadas ao mesmo tempo outra vez? Da última, já tinham ficado bem amiguinhas. E tinham sido um estorvo, invadindo a décima primeira casa, remexendo coisas, fazendo perguntas inconvenientes e agindo como se fossem amigas de longa data do francês.
Perse era a única família de Miro, e ele a amava até demais. Eram muito parecidos em personalidade. 'Extrovertidos', dissera certa vez Mu. 'Devassos', corrigira Kamus. E fisicamente... Bem, com aquele ar rebelde e os cabelos roxos e lisos relativamente curtos esvoaçando... Ela sem dúvida chamava atenção, Kamus concordava. Mas daí a dizer que a beleza era de família, e torcer o pescoço cada vez que ela passava como alguns cavaleiros faziam, já era demais. Miro sem dúvida era milhares de vezes mais atraente.
Apesar de que ele nunca admitiria isso em voz alta, ainda mais em frente das duas garotas. O que o lembrava de outro problema: Como muitas vezes acontecia entre os familiares dos dourados, elas tinham certas 'habilidades'. E Perse tinha uma irritante sensibilidade em relação aos sentimentos das pessoas, e costumava gabar-se de poder ler em seus olhos tudo o que sentiam.
Levando em consideração os sentimentos que nutria em segredo pelo primo da garota, aquilo era definitivamente um problema. E dos grandes.
Quanto a Kanna... Ah, a bela Kanna! Tão parecida com Afrodite, que a ama nas mesmas proporções que Miro ama Perse, ou seja, o suficiente para ignorar o fato de que ela pulou no montinho de folhas que ele passara a manhã inteira varrendo, para se jogar em seus braços gritando escandalosamente: 'Diteee! Que saudadeeeeeees!'
Se fosse qualquer outro, Afrodite teria tido um chilique. Mas era Kanna. Sua prima que mais parecia sua irmã gêmea, só que com os cabelos sempre trançados e os olhos cor-de-rosa.
A princípio, Kamus achara a garota bastante simpática. Educada, sempre sorrindo, um doce. Isso foi antes de ela entrar em sua casa e revirar tudo só olhando para as coisas. Nesse ponto, o francês poderia jurar que ela era prima de Mu: possuía o dom da telecinese. O que, somado a idéia que tinha de possuir um gosto para decoração mais apurado do que Kamus, era absolutamente ultrajante. Ela mudara todos os móveis do lugar em segundos!
Agora será que alguém poderia explicar a ele o porquê? Ele só queria um domingo de paz, mas com elas lá seria impossível. Não sabia o que Afrodite e Miro haviam dito para que elas o tratassem como um velho conhecido, mas tinha certeza de que havia sido sacaneado.
Kamus podia ver Kanna entrando com o pisciano na décima segunda casa, seguida de Perse quando... Oh, não. Perse o viu em sua varando, disse alguma coisa para os dois primos felizes e veio correndo em sua direção. Droga! Por que não se escondera?
- Kamyu! – Sorriu a garota sem fôlego. Kamus ficou contente por não ter sido abraçado como da última vez, mas fez uma careta ao ouvir o apelido saindo da boca dela. – Olá, como vai? Há quanto tempo! – Clichê, não merecia resposta. – Ah, que delícia, um brioche! Posso? – Considerando que ela já havia o posto na boca, também não era necessário responder certo? Ele não ia responder. Ia ignorá-la, então ela desapareceria. É claro que sim.
Oh, maldita fosse sua educação francesa!
- Como vai Perse? Fez boa viagem? – Resmungou a contra gosto.
- Ahn...? Ah, sim, claro. – Perse ergueu uma sobrancelha. Kamus teve a irritante sensação de que a garota realmente não esperava uma resposta. Para quê, se ela já tinha um monólogo pronto na cabeça? E ele ainda se dera o trabalho... – Escuta só, Kamyu. Kanna e eu estávamos conversando com Miro, e tivemos umas idéias... – OH, NÃO! – Miro resolveu chamar todos os cavaleiros para aparecer lá na oitava casa hoje à noite. Estamos planejando uma rodada de cervejas e algo mais, talvez.
- Erm... – Na verdade, apenas a rodada de cervejas já soava como um mau sinal, mas algo mais? Ela havia conseguido aterrorizá-lo.
- Ótimo! – Dando um último sorriso ofuscante, Perse deixou a casa de aquário, voltando a subir para Peixes.
O estômago de Kamus revirava. 'Algo mais' na casa de escorpião definitivamente não era sua idéia de 'um dia de paz e descanso'. É claro que soaria tentador se fosse 'algo mais na casa de escorpião apenas com um certo escorpiano', mas como havia outros cavaleiros envolvidos na história, além de duas garotas irritantes, ele apostava que seria apenas mais uma dor de cabeça.
Cinco da tarde. Kamus andava para um lado e pro outro. Havia desistido de ler. Há apenas alguns minutos, guardava a doce ilusão de que poderia aparecer na oitava casa lá pelas onze da noite, dizendo que não fora avisado do horário. Todos já estariam bêbados, e ele poderia ir embora em cinco minutos que ninguém ligaria.
Só que Miro passara por lá havia alguns instantes, a caminho de Peixes, e se debruçara em sua janela para, aparentemente, jogar papo fora. Pego de surpresa por aquela visão, Kamus não conseguira entender nada do que o grego dissera nos cinco primeiros minutos, o que não era um grande problema, considerando que a mania-monólogo era de família. Só acordou do transe quando Miro avisou que era para estar em escorpião lá pelas oito, que a noite seria longa.
Aparentemente a tática falar-algo-assustador-e-sair-correndo também era de família, porque não foi dada a Kamus a oportunidade de dizer que tinha um compromisso inadiável àquela hora, mas que apareceria mais tarde. De preferência, quando todos estivessem bêbados o suficiente para ignorá-lo.
Não, é claro não. Ele tinha que ficar a mercê do sorriso do grego! Kamus não entendia porque Miro se dava ao trabalho de lutar quando com um sorriso poderia desarmar qualquer defesa.
Na verdade, Kamus não entendia uma porção de coisas, nos últimos tempos. Por exemplo: Desde quando Miro tinha tanto poder sobre ele? Definitivamente, fugia de sua compreensão.
Cinco e meia. Percebendo que uma depressão começava a se formar no chão de tanto que ele andava em círculos, o francês achou melhor tomar um banho. Sim, um longo banho de espuma compensaria todo o resto! Então estaria pronto para se vestir, engolir uns comprimidos para dor de cabeça e se dirigir à oitava casa.
Seis horas. Já havia se lavado, mas ainda poderia passar mais alguns instantes de paz, certo? A água estava uma delicia, a espuma era simplesmente relaxante, e seu pingüim de borracha sorria ao lado do Shampoo de forma muito simpática. Podia ouvi-lo dizer 'Oh, Kamus, fique mais um pouco, me faça companhia! Eu me sinto tão solitário aqui!'. Talvez estivesse delirando, mas o pingüim sabia ser muito convincente.
Seis e meia. A água não estava mais tão deliciosa assim. Na verdade, estava fria. A espuma havia desaparecido por completo, mas afinal, ele era ou não era o cavaleiro de ouro de aquário? Ora, desde quando precisava de espuma? E adorava o frio. Agora sim a água estava na temperatura ideal! E ele e o Sr. Pingüim estavam tendo uma conversa muito agradável sobre vinhos franceses.
Sete horas. Seus dentes batiam. Cavaleiro de aquário ou não, não conseguiria convencer seu corpo de que 'gelada' era a temperatura ideal nem por mais cinco minutos. Levantou-se, enrolando-se em uma toalha. O pingüim gritava: 'NÃO! Não me abandone com o Sr. Shampoo, por favoooooor! Ele é malvado!'... É, definitivamente estava na hora de enfrentar uma rodada de cerveja.
Uma calça jeans e uma camiseta preta. Discreto, razoável e seguro. Uma vozinha dentro dele não parava de reclamar, lembrando como Miro estaria lindo e arrumado, e que era ridículo ele não estar à altura, mas Kamus estava decidido a ignorar aquela voz.
- Você não vai assim, vai? – Já essa voz ele provavelmente não conseguiria ignorar por muito tempo.
- Já lhes disseram que é falta de educação entrar na casa dos outros sem pedir licença? – Elas não pareciam se importar muito, afinal já estavam em seu quarto e analisavam seu guarda roupa.
- Uau, Kamyu! Isso é uma calça de couro preta? Eu sabia que você não ia me decepcionar. Agora trate de não decepcionar o meu primo também, e vista isso. – Disse Perse, atirando a tal calça. Kanna entretinha seu 'gosto apurado' em selecionar uma camisa para o francês e, quando ele se deu conta, a melhor camisa branca do armário voava em sua direção também.
- Hm, garotas... Obrigado, mas... EI! – Perse havia atirado um belo par de sapatos nele, e o olhava de forma categórica. Algo lhe dizia que havia uma mensagem por trás do gesto, e não era apenas 'ponha esses calçados'.
Mas que mal havia em se arrumar? Ele estava mesmo tentado a fazê-lo, e lá estavam as duas garotas lhe dando a desculpa perfeita. Estava a ponto de ceder mentalmente quando as duas cansaram de esperar e decidiram arrancar suas roupas. Que ultraje!
- QUEREM PARAR? Ah... – Tinha decidido que elas realmente mereciam ouvir ulguns gritos, mas se arrependeu ao ver Kanna piscar os grandes olhos cor-de-rosa no melhor estilo vou-chorar-seu-grosso. O que mais o irritava nas duas era elas serem praticamente versões femininas de seus primos, dez vezes mais inconvenientes. – Ok, desculpe, eu vou me trocar, está bem? Apenas... Tirem as mãos.
Para sua surpresa, foi obedecido. Entrou no banheiro e se trocou. Tinha que admitir que elas tinham bom gosto, afinal. O conjunto ficava relativamente simples, mas caia excepcionalmente bem nele. Saiu do banheiro pronto para receber irritantes elogios.
- Uh, péssimo. – Kanna fez uma careta. Perse concordou com a cabeça.
- ... – Péssimo...? Qual era o problema delas?
Kanna foi até ele e abriu os primeiros botões da camisa, depois a tirou de dentro da calça. Ajeitou a gola, e pareceu satisfeita. Então Perse atacou por trás, espirrando nele o melhor perfume francês que tinha encontrado no banheiro.
- Bem melhor!
Kamus estava começando a se sentir ridículo com os cuidados das duas, mas quando Kanna decidiu que ia pentear seus cabelos foi demais. Ignorando os malditos olhos cor-de-rosa, expulsou-as.
Olhou para o relógio na cômoda. Oito horas. Estava bem mais arrumado do que pretendia. Penteou os cabelos, escovou os dentes – satisfeito consigo mesmo por ter se livrado delas antes que tentassem escová-los por ele –, tomou seu comprimido de consolo e, repetindo mentalmente que ia só tomar uma cerveja e voltar, saiu de casa.
Evidentemente, continua...
