Fanfic:

A pureza da Pérola e a escuridão do Ônix

Dark Temi

Fanfic Sasu/Hina

Eu nunca me considerei uma pessoa boa. Nunca ousei sequer me considerar uma pessoa. Eu nada mais era do que uma ferramenta, um instrumento. O instrumento da morte do meu irmão. Tudo o que eu queria pra mim era isso. Nem que isso custasse meu corpo. Nem que isso custasse minha alma. Nem que isso significasse abrir mão de meus amigos, sendo que um deles era um VERDADEIRO irmão. Não, não importava. Fazer o que fosse possível. Sobreviver pra isso. Eu não poderia me considerar humano. Eu era, sempre fui, apenas ódio, obsessão, instintos assassinos. Tudo o que eu queria era sentir o sangue do assassino do meu clã escorrer entre meus dedos. Isso não era ser alguém. Não era ser uma pessoa. Era ser EU. Uchiha Sasuke.

Mas quando eu estava ao lado dela... eu me sentia... quase... Um ser humano.

Por que? Não sei dizer. Só que... Vendo seu rosto tomado pelo pranto... Ouvindo suas lamentações... Tão frágil... tão desprotegida... Ela era tão pura... Ao meu ver, tão superior à todo esse mundo de sofrimento...

Por que eu me sentia tão humano perto dela? Na verdade, não que eu me sentisse humano. Eu me sentia superficial, obsessivo, odioso... Egoísta. Isso mesmo. Ela aflorava em mim o maior sentimento humano. O egoísmo. Eu me sentia extremamente egoísta. Ao pensar que enquanto eu me afogava em meus objetivos obscuros, ela continuava lutando. Lutando pela felicidade dos outros, ignorando a própria.

Eu sou um tremendo egoísta. E ela era simplesmente perfeita.

Perto dela, eu me odiava.

O que era horrível.

Sabe por que?

Porque algum filho da puta disse que o amor e o ódio andam juntos.

E eu não podia me apaixonar. Não queria.

Ou será que era tarde de mais?

Eu me odeio.

Capítulo I: Pérola e Ônix

Era um fim de tarde. Tanto melhor. Havia sido um dia terrivelmente quente, e eu sempre preferi o frio. E com o pôr do sol, e a chegada das criaturas noturnas, a temperatura ambiente com certeza cairia. E esse seria o único motivo que eu teria pra não odiar a minha noite. Ou melhor: eu continuaria odiando-a do mesmo jeito, mas se estivesse frio eu a odiaria menos.

Por que eu odiava tanto a noite? Por causa da solidão. Durante o dia, eu sempre ficava junto dos meus amigos. Eu apreciava a companhia deles, sou obrigado a admitir, mas eu também não ia ficar passando a noite com eles.

Embora eu tenha certeza que a Sakura não ia se importar.

Mas eu jamais faria isso com ela. Não servia pra ser um dos meus casos de uma única noite. Não que ela fosse feia. Muito pelo contrário. Mas ela era minha amiga. E eu a respeitava. Por mais difícil que isso fosse.

E, com certeza, eu não ia pedir pra passar a noite com o NARUTO. Apesar de eu achar que, após matar meu irmão, voltar pra Konoha era realmente o fundo do poço, onde eu afoguei o que restava do meu orgulho e do meu respeito próprio, eu não estava tão mal assim a ponto de mudar de time.

E as minhas nada raras companheiras noturnas... Eram prazerosas sob muitos aspectos... Mas quando eu estou deprimido... Como hoje, por exemplo... Não é disso que eu preciso. E não é muito raro eu ficar deprimido.

Wow. Acho que estou virando emo. Se eu começar a chorar na chuva, eu me mato. Cortando os pulsos, provavelmente.

Mas voltando a falar dos meus amigos... Nós estávamos treinando. E agora, com o fim do dia, o treinamento acabou também. O Kakashi já se mandou pra casa, pra poder ler seus livros pervertidos, e nós três estamos caminhando em silêncio, o que é bastante incomum. Cada um de nós está imerso em seus próprios pensamentos.

Falando em coisas incomuns acontecendo com meus amigos, algo realmente está errado com a Sakura. De uns tempos pra cá, ela parou de correr atrás de mim. Nem uma mera tentativa. Não que eu não tenha apreciado enormemente esse fato. Na verdade, estou muito aliviado. Mas é verdadeiramente estranho. Alem disso, tem horas em que ela simplesmente fica muda, olhando pra mim e depois pro Naruto, e pra mim de novo, e aí pro dobe. Muito estranho.

-Bem... – a voz do Naruto me arrancou das minhas divagações. – Quem quer ir ao Ichiraku ramen comigo? Eu pago!

Antes que eu pudesse responder, a voz da Sakura me surpreendeu:

-Eu vou. – Meu Kami-Sama, o que é isso? Ela está sorrindo para o Naruto?

Desnecessário dizer que o Naruto ficou tão embasbacado quanto eu.

-É sério, Sakura-chan? – acho que ele ficou aparvalhado com o sorriso dela. Ou o reflexo de luz na testa dela estava cegando ele. Vai saber.

-Claro... Você vai pagar, não vai? – Meu Kami-Sama, ELA AINDA ESTÁ SORRINDO! Mas isso não muda o fato de que ela é pão dura.

-Vou... Claro que vou... Só que... Eu... realmente... não esperava... – ele puxou aquela carteira de sapo, que eu particularmente sempre achei muito tosca, e começou a mexer nela. – Kuso... Realmente... não achei que você fosse aceitar Sakura-chan... então...

-Então não vai rolar? – perguntou ela, calmamente. ISSO TÁ COMEÇANDO A ME ASSUSTAR.

Naruto surtou na mesma hora.

-É claro que vai! Eu só tenho que ir em casa primeiro... Isso. Te encontro na rua principal, ok? Tchau, Sakura-chan! E teme! – acrescentou ele, enquanto saia correndo pra pegar mais dinheiro. Eu preferi nem comentar o fato de que ele foi correndo pra casa ao invés de esperar pra ir com a Sakura. Mas o dobe... É o dobe.

-Então... – eu comecei, agora que Naruto já estava bem longe. Dependendo dos rumos que essa conversa tomaria, eu preferia que ele não ouvisse pra não se machucar. Quero dizer, a Sakura também era minha amiga e tudo mais, mas o Naruto era um verdadeiro irmão. – Você sabe que eu não vou ao Ichiraku, não é?

-Sei.

-E que o Naruto com certeza vai considerar isso um encontro, né?

-Aham.

Rapaz, isso tava começando a me assustar. Mas eu comecei a achar que talvez ela quisesse fazer ciúme em mim. Não, nem ela seria capaz disso. Mas não custa confirmar, não é?

-Sakura, você sabe que eu não me importo nem um pouco com o que vai acontecer entre vocês dois, não sabe? – isso não era totalmente verdade. Um parte (uma parte bem pequena, eu faço questão de ressaltar) de mim não queria que nenhum dos dois se machucasse.

-Eu sei, claro que sei, Sasuke-kun. Sabe, isso é uma coisa que eu consegui reparar durante todos esses anos.

Ta bom, agora aquilo estava me irritando. É incrível com a Sakura tem o dom de me irritar. Eu odeio não entender o que está acontecendo.

-Você não está entendendo nada, não é Sasuke-kun?

-Sakura... Você sabe ser irritante. – Porque a única coisa que me irritava mais do que não entender o que está acontecendo, é alguém perceber que eu não estou entendendo o que está acontecendo.

-É... Essa foi outra coisa que eu percebi. –murmurou vagamente, olhando pra lugar nenhum. – Mas enfim, é tudo muito simples. Eu resolvi dar uma chance pro Naruto.

Meu mundo caiu.

-Han? – Não que eu não tivesse gostado da notícia. Falando sério, eu to cagando e andando pra vida amorosa dos dois. Mas isso era uma coisa que eu não esperava.

-Surpreso?- ela sorriu calmamente.

Não, claro que não. Por que eu estaria surpreso? Depois que meu irmão morreu, eu dividi meu mundo em duas partes. As coisas de que eu tinha certeza, e as de que eu não tinha certeza. Eu não tinha certeza, por exemplo, se algum dia a multidão de garotas ensandecidas de Konoha ia me deixar em paz. Ou que a Tsunade-sama ganharia na loteria sem que isso indicasse que a Quarta guerra do mundo ninja ia ser deflagrada. Ou que o Shikamaru ia parar de se esconder na minha casa todas as vezes em que o Kankurou viesse pra Konoha, já que parecia que ele não aprovava a escolha da irmã. O que é um porre, por que eu acabo passando minhas tardes jogando shouji. Por um lado é bom, porque o Shikamaru é um bom amigo. Por outro, é horrível, porque eu nunca consigo ganhar dele. Um dia eu perguntei porque ele não encarava o Kankurou. Ele disse que era problemático explicar. Bem, sorte que é ele e não o Gaara. Porque se fosse o Kazekage, ai até eu ia querer me esconder.

Mas por um lado eu tinha certeza de algumas coisas. Eu tinha certeza de que jamais ganharia do Shikamaru naquele maldito jogo. Eu tinha certeza de que o Kakashi nunca chegaria na hora marcada. Eu tinha certeza de que o Naruto era meu melhor amigo. Eu tinha certeza de que jamais teria que segurar vela pra ele e pra Sakura. E agora a Haruno me aparece com uma dessas, e me desestabiliza. Então, por que eu estaria surpreso?

Bem, talvez seja a hora de chamar o Shikamaru pra jogar Shouji.

-Ah... sim, sim, um pouco.

-Eu imaginei. –ela não olhou pra mim em momento algum. – Eu sou sua amiga, não sou Sasuke-kun?

-É, é sim. – Não quero nem imaginar onde essa conversa vai dar. Se terminar com ela me perguntando que presente dar pro Naruto, eu saio correndo.

-Mas eu sou apenas amiga, certo? Por mais querida que seja, apenas amiga?

-Exatamente.

-Foi o que eu pensei. – ela suspirou. – Bom, acho que você vai ficar feliz em saber que eu cheguei à conclusão que terei que me contentar com a sua amizade. E vou passar a dar valor pra quem sempre gostou de mim.

Nesse momento, eu senti um movimento na floresta, próximo a nós. Mas não éramos as únicas equipes shinobis treinando. Aliás, eu tinha a vaga impressão de que a antiga equipe da Kurenai-sensei estava treinando por ali perto, então não dei muita importância.

-É, eu fico feliz. Por você e pelo Naruto.

-Principalmente porque agora eu não vou mais te incomodar. – ela riu, e eu me permiti dar um quase imperceptível sorriso.

-Principalmente.

-Bom, acho que é isso. Ja ne, Sasuke-kun.

Imagino que vá demorar um pouco pra ela parar de usar esse sufixo comigo.

-Ja ne. – ela saiu andando, e no meio do caminho parou, sem se virar.

-Espero que você não tenha pensado que eu queria fazer ciúme em você.

Ah, imagina. Tal idéia nunca passou pela minha mente inocente.

-Não, claro que não.

Ela riu baixinho, mas é claro que eu ouvi.

-Você mente mal, Sasuke-kun.

Cara, como ela consegue me ler assim? Suponho que tenham sido os anos de convivência.

-Garota, você é extremamente irritante.

Ela riu e sumiu no meio das árvores.

Eu me aproximei da janela e levantei um pouco a cortina. Do ultimo andar do prédio, eu tinha uma vista perfeita da aldeia. Fora muita gentileza da Hokage me conceder um apartamento tão bom.

Daqui eu tinha uma vista perfeita da rua principal, com as lâmpadas coloridas penduradas nas portas das lojas, a fumaça que saia das casas de chá, as pessoas que passavam pelas ruas...

Espera aí: aquele não é o Naruto, correndo igual um maluco, como se sua vida dependesse disso?

É por essas e outras que eu costumava chamá-lo de camarãozinho.

Bom, esse é o tipo de coisa que não se vê em Suna.

Suspirei. Ficar longe da minha aldeia tanto tempo me deixava deprimida. Mas infelizmente ainda faltam uns dois meses para a prova chunnin acabar. E eu não posso ir embora antes disso. As relações Konoha/Suna dependem disso.

Mas que era um saco, ah isso era.

Eu odeio admitir, mas eu sinto falta dos meus irmãos. Como será que eles estão? Será que o Kankurou finalmente desencalhou, ou o Gaara percebeu o quanto a Matsuri é apaixonada por ele? Será que está tudo bem lá em casa?

Ficar sem noticias me deixa com uma vontade enorme de bater em alguém.

Eu me afastei da janela, indo na direção do espelho na parede do meu quarto. Peguei uma escova, me sentei na frente dele e soltei o cabelo. Muita gente acha que não, e na verdade muito poucos sabem: meu cabelo não é rebelde ou volumoso como todos pensam. Na verdade, ele é absolutamente normal. O loiro dele é um pouco escuro, as pontas são repicadas e ele cai um pouco pelos ombros quando está solto. Eu o acho muito mais bonito quando solto, mas preso é muito mais prático quando eu estou no meio de uma luta. Sabe, eu não vou ficar me preocupando com cabelo quando tiver coisas mais importantes pra fazer, por exemplo, surrar alguém.

Eu comecei a escová-lo lentamente, enquanto admirava o kimono que Gaara e Kankurou me deram pelo meu aniversario de 19 anos, que por acaso era hoje. Maldita prova chunnin que me privou de passá-lo em Suna.

É um kimono realmente bonito: Ele é todo roxo claro, não tão claro a ponto de ser lilás, e tem alguns detalhes em roxo escuro, como o Obi, por exemplo. Eu desconfio... Não, na verdade eu tenho certeza de que quem o escolheu foi a Matsuri. Francamente, o Kankurou anda por aí com a touca mais estranha que eu já vi, eu até ameacei jogar aquilo no lixo, e o Gaara, sendo Kazekage, tem coisas mais importantes para se preocupar do que kimonos. Eu preciso mesmo me lembrar de agradecer a Matsuri.

Eu terminei de escovar o cabelo e voltei para a janela. Observei a rua de novo.

Nossa, que surpresa.

Lá vai o camarãozinho loiro correndo pelas ruas de novo, dessa vez na direção contrária à que ele estava antes. Wow, ele quase atropelou a Sakura. É impressão minha ou os dois então sorrindo um para o outro?

Irritada, eu me afastei da janela e a cobri com a cortina. Eu me xinguei interiormente. Era ridículo eu estar me sentindo abandonada. Quero dizer, o que eu estava fazendo? Eu simplesmente vesti o meu kimono novo pra que?

Eu quero dizer, ele não faz idéia de que hoje seja meu aniversário. Ele nem sequer disse que iria passar aqui hoje. Na verdade, ele nunca passa. Então por que hoje seria diferente? Por que eu estou esperando aquele... Aquele...

Aquele preguiçoso?

E DESDE QUANDO EU SOU DEPENDENTE DE UM HOMEM?

Temari, Temari. Não estou te reconhecendo.

Muito bem, admito: eu não queria passar o meu aniversario sozinha, mas e daí? Eu vou descer, dar uma volta na aldeia, tomar um chá e talvez admirar a lua do alto da Montanha dos Hokages.

Eu não preciso daquele preguiçoso que tem preguiça até pra respirar.

Fui até o armário, corri a porta e peguei meus tamancos de madeira. Deu uma olhada no espelho. Não sou o tipo de garota que atola a cara de maquiagem e fica parecendo uma pintura su-realista. Alguém, não me recordo quem no momento, me disse uma vez que minha pele e meus olhos já eram bonitos por si só, e que eu não precisava perder tempo com isso.

Não, eu não sou desleixada, nem masculinizada. Eu apenas me considero bonita do meu jeito. Auto confiança é melhor do que qualquer maquiagem.

Então, eu resolvi tirar aquele bicho preguiça ambulante da cabeça e aproveitar minha noite. Eu estava bem comigo mesma e era isso que importava.

Eu fui até a sala e abri a porta.

Eu... Não... Acredito.

Espero sinceramente que eu não esteja com uma cara de idiota.

Por que parado ali, como se estivesse apenas esperando que eu saísse, estava o ninja mais preguiçoso, e ainda assim mais inteligente, sério, responsável e, na minha opinião, um dos mais bonitos de Konoha: Nara Shikamaru.

Ele estava usando um conjunto simples, preto e muito discreto, e estava encostado na parede, com os braços cruzados, me encarando. A me ver, ele sorriu calmamente e disse, com aquela voz mansa:

-Aff... Até que enfim, sua problemática. Eu ia acabar dormindo em pé, esperando você. Não é brincadeira o quanto vocês mulheres demoram...

Posso falar a verdade? Essa ultima frase me incomodou.

-Então eu suponho que você esteja acostumado a esperar mulheres se aprontarem.

E aí eu me xinguei interiormente de uma porrada de coisas. Ele ergueu uma das sobrancelhas, e sorriu.

-Na verdade não, eu não sou do tipo que fica caçando mulher por aí. – ele sorriu ainda mais, um sorriso que eu nunca havia visto nos lábios dele: um sorriso malicioso. – Só se ela valer muito a pena.

Sabe do que mais? Resolvi não pensar no significado dessas palavras.

- E você está aqui por que...?

-Aff, como você é problemática... – resmungou ele, coçando a cabeça, e se parecendo muito mais com o Shikamaru com o qual eu estava acostumada. – Eu vim aqui porque eu achei que você não ia querer passar seu aniversario sozinha.

Isso me surpreendeu, mesmo eu tendo sonhado com isso.

-Mas como você...

-VOCÊ me disse uma vez que seu aniversario era dia 23 de agosto.

-Disse é... – eu posso mesmo ter dito, mas não me lembro disso especificamente. Na verdade, nunca aconteceu nada de concreto entre mim e o Shikamaru, apesar do que muita gente pensa. O Kankurou é um deles. Por isso, ele às vezes aparece aqui, com a desculpa de me ver, mas eu acho que é pra tentar pegar nós dois em flagrante e ter uma desculpa pra surrar esse preguiçoso até a morte. Mas ele nunca vai conseguii, por três razões bem simples: primeira, o Shikamaru é preguiçoso demais pra tomar uma atitude com relação a mim. Segundo: ele sempre se esconde quando o meu irmão vem pra cá. E terceiro, se ele fizer isso eu empalo ele com meu leque.

Mas o fato é que o Shikamaru finalmente tomou uma atitude: ele se lembrou do meu aniversario e está aqui. Quem sabe agora ele cria vergonha na cara e para de fugir para a casa do Uchiha toda vez que meu irmão mais velho vier pra cá?

Ele se desencostou da parede e veio na minha direção:

- E nós vamos ou não?

O que eu poderia fazer?

Eu fui.

Eu me pergunto por que ainda não fui pra casa. Talvez seja porque não tem ninguém lá me esperando. Ou mais provavelmente, porque eu morro de preguiça de cozinhar. Vai saber. Deve ser por que minha comida é uma droga. Não sei como eu consegui sobreviver até os 17 anos comendo aquela gororoba.

No presente momento da questão, eu estou andando no meio da floresta que separa os campos de treinamento. O vento está mudando, mais úmido. Ao julgar pelas nuvens escuras no céu, eu acho que vai chover.

Um raio cortou o céu. Meio segundo depois, ouviu-se um estrondo arrasador.

Correção: vai cair uma tempestade.

Eu ouvi um rosnado horrível, e veloz como um tiro, um enorme cachorro branco se jogou do alto de uma árvore. Seu dono estava montado nele (não vou nem comentar o quanto eu acho isso suspeito) e tentava acalmá-lo.

-Calma, Akamaru, calma rapaz...

-Dificuldades pra obedecer seu dono... Kiba? – Pode me acusar se quiser, mas eu sempre adorei zoar com a cara desse cara. E desde que ele começou a andar por aí MONTADO no seu cachorro, eu tenho sido decididamente desagradável.

-Ha, ha, muito engraçado Uchiha. – respondeu, alisando o pêlo do animal. – Akamaru não gosta de trovões.

-Não me diga que você o contaminou com seus medinhos, Inuzuka.

-Você está tão agradável hoje... – disse Kiba, ironicamente. – Isso é falta de namorada.

-Pior você, que está a não sei quantos anos tentando pegar a tua companheira de time e nunca conseguiu levar ela pra cama.

Eu exagerei. Eu vi na hora que eu exagerei. Ele ficou vermelho. Não de constrangimento. De raiva. E o Akamaru rosnou pra mim. Será que ele entendeu? Se entendeu, eu estou fudido, porque até onde eu sei, o Akamaru adora a Hinata. Também, não é pra menos. Só há duas coisas no mundo com que Hinata se preocupa. O Naruto. E o Akamaru. E eu estou fudido.

-Lave... a sua boca... pra falar... da Hinata... seu... filho... da... puta... – a raiva estava deixando o Kiba incoerente. E o Akamaru estava me olhando como se fosse me comer. No sentido literal, faço questão de deixar bem claro. Em uma situação normal, eu surraria o Kiba por me chamar de filho da puta. Ou então jogaria na cara dele o que eu realmente penso da relação dele com o cachorro. Mas hoje eu relevei. Acho que estava me sentindo meio culpado. Mais uma prova de que eu estou virando emo.

-Gomem... Gomem... Eu exagerei, eu admito. Gomem...

Ele se acalmou um pouco. Muito pouco. E eu não estava me reconhecendo. O que eu deveria fazer era xingá-lo de zoófilo e dizer que o QI dele era menor que o do Akamaru. Ou simplesmente enchê-lo de porrada. Mas não. Eu estava me desculpando.

-Eu não devia ter envolvido a... Hyuuga... Hinata-sama na conversa, ainda mais desse jeito... – Eu esitei em dizer o nome dela simplesmente porque não sabia que sufixo usar. Eu acho que nunca na minha vida precisei dizer o nome dela. 'Sama' me pareceu apropriado, não só por ela ser herdeira de uma das mais antigas e tradicionais famílias de Konoha, (não mais que o clã Uchiha, claro), mas também porque assim eu demonstraria respeito por ela. Funcionou. Kiba se acalmou.

-Hum. Ela está muito acima de você, não esqueça disso.

Eu não discordei. Não por causa da calma e culpa recém descobertas em mim, mas porque eu não ignorava o fato de que era impossível achar um defeito na Hinata-sama. Exceto o excesso de timidez. Mas ainda assim, eu considero isso uma virtude. Nunca gostei dessas atiradas que só faltam arrancar as roupas e abrir as pernas na minha frente. Acho até que eu vou gostar mais da Sakura agora, já que ela não vai mais me encher o saco.

-Ta, ta, tanto faz. – eu saí andando, na direção de onde ele tinha vindo. Aquela conversa já estava me enchendo o saco.

-Hei! – ele chamou. Acho que ele queria continuar a discussão. Mas eu não.

-Kiba. – disse, sem me virar, em tom alto e claro. – Você não pode exigir mais do meu alto controle.

Acho que ele entendeu que se me chamasse pra briga de novo, eu não ia negar. Não que o Inuzuca seja covarde. Eu sei disso. O Naruto simplesmente adora me contar as historias das não sei quantas vezes que eles tentaram me trazer de volta. E não conseguiram, diga-se de passagem. Eu voltei porque quis. Foi o maior susto da vida do Naruto, quando sei lá quem bateu na casa dele e avisou que eu estava de volta. Ele invadiu o escritório da Hogake, na hora em que eu estava falando com ela e a Shizune tentava acalmar uma Sakura que, alegremente, se acabava de chorar. Foi cômico. Ele estava de pijama, usando uma toquinha de um bicho qualquer que eu não me dei ao trabalho de identificar. E chorava, ria, limpava as lagrimas e o nariz, e me xingava das coisas mais esdrúxulas.

Mas, o que eu estava querendo falar, antes que essa onda nostálgica de lembranças me desse a certeza de que alguma coisa estava errada comigo, é que Naruto me disse que Kiba fez questão de ir em todas as expedições dedicadas a me salvar. E ele sempre tentava dar uma de herói e se fudia. A minha história favorita era dele apanhando pro Tobi. Mas isso não vem ao caso. O fato é que o Kiba não é covarde. Mas ele tem a noção do perigo. Se ele caísse na porrada comigo, ele não precisava nem devanear em ganhar. E eu não iria fazer questão nenhuma de que não fosse doloroso.

De modo que lá estava eu, sozinho de novo, caminhando no meio das árvores. Eu devia ter me lembrado de que o cachorro estava voltando de um treinamento, porque logo eu encontrei o Aburame Shino. Eu vou deixar claro que não tenho nada contra esse cara. Mas não tenho nada a favor. Eu realmente tenho que admirar o Naruto, o Inuzuca e a herdeira Hyuuga por conseguirem ficar perto dele. Ele é incompreensivelmente estranho.

-Uchiha Sasuke. – cumprimentou ele, ao passar perto de mim. Talvez não seja tão difícil conviver com ele assim. Se eu tivesse que escolher entre ele e o Rock Lee, eu escolheria o Shino. Nada contra aquele perdedor. Mas ele e o sensei são realmente estranhos. Nas palavras da Tenten: constrangedor. Se eu conheço a Tenten? Conheci. Uma noite. Ou duas.

Mas isso não vem ao caso. De qualquer forma, ela disse isso pra Sakura, um dia desses, e eu ouvi. Afinal, nós não iríamos ficar falando do Lee, tendo coisas bem mais interessantes pra fazer. Mas isso é passado. Agora ela namora aquele egocêntrico Hyuuga. Não sei o que ela vê nele. E nem como aquele cara, que é um pé naquele lugar, pode ser primo da Hinata-sama. Mas isso tudo também não vem ao caso.

-Shino-san. – respondi, e continuei andando.

Tem uma coisa me incomodando.

Eu to pensando demais na Hinata-sama. Isso não é normal. Deve ser porque nos últimos cinco minutos eu só tenha visto seus companheiros de equipe.

Mas ainda assim, é melhor eu dar meia volta e ir embora. Ou eu provavelmente vou acabar dando de cara com ela. Não que isso me incomode. Não há porque me incomodar. Só que eu descobri recentemente que eu tenho mais sentimentos do que gostaria. Sei lá o que pode acontecer se eu encontrar a Hinata-sama e ela começar a gaguejar perto de mim.

É isso mesmo. Vou dar meia volta e ir pra casa, no meu isolado, deserto e macabro bairro, me afundar na minha solidão, após preparar alguma arma biológica como jantar. Porque nem pensar em me aventurar no centro da aldeia e dar de cara com o Naruto e a Sakura, porque se eles tiverem se acertado, o Naruto vai fazer questão de despejar isso em cima de mim. E realmente, eu não to como porre.

Alem disso, assim eu não encontrarei a Hinata-sama.

É só eu ir embora agora.

Nisso, eu senti um movimento na minha direita, e me virei.

Merda.

Sabia que eu deveria ter ido embora. Mas agora é tarde demais. Meu Kami-Sama, por favor, controle meus hormônios.

-Sa... Sasuke-sama...

Só havia uma única pessoa em Konoha que me chamava de Sasuke-sama. Por sua educação refinada e rigorosa, provavelmente, ou por razoes idênticas as minhas, que me levam a chamá-la de...

-Hinata-sama.

As ruas de Konoha estavam se esvaziando rapidamente. Suponho que seja por causa da tempestade que está prestes a desabar. Eu olhei para cima: pesadas nuvens cor de chumbo se movimentavam no céu. Um vento frio soprou, me fazendo estremecer.

-Está tudo bem, Sakura-chan? – eu virei para encarar o Naruto. Ele tinha parado de andar, e me olhava com olhos que mesclavam felicidade e preocupação. Ele sempre se preocupava demais comigo. Na maioria das vezes eu odiava ser tratada como um bibelô. Outras vezes eu achava a preocupação dele uma gracinha. Como agora.

-Não, está tudo bem, Naruto. É só o vento frio.

-Quer que eu te abrace pra você se esquentar? – ele perguntou, já abrindo os braços e vindo na minha direção. Eu fiz uma careta.

-Vai com calma Naruto, ou eu vou ser obrigada a te bater.

Ele riu daquele jeito super criança dele, esfregando a nuca enquanto se desculpava. Em algumas pessoas esse jeito crianção seria infantil e ridículo. No Naruto era fofinho, porque fazia parte da personalidade dele.

Nós chegamos ao Ichiraku Ramen, e ele levantou o papel para que eu passasse.

-Yo, Naruto! – cumprimentou o velho cozinheiro. Eu olhei em volta: a filha dele não estava ali.

-Hei, tio, sua filha foi fazer uma entrega? Está quase caindo uma tempestade. – eu perguntei. Ele balançou a cabeça, negativamente.

-Como o movimento está fraco, eu a mandei para casa, justamente por causa da tempestade. Eu ia fechar, mas me lembrei que o Naruto ainda não tinha jantado.

-Arigatou, tio!

Eu sorri: era incrível como o Naruto contagiava as pessoas, e fazia com que todos se preocupassem com ele.

-Então, o de sempre, Naruto? – perguntou o velho, já virando-se de costas e começando a mexer o talherim.

-Hai!

-E a sua namorada, o que vai querer?

Eu fiquei vermelha, e com uma vontade enorme de socar o velho. Mas Naruto me surpreendeu: ele desfez o equivoco como uma cara absolutamente séria.

-Sakura-chan não é minha namorada, tio. – explicou ele. Então me encarou, e completou com uma piscada. – Mas vai ser assim que ela quiser.

A coisa menos constrangedora que eu poderia fazer no momento era o meu pedido.

-Eu vou querer um ramen simples.

Naruto e eu permanecemos em silêncio, apenas apreciando o aroma delicioso do ramen. Quando o tio finalmente pôs as tigelas na nossa frente, pegamos os hashis e dissemos juntos:

-Itadakimasu!

Assim que eu ia provar o ramen, ouvi um horrível barulho de sucção. Olhei para o lado: Naruto já estava na metade da tigela.

OK, por mais gracinha que ele fosse, os modos dele não eram lá os melhores.

Ela não disse mais nada. Ficou parada, á uns cinco metros de distancia de mim, simplesmente olhando pro chão. Aproveitei que ela não estava olhando para fazer uma rápida avaliação dela.

Era bonita, sim, com seu cabelo negro/azulado cumprido, do jeito que eu sempre preferi, pele muito branca com as bochechas um pouco coradas, e o corpo escultural escondido por aquelas roupas desnecessariamente largas. Pra ser honesto, acho que qualquer roupa nela seria desnecessária.

Pronto. Eu sabia. Aqui estou eu pensando merda de novo.

Mas havia alguma coisa errada com ela. Eu sei que é muito tímida, mas eu ACHO que o normal dela não é ficar encarando o chão, com as mãos moles do lado do corpo, ignorando a presença dos outros (o que me irritou, já que eu não estou acostumado a ser ignorado, muito menos por uma garota). Alem disso, tenho QUASE certeza de que ela não fica balançando os ombros e fazendo esses ruídos estranhos, como se estivesse chorando.

Espera aí: CHORANDO?

Ah, não. Eu sabia que devia ter ido pra casa.

Agora ela nem conseguia disfarçar. Eu praticamente podia contar as enormes lagrimas que estavam se acumulando aos pés dela. Eu queria fazer alguma coisa, mas não sabia o que.

Não pergunte, Sasuke. Vá embora, vá embora.

-Han... Hun... Hinata-sama? Está tudo bem?

Eu sou um idiota, não sou? Até parece que EU sou a pessoa mais qualificada pra ajudar alguém. Eu não consigo resolver nem os MEUS problemas, quem dirá os dos outros. Quero dizer, até uns meses atrás a minha única perspectiva de vida era surrar meu irmão até a morte, no sentido mais literal o possível. E já que desgraça pouca é bobagem, depois eu fui e descobri que... Ah, porra, isso não vem ao caso.

Ela ficou surpresa. Eu também, na verdade. Ela parou de chorar e ergueu seu rosto, fixando suas perolas nos meus olhos. Ela parecia intrigada, mas eu acho que ela estava pensando em uma resposta para me dar. Ou simplesmente estava elaborando um jeito educado de me mandar cuidar da minha vida. Eu esperava fervorosamente que fosse a segunda opção, já que o melhor conselho que eu poderia dar era mandá-la conversar com a irmã, Hyuuga Ha... Habi... Ha-a... Haína... Habina... Ah, alguma coisa assim. Isso é; se ela REALMENTE tiver uma irmã. Eu acho que sim, mas nunca vi a guria.

-Sim... – respondeu ela com uma voz fraca, mas clara. Ela passou as costas da mão para secar as lagrimas dos olhos, puxou os fios que grudavam em sua face molhada e me surpreendeu, com um pequeno sorriso trêmulo. – Sim, es-está tu-tudo bem, Sasuke-sama.

Primeiro, eu fiquei meio encantado com o sorriso.

Depois, eu não entendi nada.

-Você disse que... Que está tudo BEM? – E agora eu me pergunto: por que eu fui perguntar isso? Quero dizer; eu podia muito bem ter dito "Han...", ou "Ta", ou mesmo "Que bom...". Então eu simplesmente daria as costas e iria embora, remoer minha vida amarga em outro lugar. Mas não: Aqui estou eu entrando em uma conversa com uma garota que eu mal conheço, e até onde eu sei, as únicas duas ambições de sua vida são: Naruto seja feliz e Akamaru seja feliz.

Sério: O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO COMIGO HOJE?

Meu Kami-Sama, não me deixe virar emo.

-Sim... Sim eu estou be... bem. – respondeu ela, com um sorriso tão fraco quanto a voz. Então ela mordeu o lábio inferior. Eu, com toda a minha mente suuuuuuuper inocente, logo pensei em coisas no mínimo depravadas. Mas foi aí que eu me dei conta de que ela provavelmente estava simplesmente tentando segurar o choro. - Não pa-parece, não é?

-Não mesmo.

-É... – ela suspirou, fazendo o peito subir lentamente. Alguém me tire daqui, antes que eu atente contra a virgindade dessa menina. – Eu nu-nunca fui muito boa p-para me co-conter...

-Mesmo, é? – eu me surpreendi com meu tom. Merda, merda, merda. Não era pra ter soado tão malicioso. Também, que mandou ela usar uma frase com duplo sentido? Mas como tooooooooda a inocência dela, duvido que ela tenha percebido.

Mas ela ficou vermelha igual um tomate.

Ou seja: Ela percebeu.

-E... Eu estou... Falando do meu... Choro. Sasuke-sama. – Ok, talvez a menina não seja tão inocente assim. – A Hanabi se-sempre diz isso.

-Quem? – ela sorriu, levemente.

-Minha irmã. – Ah, ela realmente tem uma irmã. Peraí: O nome dela é Hanabi? Eu jurava que era Habina.

-Sei...

E o silêncio recaiu sobre nós. Certo, Sasuke, aproveite agora. Fuja. Saia correndo. Dispare. Voe. Use seu fogo da juventude...

PUTA QUE PARIU, EU DISSE FOGO DA JUVENTUDE?

Fudeu de vez.

Foi Hinata quem decidiu por mim. Juntando as mãos, ela inclinou-se para frente (o que me permitiu uma bela visualização dos seus seios), e disse como uma voz mais fraca do que aquelas que ela já havia utilizado antes.

-Ja ne, Sa-Sasuke-sama. Na-não vou te incomoda-dar mais. – dito isso, ela sequer esperou pela minha resposta: se virou e saiu andando. Isso foi excelente: agora era só eu também dar as costas e ir pra casa. Então, minha vida seguiria normalmente: eu evitaria a rua principal, não só para fugir daquelas garotas ensandecidas, como para evitar ver um beijo desentupidor de pia que a essa altura o Naruto estaria dando na Sakura; eu iria para o Bairro Uchiha, ou cantinho isolado da solidão, como às vezes eu penso nele, e iria fazer alguma experiência radioativa de jantar. E rezaria pra acordar vivo amanhã. E eu nem me lembraria desse encontro com essa garota linda e chorosa.

Um único problema, que me impediu de fazer isso: quando ela virou seu rosto, eu vi.

Ela estava chorando de novo.

Merda.

Me culpe, se você quiser, mas eu não resisti. Não resisti, certo? Eu tive que correr atrás dela.

Eu olhei para o céu e depois para a rua. Não havia um único sinal de aproximação de ninguém. Onde ela estava?

Olhei para o lado. Me deparei com uma garota de 12 anos, com cabelos castanhos lisos e olhos perolados únicos me encarando com um olhar de preocupação. Desviei o olhar do espelho e tornei a olhar através da janela. Onde diabos ela estava?

-Hinata-neechan nunca se atrasa. – disse para mim mesma. E ela já estava mais de uma hora atrasada. Eu sei que a minha preocupação era desnecessária, afinal a neechan era uma chunin, mas ainda assim...

Desci da minha cama, saí do meu quarto e corri pelos corredores da casa, até que trombei com alguém.

-Gomem... – disse, e percebi que eu havia trombado com o Neji-niisan.

-Tudo bem, Hanabi-sama. – ele respondeu. Me encarou por um minuto e perguntou. – Aconteceu alguma coisa?

-A neechan ainda não chegou... – não precisava dizer mais nada, ele entenderia sem que eu explicasse.

-Eu vou procurá-la. – ele me garantiu. Mas meu alívio durou muito pouco, pois logo em seguida ouvi a voz autoritária:

-Não.

O niisan e eu nos viramos. Papai vinha andando pelo corredor, com as mãos ocultas nas mangas das vestes, nos encarando fixamente.

-A sua irmã tem que aprender a ter responsabilidade, Hanabi. Deixe que ela apareça por conta própria. O que significa... – ele encarou o niisan. -...Que você não vai a lugar algum, Neji. Entendeu?

-Entendi. – respondeu ele, se curvando diante do papai, mas eu pude ver o desgosto impresso no seu rosto.

-E quanto a você, Hanabi... – disse ele, me encarando. – me avise quando sua irmã chegar. Ou melhor: mande-a vir falar comigo. Estarei esperando.

-Hai. – foi tudo o que eu consegui responder. Era justamente por isso que eu queria que a neechan chegasse logo: para evitar outra briga entre ela e o papai.

Vou te dizer a verdade: Eu não fazia a menor idéia do que eu estava fazendo. Quero dizer: eu vi a tristeza dela, vi as lágrimas e simplesmente fui atrás. Agora, quando ela percebesse que eu a estava seguindo, o que eu faria? O que eu diria? "Hei, Hinata-sama, nada pessoal. Só que eu te vi chorando e fiquei tentado a ir atrás"? Ou então: "Ah não, Hinata-sama, finja que não está me vendo aqui"?

Estou de sacanagem. Eu sabia bem o que eu ia dizer: "Não repare, Hinata-sama. Eu simplesmente sou um sádico; eu me divirto vendo a desgraça allheia."

Se bem que, naquele momento, eu estava me sentindo muito mais um masoquista do que um sádico.

Ah, você não está entendendo?

Vai por mim, eu também não.

Eu só sei que, ao ver o jeito como ela estava, eu senti que tinha que ir atrás dela. Não que me desse prazer vê-la sofrendo. Na verdade, eu sentia que deveria fazer alguma coisa para fazê-la se sentir melhor. O que eu deveria fazer? Não me pergunte. Estou aberto a sugestões.

De modo que ela saiu caminhando por entre as árvores, eu a segui. Volta e meia ela soluçava ou parava para limpar o rosto, e eu esperava escondido atrás de uma árvore. Eu não sabia se deveria me aproximar ou não, ou se eu deveria ir embora. Minha mente me mandava ir pra casa, mas alguma outra parte minha me mandava segui-la. Eu suponho que deva ser o pâncreas ou fígado, até mesmo um dos rins, qualquer coisa menos o coração: porque o MEU coração serve APENAS para bombear sangue. Só pra isso e mais nada.

Então eu acho que é o pâncreas.

Agora o vendo açoitava cruelmente as árvores, e os estrondos dos trovões estavam cada vez mais altos e freqüentes. Parecia que o mundo ia acabar. As nuvens cor de chumbo se movimentavam, e a qualquer momento uma tempestade feia pra caramba ia desabar.

E a herdeira Hyuuga está se enfiando no meio das árvores.

De duas uma: ou esse é um atalho que eu não conheço para o bairro Hyuuga, ou essa garota é uma suicida e está planejando morrer sendo atingida por um raio.

Certo, agora eu estava curioso.

Vou te dizer, eu acho até que eu estava gostando disso. Minha vida tem sido tão a mesma coisa que eu estava até esperando aparecer algum maluco que fizesse alguma coisa pra quebrar a rotina.

Bom, eu não achei um maluco, mas achei uma kunoichi com possíveis tendências suicidas. É, acho que isso vai servir.

E agora ela não estava mais em meio às árvores: agora ela chegara em uma clareira onde, diga-se de passagem, não havia nada particularmente chamativo, alem de uma pedra.

Isso mesmo, só uma pedra.

E ela acabou de sentar nessa pedra.

E eu REALMENTE não estou entendendo mais nada.

O vento forte mexeu com seus cabelos negro-azulados algumas vezes antes que eu ouvisse sua voz, alta o suficiente para se sobrepor ao vento, e fraca o suficiente para ser a voz dela mesma:

-Na... Não precisa fi ficar aí, Sasuke-sama. – eu realmente havia sido muito arrogante em pensar que ELA, uma HYUUGA, não iria perceber que estava sendo seguida. Quero dizer, ela tem o Byacugan pra isso, não é? – Se-se você quer fa-falar comigo, pode vir até a-aqui.

Ela só se virou para me encarar quando acabou de falar, e seu rosto estava vermelho de constrangimento, seus lábio inferior ainda tremia e seus olhos ainda estavam ensopados.

E ainda assim ela continuava linda.

Acho que foi isso que me levou a ir lá falar com ela.

Posso te fazer uma pergunta?

Esse era meu pensamento, mas cá entre nós: não faz meu estilo ficar pedindo permissão para falar o que eu penso. Então eu fui direta:

-Shikamaru, por que você... – eu não pude terminar a pergunta, porque nesse exato momento uma forte rajada de vento açoitou a casa de chá, fazendo com que xícaras despencassem das mesas e prateleiras e se estraçalhassem no chão; uma das lâmpadas da porta também foi de encontro à terra. A gritaria na rua e nas lojas ao redor também contribuiu para que eu fosse interrompida.

Mas ele não se alterou: calmamente, levou a xícara à boca, e bebeu vagarosamente. Quando finalmente a depositou na mesa, perguntou sem olhar para mim:

-Por que eu...?

-...sempre se refere às mulheres como problemáticas, que só dão trabalho?

-Aff... – resmungou ele, se inclinando para trás, fixando o olhar no teto. – Influência de meio, eu diria.

-Ha, essa boa. – rebati, bebendo meu chá. Para falar a verdade, eu não entendi muito bem seu raciocínio, mas isso era uma coisa que eu não iria mencionar.

-Deixa ver como é que eu vou explicar... –suspirou ele, agora encarando o copo. – Que sofrimento...

-Essa é nova no repertório. – Comentei. Eu estava acostumada com o "Que problemático..." e o "Que saco...".

-Você é mesmo bem observadora, não é? – murmurou ele, tão baixo que eu não tive a certeza de que ele estava falando comigo.

Outro estrondo pavoroso fez com que a casa de chá estremecesse. O ocupante da mesa ao lado jogou o dinheiro sobre a mesa e saiu correndo. Agora Shikamaru e eu éramos os últimos fregueses. Não ia demorar para que o dono nos mandasse embora. É o tipo de coisa que também acontecia em Suna, quando uma tempestade de areia começava: ninguém quer ter sua loja inundada de areia.

-Pode-se dizer... – começou ele, contornando a xícara com os dedos. – Que eu não tive boas influências de mulheres na minha vida.

Nenhuma?

-Por exemplo,...?

-Minha mãe. – É impressão minha ou ele estremeceu? – Às vezes, ou melhor, na maioria das vezes, ela é pavorosa. Eu nunca vi ninguém tão rígida e perfecsionista igual a ela. - ele gemeu. Assustador...

-Trauma infantil? – caçoei. Francamente, uma mãe durona não pode ser tão ruim assim a ponto de fazê-lo ter tantos problemas com as outras mulheres.

-Vai rindo... – resmungou ele. – A pior parte ainda não chegou.

-Serio? – certo, aquilo estava ficando cômico. Eu nunca vi ele desse jeito. Parecia um velho resmungão. Um velho de uns 70 anos. – E qual seria a pior parte?

-A parte em que a Sakura e a Ino entram...

COMO É QUE É?

Tudo bem, calma, sem estresse. Simplesmente, amanhã vai haver uma testuda e uma loira vadias a menos nessa aldeia.

-Eu nunca entendi aquelas duas. – ele balançou a cabeça negativamente, de um lado para outro, vagarosamente. – Às vezes elas agem como se fossem melhores amigas, outras vezes como se odiassem... Uma hora brincando, outra brigando... – ele coçou a cabeça. – Aff... Aquelas duas problemáticas... Eu quase fico com um nó no cérebro tentando entender...

Tudo bem, acho que dá pra adiar um pouco então a matança das vadias de Konoha.

Nisso, outra fortíssima rajada de vento derrubou o que restava das xícaras das prateleiras. O dono da loja, um bocado desolado, se aproximou de nós. Até que demorou mais do que eu esperava.

-Sr, Srta, estou fechando a loja.

-Claro... – comecei, mas fui interrompida por um bocejo fenomenal. Adivinha de quem?

-Eu entendo. Traz a conta, tio. – e ele bocejou novamente. Preferi nem jogar pra cima dele minhas críticas feministas: assim que o tio se afastou, ele recomeçou a falar. – E, é claro, agora tem a Godaime, Tsunade-sama. Vou te dizer, ela quase é tão assustadora quanto a minha mãe. Ela pega ainda mais pesado comigo do que ela. Se é que é possível. Às vezes eu acho que ela quer me matar...

Não é nada disso, seu idiota. A Godaime Hokage simplesmente reconhece o quão inteligente, disciplinado e talentoso você é. Ela sabe que você tem potencial para ser um grande shinobi. Aliás, você já poderia ser um jounnin, se não fosse um puto dum preguiçoso.

Mas eu preferi nem comentar esses pequenos detalhes.

-Acho que a Godaime Hokage está simplesmente tentando impedir que você morra de preguiça.

Ele não fechou a cara ou me chamou de problemática, como eu achei que faria. Simplesmente olhou para mim e, pela segunda vez, me surpreendeu com aquele sorriso que eu acabara de conhecer: o sorriso malicioso.

-E é aí que você entra...

-Como? – perguntei. É obvio que eu perguntei, até parece que eu ia deixar uma insinuação dessas passar.

-A mais problemática de todas. – ele explicou, ainda com o sorriso malicioso brincando nos lábios.

Vou dizer a verdade: até que eu gostei disso.

-E isso significa...?

-Han... Com licença?

Foi só quando eu ouvi a voz do homem que eu percebi que Shikamaru e eu estávamos inclinados na direção um do outro. Ao som daquela voz, nós nos endireitamos, ambos com semblantes apáticos, como se a interrupção não tivesse atrapalhado nada importante.

Ah, mas que eu ia MATAR aquele velho mais tarde, ah isso eu ia.

-A conta.

-É, é. – Shikamaru voltara a sua voz de preguiçoso. Deu uma olhada rápida no papel e atirou o dinheiro na mesa, sem sequer olhar para mim.

Essas atitudes machistas estão começando a me irritar.

-Vamos? – perguntou ele, se levantando. Eu me levantei também.

-Deixe-me adivinhar... Um homem não pode permitir que uma mulher rache a conta com ele?

-Na verdade, você vai descobrir que, nesse quesito, eu não ajo de acordo com essas regras. – ele deu os ombros. – Eu sou um pouco pão-duro.

-Então...

-Mas um homem não pode permitir que uma mulher pague a conta no dia do aniversário dela.

Juro que eu não sei o que é pior: as manias machistas dele, o jeito como ele fica me interrompendo, ou essa tentativa tosca de fugir do assunto.

-Você ainda está me devendo uma resposta. – exigi.

-Aff... Mas que mulher mais problemática. – esse era bem o ponto. – Sem neura, eu vou te explicar. Mas precisamos chegar a um lugar primeiro, antes que a tempestade desabe.

-Ah, é? Onde? – perguntei, enquanto nos aproximávamos da saída.

-E ainda por cima é apressada. – ele balançou a cabeça. Em seguida, levantou o papel da entrada para que eu passasse. Mas sem objeções dessa vez.

Machismo é uma coisa, cavalheirismo é outra completamente diferente.

Eu me aproximei devagar, olhando diretamente para os olhos dela. Ela não desviou o olhar. Estranho. A maioria das garotas solta umas risadinhas toscas e ficam vermelhas quando eu as encaro.

Bom, eu já devia ter percebido que essa era completamente diferente das outras garotas.

Eu parei a alguns metros dela.

Nós nos encaramos por mais alguns segundos, antes que ela perguntasse:

-Sim?

Certo, agora eu diria que era um curioso mórbido ou um sádico?

-Bem, é que... – Uma ajuda, por favor? – Eu vim ver... Ou melhor,... Vim ter certeza de que... Você... Estava... Bem.

Depois dessa, que foi a melhor desculpa que eu consegui arrumar, ela ficou tão surpresa que até se esqueceu de chorar. Ela ficou ainda mais corada, abriu a boca e não disse nada. Por fim, sorriu.

-Obrigada por se preocupar, ma-mas está mesmo tu-tudo bem.

Eu levantei uma das sobrancelhas, descrente. Ela deu outro sorriso triste.

-É uma história curta, mas duvido que você queira ouvi-la, Sasuke-sama.

Isso sou eu quem tem que decidir.

-Eu tenho tempo. – Mas nesse instante, outro trovão estrondoso balançou a floresta. Eu olhei pra cima. – Ou não.

Ela riu.

-Ah, não tem que se preocupar com isso. – disse, olhando pra cima também. – mas se você quer ouvir a minha melancólica historia...

Ela se afastou um pouco, se sentando mais na beirada da pedra, dando espaço pra mim.

Fazer o que.

Essa, com certeza, era a noite mais estranha da minha vida. Incluindo na contagem aquela noite em que a Karin tentou me agarrar enquanto eu estava... Bom, isso não vem ao caso.

-Ja ne, tio! – exclamou Naruto, enquanto levantava o papel novamente para que eu passasse.

-Ja ne, Naruto. – respondeu o velho, já tirando o avental e se preparando para fechar o Ichiraku Ramem.

-Isso está ficando bem feio mesmo. – murmurei, olhando pra cima. Não poderia demorar muito agora. A tempestade iria despencar a qualquer momento.

-Sakura-chan?

A voz do Naruto me trouxe de volta a realidade. Na hora em que eu olhei, o vento soprou forte, balançando seus fios loiros e bagunçando ainda mais seu cabelo. Seus olhos azuis estavam perdidos nos meus. Era estranho, mas acho que essa era a primeira vez que eu realmente prestava a atenção nele: como eu nunca reparei o quanto ele era bonito?

-Sakura-chan?

-Han? – tendo descoberto naquele instante que o meu outro companheiro de time também era um gatinho, eu estava meio aérea.

-Vamos, você tem que ir rápido pra casa. A tempestade, lembra? – como se fosse combinado, nesse mesmo instante ouvi um estrondo pavoroso, e comecei a sentir as primeiras gotas de chuva caindo em mim.

-Já está começando. – respondi. Ele olhou pra cima alguns instantes, e depois me encarou. Um sorriso maroto começou a brotar eu seus lábios (eu não devia ficar encarando a boca dele desse jeito), como se ele tivesse acabado de ter a idéia mais brilhante (ou pervertida, vai saber) do mundo.

-Vamos! – e antes que eu pudesse me dar conta, ele já havia pegado a minha mão, e nós estávamos correndo pela rua, não do jeito ninja, mas como se fôssemos simplesmente adolescentes normais, correndo de mãos dadas em meio à chuva.

Ele riu, uma risada linda, e virou o rosto para olhar pra mim. A essa altura estávamos mesmo molhados, correndo e espirrando barro nas poucas pessoas por quem passávamos, enquanto as pesadas gotas de chuvas caiam impiedosamente sobre nós, então não tinha como eu não rir também.

Eu me sentei ao lado dela na pedra. Deveria haver apenas um palmo de distância entre nós. Provavelmente por causa dessa proximidade, ela não virou o rosto para me olhar uma única vez. Suponho que tudo isso já era constrangedor demais pra ela. As maçãs de seu rosto estavam coradas e olhos ainda estavam úmidos.

Ela continuou olhando para frente, enquanto o vento soprava cada vez mais forte na direção da aldeia.

-Hun... Hinata-sama? – arrisquei. – Não acha melhor irmos pra outro lugar antes que a tempestade comece?

-N-não tem que se preocupar com isso, S-Sasuke-sama. – ela garantiu. Ergueu a cabeça. – Não está sentindo o vento? A tempestade vai desabar em cima da aldeia, não aqui.

Eu também olhei pra cima: ela tinha razão, as pesadas nuvens cor de chumbo estavam todas sobre a aldeia. Acima de nós, apenas algumas nuvens escuras. Aqui seria, com certeza, o local mais seguro para se estar.

-Certo. – concordei. – Agora...

Eu a encarei. Sentindo meu olhar sobre si, ela se virou para me encarar. Quando nos demos conta, nossos rostos estavam a centímetros de distância.

Não vou nem comentar o quanto eu queria igualar essa distância a zero, mas levando em conta que isso provavelmente faria a menina ter um ataque cardíaco, eu achei melhor me segurar. Até porque agora seu rosto estava tão vermelho que começava a ficar roxo.

- Acho que você me deve uma historia.

É isso aí.

Eu prometi que se fizesse uma fanfic que eu considerasse realmente boa, eu iria postar aqui no Fanfiction.

E essa é a primeira fanfic que conseguiu atingir esse status.

Bom, mas o fato é que eu estou apenas começando: esse primeiro capitulo foi apenas uma amostra. Na verdade, vem muitas surpresas por aí.

Como eu realmente não gosto de trabalhar com muitos casais, eu vou acertar um bem rapidinho. Mas é lógico que não vai ser o Sasu/Hina.

Não tenho previsão pra quando irei postar o próximo, mas tentarei não demorar.

Eu vou dar um aviso prévio no meu orkut antes de postar.

Espero muitos comentários para que eu possa responder.

E quem quiser falar que a fanfic está uma droga, fique a vontade, que eu não ligo. A única coisa que eu espero é sinceridade.

Então é isso: até o próximo capitulo.