- Meu Deus, como eu estou gorda!

Em meu primeiro dia, adentrando o banheiro feminino da escola Richard Nixon de Washigton D.C., ouvia os comentários supérfluos das meninas veteranas que penteavam seus cabelos e até se maquiavam em frente aos espelhos que lá se encontravam. Preferira passar despercebida entre as meninas, então apenas segui pela razão de que, pra começar, entrara no banheiro.

A razão era um problema com que tenho que conviver desde quase toda minha vida.

- Droga... - pensava, ao limpar o nariz na pia - Acabou o papel daqui...

Ao correr pelos boxes, procurando por papel higiênico, o sangue voltara a escorrer pelas minhas narinas.

- Você está bem?

Virei para quem perguntara. Uma garota de olhos puxados olhava com nojo para o sangue.

- Estou. Já estou acostumada.

A oriental voltou-se para o espelho, sem mais. Eu ainda ia puxar assunto com a menina, mas não queria forçar nada, então apenas tratei de limpar-me logo, pois ainda não havia nem procurado meu armário ainda. A verdade era que estava nervosa com meu primeiro dia na escola nova e era de praxe, desde que quebrara o nariz quando criança, ficar com o nariz sangrando nesses momentos.

Ao sair do banheiro, fiquei procurando por meu armário até que soou a campa e decidi levar meu material todo para a sala e depois procuraria mais.

A primeira aula: geometria plana. Evitei dormir logo no meu primeiro dia, então passei a aula desenhando. Na metade da aula, reparei um menino me observando. Tentei ignorar, já que nunca fui muito experiente com garotos, mas fiquei com aquela sensação desagradável contida em mim. Ao acabar a aula, já ia sair quando o garoto me tocou no ombro, chamando minha atenção.

- Você é novata, não é? Sou Raphael.

Após alguns segundo estática, consigo responder com um sorriso tímido:

- Caroline.

- Prazer. Eu estava olhando seu desenho. Muito bom.

- Obrigada... - Já ia andando em direção ao corredor e Raphael me acompanhava - Eu tenho que... - Apontei para minha mochila

- Ainda não achou seu armário? Qual é o número?

- 351.

- Ah, é perto do laboratório. Venha, eu lhe mostro onde fica.

Enquanto andávamos, Raphael aproveitava para puxar assunto.

- Então, o que a traz para cá?

- Meu pai trabalha na comitiva de Obama.

- Hum... Interessante... E você tem namorado? - Muito sutil, pensei.

- Não. - disse secamente

- Oh. E você conhece alguém daqui?

- Só minha prima, mas ela já está na faculdade.

- Bom, eu ficaria honrado em lhe mostrar as coisas por aqui.

Agradeci, mas, sinceramente, não liguei muito. Ainda estava meio abalada por tudo que acontecera, tão rapidamente.

A verdade era que viera para Washigton por causa da separação de meus pais. Pelo que soube, não houve um motivo exato, apenas afastamento emocional. Talvez seja por isso que nunca tive um namorado, pensava constantemente, por não saber o que é amor de verdade. E, devido a separação, vim morar com meu pai. Meu irmão mais novo, segundo o que o juiz dissera, devia ficar com minha mãe por mais um tempo, o que me deixou muito triste, já que August era meu 'xodó', desde que nasceu.

- Eu tenho que ir para aula agora. Depois nos falamos.

Raphael deu um beijo na minha bochecha e seguiu seu caminho.

As aulas seguintes correram, pois apenas copiava o que era escrito no quadro e, durante o resto do tempo, desenhava nas últimas folhas do caderno. Durante o almoço, estava comendo sozinha quando Raphael sentou junto a mim.

- Sim , onde paramos?

- Você ia me mostrar as coisas por aqui.

- Ah, claro. Bom, - ele se virou, apontando para certos grupinhos, um por um - Atletas e cheerleaders, góticos, emos, nerds, mais cheerleaders, e... pessoas normais. Vamos lá. - ele me puxou, antes que pudesse me manisfestar.

Sentamos em uma mesa que continha cinco pessoas. Ele me apresentou a todos e estes se apresentaram em seguida.

- Bem-vinda. Sou Keith. - disse um menino de cabelos ruivos e de pele muito branca - Estes são Kenneth, meu irmão gêmeo, - vi a cópia cuspida e escarrada de Keith, exceto por um sinal moreno na bochecha - Lauren, - uma garota de camisa pólo e aparelho dental sorria, entusiasmadamente, para mim - Janet, - de olhos verdes escondidos por uma franja loira, ela comia rapidamente seu almoço - e Claire.

- Você já conheceu Raphael, huh? - perguntou a última, de cabelos castanho-claros, sem me encarar - Cuidado, esse daí é perigoso.

- Claire... - Raphael implorava - Já conversamos sobre isso.

A garota levantou-se e foi se sentar em outra mesa, levando sua bandeja. Olhei para Raphael, esperando que ele explicasse o que acabara de acontecer.

- Ex-namorada. - ele lamentou

- Tudo bem, acontece com qualquer um.

- Já aconteceu com você? - ele perguntou, intrometidamente

- Prefiro não responder, se não se importa. - Preferia não revelar os detalhe sórdidos de minha inexistente vida amorosa logo de cara.

- Claro, desculpe.

- Raphael, não vá querer corromper a novata no primeiro dia! - brincou Kenneth, fazendo-me corar.

Tentei comer meu almoço em silêncio, mas ficavam me interrogando:

- Você veio de onde?

- Quantos anos você tem?

- Você já conheceu o presidente?

- Você já matou alguém e falou que foi a mando do Governo?

- Keith! - todos protestaram

- Ah... As perguntas de vocês são muito chatas.

A campa bateu, interrompendo as perguntas e deixando-me ir para a aula. O horário: Duas aulas de física, uma de química teórica e uma de laboratório.

Nenhuma das pessoas as quais foram-me apresentadas estavam nessas minhas aulas, portanto, principalmente na última, me senti exlcuída. Porém, nesta, como era obrigatório trabalhar em dupla, a professora me juntou com outra pessoa que também estava só.

- Caroline, junte-se à Renée.

Olhei para Renée. Uma garota de longos cabelos escuros estava parada na última mesa da sala. Quando situei-me ao seu lado, ela me olhou e pude ver seus olhos muito azuis envoltos de uma grossa camada de lápis preto.

- Prazer. - sorri

Ela não retribuiu o sorriso, apenas disse um seco "oi", baixando o olhar para os tubos de ensaio.

A aula correu lentamente. Às vezes, fazia alguns comentários sobre a experiência, esperando que isso puxasse uma conversa, mas Renée continuava calada. Quando a campa bateu, ela correu para tirar os óculos protetores e colocar a mochila nas costas.

- Bom...

Falei baixinho, mas ela ouviu. Já estava se dirigindo para a porta, mas, ao meu ouvir, parou e se virou, devagar. Encarou-me com aqueles olhos azuis. Tinha algo por trás deles, misterioso, talvez escondido, que me fez esquecer do que ia falar. Ao ver o meu desconcerto, os cantos de sua boca curvaram-se para cima, formando quase um sorriso. Antes que tivesse a chance de me recompor e dizer algo, ela se foi.

Fiquei com aquilo engatado em mim, o porquê daquilo ter me chamado a atenção. Mas não soube responder.

Ao sair da sala, fui em direção ao meu armário para pegar minhas coisas para poder ir para casa, finalmente. Quando enchi minha mochila de livros novamente e virei para o corredor, vejo Raphael vindo em minha direção. Sorrio ao ver uma face familiar. Mas, antes que ele viesse até mim, Renée aparece e cochicha algo no ouvido dele. Ele confirma com a cabeça e ela vai, não sem, antes, olhar para mim, mais uma vez. Então, Raphael vem até mim.

- E aí, como foi o seu dia?

- Você a conhece? - perguntei, ignorando o que ele perguntara antes.

- Quem, a Renée? Claro, ela é minha irmã.