Capítulo 1
25 de Agosto de 1993
"Maldito Black!"
Era madrugada. Snape caminhava por Hogsmead, acabara de desaparatar, e ao longe via os vultos dos muitos Dementadores que recém haviam chegado à Hogwarts, já sentia o característico frio e a tristeza tomando conta de si. Não que sua vida fosse um mar de alegrias, mas os Dementadores conseguiam fazê-la parecer pior. Assim como Black, o culpado pelos malditos vultos estarem em Hogwarts, Potter – "Malditos! Pai e filho!" –, até Dumbledore andava irritando-o profundamente: Black foge da prisão, todos preocupados com o menino-que-insistentemente-continua-a-sobreviver, e o Diretor contrata Remus Lupin para lecionar DCAT. Lupin: o melhor amigo do "cachorro", depois de Potter...
"Malditos!"
Estava voltando de Londres, fora ao Beco Diagonal comprar ingredientes. Para ser mais específico: comprar Acônito, o suficiente para todo o ano letivo. Estava cansado, muito cansado. Precisava de uma bebida. Caminhava até o Três Vassouras. Se um drink não o ajudasse, com certeza Rosmerta teria algo em mente. Um sorriso malicioso lhe tomou os lábios. Rosmerta... uma bela distração. Não servia para nada fora dos lençóis, um tanto ignorante, frágil e fraca demais, não possuía nenhuma elegância, não era realmente atraente. Apenas sexo fácil, um tanto gostosa e sabia satisfazer um homem. Para Snape, devido às atuais circunstâncias, isso bastava. Não que fosse o tipo de homem aproveitador ou alérgico a compromissos, apenas não podia se dar ao luxo de ter alguém para dividir sua vida, não aguentaria ser responsável pela morte de alguém que ele amava. Não de novo.
Chegara no bar.
Foi até uma mesa, bem ao fundo, escondido.
Rosmerta o seguiu com o olhar.
- Boa noite, Prof. Snape. – ela se aproximou da mesa dele.
- Boa noite, Madame Rosmerta.
- O que vai querer? – perguntou, maliciosa.
- O de sempre... – provocou ele.
Rosmerta deu um sorrisinho, aceitando a provocação.
Pelo jeito a noite prometia.
Esperaria até que o bar esvaziasse.
O que, três horas depois, parecia que não aconteceria. Grupos de jovens entravam a todo momento.
"Claro! Faltam poucos dias para as aulas começarem, muitos alunos vêm para Hogsmead no final das férias... não que eu, quando jovem, tivesse condições para tanto."
Pelo visto a noite havia naufragado. Suspirou, em derrota. Levantou, foi até onde Rosmerta estava, no balcão, e, disfarçadamente, colocou um galeão pelo decote vantajoso da atendente. Saiu para o ar fresco da madrugada. Era apenas 1 da manhã, muitos adolescentes estavam nas ruas. Ignorou-os, mas reconheceu alguns:
"Diggory... Johnson... Jordan... Boot... Spinnet... Malfoy, obviamente, com Crabbe e Goyle... Warrington... Pucey..."
Não era de espantar que a maioria fosse da Sonserina, apesar de alguns lufa-lufas e corvinais e, é claro, os "corajosos" grifinórios, estarem por ali, também.
Tomou seu caminho para o castelo, perdido em pensamentos, na maioria hostis e raivosos.
"Maldita noite..."
Começava a esfriar. O inverno se aproximava e ainda tinham os Dementadores...
"Maldição!"
Iria a pé mesmo, não estava afim de aparatar. O caminho quase reto até o castelo estava vazio e silencioso. Respirou fundo, relaxando. Caminhar sempre lhe acalmava. O céu estava um tanto escuro, com poucas estrelas.
"Firenze já diria que a noite não traz ventos auspiciosos para uma caminhada ao ar livre, principalmente depois da meia-noite." - permitiu-se sorrir ao pensar no amigo centauro. Seria exatamente isso que ele lhe diria.
Mas algo chamou sua atenção no meio da noite, desviando sua mente das prováveis palavras sem sentidos do centauro. Alguém, um pouco mais a frente, pulara detrás de uma pedra e olhava para os lados, cautelosamente, antes de seguir devagar pelo caminho de terra. Snape se escondeu nas sombras das árvores, observando. Não reconhecia o vulto encapuzado. Seguiu pelo caminho, mantendo uma distância segura da pessoa à frente que, na bifurcação da estrada, tomou o caminho que levava a Hogwarts. Ele ficou intrigado. Apressou o passo e pode perceber que era uma mulher, a capa marcada suavemente o corpo curvilíneo. E notou que ela caminhava cada vez mais devagar, cambaleando muitas vezes. Ela quase caiu, parando, apoiando-se numa pedra por um momento, respirando, visivelmente com dificuldade. Snape também parou.
Ela voltou a andar, depois de um tempo. Ele continuou a segui-la. Não demorou muito para que ela cambaleasse, novamente. Mas, dessa vez, não havia nenhuma pedra ou árvore por perto e ela caiu de joelhos. Snape estava perto o suficiente para notar quão trêmula a mulher estava, podia ouvir alguns resmungos, ela chorava. Mas, para seu espanto, ela se levantou, corajosamente, e voltou a caminhar, mas por pouco tempo. Voltou a cair no chão, imóvel desta vez. Snape, cauteloso, aproximou-se dela. Estava desmaiada, tendo pequenos espasmos de dor. Ela era linda. Mais jovem que ele. Tinha sinais de quem passara uma semana na mata, arranhões, roxos, machucados feios, alguns ainda sangravam. Ele confiscou-lhe a varinha e, pegando-a cuidadosamente nos braços, aparatou.
Deitou a moça em sua cama, ela tinha constantes e fortes espasmos de dor. Retirou-lhe a capa e tratou dos ferimentos abertos. Analisou-a com a varinha e verificou que ela possuía danos internos, duas costelas quebradas e um dos pulmões estava sendo comprimido. Deu-lhe as poções necessárias, fechou todos os ferimentos. Os espasmos cessaram, ela tremia levemente. Certificou-se de ter dado uma poção do sono forte o bastante para mantê-la dormindo por algumas horas. Precisava falar com Dumbledore.
Bateu na porta.
- Entre, meu filho. - Dumbledore estava de pijamas. - O que posso fazer por você tão tarde da noite?
- Boa noite, Albus. Desculpe incomodá-lo, mas... eu encontrei uma mulher no caminho para Hogwarts, ela desmaiara...
- Dementadores? Uma moradora do vilarejo de Hogsmead?
- Não sei dizer. Ela tremia muito, estava bastante machucada. E ela vinha pra Hogwarts.
- E você a trouxe? Isso foi muito arriscado, meu filho.
Snape se sentiu desconfortável. Sim, ele via agora quão ridículo e arriscado havia sido trazer a mulher para dentro da Escola. E se ela fosse uma espiã? Ou uma louca? Quem era ela, afinal? Ele simplesmente a ajudara, por impulso, por pena,...
"Porque ela é linda..." - tratou de afastar o pensamento, olhando em azuis que, ele podia jurar, brilhavam há poucos segundos atrás.
- Além de desmaiada, ela possuía muitos ferimentos, alguns abertos ainda, sangrando. Costelas quebradas... como se tivesse sofrido algum tipo de tortura e tivesse vivido na mata na última semana.
- Isso é estranho... você a reconheceu, Severus?
- Não.
- Não interrogou ela? - estranhou o diretor.
- Ela ainda não acordou, Albus. Ministrei uma grande dose de poção do sono, por precaução.
- Certo. Assim que ela acordar, me chame.
- Chamarei. Boa noite, Albus.
- Boa noite, Severus. - e um sorriso se formou sob a barba do diretor, ao observar o vulto de vestes negras saindo de sua sala.
"Então ela é linda, Severus?"
Mas, assim como surgiu, o sorriso desapareceu. Poderia ser ela. Esperava pela visita dela há mais de cinco anos. Se fosse, realmente... então, deveria afastá-la de Snape o quanto antes, por precaução. Sabia que o Mestre de Poções era um homem muito controlado, magia veela não o afetava.
"Mas se ela o afetou, a ponto de levá-lo a bancar o herói grifinório..." - riu com o pensamento. Tinha que dizer isso à ele. Irritar Snape era seu passatempo favorito, quase mais excitante que uma caixa de balinhas açucaradas de limão. Foi para a cama, novamente.
As dores eram muitas, ela lembrava. Mas agora não doía nada, nenhuma dor. Abriu os olhos lentamente, não reconheceu o lugar. Era um quarto escuro, apenas um único candelabro estava aceso, ordenou que os outros acendessem, e eles obedeceram. Levantou da cama desconhecida de dossel em que estava, caminhou até a sala, a lareira estava acesa, em fogo baixo. Abriu uma das portas que havia e encontrou um laboratório.
"Um Laboratório de Poções..."
Entrou. Aparentemente, o dono daquele lugar estava fazendo uma Poção-Mata-Cão.
Voltou para sala. Haviam muitos livros ali.
Ainda sentia-se sonolenta, haviam lhe curado as feridas e colocado para dormir, quem quer que fosse havia a ajudado, apesar de lhe ter confiscado a varinha.
"Mas isso não é um problema..."
Sentou numa grande poltrona em frente a lareira, aumentou o fogo, magicamente, e, com o calor, adormeceu.
Snape entrou em sua sala de aula e seguiu para seus aposentos. Passara na cozinha para pedir um chá e sanduíches aos elfos. A moça logo acordaria e certamente teria fome. Entrou e estranhou que a porta de seu laboratório estivesse aberta. Ele sempre a fechava. Não gostava que os cheiros das poções impregnassem seus aposentos pessoais. Ao virar-se, após fechar a porta do laboratório, parou. Ela estava deitada na poltrona em frente a lareira. Havia uma explicação para a porta estar aberta, afinal! Ela acordara e futricara em seu laboratório!
"Mas que insolência!"
Aproximou-se dela, verificou novamente se os ferimentos estavam fechados. Tudo certo, nenhum voltara a abrir, os pulmões estavam OK, as costelas ainda se recuperavam, mas melhorariam 100% em no máximo três dias. Ela se mexeu na poltrona, mas não acordou.
O chá havia chegado. Snape se serviu e foi sentar no sofá ao lado da poltrona. Ficou a observá-la. De alguma estranha forma ela lhe era familiar... como se já a tivesse visto em um sonho, um sonho bom. Repensando todos seus atos daquela noite, estranhou seu impulso em ajudá-la. Não era homem de bancar o herói. Mas quando a viu... foi compelido por tal sentimento de angústia que quando deu por si a estava seguindo, a segurava no colo e a deitava em sua cama!
E agora estava tomando um chá, admirando-a dormir!
"Estou ficando velho e senil. Preciso passar menos tempo com Dumbledore..."
Ela sentiu um cheiro bom... era chá! Seu estômago roncou e ela obrigou-s e a abrir os olhos mais uma vez. Sim, ela havia aberto os olhos quando ouviu passos na sala, mas os fechara rapidamente, antes que o homem envolto em preto a percebesse desperta. Mas esse cheiro maravilhoso de chá e sanduíches não poderia mais ser ignorado. Estava faminta.
- Hmm... – ela encenou um despertar.
- Ah, finalmente você acordou! - rosnou ele.
- Onde... onde eu estou? – sentira-se perturbada com a voz dele... era extremamente sexy e reconfortante, como se já o conhecesse e ele lhe transmitisse alguma tranqüilidade.
- A senhorita-sem-nome está em meus aposentos, em Hogwarts. Não era para onde estava vindo?
- Hogwarts? – estava em Hogwarts! "Graças a Merlin!", sentou-se de um salto, sorrindo sonolenta - Muito obrigada, Sr...
- Acho mais prudente que a senhorita apresente-se primeiro. – foi rude, sem necessidade, mas eram 3 da madrugada! Tenha piedade!
- Ah... claro... meu nome é Rosalie, Rosalie... – ela pausou, aparentemente cautelosa.
- O que há? - rosnou ele. - Esqueceu seu nome?
- Não, senhor. - respondeu ela, seca. - Sou Rosalie Dellacourt.
- Prazer, Srta. Dellacourt. Eu sou Severus Snape, Prof. Snape.
- Sim, o senhor é Mestre em Poções. Aliás... eu já li sobre você! Uma matéria sobre Grandes Mestres que saiu no anuário...
- ... do Semanário Bruxo. Sim, eu sei. – completou ele, um tanto amuado. Não gostava de lembrar como fora mencionado no tal anuário: "Severus Snape, Mestre em Poções. Um homem alto, misterioso. Seu talento com a sutil arte das poções é reconhecido internacionalmente. De origem humilde, mas atualmente dono de grandes posses e fortuna. Não tão bonito, mas muito atraente, um corpo forte e definido, dono da voz mais sexy de todo o mundo bruxo.". Agora rosnados e rudeza eram traduzidos como "sexy". Bufou, irritado.
- Exatamente. – ela lhe sorriu.
- ... – Snape teve seus pensamentos temporariamente enuviados pelo sorriso dela. – Certo... - ele pigarreou - ...a Srta., antes de mais nada, precisar falar com o Diretor.
- Sim! Preciso muito! Com urgência, Prof. Snape! Leve-me até ele! – disse em tom autoritário.
- Srta. Dellacourt, eu não sei da onde que a senhorita veio, mas aqui as pessoas não tiram outras de suas camas por causa de estranhos encontrados na calada da noite em lugares suspeitos e de maneira tão ou mais suspeita. – foi mais rude do que queria.
- Certo... me desculpe. – ela murchou. - Então, ahm... eu passarei a noite aqui?
- Creio que sim.
E um silêncio desceu sobre a sala.
Ela tinha fome, atracou-se nos sanduíches e no chá até estar saciada. Depois, caiu adormecida sobre a poltrona.
Snape a observava dormir, novamente.
"Da onde que a conheço?... tão linda e serena."
Ele se aproximou para levá-la até a cama. Passou a mão, levemente, sobre seu rosto para afastar uma mecha dos cabelos castanhos e cacheados que caíra em seu doce rosto. Passou os braços por baixo dela e... sentiu um perfume maravilhoso, um cheiro doce, floral, fresco e quente ao mesmo tempo, delicioso, que desprendia dela. Como não reparara nesse cheiro quando a ergueu anteriormente? Devia estar muito concentrado em ajudá-la para não ter sentido.
Levou Rosalie até sua cama, colocando ela levemente sobre o colchão macio e, sem poder se controlar, inspirou em seu pescoço e seus cabelos. Tocou novamente seu rosto, observou a boca, os lábios desenhados delicadamente, não muito grossos, apenas o suficiente.
Seu coração batia enlouquecido. Sua mente entrou em estado de alerta: Ela era um problema! Tinha que se livrar dela no dia seguinte, o mais rápido possível. Não entendia o que estava acontecendo. A familiaridade dos traços dela, a beleza que tinha, o modo como seu sorriso o afetara. Sim, ela era uma veela, isso era óbvio pelo sobrenome e pela beleza, mas nunca Snape fora afetado pelos poderes de uma veela. Era um homem controlado. Mas ao vê-la sorrir perdera-se em pensamentos que...
- Dumbledore não poderá nunca sequer imaginar tais pensamentos! Ou então ele oferecerá a ela um cargo em Hogwarts! Me obrigando a vê-la todos os dias! Não! Ela deve ir embora... deve voltar, para onde quer que tenha vindo.
E, com os pensamentos mais embrulhados que seu estômago por conta da pequena quantidade de chá misturada a grande quantidade de Firewhisky, Snape adormeceu na poltrona em frente a lareira. O cheiro de rosas, flores do campo e orvalho, impregnados na poltrona, inebriando seus sentidos, tomando conta de seus sonhos.
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