Sempre que eu via uma pessoa muito doente, incapaz de falar ou de fazer um mínimo gesto, eu pensava que ela não estava consciente do que acontecia á sua volta. Que estava apenas lá, aguardando a morte, ou se agarrando á alguma esperança remota de que conseguiria sobreviver. Mas eu era cético, e não acreditava que alguém pudesse ter esperanças na morte.

E agora, quando eu estava á beira da morte, sem esperança alguma, eu escutava pessoas á minha volta. Mesmo sem ter forças para abrir os olhos, eu podia sentir os olhares penalizados dos médicos e das enfermeiras.

Tão jovem. Tão bonito. Tinha toda uma vida pela frente.

Aquilo me irritava. Aqueles idiotas já deveriam ter se acostumado. Por causa dessa gripe estúpida, milhares de pessoas estavam morrendo. Não era a primeira vez que eles viam alguém jovem e bonito morrer.

Eu sabia que eles estavam fazendo o possível para amenizar a minha dor. O que eles não sabiam, é que eu sequer sentia dor. A dor é um sinal de vida, e a morte era tão certa para mim como o sol no verão.

O que mais aparecia era aquele loiro, o tal Dr. Cullen. Mesmo sem vê-lo, eu sabia que era ele. Quando ainda não estava tão mal, costumava revirar os olhos pelo modo com que as mulheres olhavam para o médico. Sabia que na cabeça de todas elas só podiam se passar duas coisas: Casamento e sexo. Não necessariamente nessa ordem.

Bem, o homem era muito bonito. Bonito mesmo. Não deveria existir alguém mais bonito que ele no mundo. Mas ele era um pouco estranho. Tanta... Perfeição era estranho. Além de o homem ser anormalmente pálido. Até eu, que estava prestes a morrer, era mais corado que ele.

Se eu pudesse, teria rido naquele momento. Antes de ficar doente, eu nunca havia pensado na morte. E agora, a única coisa que eu fazia era divagar sobre ela. Mas o que mais eu podia fazer? Não havia escapatória para mim. Eu conseguia escutar o chiado fraco da minha respiração, sabendo que logo eu não estaria mais respirando. A dor que antes me assolava se fora, deixando-me apenas um vazio que não poderia ser preenchido. Eu queria morrer logo. Meu único sonho fora arrancado de mim abruptamente, e, francamente, minha vida nunca fora das mais excitantes.

Eu me entediava rápido demais. Nunca consegui me interessar por moça alguma por muito tempo. Todas me pareciam tão tolas e fúteis.

Eu sequer sabia se meus pais ainda viviam, mas isso não importava. Eu iria, eles iriam, todos que pegaram essa maldita doença iriam. E não havia mais nada a se fazer.

Talvez existisse o céu, como minha mãe sempre dizia. Talvez eu conseguisse um lugar lá, apesar de não me lembrar de ter feito algo significativo para ser merecedor de um lugar no paraíso.

Ou eu poderia ir para o inferno. Eu nunca fui muito religioso, e nunca me voltei para Deus quando me encontrava em problemas. Além dos meus pensamentos desdenhosos contra as pessoas. Agora eu percebia que eu vivia em um mundo só meu, analisando as pessoas de longe, afastando-as quando elas tentavam se aproximar.

E agora, quando eu não podia fazer mais aquilo, quando eu era o analisado, deitado naquela maldita cama, eu sentia falta das garotas fúteis, dos homens esnobes, dos meus pais, da minha vida.

Eu nunca dera muita atenção aos conselhos de minha mãe. Sempre achara que ela vivia flutuando, com seus olhos sonhadores, olhando para esse mundo podre como se ele fosse pintado de cor de rosa. Agora, eu a entendia. Queria poder ter sido mais feliz, ter aproveitado mais a vida, tê-la olhado de outra perspectiva além daqueles tons de preto e branco que me cegavam. A vida era uma só, e em meus poucos anos de vida, eu a desperdiçara. E eu sabia, que se eu vivesse mais cem anos, eu continuaria desperdiçando-a. Então, que diferença fazia, se eu morresse agora ou daqui a um século? Eu ainda seria o mesmo. Não havia mais lugar para mim.

A porta se abriu, e por instinto, eu soube que era o Dr. Cullen. Tentei com todas as forças abrir os olhos e os lábios, e mandá-lo para inferno, pedindo para que ele me matasse logo de uma vez. O tédio era grande demais.

Ele se sentou no canto da cama estreita, ao meu lado. Eu não podia ouvir o som de sua respiração, eram poucas as vezes que eu o escutava respirando.

Um ruído saía da boca dele, mas eu não podia entender nada.

- Eu sinto tanto, Edward...

O que ele queria dizer? Que sentia pela minha morte iminente? Que sentia por eu não morrer logo, e sair desse tormento?

Eu quase consegui abrir os olhos quando ele encaixou o rosto na curva do meu pescoço. A pele dele era fria como o gelo, e eu queria poder me afastar.

- Eu vou te salvar, como sua mãe me pediu...

Dessa vez, eu sorri. Talvez ele fosse me matar. Essa era a única salvação para mim. Talvez eu poderia encontrar meus pais.

Aquilo era a morte? Aquela dor monstruosa que me dominava era o alívio que eu estava esperando? Eu não conseguia ao menos descrever o que eu estava sentindo. As dores que eu sentia por causa da doença eram o paraíso perto disso. Eu estava queimando.

Meu corpo inteiro parecia em chamas, e ironicamente, só agora eu conseguia falar e abrir os olhos.

- Me mate! – eu gritava olhando as feições torturados do médico.

Por que diabos tinha que ser daquela maneira? Eu sempre pensara que a morte fosse algo pacífico, indolor. Eu só queria que acabasse logo.

A dor era tão grande que eu sentia que ficaria louco. Pensamentos iam e vinham em minha mente, imagens de minha vida, de pessoas, de animais, de objetos, dos soldados que um dia eu admirei, dos pais que um dia eu amei, da vida que um dia eu desprezei.

E eu não sabia quanto tempo havia se passado, e não sabia se eu já estava morto. Se eu estivesse, eu estava no inferno.

A dor foi diminuindo gradativamente, e eu nunca senti tanto alívio. Cada vez que a queimação diminuía, mesmo que minimamente, era como se toda a dor tivesse passado. E conforme ela diminuía, minha esperança de que ela acabaria totalmente aumentava. Eu já podia pensar melhor, e tinha minhas dúvidas se estava realmente morto. Eu me sentia doido, não sabendo se estava vivo ou não. Alguém poderia estar me enterrando agora, ou jogando meu corpo em qualquer lugar, afinal, eu não tinha mais ninguém.

Por fim, a dor pareceu acabar. Eu abri os olhos devagar, e tudo pareceu infinitamente diferente. Eu estava vivo.

Naquele momento eu não sabia o quão diferente as coisas poderiam ser.

E quando eu ouvi as palavras daquele médico loiro e bonito, que estendeu um espelho na minha direção, olhando-me hesitante, eu soube que eu não estava vivo. Que não houvera salvação para mim. Mas eu ficaria aqui, junto com ele, cumprindo a promessa que ele fizera á minha mãe.

E eu ainda discordava dela em um ponto.

Não havia céu. Não para mim. E se havia inferno, eu já estava nele. E eu era o diabo que nele habitava. Meus olhos monstruosamente vermelhos comprovavam isso.

Eu teria muito mais de um século pela frente, e eu definitivamente não desperdiçaria meu tempo. Não há tempo para se desperdiçar, quando o tempo é infinito.

E minha vida continuaria sendo chata e monótona. Para sempre.


Gente, essa é a primeira fic da série Edward's Thoughts, que mostra fatos importantes ao longo da vida do Edward, narrados pelo próprio, desde sua transformação até ele finalmente conseguir seu final feliz ao lado da Bella :D

Espero que gostem, e REVIEWS, please! ;)