Título Original: The Depths of Winter

Autor: Cosmic

Rating: PG-13, por palavrões, cenas sangrentas e alguns beijos.

Avisos: Slash

Discraimer: Está história se baseia nos personagens e situações criados por JK Rowling, e aos Bloomsbury, Scholastic e Raincoast Books, e Warner Bros. Nenhum dinheiro será ganho por essa fic.

Notas do Autor: Obrigado a todas as pessoas que me ajudaram com essa fic. Sarah (minha querida plotbeta), Fionnabair (que me ajudou com as universidades londrinas) e as minhas três betas, anarianprincess.

Dedicatória: Essa história é dedicada a Laura, por ser minha amada irmãzinha de todas as formas menos de sangue, e a Jen, por ser a melhor amiga que uma garota pode ter e por me manter motivada durantes todos os meses que levar a escrever isso.


The Depths of Winter

Capítulo Um

Uma Jornada de Centenas de Milhas

Era um lindo dia; o tipo de dia que os pássaros cantam, que o céu esta azul e todas as pessoas estão sorrindo.

Um homem de cabelos bagunçados e incríveis olhos verdes fazia seu caminho pela rua. Harry Evans, vinte e dois anos e estudante universitário, sentia-se razoavelmente feliz. Era uma quarta à tarde, o que significava que metade da semana já tinha passado – e como ele não tinha nada planejado com seus amigos e os trabalhos da faculdade já estavam feitos, ele podia gastar um tempo com si mesmo.

Primeiro, contudo, ele tinha que ir até o mercado. Ele precisava de macarrão, batatas, alguns vegetais e talvez devesse comprar um pouco de frango. Veria o que precisava quando chegasse lá. Ele não era o tipo de pessoa que fazia uma lista com as coisas que precisava comprar; anotava tudo na cabeça. Isso normalmente resultava em esquecer alguma coisa, mas ele tinha vizinhos adoráveis. Nunca seriam capazes de dizer não a ele.

Tudo isso aconteceria, se não fosse pelo ocorreu a seguir naquela rua.

Um carro desceu a rua em alta velocidade não notando – ou não se importando – que o sinal já estava mudando de verde para vermelho. Ao invés disso, voou em direção ao cruzamento em alta velocidade, onde o sinal da outra rua acabava de se tornar verde.

Neste mesmo momento, uma moto entrava no cruzamento.

A batida não pode ser evitada.

Harry viu como se fosse em câmera lenta o motorista da moto ser jogado para o lado, caindo no chão com a moto em cima dele. O motorista do carro pisou com força nos freios, mas não conseguiu parar o veiculo de ir em direção ao homem no chão.

O som de metal cortando metal era ensurdecedor.

Harry correu, suas pernas o obedecendo antes que seu cérebro tivesse tempo para dar a ordem de correr. Outras pessoas corriam para a cena também, mas Harry chegou primeiro. O motorista do carro estava saindo do veículo; era um jovem. Harry não se importou de registrar como o homem parecia; se ele estava de pé e andando, ele estaria bem. Ele estava mais preocupado com o corpo sem vida do motorista da moto.

Tentando ser gentil e rápido ao mesmo tempo, Harry e outra pessoa que tinha vindo ajudar, viraram o motociclista de barriga para cima. Harry ouviu alguém chamar uma ambulância.

O homem no chão não se movia. Harry curvou-se sobre o homem, tentando evitar tocar nele, enquanto ao mesmo tempo tentava verificar seus ferimentos. Pensou em retirar o capacete sem tentar mover o homem. Vendo que não seria possível tirá-lo sem mover o motociclista, Harry decidiu deixar o capacete. Ao invés disso, tentou procurar pulso no pescoço do homem. Quando procurou por vários longos segundos e ainda não havia encontrado pulso, rapidamente tomou a decisão de tirar o capacete.

Sem parar para olhar para o rosto do homem, Harry se abaixou e começou a aplicar CPR (1). O cara que o havia ajudado a tira a moto de cima do motorista da moto, o ajudou fazendo compressões no peito, enquanto Harry fazia respiração boca a boca.

De repente, Harry sentiu uma pequena arfada de ar quando o homem começou a respirar sozinho de novo. Na mesma hora, ouviu e viu a ambulância chegar no acidente. Ele olhou para baixo para ver o homem que havia salvado.

Sua boca abriu e seus olhos arregalaram-se enquanto Harry olhava para o homem inconsciente deitado no chão. Memórias os assaltaram, memórias de uma escola e de uma vida que era do seu passado.

O homem era Draco malfoy

Ele poderia se perguntar mais tarde porque ele havia pedido para ir com a ambulância que neste momento ia em alta velocidade para o hospital. Ele nunca teria uma boa resposta naquela hora, era a coisa certa a se fazer.

Ele sentou-se na frente do veiculo, virando-se às vezes para olhar os paramédicos lutando para manter Malfoy vivo. Ele estava um trapo; seus cabelos loiros, que era a marca da família Malfoy, estava coberto com sangue. Os paramédicos não diziam nada para ele; não tinham tempo para isso. Eles fizeram perguntas, todas sobre Malfoy. Seu nome, seu tipo sanguíneo, seu histórico médico, se tinha alguma alergia... Harry não pode responder mais que a primeira pergunta. Ele não achou apropriado dizer os paramédicos trouxas que Malfoy tinha se ferido algumas vezes enquanto jogava Quadri-.

Ele parou o pensamento antes que começasse a vir mais, recusando-se a ter outro relampejo de memórias que havia trancando em algum lugar há muito tempo atrás.

Quando eles chegaram ao caótico hospital trouxa, Harry mais uma vez foi empurrado para o lado enquanto Malfoy era levado para a cirurgia. Uma enfermeira o mostrou a sala de espera e ele se sentou. A mesma enfermeira disse a ele onde ficava a máquina de café e também disse que a polícia gostaria de falar com ele sobre o acidente. Realmente eles queriam. Uma hora depois que ele chegou no hospital, ainda meio que em estado de choque, Harry respondeu automaticamente as perguntas sobre o que havia acontecido e que o outro motorista definitivamente havia causado o acidente. Então, deu a polícia seu endereço e telefone, para que pudessem entrar em contato se precisassem. Harry retornou o adeus aos policiais e se sentou de novo, o mundo ao seu redor estava desaparecendo enquanto ele se perdia em pensamentos.

Harry levantou-se e foi em direção a maquina de café, desesperado por algo que reconhecesse, mesmo que fosse apenas uma bebida.

Há quatro horas atrás, ele tinha estado na universidade, feliz que metade da semana já havia passado; faltavam apenas quinta e sexta antes do fim de semana. Ele estava pensando em passar um tranqüilo fim-de-semana em casa, onde ele poderia continuar escrevendo seu novo livro. Ele havia escrito umas cem páginas até agora, mas ainda estava infeliz com seu progresso. Se isso não melhorasse nas próximas cinqüenta páginas, ele seria capaz de apagar tudo e começar tudo de novo. Seus musos (2) pareciam que não estavam com eles esses dias. Diferente de quando escreveu seu primeiro livro –.

De novo, parou os pensamentos antes que eles fossem mais além.

Agora, sentado na área de espera do hospital, esperando por uma palavra dos médicos ou das enfermeiras, se Draco Malfoy, seu inimigo na escola, iria sobreviver após um acidente tão terrível. Harry pensava se se importaria se Malfoy não sobrevivesse. Fazia quase cinco anos desde a última vez que Harry tinha visto o jovem Malfoy. Cinco anos era muito tempo para pensar, especialmente quando não tinha nada mais a fazer senão pensar no ano em que deixou Hogwarts.

Mais uma vez, parou as dolorosas lembranças de escola que ele costumava amar antes que elas pudessem machuca-lo tanto. Ele tinha se esforçado muito para pôr todos esses sentimentos de lado, para deixar que eles voltassem a tona de novo assim tão fácil.

"Sr. Evans?"

Harry levantou os olhos para ver a médica. Ela tinha 30 e poucos, seu rosto era doce e ela parecia cansada. Seus cabelos acinzentados caiam sobre seus ombros. Ela era bonita.

"Sim?"

Ela estendeu sua mão. "Eu sou a Dra. Salus. Eu sou a médica que operou o Sr. Malfoy".

"Eu sou Harry", ele disse. "Harry Evans". Os olhos dela se arregalaram em sinal de reconhecimento antes que ela voltasse a ser completamente profissional de novo. Harry se sentia um pouco estranho por estar lá, cumprimentando alguém quando a conversa logo seria sobre a vida de outra pessoa.

"Nós terminamos a operação em seu amigo", ela disse a ele e isso pareceu meio estranho a Harry chamar Malfoy de amigo.

"Ele..."

"Ele sobreviveu, sim", disse a médica. "Mas temo que ele não esteja tão bem". Quando Harry olhou para ela questionando, ela continuou. "Seu braço esquerdo está fraturado em dois lugares, e sua perna em quatro. Ele tem múltiplas contusões no tórax, mas manejadas para evitar qualquer dor nas suas duas costelas quebradas. E – sua medula espinhal também foi avariada".

As sobrancelhas de Harry enrugaram-se. "O que?". Ele sabia o que isso queria dizer, mas ele precisava ouvir isso dela para acreditar.

"A medula espinhal do Sr. Malfoy foi lesionada", ele disse de novo. "Ele está paralisado da cintura para baixo".

Harry ficou estático. Ele não conseguia pensar em nada para dizer. "Ele... o que?", ele perguntou em choque.

"A medula espinhal dele foi lesionada no acidente", ela repetiu pela terceira vez. "Nós não sabemos o quanto isso o afetou, ou se isso será permanente; nós não seremos capazes de dizer isso até que os exames voltem. Nós também teremos que testa-lo quando ele acordar".

"Ele não acordou ainda?", Harry perguntou, sua voz parecia sair de um lugar muito mais longe que de sua cabeça. Sua mente estava confusa – isso não era para acontecer. Malfoy tinha que estar bem; ele sempre tinha estado depois de cada acidente e briga em que eles tinham se metido. Ele não podia estar...

"Não, ele está dormindo. Eu duvido que ele acorde ainda hoje. Você deveria voltar para casa e retornar amanhã". Ela sorriu docemente para ele. "Eu sinto muito por não ter notícias melhores".

Harry sacudiu a cabeça devagar para ela, "Não... não se preocupe quanto a isso". Um pensamento ocorreu a ele. "Eu... eu fiz CPR nele. Eu fiz..."

"Não, Sr. Evans", Dra. Salus disse. "Você não causou nenhum ferimento. Sua medula espinhal foi lesionada com o impacto, não quando você o reviveu. Você não piorou nada. Na verdade", ela disse com um pequeno sorriso, "Eu acredito que você tenha salvo a vida dele".

'Você salvou a vida dele'.

As palavras ecoavam na cabeça de Harry; ele já tinha as ouvido antes. Ele não respondeu a médica; ele apenas ficou lá, totalmente parado, a sentença repetindo-se em seus ouvidos de novo e de novo. As palavras se misturando com seus pensamentos anteriores – isto não devia estar acontecendo.

O biper da Dra. Salus soou. "Me dê licença", ela disse. "Eu tenho que ir. Boa noite".

"Boa noite", ele murmurou de volta. Então ela o deixou parado de pé na sala de espera com pessoas movendo-se ao redor dele, mas sentindo-se terrivelmente sozinho.

'Você salvou a vida dele'.

Incapaz de dormir, Harry estava de volta bem cedo na manhã seguinte. Era o meio de janeiro, o sol mal tinha acabado de nascer quando Harry chegou Unidade de Tratamento Intensivo trouxa que Malfoy tinha sido internado. Ele não tinha idéia porque havia voltado, mas uma parte de si dizia que era hora de terminar qualquer rixa que existisse entre ele e Malfoy. Isso devia ter sido feito a muito tempo atrás, mas eles não tinham tido uma chance. Pelo menos era isso que Harry dizia a si mesmo enquanto se dirigia até as escadas da entrada do hospital.

Harry imaginava onde Malfoy tinha estado naqueles últimos cinco anos. Ele não tinha aparecido quando seus pais foram sentenciados à perpétua em Azkaban, a prisão bruxa. Claro que Azkaban pertencia às coisas que Harry se recusava a pensar, então ele interrompeu esses pensamentos antes que eles trouxessem mais lembranças.

Harry caminhou até o balcão. "Oi", ele disse com o melhor sorriso que ele conseguia. "Eu estou procurando por Draco malfoy".

A enfermeira que estava escrevendo em alguns papéis, o olhou. "Espere um momento", ela disse e se virou para o computador. Então, ela se virou devagarzinho, o encarando e então voltou para o computador mais uma vez. "Apenas um segundo", ela disse. Desta vez suas palavras foram murmuradas e suas bochechas ficaram um pouco coradas.

Harry continuava a sorrir e deu um aceno com a cabeça. Ele estava acostumado àquele tratamento, embora sempre o fizesse sentir um pouco estúpido. Ele tinha uma boa aparência – de acordo com os outros, é claro - e sua foto havia saído no jornal algumas vezes. Pessoas gostavam de celebridades.

"Ele está no quarto 256", ela disse depois de menos de um minuto, "mas nossa hora de visita ainda não–".

"Eu serei rápido, eu prometo", Harry disse e ofereceu a ela outro sorriso.

"Oh", ela disse corando levemente. "Tudo bem. É no final do corredor, a sua esquerda. Mas seja silencioso para não perturbá-lo – ele acabou de passar por um terrível acidente".

"Eu sei e não vou perturbá-lo", Harry disse e saiu, a enfermeira continuava olhando-o.

Os corredores estavam repletos de equipamentos e macas, mas vazio de pessoas. Ele passou por uma ou duas enfermeiras, e um médico que lhe disse bom dia, mas durante o resto do tempo que caminhou por aquele corredor, ele estava sozinho.

248, 250, 252... Lá estava o quarto que ele procurava. Tinha janelas que davam para o corredor, mas as persianas estavam fechadas, então Harry não podia ver dentro do quarto. Seu coração começou a bater mais rápido por alguma razão inexplicável, quando ele moveu sua mão para abrir a porta. Ele pensou no que ele estava esperando para entrar, então, ele girou a maçaneta e a porta abriu sem som.

Lá, no meio do pequeno quarto com janelas em ambos os lados – uma que Harry havia visto do corredor e outra do outro lado, de onde podia ser vista a rua embaixo e o céu avermelhado -, estava deitado Draco Malfoy.

'Você salvou a vida dele'

O lado esquerdo do rosto dele estava coberto com gazes brancas. À parte envolta das gazes estava arroxeada e não parecia nada bem. Bandagens cobriam várias partes de seu corpo e seu braço e perna esquerda estavam engessados. O rosto de Malfoy parecia que estava mais pálido do que Harry se lembrava, mas isso poderia ser sua confusa memória brincando com ele, ou possivelmente era só a luz do quarto. Ao redor do corpo de Malfoy tinha umas estruturas (3), ligadas ao loiro em vários lugares. Harry imaginou que devia ser aquilo que impedia que Malfoy se movesse, o que poderia piorar a situação de sua medula espinhal.

O corpo de Malfoy também estava ligado a vários aparelhos – para pulso, pressão do sangue e outros que Harry não conhecia. Eles enchiam o quarto com barulhos de bipes, que logo foram colocados de lado na mente de Harry.

Ele não sabia quanto tempo ele havia ficado lá, apenas encarando a figura que um dia havia sido seu inimigo na escola. O Draco Malfoy de antes, para Harry, não era nada mais que um moleque mimado, alto, orgulhoso e totalmente irritante que havia perturbado Harry durante seis anos e meio.

É claro, que isso não era completamente verdadeiro, pois apesar de tudo, Harry respondia as perturbações de Malfoy. Então a culpa não poderia ser inteiramente posta no loiro, embora sentisse que isso seria muito justo. Ele quase sorriu quando essas lembranças vieram, mas então se lembrou que não queria pensar nessas coisas, e mais uma vez fechou a porta dessa parte de seu cérebro.

O loiro em questão, de repente, emitiu um curto e doloroso suspiro.

Um pânico repentino começou a crescer em Harry, mas seus membros não respondiam. Ao invés de correr para fora de lá, o que foi o primeiro impulso de Harry, ele permanecia parado, grudado ao chão enquanto Malfoy acordava na sua frente.

Seus olhos começaram a se agitar quando Harry se lembrou com quem estava lidando.

Draco Malfoy.

Seu inimigo da escola, que havia odiado Hermione por não ser puro-sangue e desprezava Rony por ele ser pobre.

Malfoy piscou para ele, os orbes cinzas tentando focar o mundo ao seu redor. Ele olhava com os olhos meios confusos para Harry, tentando fazer com que seus olhos funcionassem direito, sua mente estava confusa. Harry podia ver e ler a expressão confusa claramente como se fosse um livro, algo totalmente diferente do antigo Malfoy.

"Eu conheço você?", ele perguntou, parecendo que queria inclinar a cabeça para o lado, mas incapaz de faze-lo por causa da estrutura que o mantinha imóvel. Sua voz era rouca, como de alguém que não a usava a muito tempo. Ele também parecia cansado.

Harry sorriu e ele podia sentir o quanto forçado e não-natural isso parecia. "Sim, Malfoy, você me conhece", ele disse.

A boca de Malfoy caiu. "Potter?", sua voz era uma mistura de espanto e repugnância.

Harry deu os ombros. "Bem, é Evans agora, mas sim, este seria eu".

"Sem cicatriz e com novos óculos (4). Maravilhoso. Que merda você está fazendo aqui?"

Julgando pelo tom da voz do Malfoy, eles bem que poderiam estar falando sobre o tempo.

"Eu... hum", Harry disse e amaldiçoou sua eloqüência. Contanto que ele estivesse sozinho com seu notebook ou uma caneta, ele podia 'fazer coisas com as palavras que nunca tinha visto antes' - como Srta. Pally Devan, sua agente, disse uma vez para ele. Encarando seu inimigo da escola de seus anos adolescentes, entretanto, ele estava, obviamente, como um gago idiota .

"Então? Você vai me dizer?"

Quando Malfoy ainda não conseguia soar rude, harry de repente percebeu que ele ainda estava sob drogas pesadas. Ele provavelmente não conseguia ser desagradável no momento. Se alguém tivesse dito a Harry quando ele estava na escola que viria o dia que Malfoy não soaria desagradável, ele provavelmente diria para essa pessoa ir ao St. Mu-.

Mais uma vez, ele se forçou a esquecer esses pensamentos.

"Você esteve em um acidente", Harry finalmente encontrara as palavras. "Eu estava lá. Eu meio que– vim com a ambulância – para o hospital". As últimas palavras saíram resmungadas, perto da incoerência.

As sobrancelhas de Malfoy franziram levemente. "Eu estava andando de moto", ele disse, franzindo ainda mais. Ele levantou o olhar, embora esse movimento fosse pequeno, era o máximo que a estrutura permitia. "Então você veio zombar de mim?"

"Eu- o que? Não, eu não vim para isso. Você esteve em um acidente e eu apenas... eu queria ver se você estava bem", Harry terminou fracamente. A verdade era que ele ainda não imaginava porque ele havia voltado.

"Você queria 'ver se eu estava bem'?". Desta vez Malfoy conseguiu ser um pouco rude, embora Harry pudesse ver cansaço também. "Seu inimigo... Você queria ver seu estava bem. Você entende porque eu acho um pouco... difícil de acreditar".

Harry encarou raivosamente o loiro. "Que seja. Eu não me importo".

"Agora, sim, isto eu reconheço, não-se-importa", o olhar de ferro de Malfoy encontrou-se com o de Harry. "Então, agora que você já terminou, saía daqui".

"O que?", Harry perguntou debilmente, o olhar furioso rapidamente desapareceu.

"Você me ouviu. Você veio, viu que eu estou 'bem' e agora você pode ir à merda, mas que que seja bem longe daqui", o olhar de Malfoy era duro, sua mandíbula estava trincada. "Saia!"

Harry suspirou levemente. "Malfoy, eu-".

"SAIA!", Malfoy ainda não conseguia gritar, mas sua voz definitivamente havia aumentado.

Harry não tentou de novo; ele se virou e saiu.

Ele passou a tarde andando sem rumo pela cidade. Ele não conseguia ir para as aulas. Ele deveria ir mas não conseguia ficar sentado assistindo tediosas aulas quando seu mundo tinha acabado, mais uma vez, de Ter virado de pernas pro ar. O retorno involuntário de Malfoy em sua vida havia trazido de volta memórias que ele gostaria de esquecer. Ele não queria se lembrar. Ele virou as costas para o mundo bruxo por uma razão, uma boa razão, e que havia retornado tão poderosamente-.

Ele empurrou esses pensamentos para longe, tentando dizer a si mesmo que ele não precisava trazê-los de volta, não realmente. Ele ainda poderia virar as costas para Malfoy, e para aquela vida.

Harry andou até o seu caffé favorito, Casa do Expresso (5), e pediu um café latte (6). Percebendo que não havia comido durante o dia inteiro – ele parecia ter esquecido seu café da manhã e seu almoço havia sido uma maçã -, ele também pediu um bolinho salgado com manteiga e queijo. Ainda com esses pensamentos maquinando em sua cabeça, ele pagou a garota atrás do balcão e fez seu caminho até uma mesa perto da janela. O sol da tarde estava colorindo o céu com uma cor de laranja, mas Harry mau notou.

'Você salvou a vida dele'

Dentre todos os outros pensamentos que enchiam seu cérebro, aquela sentença permanecia perfeitamente clara. Duas vozes repetiam as mesmas palavras; uma era da médica,a outra era – uma voz do seu passado, uma voz que deveria esquecer. Ele não queria se lembrar; isso só traria de volta o seu fracasso.

Então ele ficou lá sentado e encarando o céu até que escurecesse, quando a garota de trás do balcão veio dizer que eles já estavam fechando. A garota magrinha, com dezoito anos ou menos, esperou ao lado dele até que pusesse sua jaqueta.

"Desculpa", Harry murmurou quando ele notou que o resto da loja estava vazio.

"Não se preocupe". A garota sorriu amavelmente para ele. Ela estava tirando a xícara e o prato quando se virou para ele e perguntou, "O senhor não gostou do café?"

"O que?", Harry perguntou distraído.

"Sua xícara continua cheia", ela disse, seu tom ainda muito amável. Ela parecia curiosa.

"Eu- Eu acho que não estava com vontade de tomar".

Ela sorriu para ele. "Boa noite, senhor", ela disse quando ele empurrava as portas para sair.

"Boa... boa noite", Harry disse.

A manhã chegou e Harry foi para sua aula. Ele já havia perdido todo o dia de ontem; ele não poderia perder outro dia assim. Quando sua última aula terminou às três da tarde, agradeceu ao deus que estivesse encarregado do mundo que fez daquele dia uma professores fizeram várias perguntas a ele e ele não soube responder nenhuma, já que seus pensamentos estavam em um lugar totalmente diferente.

Por mais que tentasse fazer os pensamentos irem embora, eles continuavam a invadir sua mente. Na realidade, quanto mais força ele fazia para que eles fossem embora, mas pesadas vinham as memórias que o arrastava. Como uma onde de maré, eles apenas ficavam mais fortes, destruindo todos os muros que ele tão cuidadosamente havia construído ao redor de si mesmo.

"Harry!", o grito fez com que Harry parasse para procurar quem queria sua atenção. Ele se virou e encontrou-se de cara com uma jovem com cabelos longos e escuros.

"Oi, Myra", Harry disse, tentando passar algum entusiasmo em suas palavras. O encontro com sua amiga não havia conseguido impedir que um pensamento entrasse em sua cabeça:

Todos eles morrem...

Myra o observou, franzindo a testa. "Você não parece nada feliz", ela disse.

"Eu só – algo aconteceu noutro dia", Harry disse. "Eu apenas – Eu não sei..."

"Você não quer falar sobre isso?", Myra disse enquanto levantava uma sobrancelha.

Harry olhou tristemente para ela, imaginando como ela reagiria se ele contasse sobre o mundo que ele já havia pertencido. A parte lógica de seu cérebro dizia que ela ficaria assustada, revoltada com a menção de algo tão... não-natural. Uma voz veio a ela; a voz de seu tio Valter, dizendo que ele era uma aberração. Ele olhou nos olhos castanhos de Myra. "Desculpa", ele disse, sua voz menos que um sussurrar. "Eu não posso".

Ele começou a se virar para ir embora, mas Myra agarrou a manga de sua camisa. Sendo vários centímetros menor do que ele, ela tinha que olhar para cima para encara-lo. Ela abriu a boca para dizer algo, mas fechou de novo com uma expressão pensativa.

"Eu estou aqui", ela disse. "Se você precisar de mim, eu estou aqui".

Ele tentou sorrir, mas sentiu que não iria conseguir fazer isso. "Obrigado", ele disse e foi embora, deixando ela para trás.

Naquela tarde, Harry permaneceu sentado meditando em sua casa. Ele não sabia o que fazer – quis bloquear todas as lembranças de seu passado e nunca ter que lidar com elas outra vez, mas para qualquer lugar que olhasse, de repente, parecia ligado ao seu passado de alguma forma, apesar de seus esforços de comprar tudo novo quando tinha deixado sua antiga vida para trás.

Ou, ele tinha que admitir para si mesmo, quando havia fugido de seu passado

Finalmente, quando começou a perturbar a si mesmo, levantou-se e pegou seu casaco. Tomado por uma repentina vontade de fazer alguma coisa, pegou suas chaves e saiu do apartamento. Quase correndo ao descer as escadas, ele deixou o prédio imediatamente. A calçada em frente ao seu prédio, como sempre, estava cheia de pessoas, já que ele vivia em uma parte movimentada da área trouxa de Londres. As pessoas não prestaram nenhuma atenção nele enquanto ele descia a rua apressado, com seu destino claro em sua mente: o hospital, mais precisamente, a Unidade de Terapia Intensiva.

O hospital estava fervilhando de pessoas, igual da última vez que Harry tinha estado lá. Enfermeiras e médicos, todos vestidos com seus uniformes verdes e brancos, e pacientes sobre as camas, alguns inconscientes e outros chorando, e finalmente os parentes e amigos, todos ansiosos e cansados. Harry não se encaixava em nenhum grupo; ele não era um membro do grupo de médicos, ele não era um paciente – agradecidamente – e ele não poderia se considerar um amigo ou parente de Malfoy.

"Uh, oi", ele disse a enfermeira na recepção. "Eu estou procurando por Draco Malfoy".

"Você é o que dele?", o homem perguntou, claramente estressado.

"Amigo", Harry disse apesar de seus pensamentos anteriores.

"Ele foi removido para o terceiro andar, quarto 317", o homem disse. "A hora de visita é até as cinco. Próximo?"

Harry foi empurrado para o lado. Mas não ligou; ele fez seu caminho até as escadas. Chegou ao terceiro andar levemente sem fôlego, e prometeu a si mesmo que iria começar a se exercitar de novo. Tudo o que tinha feito ultimamente era ir e voltar da universidade.

Ele percebeu o quão eram inapropriados esses pensamentos naquela hora, quando ele se lembrou quem ele estava indo visitar e por que.

O terceiro andar era muito mais calmo que o primeiro. Harry percebeu que aquela ala do hospital era para as pessoas que possuíam ferimento e doenças que precisavam ser tratadas a longo prazo. A ala estava quieta, embora não quieta demais. O ambiente daquela ala era mais parecido com de uma casa, com fotos, pinturas e desenhos pendurados nas paredes, uma sala enorme com sofás, uma TV, um som, e uma quantidade razoável de vídeos e Cds. Um homem com seus quarenta anos estava em sua cadeira de rodas assistindo TV com interesse, não olhando para Harry quando este passou por ele.

Aqueles quartos também tinham janelas para o corredor, embora quase todas estivessem com as cortinas fechadas. Harry entendia que esses pacientes precisavam de alguma privacidade. Ele sabia que não havia muita privacidade para eles quando esses pacientes precisavam de alguém que os ajudassem a se levantar, ir ao banheiro e algumas vezes até para fazer sua necessidades.

O quarto 317 era quase no fim do corredor. Harry passou por uma sala onde duas enfermeiras bebiam chá e discutiam alguma coisa em voz baixa.

Do lado de fora do quarto 317, parou e respirou fundo. As cortinas do quarto estavam fechadas; Harry não estava surpreso. Malfoy sempre tinha sido umas pessoas que exigia que respeitassem sua privacidade. Harry notou sua mão estava tremendo quando ele a levantou e bateu na porta. Borboletas flutuavam – não, elefantes corriam – nervosamente em seu estômago; este era Malfoy, seu inimigo de escola, uma pessoa com quem ele não se importava e não temia.

Uma voz em sua cabeça o lembrou que da última vez que Harry tinha visto Malfoy, ele tinha gritado para que saísse de lá.

Ele percebeu que não tinha ninguém que respondesse a sua batida na porta. Decido a entrar, dizendo a si mesmo que Malfoy não poderia fazer nada com ele – a não ser gritar – ele girou a maçaneta e abriu a porta.

Malfoy estava dormindo. Vozes podiam ser ouvidas no quarto, mas Harry logo percebeu que estavam vindo da TV que mostrava algum reality show idiota e não alguém visitando o paciente loiro. Atrevendo-se a dar um passo para dentro do quarto, Harry reparou na aparência de Malfoy. Ele parecia pálido, muito pálido para ser considerado saudável. Os machucados em volta da gaze sobre o rosto de Malfoy tinham suavizado suas cores, mas ainda fazia um tremendo contraste com a cor de sua pele. A estrutura que o segurava, não o surpreendendo, ainda estava lá, imobilizando sua cabeça e o resto de seu corpo, impedindo que ele fizesse qualquer movimento. Ele estava coberto até sua cintura, seu braço esquerdo engessado pousado em seu estômago.

Fechando a distância até a cama, Harry esticou a mão para alcançar a controle remoto da TV, para que pudesse desliga-la.

Harry de repente sentiu seu pulso agarrado pela mão de Malfoy e seu olhar duro sobre ele.

"Eu não te disse para você me deixar sozinho?", ele disse, sua voz baixa e mortal.

Harry encarou Malfoy, fingindo não notar o olhar quer lhe era dirigido. "Não, dá última vez você me disse para ir embora", ele disse, sabendo que o tom calmo de sua voz deixaria Malfoy maluco.

"Então, eu irei dizer outra vez, sai-".

"Malfoy, pare com isso", Harry disse cansado. "Nós não estamos na – nós não estamos mais na escola. Eu vivo no mundo trouxa e você está em um hospital trouxa, paralisado da cintura para baixo. Eu estar aqui deveria ser o menor dos problemas".

Malfoy abriu e fechou a boca várias vezes rapidamente. Harry se divertiu quando percebeu que Malfoy estava sem palavras. Ele de repente percebeu que desde que ele havia decidido vir ao hospital, ver o Malfoy, suas lembranças do passado haviam o deixado em paz. Temendo perder esse alívio, Harry voltou suas atenções para o loiro na sua frente. Outro homem parecia furioso mais uma vez.

"Eu não sei como você soube da extensão dos meus ferimentos", ele disse, sua compostura extremamente rude estava de volta, "mas confie em mim quando digo que não queria que você soubesse. Agora, saia daqui ou eu chamarei a enfermeira".

Harry revirou os olhos e puxou seu braço do aperto de Malfoy. Ao fazer isso, notou um pequeno flash de dor no rosto de Malfoy e lembrou a si mesmo que deveria ser mais cuidadoso com o loiro. Mesmo que Malfoy não quisesse admitir, ele tinha realmente se machucado no acidente. Uma parte de Harry se perguntava por quê ele se importava; Harry disse para aquela parte que não importava quem fosse; ele não iria machucar uma pessoa que tivesse passado por um acidente daquele tipo.

Ele se virou para desligar a irritante TV. Mesmo estando de costas, ele sabia que Malfoy observava cada movimento seu.

"Alguém sabe que você está aqui?", ele perguntou finalmente, se virando para Malfoy.

Malfoy parecia debater consigo se deveria responder ou não a pergunta. Quando já tinha passado meio minuto, Harry exclamou, "Oh, deixa disso, Malfoy! É realmente tão ruim que eu esteja aqui? Que eu saiba?"

Os olhos de Malfoy se encheram com a familiar raiva de anos atrás. "Saia daqui!", ele disse em um silvo.

"Essa é a única coisa que você consegue dizer?", Harry perguntou, aborrecimento crescendo dentro dele. "'Saia daqui'? Você não mudou em nada? Você é o mesmo moleque mimado que eu conheci há anos atrás?"

Malfoy parecia que queria se mover e sua raiva só aumentou quando ele percebeu que a estrutura ao seu redor o impedia de fazer isso. O fato que a estrutura o mantinha vivo não importava; ele não queria mas nada que não fosse meter um soco na cara de Harry; Harry podia ver isso, estava claramente escrita no rosto de Malfoy.

"Saia daqui!", Malfoy gritou de novo. "Saia daqui, saia daqui, saia daqui!"

Sua expressão suavizou quando Harry se virou e deixou o quarto, deixando a porta bater atrás dele.


Nota da Tradutora!

Oi, pessoas!

Sei que faz um tempinho que não atualizo, mas juro que isso vai mudar.

As minhas provas acabaram e agora tenho um pouco mais de tempo livre par vocês! LOL!

Eu fiquei muito feliz quando a Cosmic, a autora dessa fic, me deu permissão para faze-la. Thank you so much for this, Cosmic! E também quero agradecer a Kirina Li, por te me dado permissão para continuar um trabalho que ela havia começado, mas por problemas não tinha conseguido continuar. Obrigado, Kirina!

Eu tenho certeza que vocês vão adorar essa fic, e talvez alguns de vocês irão se lembrar dela. E espero receber o mesmo apoio que recebo nas minhas outras traduções.

E fiquem tranqüilo que até a semana que vem, eu atualizarei todas as outras minhas fics.

E como eu sempre digo, se vocês acharem algum erro, me avisem.

PS:

(1) – CPR é a ressuscitação, que é feita com respiração boca a boca e massagem cardíaca.

(2) – Musos/musas inspiradoras dos artistas.

(3) – Eu não sei se vocês já viram, mas quando a pessoa sofre um traumatismo assim, ele fica preso em uma estrutura, para ficar imóvel e não piorar os ferimentos.

(4) – Tipo, o Malfoy realmente reparava no Harry. Como ele saberia que ele estava de óculo novos?

(5) – Esse é o nome do caffé. Eu ia deixar no original, mas a Baby Potter disse que ficaria melhor se eu traduzisse. Como o cliente sempre tem a razão... hahahaha.

(6) - Preferi deixar o latte no original.

E por hoje é só pessoal,

Fico por aqui...

Beijos

27.11.2010 - Capitulo Repostado com correções