Adrien estava cansado de sorrir.

Contudo, embora sua mente reclamasse, seu sorriso estava preso em seu rosto como uma tatuagem. Um perfeito quadro de um filho responsável e obediente, acenando e sorrindo para os convidados daquele baile de máscaras idiota.

A festa em homenagem ao aniversário do pai já havia começado a um tempo, mas grande parte dos convidados começaram a chegar minutos antes dele conseguir fugir da entrada.

Adrien correu os olhos rapidamente pelo salão a procura da presença do pai.

Encontrou Chloe, uma antiga colega mimada e incoveniente, conversando animadamente com uma mulher. Depois, Nathalie correndo os olhos pelo salão, andando de um lado a outro.

Por fim, encontrou-o do outro lado do salão, conversando com outro homem, os rostos igualmente sérios, frios e racionais.

Seus ombros relaxaram, e ele pode sentir seu sorriso se perder. Virou-se rapidamente para a mesa atrás de si, impedindo que alguém percebesse seu maxilar trincado.

Tudo o que ele queria era estar no quarto acarenciando o pelo do seu gato negro. Tudo o que ele queria era estar longe daquele ar sufocante que o obrigava a ser alguém totalmente diferente de quem é na realidade.

Inconcientemente, sua mão percorreu a máscara negra que usava por causa do baile. A máscara que quase escondia quem ele era.

Que irônico.

— Se você está em dúvida, — uma doce voz soou ao seu lado, surpreendendo-o — eu sugiro o branco.

Adrien virou-se rapidamente, esquecendo de abrir o sorriso robótico de sempre. Uma menina...Não, uma mulher olhava diretamente para a mesa, parecendo analisar os doces na mesa.

Adrien não pode fazer nada além de tentar conter um suspiro.

A mulher — uma morena, de tamanho médio e olhos incrivelmente azuis, estava usando um vestido vermelho que (poderia ser o culpado de vários olhares encantados para aquele lado do baile) a deixava ainda mais deslumbrante. Seus cabelos eram tão pretos que pareciam brilhar em um tom azulado único, presos em um coque com faixas vermelhas. Usava luvas negras até o cotovelo e a máscara que escondia sua identidade era vermelha com pontos pretos, assim como a pequena bolsinha que carregava. Como um linda joaninha, ele pensou.

A mulher levantou o olhar da mesa para ele, erguendo uma sobrancelha, quando não recebeu resposta alguma.

Idiota, ele xingou a si mesmo. Acorde.

Primeiramente, ele abriu o seu sorriso robótico. Depois, ele soltou uma risadinha, enquanto saldava-a com a cabeça.

Ela franziu a testa com isso, encarando-o.

— Não estava pensando em nada, na verdade — ele admitiu calmamente - Estava um pouco distraído.

Mas ela não sorriu para ele de volta. Não respondeu com uma palavra — ou gesto, sequer. Apenas ficara parada, olhando-o fundo nos olhos. Ele olhou-a com a mesma itensidade, externamente calmo.

Internamente?

Uma montanha de nervos.

A mulher suspirou por fim, desviando o olhar e inclinando-se levemente em direção a mesa, decidida a pegar um dos doces.
Adrien soltou o ar que nem percebera que segurava. Desta vez, ele consegui conter a surpresa quando a mulher virou para ele novamente, oferencendo-o um dos dois doces que pegara.

Ele agradeceu e o pegou, sentindo os dedos endurecidos.

— Se você quiser, não me importo, mas... — e ela o olhava no fundo dos olhos novamente enquanto mordia seu doce. Ele sentiu um frio percorrer sua espinha — Você não precisa atuar comigo.

Pela segunda vez, ele sabia que tinha deixado a surpresa transparecer sob sua face robótica.

Ah, pelos céus, ele estava terrivelmente, surpreendemente encantado por aquela mulher. Não pode sequer conter o verdadeiro sorriso sarcástico que cresceu pelo seu rosto.

— Como desejar, my lady.

Ele assistiu o rosto da jovem ganhar um tom vermelho, satisfeito. Quando ela lhe devolveu o sorriso, parecendo tão sarcástico quanto o dele, ele não sabia mais o que estava fazendo. Ele nem mesmo pensava. Comeu seu doce, sentindo-se tão feliz quanto era impossível estar naquela festa.

— Adrien, ao seu dispor, monsherie.

— Sou Marinette — ela disse, o nome saindo de seus lábios soando incrivelmente certo, como se não houvesse outro nome no mundo que pudesse combinar com ela — É um prazer, Adrien.

Ele não soube dizer se o rosnar que ouvira estava em sua mente ou se foi algo que ele deixara escapar para a moça, mas quando o sorriso de Marinette aumentou e seus olhos pareceram brilhar em diversão, ele rezou para que tenha sido o primeiro caso.

Captou o som da música ao fundo, sua mente correndo e ao mesmo tempo vazia.
Ofereceu a mão para Marinette, os olhos ainda fixos nos azuis brilhantes da moça, inclinando-se e falando com uma voz rouca e completamente nova.

— A jovem Marinette poderia me conceder uma dança?

Ele não estava certo se tinha visto o corpo feminino estremecer, mas estava certo de que o vermelho nas bochechas da morena havia se intensificado.

Ela aceitou a mão, quase timidamente.

Ele não procurou por seu pai, para ver se ele reprovava sua ação. Ele não procurou por Nathalie para ver se ela parecia desesperada pelo sorriso sarcástico e verdadeiro no rosto do jovem modelo.

Porque no momento, o mundo não exista. O mundo não importava.

A única coisa que ele procurava era o olhar inebriante de Marinette. A única coisa que importava era ficar perto dela.

Mesmo depois de uma noite inteira de dança de máscaras, ele apenas sabia que não queria sair de perto dela.

E a julgar pelo modo modo como ela segurava seu braço, corada, ela também não queria que ele saísse.

Ah, céus. Ele certamente não sairia.