- Era isso que você estava procurando?

De repente, tudo o que mais temia virou realidade. Levantei a cabeça ao som daquela voz que eu conhecia muito bem. Lentamente me virei para encarar meu destino, que eu sabia que um dia iria chegar. Só não achava que fosse ali, naquele momento, especialmente naquela data tão importante. Me virei e Spencer estava me fitando com aqueles olhos inquisitivos que eu aprendi a temer.

Mas vamos ao início da história, de como e onde tudo isso realmente começou.

Era uma manhã ensolarada em Rosewood. Todos pareciam alegres e contentes, mas eu sabia que aquilo era apenas uma máscara que as pessoas usavam para esconder o verdadeiro medo e terror que estavam sentindo. Tinham acabado de achar um corpo na casa alugada de Maya St. Germain e a polícia acreditava que era o corpo de Alisson. E por vários motivos, alguns a mim desconhecidos, eu estava sendo acusado de ter alguma participação na sua morte. Pessoas olhavam com medo para mim na rua, algumas trocavam de calçada, outras corriam e gritavam. Aquele era o preço que se pagava por estar relacionado com pessoas como Jenna, que apesar de ser minha meia irmã, ela definitivamente não era um exemplo de cidadã. Mas afinal, quem era naquela cidade? Podia não ser um doce de pessoa, sempre quieto e reservado, mas pensar que só por isso eu havia matado Alisson Dilaurentis? Era loucura! E o pior de tudo era que a maioria das pessoas acreditava nisso. E eles me puniam. Me puniam por algo que eu não tinha feito.

Lembro-me bem daquela tarde: eu estava caminhando pela calçada, voltando pra casa quando passou um carro pela rua e um garoto abaixou a janela e começou a gritar:

- Ei, machão, por quê não tenta matar um homem como eu, hã? Aposto que não tem coragem, covarde!, disse, dando uma cusparada em minha direção.

Abaixei a cabeça e comecei a andar mais rápido. Percebi que as pessoas à minha volta estavam rindo e caçoando de mim. Eu queria poder gritar para todos que eu não tinha culpa no assassinato de Alisson, eu não a tinha matado! Mas eu não podia, só iria piorar as coisas, aí sim todos pensariam que eu era louco. Melhor era ignorar e seguir em frente, o mais rápido possível. Ainda no caminho, alguns garotos estavam tomando sorvete e conversando. Como era bom ser criança: não ter preocupações, brincar o dia todo e ser feliz com pequenas coisas. Aqueles garotos, eu pensava, não iriam ter medo de mim, eram apenas crianças, não iriam me julgar como todos os outros. Mas eu estava errado. Assim que passei por eles, dei um sorriso e, assim que viram meu rosto, me xingaram e saíram correndo, gritando apavorados. Por quê aquilo estava acontecendo? E justo comigo, que nunca poderia ter machucado ninguém além de mim mesmo?! Eu já estava farto daqueles olhares e cochichos por onde eu passava, já estava farto de todos me julgando sem ao menos terem provas concretas. Eu só queria me esconder em algum lugar e esperar até que tudo aquilo acabasse, toda aquela humilhação. Era tão injusto! Podia sentir meus olhos ficando úmidos e um nó se formando em minha garganta. Não chora, não chora, não chora, pensei, tetando me manter firme. Engoli em seco e entrei no primeiro beco que encontrei pelo caminho. Me encostei na parede e me sentei no chão, no exato momento em que as lágrimas começaram a descer pelos meus olhos. Eu não tinha ninguém para me defender, ninguém que acreditasse em mim: não tinha amigos, minha irmã era uma degenerada e meus pais nem deviam se lembrar da minha existência. Que droga!, pensei, que merda de vida! Suspirei em meio às lágrimas. Por quê eu?, perguntei para o vazio com a voz embargada. Por quê justo eu? Coloquei a cabeça entre os joelhos e recomecei a chorar, os soluços balançando meu corpo inteiro. Devo ter ficado sentado naquele beco chorando por pelo menos uma hora. Foi estranho, mas ali eu me senti seguro. Não havia ninguém para me ver chorar, ninguém para me bater ou me humilhar. Eu podia ficar em paz ali, por mais nojento que aquele lugar fosse. Quando senti que as lágrimas já estavam se esvaindo, respirei fundo e enxuguei minhas bochechas úmidas. Suspirei e fechei os olhos, me preparando para enfrentar o mundo lá fora. O Sol já estava se pondo e decidi que só sairia dali à noite, quando estivesse tão escuro que ninguém pudesse me ver me esgueirando pelas sombras.

Quando a hora chegou, me levantei com relutância e com muito cuidado, saí do beco de cabeça baixa, o cabelo tampando metade do meu rosto.