Disclaimer: I do not own Relic Hunter – Relic Hunter e suas personagens pertencem a Fireworks Entertainment. Esta fic não possui fins lucrativos.
Summary: O amor tem várias formas, nem todas bonitas. Nigel desaparece, Sydney investiga o paradeiro do amigo e logo descobre que os dois não conseguirão escapar tão fácil das garras de uma mulher em busca do amor verdadeiro. Violência e desespero os aguardam...
Categoria: Caçadora de Relíquias; Multitemporadas; Sydgel; horror.
Advertências: Tortura e violência física.
N.A.: Cris, minha flor mais linda! Te amo demais, estou morrendo de saudades! Estou trabalhando no crossover RH e H50, mas ninguém escreve McDanno como você! Me enche de orgulho com suas fics lindas, Cris! Beijo enorme para ti!
-Amor verdadeiro-
1 – O amor pode nascer no mercado
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Amor verdadeiro, verdadeiro amor – antes ou depois, o adjetivo não ajuda a desvendar onde podemos encontrar esta dádiva, este presente mais puro. E por ser um presente é que não o encontramos, nós apenas esperamos que alguém, de algum lugar, descubra em nosso ser tão repleto de imperfeições algo que mereça ganhar a coisa mais linda que já foi criada. Queremos ser amados, mesmo que não amemos da mesma forma; queremos o amor, sempre e de qualquer maneira, porque ele mostra que possuímos algo digno, algo diferente, algo que nos individualiza neste mundo cheio de semelhantes; queremos ser especiais, e o amor nos dá esta característica, não há imagem inimitável como aquela refletida nos olhos de quem nos ama, já que é o reflexo mais do sentimento em si do que do próprio ser amado. O amor não apaga os defeitos, ele os aceita, os transforma em algo bonito, algo que é suportável, até que aquele amor se desfaça e que voltemos a ser meramente humanos.
Mas o verdadeiro amor, o amor que é genuíno, não se desfaz. A pessoa verdadeiramente amada jamais deixará de ser perfeita; mesmo sua ínfima existência, sua curta jornada neste universo infinito, jamais será apagada de dentro do ser que a ama, que a amou, que a amará, para sempre e sempre, era após era, pois este mundo é composto de nossas lembranças; nada fora de nossas sensações é tangível, e nenhuma sensação é mais forte do que amar. Quando partirmos, encerraremos nossa experiência levando também a versão perfeita de quem amamos em nossos olhos, e essas pessoas permanecerão imbativelmente donas de nosso universo.
A mulher, que ronda sozinha pela cidade, procura exatamente isso: ser o universo de alguém. "A busca pelo amor é injusta", ela murmura com seus pensamentos sem se dar conta de que não pode buscá-lo; ela diz isso para si e continua perseguindo o sentimento como se fosse capaz de aprisioná-lo quando – e se – o encontrar. É penosa a caçada para ela, cada canto em qualquer lugar pode estar escondendo o presente, e é por isso que os olhos castanhos, já curtidos pelas lágrimas, procuram incansavelmente; eles até sorriem, pensando tê-lo descoberto finalmente num rosto ou noutro, mas isso não passa de uma impressão, não passa de uma sombra. E ela já está acostumada com as sombras, aquelas que o amor deixa para trás – não do amor verdadeiro que ela procura, mas do amor que tivera, que ela vira no rosto de seu amante brevemente e que não mais existe. Tanto tempo sozinha acabou fazendo-a se convencer do quão primordial é a necessidade de ser amada; ela não pode deixar qualquer oportunidade de encontrar o amor verdadeiro passar, escapar de seus dedos mantendo-a anônima e solitária por mais cinco anos, mantendo-a apagada neste mundo. "Tantas outras pessoas recebem este sentimento injustamente", ela clama e se pergunta por que não consegue simplesmente encontrá-lo.
E então, como que em uma resposta enviada por Eros ou Afrodite, seus olhos pousam sobre os dele. Aquele homem, lá, adiante no corredor vazio da pequena loja de conveniências, conferindo o preço de um sanduíche natural. Ele sustenta em seus olhos verdes a surpresa que surge no rosto da mulher por um segundo – talvez menos tempo – e volta à sua tarefa, depositando o pão recheado na cesta que carrega no braço direito e dá as costas para a ruiva, como se não fosse nada o lampejo que irradiara dela, e que se tornava ainda mais ardente que o cobre de seus cabelos, mais vivo que o ocre de seu olhar e mais decidido que qualquer outra coisa...
ΛV
Longe dali, a secretária Cláudia considerou, sentada à sua mesa no Departamento de Estudos Antigos da Universidade Trinity, que o assistente de ensino – alcunha Nigel Bailey – poderia ter sido desviado de seu rumo de volta à universidade por alguma aluna mais atrevida: elas adoravam o inglês charmoso; poderia ter encontrado algum dos insuportáveis livros que ele tanto gostava: ele sempre perdia horas lendo aquelas porcarias; ou poderia ter sido sequestrado por algum dos inúmeros caçadores de relíquias rivais da chefe do departamento: parecia não existir alvo mais atraente aos bandidos do que aquele assistente e seus óculos. Mas de qualquer forma, o britânico gentil e bem apessoado poderia ter realizado qualquer destas atividades DEPOIS de voltar do almoço e entregar à Cláudia a encomenda que ela havia solicitado do mercado!
A loirinha magra, faminta e mal-humorada já bufava a cada cinco segundos, furiosa com o amigo desnaturado. Olhou para o relógio mais uma vez e resolveu, para passar o tempo, imaginar planos de vingança pela falta de consideração do colega. Foi neste instante que a porta do escritório deu passagem a dito homem, apressado e ofegante. A loira sequer descruzou os braços, ainda emburrada:
― Finalmente! De todos os dias em que você poderia se atrasar no almoço, tinha que ter sido justamente hoje quando dependo de você? – Claudia desfez-se da careta brava quando reparou na expressão transtornada do colega, que depositava a sacola de supermercado que carregava sobre a mesa dela: ― O que houve? Parece que correu uma maratona!
― Não foi nada – ele respondeu após retomar um pouco do fôlego e alguns goles de água do bebedouro; ela começou a tapear o sapato Prada no chão, encarando-o como quem exigia uma explicação. O assistente viu a hora em seu pulso e passou as mãos pelos cabelos: ― Desculpe pelo atraso, Claudia, mas aconteceu uma coisa no mercado... – ela limitou-se a erguer as sobrancelhas ceticamente para o que o homem dissera.
― UMA coisa? Espero que tenham sido várias coisas, pois é a única maneira de justificar o seu atraso de MAIS DE UMA HORA! E espero que seja bom, Nigel, ou vai se arrepender!
Ele continuou: ― É que... é meio vergonhoso...
― Você ainda nem imagina o que eu farei com você, como sabe o que é vergonhoso? Não pense que vai se safar dessa!
― Eu sinto muito! Mas tinha uma mulher que ficou me encarando no mercado!
― Ora, por favor, invente algo que já não aconteça todos os dias!
― Não, Claudia. Ela não estava olhando, ela estava ENCARANDO. Com os olhos arregalados, como se estivesse pronta para me atacar! – ele gesticulou para dar ênfase na gravidade da situação.
A loira iria retrucar, sem ter engolido a desculpa, mas reparou na palidez e no nervosismo do inglês; talvez ele estivesse realmente assustado. Não passava mesmo de um medroso – concluiu, ela. Suspirou, vendo que teria que abandonar seus planos de vingança: ― Certo. E o que você fez?
― Eu fiquei andando pelo mercado, tentando despistá-la, mas ela era insistente. Eu já estava começando a entrar em pânico quando ela foi embora – Cláudia franziu a testa, ouvindo a história. ― Eu esperei mais um pouco antes de sair do mercado, mas ela não pareceu estar esperando do lado de fora – Nigel completou.
― Nossa, que loucura... Ah! Syd disse que precisa dos documentos sobre a relíquia asteca na mesa dela, para ontem! – falou a secretária, começando a abrir a embalagem do sanduíche animadamente; era fácil perdoar o T.A., ainda mais quando estava prestes a saborear seu tão esperado almoço. Ela entreteve-se com a comida, e Nigel colocou os óculos, já mais calmo. O homem remexeu nos documentos sobre sua própria escrivaninha e, alguns instantes depois, caminhou até o porta-arquivo, no canto da sala.
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Sydney Fox, chefe de Cláudia e Nigel, estava dentro do gabinete do Departamento de Estudos Antigos, conversando com uma amiga especialista em cultura asteca sobre o que poderia ajudá-los a desvendar o local do artefato que estavam procurando. A historiadora continuou quieta no súbito silêncio, acomodada à sua mesa, observando a reação da amiga sentada à sua frente, que olhava intensamente para Nigel do outro lado do vidro de uma das janelas que fazia a divisa entre a sala reservada da caçadora de relíquias e o resto do escritório. A morena resolveu esclarecer a curiosidade que brilhava nos olhos da tradutora:
― É meu Assistente de Ensino – declarou a chefe. A outra mulher pareceu pega de surpresa e balbuciou um "hã?" encabulado. Sydney já estava acostumada ao efeito que o inglês causava na maioria das mulheres por onde passava, e não se surpreendeu por sua amiga ter praticamente entrado em transe quando enxergara o assistente pela janela; sabia que a tradutora sempre tivera um fraco pelos "nerds": ― Ele me ajuda com as traduções e as expedições. Chama-se Nigel.
"Oh" foi tudo o que a amiga respondeu. As duas observaram o inglês reunir os documentos que queria do arquivo e ajeitar os cabelos que lhe caíam sobre os olhos. Sydney viu a amiga suspirar com tal gesto e balançou a cabeça, parecia que havia mais uma integrante no fã-clube Nigel Bailey. O assistente inglês fez a volta até a porta do gabinete e bateu uma vez antes de entrar:
― Com licença, Syd – ele fechou a porta atrás de si e aproximou-se: ― Eu trouxe os... – o homem não completou a frase. Os olhos do inglês arregalaram-se ao enxergar a mulher sentada na cadeira à frente da escrivaninha da morena. Os documentos que carregava quase escaparam de seus braços.
― Nigel, esta é minha amiga, Rachel – a caçadora interveio, achando aquela reação um pouco estranha. A tradutora se inclinou e esticou a mão direita. Por um instante, Sydney sentiu o homem recuar.
― É um prazer conhecê-lo, Nigel – Rachel disse, não parecendo ter se ofendido ou achado incomum o assistente encará-la daquela forma.
Sydney pigarreou, e Nigel pareceu acordar do pequeno momento de choque. De forma hesitante, ele estendeu a mão para a mulher e cumprimentou-a: ― N-Nigel Bailey – disse, apenas, e soltou o aperto de pronto. Ele praticamente correu para o lado de Sydney depois disso: ― Eu... os documentos que você pediu – e largou as folhas e pastas sobre a escrivaninha na frente da morena. A chefe constatou que a amiga continuava vidrada no inglês, embora ele parecesse absurdamente embaraçado com aquilo. Isso não era normal, ele não estava bem – a morena decidiu.
― Nigel, eu precisarei do apanhado que você estava fazendo sobre os astecas nesta tarde. Pode buscar os livros que eu reservei na biblioteca do quinto bloco?
O rosto do assistente se encheu de surpresa e gratidão: ― Claro, Syd! – e ele deu as costas para as duas, escapando da sala sem dizer mais nada. Rachel seguiu admirando o inglês cruzar o trajeto até a saída do escritório, e a caçadora enxergou a secretária assustar-se quando o assistente passara por ela em disparada. Sydney fez um sinal com a cabeça, e a loirinha teve que largar seu sanduíche relutantemente, abandonando o escritório atrás do homem.
― Oh, ele é adorável! – Rachel comentou sorrindo.
― Ele é, sim – Sydney afirmou brevemente e retomou o assunto das traduções, que havia trazido sua amiga para aquela reunião. Mas com o canto do olho, a historiadora continuou verificando se seus assistentes retornariam ao escritório.
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No corredor, Nigel seguia rápido em direção ao prédio cinco, sem ousar olhar para trás. Ele marchava ligeiro, até que ouviu a voz de Cláudia o chamando:
― Nigel! O que aconteceu com você? Por que saiu correndo do escritório?
Virou-se e observou o corredor atrás da loira de maneira desconfiada: ― É ela, Claudia! – respondeu, ele.
― O quê?
― É ela, a amiga de Syd. Foi ela quem me perseguiu no mercado! – o inglês continuou observando sobre o ombro da colega a entrada do escritório adiante.
― Você tem certeza?
― Eu acho que tenho! – ele resmungou de forma sarcástica.
― E você disse para Syd?
― Eu não consegui. A mulher agiu como se nada tivesse acontecido! – e voltou a vigiar o corredor.
― Ei, se acalme – Claudia pôs a mão sobre o ombro do amigo: ― Não pode ser tão ruim, ela é amiga de Sydney, certo?
Ele pensou por um instante, e isso pareceu suficiente para acalmá-lo um pouco: ― ...Certo... – começou a esfregar o rosto, mas os dois escutaram a voz de Sydney ecoar no corredor, e Nigel voltou a entrar em pânico: ― E-elas estão saindo do escritório!
― O banheiro masculino! Entre! – e a loira empurrou o assistente pela passagem próxima um segundo antes de Sydney dobrar a esquina do corredor com Rachel ao seu lado.
― Cláudia! Eu já vou indo, foi muito bom te conhecer! – disse a tradutora sorridente.
― O prazer foi meu – respondeu a loira, normalmente.
― Adorei conhecer Nigel também, é uma pena ele não estar aqui para me despedir – queixou-se a amiga de Sydney.
― Infelizmente estamos atolados de trabalho, e eu precisava dele na biblioteca, mas eu darei o seu recado – a chefe respondeu.
― Ah, é claro. Ele precisou ir à biblioteca no prédio cinco, não é? – comentou Rachel.
Sydney ergueu as sobrancelhas: ― ... É – disse apenas.
― Bem, eu já consigo encontrar a saída a partir daqui. Foi muito bom te rever, Sydney. Agora que sabe onde eu moro, passe por lá qualquer hora para tomarmos um chá.
― Será um prazer.
E a mulher ajeitou a bolsa em seu ombro e se foi corredor afora, misturando-se com os alunos que seguiam para o saguão. Claudia desviou de Sydney, deu dois passos e bateu na porta do banheiro: ― Ela foi embora. Já pode sair.
Alguns segundos, e uma fresta da porta se abriu. Sydney viu o assistente por ali, receoso: ― Ela já foi? Tem certeza? – a voz com sotaque britânico cochichou pela minúscula abertura.
― Tenho! – respondeu a loira. O inglês olhou para os lados, não muito confiante, mas saiu do banheiro. Sydney o encarou:
― Muito bem, o que está acontecendo aqui? – perguntou ao inglês, que ainda parecia desconfiado, observando a multidão que se movimentava ao longe.
― Rachel estava seguindo Nigel no mercado – foi a secretária quem explicou.
― O quê?
― Aquela mulher é estranha, Syd. Ela ficou me encarando com os olhos esbugalhados e eu fiquei com medo de sair do mercado. E na sua frente, ela fez como se não me conhecesse! – ele esclareceu, ficando de frente para a morena, finalmente.
Sydney balançou a cabeça: ― Eu reconheço que Rachel é um pouco excêntrica, mas ela deve ter apenas gostado de você, Nigel – ele abriu a boca e juntou as sobrancelhas, perplexamente. ― Terá que se acostumar com o olhar psicótico enquanto ela estiver no escritório – a morena arrematou. Agora era choque no rosto dele:
― Ela vai voltar?
― Sim. Não conseguimos desvendar todos os trechos, porque alguém não entregou os documentos a tempo. Ela trará as traduções amanhã – a historiadora viu a expressão do colega piorar ao ouvir suas palavras. ― Fique calmo, Nigel. Eu e Cláudia estaremos no escritório, não iremos deixá-los sozinhos se não se sentir à vontade. Agora vá buscar os livros no prédio cinco, preciso mesmo deles para essa tarde.
O homem assentiu, desanimadamente: ― Tudo bem, Syd – e voltou a marchar para o prédio cinco, sem qualquer vontade em seus passos.
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Sydney suspirou cansada, tilintando seus dedos sobre sua mesa: ― Ele está mesmo lerdo hoje – comentou, recebendo um formal aceno de cabeça de Cláudia, que organizava alguns documentos nos arquivos de seu gabinete.
― Nunca mais vou pedir que traga meu almoço, isso é certo – a loira resmungou, ainda chateada por ter ficado tanto tempo com fome naquele dia.
A morena parou de brincar com os dedos: ― É isso. Vou até lá – e levantou-se, abandonando o escritório feito um pé de vento. Ela observou atentamente os corredores por onde passava, até que avistou a cabeleira e os óculos inconfundíveis de seu assistente de ensino em meio aos alunos do saguão do prédio cinco. Aproximou-se: ― Por que a demora?
O inglês saltou, quase derrubando os livros de suas mãos pela segunda vez naquele dia: ― Syd! Quer me matar de susto?
― Não respondeu a pergunta. O que estava fazendo? Ao menos retirou os livros da biblioteca?
― S-sim. Estão aqui – e ele ajeitou a pilha em seus braços.
― E por que demorou tanto?
Ele olhou para os lados de forma apreensiva e resumiu sua caminhada, acompanhado pela chefe: ― Eu pensei que vi... ...ela.
― Rachel?
― É.
Sydney considerou o medo que ele estava demonstrando em relação à mulher, ela devia tê-lo impressionado muito: ― Certo, Nigel. Eu estou vendo que não está bem. Tire o resto do dia de folga, e nos falaremos amanhã. Temos muito trabalho com esta tradução.
― Ir agora? Mas... e-eu não posso ficar? – encarou-a como uma criança implorando para não ir ao dentista.
― Está distraído, o que vai te ajudar se ficar no escritório? – os dois começaram a subir as escadas que levavam de volta ao prédio de História.
― É que... eu não quero ficar sozinho...
Ela passou a mão pelos cabelos castanhos, ponderando sua resposta: ― Tudo bem... Mas ao menos responda quando eu te chamar, está muito avoado!
― Sim, senhora! – o homem respondeu prontamente.
Eles alcançaram o escritório e assumiram suas tarefas. A caçadora manteve atenção extra sobre o amigo e colega durante o resto da tarde, notando que ele pareceu recompor-se ao final do expediente; suas discussões com Cláudia e a tradução de pistas sobre o artefato pareceram tê-lo distraído o suficiente para que tivesse retornado ao seu normal quando os três decidiram deixar o departamento. Despediram-se, e cada um tomou seu caminho.
Ainda fora do prédio, Sydney manobrou seu jipe para sair da garagem e enxergou, pelo retrovisor do carro, Nigel afivelar o capacete e prender as luvas, preparando-se para liberar a bicicleta do estacionamento na ciclovia que circundava a universidade. Ela balançou a cabeça, sorrindo; seu assistente sempre fora muito competente e confiável, mas também preocupado e cauteloso, era fácil impressioná-lo com qualquer coisa que parecesse perigosa, até mesmo a admiração de uma bela mulher em um mercado. Era exatamente como havia dito: Rachel gostara dele, o que não era estranho, já que o marido de sua amiga e o inglês eram semelhantes em alguns aspectos. Ela acenou para o assistente, de forma breve, e entrou na avenida, deixando-o para trás.
Sydney continuou relembrando a amizade, enquanto dirigia. Era uma pena Roger ter falecido, os três foram bons amigos. Já fazia cinco anos, Rachel se sentiria disposta a procurar outra pessoa cedo ou tarde; e acabara encantando-se com o inglês. A historiadora suspirou simpaticamente ao pensar em sua amiga, ela não parecia ser o tipo de Nigel, ainda mais depois da terrível primeira-impressão que causara no pobre homem. A professora fez uma nota mental de nunca perseguir quem achasse atraente no mercado! Virou a esquina e foi para casa. Descansaria, pois no dia seguinte teria muito trabalho.
ΛV
Nigel respirou, deixando o ar desgastado preencher seus pulmões. Era abafado onde estava, de uma maneira quase claustrofóbica, e ele precisava de concentração para não sucumbir ao pânico que latejava amargo no fundo de sua garganta; a sensação não diminuía dali, e não fosse o dispositivo improvisado que o impedia de falar, já a teria expressado em berros, urros e gritos, já teria exigido a explicação do que estava se passando.
Uma lembrança breve e borrada não foi forte, mas suficiente para fazê-lo encolher-se mais ainda, tentando diminuir ao máximo a vulnerabilidade da posição em que estava: amordaçado, preso pelos braços, pernas e torso a uma cama, a coluna pressionada ao material frio do que parecia ser um estreito colchonete.
O inglês sabia que não estava vendado, e mesmo assim lhe era impossível enxergar o que o rodeava; a tontura e desorientação gritavam de forma aguda, provindas do hematoma no lado direito de sua cabeça, pulsando forte, aumentando ainda mais o desconforto naquela escuridão total. As pupilas dilatadas esgazeavam os redores o tempo todo, de maneira frenética, ao contrário de seu rosto pálido e quase imóvel, que suava frio ao pensar nas centenas de respostas àquelas duas perguntas: O que havia acontecido? Onde ele estava?
-continua-
N.A.: matei Syd e Nige na minha última fic. Ainda não estou completamente recuperada... terei que ler as fics da Cris para me animar!
