Taystee estava trançando o cabelo de Pensatucky sem muito ânimo, ambas sentadas numa das camas da ala que agora dividiam. A moça muito pálida e abatida não parava de sorrir, mostrando os dentes que lhe colocaram na boca após perdê-los com uma série bem merecida de socos. Bem merecida, era o que Taystee pensava. Seria bom demais quebrar a nova dentadura daquela louca que se achava amiga íntima de Cristo, ou chamar Piper para repetir a dose.

Contudo, ela precisava de qualquer companhia inútil, e nada melhor do que conselhos irracionais de uma carola para lembrá-la de que havia gente mais insana do que ela naquela prisão.

— Não é culpa sua que a Poussey não fale mais com você. Ela tem medo da Vee e não entende o esquema. — disse Pensatucky cheia de sabedoria, com mais um sorriso exagerado.

— É, mas sinto falta dela. — respondeu a outra tentando aparentar descaso, sem muito sucesso. Taystee já se arrependia de ter falado coisas demais para a amiga de Cristo.

— Vocês duas estavam ficando muito íntimas, não acha? Talvez seja melhor assim. Aquela lá tem fama de gostar de dedar as amigas, com certeza iria tentar fazer o mesmo com você. Melhor assim. Agora você tem a mim! Sou um presente de Jesus pra você.

Taystee deu uma gargalhada alta, mas a outra não pareceu se ofender; imaginou que era um riso de deleite por sua companhia e não hilaridade. Ela passou as mãos pelo rastafári que Taystee lhe fizera no cabelo, feliz, e envolveu seus braços nela para agradecer. De repente seus olhos se arregalaram e ela apontou discretamente para o corredor.

Poussey estava passando por ali, carregando balde e vassoura para seu turno de limpeza. Seus olhos se encontraram.

Olhou para ela avidamente, quase sem respirar, como se a visse pela primeira vez. Absorveu cada detalhe de sua aparência; sua cabeça raspada, a pele lisa e radiante, os lábios cheios... Mas seus olhos já não eram os mesmos. Antes calorosos, brilhantes. Quando eles se voltaram para o rosto de Taystee, estavam repletos de mágoa e acusação. Ela virou o rosto e se afastou vários metros, ávida para sair de lá.

A moça suspirou e olhou para Pensatacky, que a observava. Será que Cristo não podia tirar aquela dor de dentro dela? Se houvesse uma maneira, não seria através dela.

— Vai lá buscar um donuts pra mim, Pensy. — disse ela sorrindo. Sorrir para esconder a dor era a sua maior habilidade desde sempre, e nenhuma oração do mundo iria trazer sua amiga de volta.