Os relâmpagos caiam com frequência e eram logo seguidos por grandiosos estrondos, que provavam a sua proximidade. Ele amava tempestades, amava a chuva, o escuro. Não entendia porque sobrestimavam o sol e o céu azul limpo. Achavam mesmo que os assassinos e ladrões esperavam por dias de chuva ou tempestade para actuar? Não, de todo…

Trovejava nas ruas quase desertas da cidade, mas por entre todas as negras nuvens que cobriam o céu tempestuoso ele conseguia vela… a sua eterna companheira. A lua sorria-lhe após mais um banho de sangue e gritos desesperados.

Os assassinos e ladroes não esperavam pelas tempestades…mas ele fazia-o, porque ele as adorava, quase tanto como adorava a lua, quase tanto como adorava o sangue.

A chuva lavava quase todo o sangue do seu corpo demonstrando que o seu cabelo não estava vermelho por causa do sangue. Afinal ele era um Yagami…afinal ele era um filho da lua…

Ele andou pelos becos escuros da cidade até parar em frente de uma casa branca igual a muitas outras, mas sem dúvida, única para ele. Ficou lá, aguardado o sol.

Assim que amanheceu e um rapaz apareceu á porta da casa branca ficando de frente para ele.

-O que fazes aqui?

-Houve uma tempestade esta noite…

O rapaz suspirou, aproximou-se e passou-lhe a mão pelo cabelo, verificando que o seu cabelo estava tão molhado como a sua roupa.

-Entra…

Os dois entraram na casa do moreno, que guiou o ruivo até ao quarto de banho. Os dois ficaram parados sem fazer nada, o ruivo parecia em transe e o moreno parecia aguardar alguma reacção dele. Por fim desistiu e voltou a aproximar-se e retirou-lhe a roupa, como se ele fosse um boneco. Levou-o calmamente para de baixo do chuveiro e ligou a agua morna, deixando-a banhar o rapaz á sua frente.

Começou por passar o sabonete pela pele macia, tentando não pensar em nenhuma maldade e passou para o cabelo, vermelho como sangue, ele realmente amava aquele cabelo, mesmo que nunca o admitisse, esfregou-lhe os fios ruivos com carinho. Assim que acabou de o banhar puxou-o para o centro do quarto de banho e secou-o, o melhor que conseguiu, com uma toalha e levou-o para o quarto.

Não era, sem dúvida, a primeira vez que aquilo acontecia. A primeira vez tinha sido chocante, ter o seu rival em frente á sua porta todo banhado em sangue e água, após uma grande tempestade. O ruivo ficava sempre num estado quase vegetal, não reagindo a nada, dizendo palavras desconexas.

Ele veste, sem pressa, uma camisa no ruivo e leva-o até á sua cama fazendo-o deitar-se na mesma. Vai até ao telefone e liga a um amigo avisando que não iria á universidade naquele dia, outra vez. Pegou no livro qualquer e foi ler para o quarto, sentado na cama ao lado do ruivo, que já dormia profundamente. Provavelmente por pouco tempo, dentro de alguns minutos deveria acordar por causa de um pesadelo, como sempre acontecia.

Mas ele não se importava realmente porque, mesmo que ele nunca fosse admitir, ele amava aquele ruivo. Mesmo que ele nunca fosse admitir, ele amava poder cuidar dele e garantir-se de que ele continuava vivo, mesmo que com alguns danos emocionais. Ele amava como ele era, pelo que ele se tinha tornado, o seu bonequinho ruivo dos dias pós-tempestade…