Primavera, Verão, Outono, Inverno...Primavera, Verão...

Autor: Lady RR

DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions (perdoem qualquer omissão).

COMMENTS: Esta fic participou do concurso do grupo Casa da Árvore em que tinha como objetivo escrever uma continuação ao ultimo episódio gravado da série The Lost World. A fic tem referências a vários episódios. No final do texto tem as notas, alguns dos nomes são acompanhados por números e quem tiver interesse deve ler as notas, mas isso não é obrigatório, o texto é compreensível sem a leitura das mesmas.

ALERTA: A idéia da fic é que algumas perguntas só sejam respondidas no decorrer da leitura, outras no final. Esse não é exatamente o texto final que entreguei para o concurso, corrigi uns erros de português (espero que todos) e segui algumas das sugestões que me deram, não todas porque sou teimosa e tenho dificuldades de mudar um texto que eu já escrevi, portanto os defeitos do texto continuam sendo culpa minha.

AGRADECIMENTOS: Queria agradecer a turma da Casa da Árvore sempre carinhosa e atenciosa com todos os seus participantes, também tenho que agradecer ao concurso que foi elaborado lá, sem ele este texto não teria nascido, não posso deixar de dizer muito obrigada às meninas que deram sugestões e me animaram a publicar a fic, principalmente Si (Zezé) e Cris Zanini.


Transcrição do final de Heart of the Storm (ultimo episódio de The Lost World):

".....

Finn cai no meio da estrada na placa da New Amazonia com um jipe indo para cima dela.

Aqui não – ela implora desesperadamente.

Ele atira mais três vezes abatendo outro homem, encolhendo-se, olhando para a arma, agora inútil.

Marguerite – murmura Roxton apaixonadamente – Onde quer que você esteja, que seja um lugar melhor do que este – Ele joga um galho solto e salta. Venham! – grita ele, e ataca.

Grande círculo da vida – recita ele, enquanto Marguerite chora e geme em desamparo e terror, sendo segura pelos homens – Não deixe que esta terrível tempestade nos destrua! Leve esta alma negra. Envie-nos de volta ao nosso resplandecente círculo.

Ele move-se em volta, ao longo a mesa

O sacerdote Druida pára, erguendo sua adaga acima de sua cabeça.

Icarus pega um bisturi e erguendo-o, então anda até a ponta da mesa, acima da cabeça de Challenger.

Challenger fecha os olhos e se contrai quando o bisturi vai se aproximando de sua pele.

O turbilhão continua a crescer e girar acima do platô, enquanto faixas de relâmpagos dirigem-se para o centro, a casa da árvore.

Eu sou a protetora!? - grita Verônica.

A luz vai sendo sugada e a escuridão toma conta de tudo....."


Primavera, Verão, Outono, Inverno....Primavera, Verão....

Bati no portão do tempo perdido, ninguém atendeu.

Bati segunda vez e outra mais e mais outra.

Resposta nenhuma.

A casa do tempo perdido está coberta de hera

pela metade; a outra metade são cinzas.

Casa onde não mora ninguém, e eu batendo e chamando

pela dor de chamar e não ser escutado.

Simplesmente bater. O eco devolve

minha ânsia de entreabrir esses paços gelados.

A noite e o dia se confundem no esperar,

no bater e bater.

O tempo perdido certamente não existe.

É o casarão vazio e condenado.

A Casa do Tempo Perdido – Carlos Drummond de Andrade

Capítulo I: A herdeira

"Pretendo descobrir,

No último momento,

Um tempo que refaz o que desfez,

Que recolhe todo sentimento

E bota no corpo uma outra vez"

Todo Sentimento - Chico Buarque de Holanda

- Senhora o desembarque começou.

Um rapaz vestindo um novo e bem passado uniforme deu o aviso à mulher elegantemente trajada que estava no convés.

- Obrigada. - Ela murmurou sem nenhuma vontade, e continuou parada observando o horizonte olhava sem realmente ver, quando deu um profundo suspiro e começou a caminhar, antes de se dirigir para a área de desembarque, voltou a sua cabine, entrando verificou todas as gavetas e portas de armários e disse pra si mesma "Depois de velha ando mais desconfiada.....não é isso....é insegurança....".

Na verdade essa sensação não a abandonava havia meses era um estranho pressentimento que ela não conseguia se livrar, por mais que tentasse. Aumentou sua cautela e fez tudo para acertar todas as contas que tinha com o passado, algumas ela nunca conseguiria, mas as possíveis ela estava concluindo. Não entendia porque continuava sentindo aquilo, essa sensação que estava deixando algo importante, esquecendo de fazer algo fundamental.

Na saída um grupo de oficiais do navio se despedia dos viajantes. Um deles se dirigiu à mulher com sua beleza exuberante e seus grandes e brilhantes olhos, ele estava claramente seduzido por eles.

- Espero que tenha feito uma boa viagem. – Ele era um homem forte, alto, simpático e já deveria estar perto de completar cinqüenta anos, os poucos fios grisalhos no seu cabelo eram um sinal de sua idade, mas isso só o tornava mais charmoso, ele era um perfeito cavaleiro, alguém que já havia viajado por muitos lugares e desta forma acostumado a diferentes culturas isso o tornou mais tolerante que a maioria dos homens e mulheres da rígida sociedade européia.

- A viagem foi agradável, obrigada e o senhor foi um ótimo anfitrião. - Ela falou com um leve sorriso entre os lábios.

- O prazer foi todo meu. Nesta longa travessia se não fosse pela sua companhia a viagem se tornaria um tédio. - Com isso ele arrancou outro sorriso da mulher, e acrescentou – Feliz por estar em casa?

- Sim, já faz um tempo que estou viajando.

- Espero que esta felicidade não a impeça de visitar o oriente novamente, ficarei muito feliz de ser o responsável por seu retorno a China.

- Obrigada, mas espero não retornar tão cedo, felizmente concluí meus negócios por lá.

- Então terei que arranjar outra desculpa pra encontrar com você. – Ela sorriu e deu sua mão para que ele a beijasse.

- Srta Smith espero que tenhamos um breve reencontro.

- Eu faço votos para que sim. - Ela saiu caminhando lentamente, segura de si, sabia que nunca mais encontraria o oficial, mas isso não a incomodava.

O porto com o desembarque e embarque de diversos navios era um emaranhado de gente falando diversas línguas, ela não se incomodava com o burburinho, e de vez em quando uma frase ou outra caía nos seus ouvidos, apesar de cada um falar um idioma para ela era indiferente ela entendia tudo e seguia caminhando e ouvindo, na sua cabeça formava uma conversa absurda com uma pessoa fazendo uma pergunta em alemão e outra respondendo em francês com mais uma comentando em espanhol, era quase um devaneio ou se fosse uma peça seria escrita por um adepto do realismo fantástico. Subitamente ela foi despertada por um motorista que parou a sua frente e oferecia seu carro de aluguel, quando ela estava prestes a entrar no carro ouviu um chamado.

- Srta Krux! Srta Krux!

Há quanto tempo ela não ouvia esse nome? Ela se virou tentando imaginar quem poderia estar lhe chamando e após alguns segundos respirou aliviada, não era ninguém que poderia lhe causar problemas.

- Srta Krux, é uma enorme surpresa encontrá-la aqui hoje. – O cientista falou pausadamente sem demonstrar nenhuma emoção.

- Professor George Edward Challenger – às vezes ela falava o nome completo da pessoa na tentativa de ganhar algum tempo e responder de forma adequada – Pensei que nada o surpreenderia – O homem deu um leve sorriso.

- Está correta, senhorita, não costumo me surpreender, mas como há meses que não a vejo e a senhorita não compareceu a nenhuma das minhas palestras, achei que aqui seria o ultimo lugar que poderia encontrá-la.

- O senhor teve uma grande audiência, com certeza não precisou da minha presença em suas inúmeras apresentações.

- É, finalmente as pessoas me deram ouvidos e alguns estão deixando de ser tão tolos, vitória minha cara, vitória!

- Sua vitória professor! – Ela não conseguiu evitar o tom zombeteiro na voz e nem o sorriso cínico na boca.

- Realmente, minha vitória – O cientista obviamente não deixou de notar o significado do comentário da sua interlocutora, e respondeu num tom mais seco do que usará anteriormente. Ela tinha o dom de irritar as pessoas pelo jeito que falava as coisas, ele não entendia como podia se deixar influenciar por esta mulher e nem porque esta frase em particular o incomodaria, porque era a simples verdade, mas a irritação e o incomodo era reais. – Eu já disse que a senhorita é mais impertinente que todas as mulheres que conheci? As mulheres não costumam agir assim na sociedade.

- Talvez tenha dito....- ela tentava se lembrar da situação em que isso ocorreu, mas lhe fugia da memória, como tantas outras coisas que ela não conseguia fixar das semanas em que estiveram juntos, principalmente o caminho de volta, ela se rendeu e desistiu de lembrar, não poderia ficar ali parada para sempre, e principalmente sem responder ao professor - ...talvez não, o que importa?

- É, na verdade não tem importância, mas eu realmente me surpreendi ao vê-la aqui, era a ultima coisa que esperaria de você.

- É mesmo. – Marguerite não queria estender a conversa, mas ficou confusa com as palavras do cientista, afinal o por que ele acharia estranho ela estar lá. – E o senhor poderia me explicar o por que?

- Como assim o por que? – ele meneou a cabeça e uma luz brilhou em seus olhos – Então a senhorita não sabe? – Ele olhou em volta e percebeu que ela estava com a bagagem sendo colocada no carro e não retirada - Eu estou de partida para a Itália e França, e pensei assim que a vi que a senhorita talvez estivesse com planos pra ir comigo nesta viagem.

Marguerite continuou olhando interrogativamente para ele e essa conversa a cada muito fazia menos sentido para ela. Um homem se aproximou do cientista e disse-lhe que ele deveria se apressar. Quando o cientista fez um sinal com o chapéu, fazendo menção de que iria se despedir, ela o deteve.

- Por que eu iria querer viajar com o senhor?

- Ah, minha cara srta Krux erro meu, quando vi suas malas deduzi que estava partindo e há pouco percebi que está chegando, e como a senhorita parece não entender o que digo imagino que tenha se ausentado um longo período e em algum lugar longe da imprensa ocidental, estou certo?

- Isso não vem ao caso, professor, gostaria de saber o que me interessaria nesta sua viagem? – ela estava ficando impaciente e não gostava disso, aquela sensação que não a deixava à semanas estava crescendo e isso a deixava mais desconfortável, além disso o professor nunca foi de dar muitas voltas no assunto e agora parecia que ele queria evitar que ela soubesse de alguma coisa.

- É simples, estou organizando outra expedição para voltarmos ao platô e agora estou sendo perseguido por patrocinadores, para cada um que quer provar que sou um falastrão, tem uns dez querendo ligar seu nome a minha descoberta, e tem gente de todas as nações importantes querendo financiar minha pesquisa. Estou organizando uma equipe com cientistas das principais nações européias, mas estou fazendo uma rigorosa seleção entre os candidatos e também sobre os possíveis financiadores, não quero meu nome e meu trabalho ligado a nada nem ninguém que não seja digno. Essa é a razão da viagem, e comigo vão alguns ingleses que planejam também colaborar financeiramente.

Marguerite deu um sorriso forçado e repetiu as palavras: - "Nada nem ninguém que não seja digno", ora, ora professor, antes o senhor não estava preocupado de onde vinha o dinheiro, só queria fazer sua expediçãozinha, nada como a fama para mudar o comportamento das pessoas.

O cientista não gostou nada do comentário da mulher e sentiu seu orgulho ser ferido, mas também não encontrou nenhuma resposta adequada e apenas disse de forma calma e educada: - Tenho que ir, foi um prazer ter reencontrado a senhorita.

- Tenha a certeza que o prazer foi meu.

A mulher se virou e entrou no carro, o motorista fechou a porta, e foi se sentar no seu lugar, ela olhou mais uma vez o cientista que fez uma mesura com o chapéu e se dirigiu para a área de embarque. Marguerite deu um leve sorriso imaginando o quanto este homem estava errado sobre as pessoas que iriam com ele.

Com certeza Xang iria financiar parte ou totalmente a expedição e vários dos seus homens estariam indo nesta viagem, e o pomposo professor nem saberia o motivo, neste momento passou pela sua cabeça a possibilidade de tentar ir e achar a metade do oroboros que ela não conseguiu encontrar, e assim ter o que deseja de Xang, mas mal começou a conjecturar a possibilidade já estava desistindo, com uma das metades ela já não teve chance sem ela seria virtualmente impossível, foi uma sorte saírem vivos de lá, demoraria anos para esquadrinhar todos os lugares possíveis onde o oroboros poderia estar.

Custou muito dinheiro e empenho fazer Xang não matá-la, uma boa parte das pedras que ela conseguira foi gasta com isso, ela nunca conseguiria convencê-lo a deixá-la ir lá novamente, e mais uma vez seu pensamento se dirigiu ao cientista "e o Challenger acha que ele controla essa expedição", seria mais fácil ele controlar todos os que estariam interessados nos diamantes da caverna que dá acesso ao platô do que nos capangas de Xang, pelo menos a decisão de não divulgar a existência de tamanho tesouro foi acertada, se não fosse isso aquele lugar agora pareceria mais com um formigueiro de pessoas do que com uma floresta repleta de pesadelos pré-históricos.

- Senhorita, por favor, para onde vamos? – Já era a segunda ou terceira vez que o motorista perguntava e ela não respondia, despertada pelo som mais persistente da voz do motorista, ela se deu conta que ainda estava olhando para a multidão que andava pelo porto, uns chegando e outros partindo e o motorista estava inclinado para trás a observando.

- Para Radisson Edwardian Hampshire Hotel, na Leicester Square, por favor. – quando o carro partiu ela novamente foi invadida pela estranha sensação de insegurança e estranhamento como algo que não está correto, ela olhou em redor mas nada pode notar que pudesse ter mudado naqueles segundos.

O carro saiu do porto e começou a rodar em direção ao centro da cidade e ao conforto do hotel que ela gostava de se hospedar, ela gostava do hotel não só pelo excelente, espaçoso e muito bem mobiliado quarto com cama larga, confortável, e lençóis de seda que era um dos pontos altos do hotel, mas porque eles possuíam um irrepreensível serviço de quarto que fica a postos 24 horas por dia para atender todas as vontades dos hóspedes, em outras palavras um paraíso em termos de hotel.

Existiam outros hotéis tão bons quanto este, só que nenhum estaria tão bem localizado. Ele fica numa região central de Londres, onde as ruas com os cinemas, museus, galerias e teatros ficam a volta, além é claro das lojas mais chiques na cidade. Alguns dos principais pontos de referência da capital estavam próximos Covent Garden, Soho, Trafalgar Square, Piccadilly Circus, Oxford Streed eram os vizinhos do lugar.

Tudo que ela mais gostava e conhecia estavam ao alcance dos seus pés, sem nenhum esforço, e andar por estas ruas sempre foi um prazer para ela, todas aquelas cores, formas, cheiros e sons, nas construções, prédios e vitrines a maravilhavam desde a primeira vez que pisou na capital do seu país.

Para ela sempre foi incompreensível como algumas pessoas não gostavam de Londres, vivendo no interior do reino britânico ela ouviu diversas vezes pessoas criticando os londrinos e a cidade, descreveram-na como suja, barulhenta, cheia, com pessoas mal educadas sempre correndo de um lado para o outro, mas quando ela viu com seus próprios olhos, se encantou e só pode pensar que todas aquelas pessoas que contavam histórias assustadoras sobre a cidade, só queriam mentir para ela e mantê-la longe de um dos lugares mais lindos do mundo. Hoje ela sabe que tem pessoas que realmente não gostam de Londres e tudo que ela pensa é que é gente sem gosto, sem classe.

Obviamente ela não ignora que existem regiões na cidade em que a sujeira, o barulho e a pobreza imperam, mas com tantas coisas bonitas para se ver, ela não se ocupava com tal aspecto, afinal riqueza e beleza atraem riqueza e beleza e era isso que lhe interessava, ela se mantinha bem longe das regiões menos favorecidas da capital. Além disso, qualquer lugar do mundo tinha sua cota de pobreza e imundice.

Andar anonimamente pelas ruas, sem ninguém reparar nela, podendo entrar nos parques, observar as vitrines sem ser importunada foi o que primeiro a seduziu, depois foram os jardins, cafés, lojas, os museus. Há os museus! A primeira vez que ela entrou no museu de história pensou que fosse passar mal de tanta emoção, aqueles artefatos egípcios não poderiam ser mais bonitos, as peças exóticas da África e América eram todas exuberantes, ficara fascinada com a história de outros povos, outras culturas, outras regras sociais, existia vida em outros lugares além da Inglaterra.

Mas foi no museu de arte que ela realmente se apaixonou. As telas modernistas já tinham invadido as galerias, museus e até algumas das casas mais eminentes de Londres, todas aquelas formas de ver o mundo era fascinante talvez por fugir do convencional, e tudo aquilo era novo e repleto de significados para ela foi impossível ficar alienada frente aos trabalhos dos modernistas.

Toda vez que ela retornava para Londres alguma coisa das primeiras emoções a reencontrava e aquilo lhe dava conforto, era algo que não mudava, e depois de tanto tempo fora, ela poderia curtir sua cidade em paz, ainda tinha com ela várias das gemas que achara na caverna, algumas escondidas, um pouco em cada lugar, nunca se deve deixar tudo no mesmo esconderijo é arriscado e tolo. Agora todos os planos dela consistiam em fazer a vida um pouco monótona para ver se resgatava um pouco da sua paz interior, e aquela sensação de ter esquecido algo importante deixasse ela de vez.

Suas coisas já estavam guardadas, e ela verificava se tudo estava no seu devido lugar, ela já tirara as roupas de viagens e estava com os cabelos soltos e com um robe branco de seda chinesa com desenhos de grandes rosas vermelhas com detalhes em dourado, quando a camareira saiu do banheiro e anunciou que o banho estava pronto, ela agradeceu e a jovem moça que não deveria ter mais do que 19 anos ficou admirando seu robe.

- Pode sair, não vou precisar de mais nada – Essa frase despertou a moça que saiu, Marguerite pensou que ela deve ter olhado admirada para cada um de seus vestidos enquanto os guardava – Vai sempre sonhar com o que não pode ter. – disse para si mesma, pensando na jovem.

Ela entrou no banheiro e sentiu o cheiro delicioso que se desprendia da banheira, tirou o seu robe e entrou na água quente e agradável que foi envolvendo pouco a pouco o seu corpo, só quem já tomou banho em banheira sabe o quanto é bom essa sensação de mergulhar seu corpo na água perfumada e de temperatura agradável.

- Era disso que eu estava precisando para me sentir bem.

No momento aquele era o melhor lugar do mundo, e Marguerite depois de algum tempo deixou de pensar só na água e no perfume e deixou seus pensamentos vaguearem livremente, foi assim que mais uma vez ela pensou em Challenger "quer dizer que aquele arrogante vai mesmo voltar" as conjecturas lhe invadiram, "quem será que vai com ele, será que os outros irão? Duvido muito que Summerlee o acompanhe novamente, uma vez já deve ter sido mais do que o suficiente para ele, ele sim era bom, o melhor de todos nós, agora deve estar com suas plantas e sua família....

O Ned é mais viável, será que ele vai? Será que a noivinha dele vai deixar? Será que está ainda noivo ou se casou? Ou será que desistiu dela, ou ela dele, o que é mais provável, se ela tiver algum juízo, se ela fizer idéia de como ele olhava para a Verônica nunca aceitaria ele de volta ou pelo menos não deixaria que ele voltasse pra lá, a não ser que ela não se incomode de ser traída.

Verônica.... como ela conseguiu sobreviver sozinha tanto tempo? Ela é admirável...mas louca! Escolher ficar naquele lugar, sem nenhum conforto, com tantas coisas que podem feri-la ou até mesmo matá-la, logo se vê que ela não conhece as boas coisas da vida", Marguerite olhou em volta e despejou um pouco mais de sais de banho na banheira como para se certificar de que realmente acreditava que aquilo era uma das boas coisas da vida.....

"Roxton, Lorde John Richard Roxton.....tão forte, tão lindo, tão charmoso, tão corajoso, tão decidido....tão bruto, tão mal-educado, tão grosso, tão convencido, tão arrogante, tão... tão... tão... sei lá o quê, ele e suas cantadas baratas....será que ele vai? Provavelmente sim, como ele é arrogante, tinha um orgulho desmedido da sua lealdade para com o Challenger, ´prometi que iria com você até o inferno professor´.....quando foi mesmo que ele disse isso? Foi no barco? Na selva? Onde mesmo? Há essa minha memória, antes era tão boa, eu não esquecia um rosto, nome, ou qualquer coisa...agora essa dificuldade imensa de lembrar como as coisas aconteceram....Será que ele vai? E se for faz diferença?"......foi pensando nele que ela adormeceu na banheira, o cansaço da viagem e o relaxamento que o banho proporcionou fizeram com que ela caísse no sono, um cochilo.

Acordou exaltada, tivera mais um sonho estranho, afundou na banheira e isso fez com que ela acorda-se, como saiu do sonho muito rápido ainda tinha fragmentos dele na memória.

- Mas que diabo foi isso? Extraterrestres, dinossauros, e robôs? Aquilo eram robôs? Definitivamente devo parar de ler o Wells, nunca mais vou lê-lo, ficar pensando no platô depois de ler Guerra dos Mundos é prejudicial à saúde....- ela falou meio rindo, afinal lembrou do sonho, coisa que fazia meses não acontecia e melhor conseguiu uma explicação razoável para ele.

Ela saiu da banheira, pegou uma das imensas toalhas macias e brancas com o logotipo do hotel bordado e saiu do banheiro, quando se lembrou: - Mas eu não li Guerra dos Mundos? Ou li? Com certeza não recentemente....que coisa estranha.

Rapidamente a sensação de calma sumiu e voltou o sentimento de perda, o que a aborreceu. Ela sentou na cama enxugando seus cabelos e tentando organizar as idéias, mas não conseguia se concentrar, ora tentava se lembrar de quando tinha lido o livro, ou se tinha lido, e depois tentava se lembrar dos detalhes do sonho, em quem estava nele, e o que estava acontecendo, e quando ela pensava que teria algum progresso sua mente lhe pregava uma peça e ela via Challenger à sua frente dizendo que iria voltar ao platô. Não tinha como ela realmente se concentrar.

- Droga!....- Em cima da escrivaninha que ficava à direita da cama ela visualizou o cardápio do hotel – Meu problema é fome. Fome e sono. – ela sentenciou. Chamou o serviço de quarto pela campainha e anotou o pedido para o jantar.

- Vou comer e dormi, amanhã tudo estará claro em minha cabeça.

Continua...

NOTAS

Primavera, Verão, Outono, Inverno....Primavera, Verão.... , inspirado no título de um filme de origem asiática.

Pessoal comentários são bem-vindos.