Não Correspondido

Fecho meus olhos e puxo o ar com lentidão, tudo está acabado, finalmente. Eu cruzei a linha, não há como voltar atrás e simular que nada aconteceu. Os meus dedos ainda sentem a textura do pano da gravata dele e meu coração acelera na mínima possibilidade de poder beijar os lábios de Castiel, mais uma vez. Eu acho que devia ter ultrapassado essa barreira antes, muito antes, logo no começo, quando identifiquei como o anjo me fazia sentir, a maldita sensação de estar em queda livre para todo o sempre.

Quando abro os olhos, Castiel ainda está parado em minha frente, os olhos azuis brilhantes e que parecem com a imensidão do mar, os lábios rachados entreabertos, o cabelo naquele redemoinho confuso e a gravata ainda mais torta do que o normal.

Ele ainda não entendeu o que aconteceu?

Procuro qualquer gesto ou simples expressão que me faça acreditar que ele entendeu o que eu quis expressar com esse beijo, mas eu não consigo ver nada, ele continua com a cara de paisagem, o cenho levemente franzido agora.

_Dean. - a voz é rouca e rouba toda minha atenção. - Eu sou um anjo do Senhor, não posso fazer isso. - ele diz. - Espero que entenda, sou seu protetor, nada mais. - e então sinto meu coração sangrar. - Você é como um irmão para mim. - ele completa e eu me despedaço.

_Perdão.

Foi a única palavra que me ocorreu. Minhas bochechas esquentando com a vergonha de ter me exposto daquele modo,o arrependimento correndo por minhas veias. Eu não devia ter lhe puxado pela gravata e lhe roubado um beijo. Péssima ideia, Dean.

_Vamos esquecer isso. - ele acena com a cabeça.

Esquecer... Ele quer que eu esqueça as palavras que eu disse com tanto fervor, eu nunca tinha dito 'Eu te amo' tão verdadeiro antes, e ele simplesmente me pede para esquecer... Meu coração se dilacera.

_Tudo bem. - eu concordo e ele aperta os olhos azuis.

_Talvez eu deva me afastar por algum tempo? Você me parece terrivelmente machucado com a minha presença... Talvez assim o desconforto de sua parte possa desaparecer.

_Não. - eu respondo. - Eu estou bem... Eu vou ficar bem.

Eu aceito a condição de amigo, de irmão, de protegido. É melhor do que não tê-lo de maneira alguma. Respiro fundo, socando meus sentimentos para o fundo do meu coração e trancando-os para sempre.

Eu nunca mais vou mostrá-los. A ninguém.