Título: Olhos cegos, mãos suaves.
Autor: K Kinomoto
Tradução: Mazzola Jackson
Contido Categoria: Harry Potter
Personagens: Harry Potter, Severus Snape
Resumem: A última batalha contra Voldemort, fará que algumas pessoas percam algo muito valioso em suas vidas. Agora, a cada qual terá que lutar para recuperar aquilo que perdeu... ou aprender a viver sem isso. Slash Severus/Harry e outros casais.
Gênero: Angústia, Drama, Romance, Tragédia
Classificação: NC-17
Advertências: Adulto/Menor, Conteúdo Hetero, Mpreg=Gravidez Masculina, Morte de uma personagem, Tortura, Voyerismo=olhar a outra
Extensão Data Capítulos: 57 Publicada: 24/02/05
Completa: Sim
Disclaimer: Harry Potter e suas personagens são propriedade de J. K. Rowling. Esta história está escrita sem ânimo de lucro.
Advertências: Este fanfic será Slash com Lemon. Isto é, conterá relações, algumas explícitas, entre garotos. Mais adiante Mpreg. Também terá casais hetero, morte de alguma personagem e muita angústia. Se alguma destas situações não te é grata, não o leias. Só aviso.
Nota: Tenho tido que modificar alguns detalhes do passado, caráter e idades de algumas personagens, bem como características e funcionamento de alguns feitiços e objetos mágicos, para poder adaptar a minha história. Espero não lhes incomodar.
Que a desfrutem.
K. Kinomoto.
I
Uma doce melodia.
Severus Snape, professor de Poções do Colégio de Magia e Feitiçaria de Hogwarts, encontrava-se sentado com as costas repousando contra uma frondosa árvore. Observava com deleite as nuvens felpudas que em caprichosas formas, se perfilavam contra o azul do céu de meio dia de verão.
—Curioso... —dizia-se enquanto contemplava com atenção. —Essa nuvem tem a forma da cabeça de Trelawney. —acomodou-se até ficar recostado sobre o verde pasto, fresco pela ligeira brisa que provia do lago situado em frente a ele, e seguiu com suas observações. —E esta outra parece a barba de Albus...
Estava tão ensimesmado em sua contemplação das nuvens, que não se deu conta que uns metros mais atrás, três pessoas o examinavam a ele com atenção.
—É muito raro ver nesse estado de placidez total, não o crês Harry? —Perguntou Hermione, uma das três pessoas que observam ao professor. —Parece que fosse outra pessoa...
Harry não pôs muita atenção às palavras que sua amiga lhe dirigia. Fixava sua mirada no que conhecia como um adusto homem, e lhe surpreendeu de maneira grata a visão que se encontrava ante ele. O professor acabava de mudar de posição, e agora se achava estendido por completo sobre o pasto com os braços embaixo de sua cabeça. Sinal inequívoco de que se encontrava muito cômodo.
Harry pôde advertir como os negros olhos do homem escudrinhavam o céu como em busca de algo em particular, e olhou para acima para saber que era o que seu alguma vez odiado professor buscava. Mas depois de uns momentos de exploração não pôde o adivinhar. Voltou a ver a seus amigos, que depois desse pequeno comentário tinham deixado de pôr atenção ao que o professor Snape fazia.
Em vez disso, sacavam de seus bolsos as últimas compras realizadas em Hogsmeade. Acabavam de regressar da que seria sua última saída como estudantes de Hogwarts. Era o último fim de semana que desfrutariam os três em mútua companhia em frente ao lago, como vinham o fazendo desde que cursavam no quinto ano.
Por essa razão tinham decidido que, regressando de seu passeio, se iriam almoçar a esse lugar tão tranquilo que costumavam frequentar, e assim aproveitariam para se mostrar uns a outros os que acabavam de comprar.
—Ron, achei que tinhas-me dito que tua túnica seria de cor azul turquesa —Hermione levantou a contraluz a túnica recém adquirida de seu namorado, para analisar melhor a cor, e depois a guardou novamente em sua caixa.
—Sei que te tinha prometido, Hermione... —respondeu-lhe Ron enquanto retirava a envoltura de um chocolate. —Mas quando cheguei, a túnica já tinha sido vendida e não me ficou de outra que a conseguir em cor escarlate.
—A mim me parece bonita. —Harry, quem não tinha intervindo na conversa até esse momento, notou como o rosto de Hermione se contraía em um beicinho de frustração.
—A cor é bonita, Harry. Não o nego, é só que... —a garota suspirou, derrotada—. Resulta que minha túnica é da mesma cor.
Ao escutar a confissão de sua namorada, Ron quase se engasga com o chocolate.
—Oh... sinto-o Hermione, mas não o sabia —se acercou a sua namorada e a abraçou pelos ombros. —Buscarei outra cor, prometo.
—Não te moleste, Ron. Já não dá tempo da mudar. —Hermione passou uma mão pelo alborotado cabelo do ruivo e lhe dedicou um doce sorriso. —Acho que poderemos arranjá-lo. Conheço um feitiço para mudar a cor das coisas. Só deverei ter cuidado para que funcione o tempo suficiente.
—És um amor, Hermione. —o rapaz beijou com leveza a bochecha da jovem. —Estou seguro de que tua túnica se verá igual de formosa em cor azul turquesa.
A moça esboçou um sorriso travessa.
—Dirás melhor vermelha escarlate, porque a dizer verdade querido... é tua túnica a que penso enfeitiçar.
Harry, que desde a última vez que falasse se tinha limitado a escutar a conversa do casal, não pôde evitar soltar a gargalhada.
Desde seu lugar baixo a frondosa árvore, Severus Snape abriu os olhos ao escutar um riso melodioso, proveniente de alguém situado a uns metros dele. Levantou a cabeça para averiguar de onde provia esse riso, se encontrando de cheio com os olhos esmeralda de quem agora considerava um de seus melhores alunos.
O rapaz de alborotados cabelos tratava de recobrar a compostura. Sentindo-se observado, girou sua mirada por instinto para o lugar onde se encontrava o professor Snape, e o tempo se deteve nesse momento para os dois. Hermione, Ron e as nuvens deixaram de existir para Harry ante a intensidade dos profundos olhos negros, que pareciam querer lhe dizer muitas coisas.
Harry não pôde se escapar dessa escura mirada sem evitar que suas bochechas se coloriram de um encantador rubor, se vendo fascinante segundo a silenciosa opinião do professor. Este moveu a cabeça em um gesto de saúdo enquanto esboçava um sorriso mal perceptível, que fez que Harry quase lhe provocasse um infarto.
—Que formoso sorriso tem...
— Dizias?
—Não... nada.
—Será melhor que almocemos de uma vez, Harry. Está-se fazendo tarde e devemos reportar-nos com a professora McGonagall.
—Tens razão, Ron. Será melhor dar-nos pressa. —Harry dirigiu outra vez sua mirada para seu professor, mas este já não estava. "É a primeira vez que o vejo sorrir." Pensou enquanto dava uma mordida a sua tostada.
Harry Potter conhecia por fim o sorriso de Severus Snape, e descobriu que gostava. E muito.
"Só espero que não seja a última." Disse-se a si mesmo antes de continuar com seu almoço.
Nick Quase decapitado saudou com cortesia ao professor de Poções, quando este se dirigia para o Grande Salão. Após corresponder ao saúdo do fantasma com um movimento de cabeça, o catedrático deteve-se um momento para ver ao longe ao trio de ouro, o qual acabava de regressar de seu passeio pelo lago.
"Vês-lhe tão maduro..." Pensou o adusto professor. Através do enorme janela, seguiu com a vista aos três rapazes até que se perderam em uma esquina do extenso pátio. "Não aparenta a curta idade que ainda tem... Quem diria que esse jovem tão ingênuo chegaria a ser um dos magos mais poderosos? Ou o experiente em Oclumência no que agora se converteu?"
Depois que Dumbledore o elegesse a ele para lhe dar essas aulas ao rapaz, muitas dores de cabeça acompanharam ao escuro professor desde então. Foi desesperante ver como conseguia entrar com tanta facilidade em sua mente, e descobrir todos e a cada um dos pequenos e grandes segredos que o rapaz guardava.
E se em um princípio sentia irritação ao ser —contra sua própria vontade—, partícipe da cada um de suas lembranças, com o decorrer do tempo se deu conta que o rapaz tinha um passado carregado de infortúnios. A incomodidade que sentia se converteu pouco a pouco em uma espécie de tipificação com o passado que ele alguma vez viveu. De uma hora para outra e de uma maneira estranha, terminou sentindo-se identificado com aquele impetuoso jovem de cabelos emaranhados.
Mas o que fez que o professor descobrisse os sentimentos puros que pese a tudo ainda conservava o garoto, foi uma muito particular e dolorosa classe na que sem querer, o rapaz reviveu um pesadelo recente com seu maestro como protagonista. Nela, Voldemort lhe reclamava a seu antigo servidor sua traição conjurando vários feitiços martirizantes sobre sua pessoa.
Percebeu nesse momento o sentimento de ira e desespero no "menino que viveu", enquanto observava como era torturado o que considerava seu melhor professor, sem ter possibilidade alguma de ajudar. E comoveu-lhe descobrir que apesar de todos os anos de maus tratos por sua vez, o rapaz não albergava sentimentos de rancor contra ele.
Isso o fez considerar lhe ter mais paciência, o que ajudou ao jovem a se concentrar até que já não teve possibilidade alguma de penetrar em sua mente.
E foi bem como, quase em um ano após ter começado com as aulas, Severus Snape outorgou notas satisfatórias a Harry Potter no concernente à matéria de Oclumência. E se não fez menção que o rapaz superou as expectativas, não foi porque não o merecesse, senão porque isso tivesse significado ir contra sua própria natureza.
Mas muito dentro dele, se sentiu satisfeito pelo objetivo atingido. E muito a seu pesar, orgulhoso de quem a partir de então considerava como um de seus melhores estudantes.
Interrompeu o curso de seus pensamentos ao advertir que se tinha ficado só no corredor. Com uma última mirada para onde distinguisse por última vez ao jovem de olhos verdes, continuou seu caminho para o salão.
Era segunda-feira da última semana de classes, e os corredores encontravam-se abarrotados de estudantes preparando para seus exames finais. Demasiado ocupados em tratar de render, Slytherin e Gryffindor mantinham uma tácita trégua em suas diferenças para poder apresentar seus exames em relativa acalma.
—Hoje tem exame de Transfigurações com McGonagall e História da magia com Binns. —comentou Hermione sem descolar sua vista de um enorme livro. —E amanhã o exame de Defesa com o professor Lupin e Adivinhação com Trelawney. Na quarta-feira Criaturas mágicas, com Hagrid e Astronomia na noite...
—E Poções na quinta-feira, com Snape. —Ron não pôde evitar um pequeno estremecimento ao o mencionar.
—E na sexta-feira Feitiços. E ademais tem... Harry, estás ouvindo o que estamos dizendo?
— Eh? —Harry enfocou sua atenção para sua amiga. —Ah, sim Hermione. Transfigurações e Feitiços.
—História, Harry. E depois Defesa. —Hermione fechou o livro que tinha entre suas mãos. —Há algo que te preocupa? Gostarias de contar-nos?
O jovem de cabelos escuros deteve seus passos e dirigiu-se para uma pequena banca, onde se sentou antes de depositar seus livros a um lado.
— Já têm pensado que farão ao sair de Hogwarts?
—Sim, Harry. Tenho decidido que quero me ir a Itália a estudar Magia Antiga. —Hermione foi a primeira em responder.
— A Itália? —Ron quase colou um brinco ao escutar a sua noiva. —Mas, Hermione… por que não me tinhas dito?
—Comentei-te faz em uns dias, Ron. Mas tu estavas demasiado ocupado contestando o questionário da revista de Quidditch como para me escutar.
—Eu ainda não sei que quero fazer. —ao ver que se vinha outra discussão entre o casal, Harry decidiu intervir. —Estou pensando se ir-me a França a estudar para Auror ou tomar-me em um ano sabático para planejar meu futuro com mais acalma.
—Ficarias sem estudar em um ano, Harry. —Ron tomou assento junto a seu colega. — E enquanto, que farás?
—Não o sei… talvez consiga que Dumbledore me deixe ser auxiliar do professor Snape nas aulas de Duelo. Isso me ajudaria a decidir se ser Auror é o que quero em realidade, ou se for o caso, professor.
—Mas... com o professor Snape? —Outro escalafrio por parte de Ron. —E não poderia ser melhor como auxiliar de Lupin em Defesa?
—Ron, o que Harry decida estará bem. O que tu lhe tenhas aversão ao professor Snape não significa que ele também.
—E falando do Rei de Roma...
Os três amigos interromperam sua conversa ao ver ao longe a figura inconfundível de seu professor de poções. Sua longa túnica negra ondulava por trás dele enquanto o professor se acercava a eles. Retardando a velocidade de sua andar e saudou a Harry com a mirada. Este lhe correspondeu o gesto com um tímido sorriso e um pequeno corar, que a sua amiga não lhe passou inadvertido.
Após isso, o professor retomou a vivacidade de seus passos e se dirigiu para as masmorras, onde o grupo de sétimo de Ravenclaw já o esperava para apresentar seu exame final.
—Esse homem inspira-me medo... —disse Rum enquanto acercava-se a abraçar a sua namorada.
—Pois a mim me inspira respeito. —respondeu Hermione, ao mesmo tempo em que voltava a ver a seu amigo—. E a ti Harry, que te inspira?
O corar de seu amigo intensificou-se, o que fez que a afiada mirada de sua amiga flashes em um deixo de satisfação pela revelação.
—Acho que será melhor que nos vamos. —respondeu o jovem de olhos verdes enquanto se punha de pé e recolhia suas coisas.—A hora do exame acerca-se e não quisesse chegar tarde.
—E diga-me, Severus... tudo bom vão teus alunos com os exames? Melhoraram neste ano ou seguem igual? —Albus Dumbledore sentou-se em seu habitual lugar no Grande Salão enquanto o professor de poções seguia-o.
—São umas cabeças ocas, Albus. Eu diria que pioram a cada ano que passa. —o professor percorreu com a vista todo o lugar enquanto continuava. —A este passo me terei que ver obrigado a mudar de trabalho.
—Não sejas demasiado exigente contigo, meu rapaz. —o idoso terminou de acomodar sua longa barba depois da mesa, não fora a sofrer algum pequeno acidente com a comida como já lhe tinha ocorrido outras tantas vezes. —Deves entender que tua matéria é uma das mais difíceis. Muito poucos são os magos que nascem com o dom de compreender em todo seu significado.
—Poções não é uma matéria que se deva compreender Albus, senão a amar. De nada serve que os alunos tratem de se aprender para que serve a cada coisa ou memoriem a cada um dos ingredientes que uma poção leva, se não sabem com que sentido ou baixo que critério a utilizar.
Seguiram conversando um momento mais enquanto observavam a chegada dos alunos que, pouco a pouco, iam enchendo as quatro mesas de suas correspondentes casas.
—E falando do amor às poções, já lhe propuseste a Draco ser teu auxiliar no próximo ano? —Dumbledore fez um sinal com a mão aos elfos encarregados de servir as mesas.
—Não tenho tido oportunidade de falar com ele. Tem estado muito ocupado nestes últimos dias estudando para seus exames, e não quisesse distrair de suas obrigações.
—A última vez que falei com ele me deixou entrever que gostaria de dedicar-se às poções, e me comentou que nada gostaria mais que aprender de primeira mão. —o Diretor enfatizou enquanto rebuscava em seus bolsos. —Não me surpreenderia se ele mesmo te pedisse.
—A mim também não, Albus. Tenho visto muito poucos alunos com sua disposição para aprender poções a sério.
— Um caramelo de limão? —E ante a mirada cáustica do professor sentado a seu lado. —Vamos Severus, só um. Te abrirá o apetite.
Com um soprar, o professor dispôs-se a tomar o caramelo que o Diretor lhe oferecia, quando sentiu uma mirada sobre ele. Percorreu com a vista o salão para averiguar quem o olhava dessa forma tão intensa, e se encontrou de novo com os olhos verdes de Harry o observando com ardor. O rapaz se ruborizou com intensidade quando se viu descoberto e desviou a mirada para seus colegas.
"Por que se ruborizará a cada vez que me vê? Talvez...? Não, isso não é possível. Seria demasiado perfeito para ser real..." Moveu a cabeça, negando-se a seus próprios pensamentos. "Só é minha imaginação." Suspirou.
Absorto em suas próprias cavilações não se deu conta que o sábio diretor, conhecedor de cada um dos gestos do que considerava quase como a um filho, tinha seguido todos seus movimentos.
Harry acabava de sair de seu exame de História da Magia e dirigia-se para sua sala comunal, quando no caminho se encontrou a um grupo de rapazes do primeiro ano que pareciam estar fugindo de algo.
— Que terá ocorrido? —perguntou-se o jovem sem decolar a vista dos meninos até perdê-los de vista em uma esquina. Nesse momento escutou-se o riso inconfundível de Peeves. —Já me imagino...
Ao dar volta à esquina atingiu a ver a Filch recolhendo do andar os resíduos do que parecia uma broma feita por Peeves a uns alunos de primeiro de Hufflepuff. Os mesmos com os que segundos antes se tinha topado. Mas isso não foi o que lhe chamou a atenção a Harry, senão o fato de que, cerca dele, se encontrava o diretor Dumbledore conversando muito animado com o professor Snape.
Estava decidido a seguir seu caminho, intencionalmente que teria que encontrar sem remédio com eles e os saudar. E isso não lhe preocupava em absoluto com respeito a seu Diretor, mas quanto a Snape... essa era outra questão.
Quando já se acercava a ambos professores, viu a Dumbledore chamando a atenção de Severus. Este se agachou a sua altura para poder o escutar. O idoso lhe sussurrou algo ao ouvido que fez que seu professor de poções se endereçasse de sua anterior posição enquanto soltava uma sonora gargalhada.
Harry Potter não podia dar crédito ao que seus olhos viam. O professor Severus Snape acabava de rir-se sem inibições por algo que o diretor lhe tinha comentado. Impressionado ante semelhante visão, só ele conseguiu permanecer quieto no lugar onde se encontrava.
O riso do professor suavizou-se até converter-se em um amplo sorriso. Harry permaneceu impressionado o tempo suficiente até que um dos livros que sustentava em suas mãos foi a dar a solo, o que fez que ambos professores advertissem sua presença.
—Harry rapaz, não te tínhamos visto . —Dumbledore deu um passo para o aludido. —Tudo bom vão os exames?
—Bem, professor Dumbledore. —ainda sem sair por completo de sua impressão, o jovem se agachou para recolher o livro de solo. —Bem... obrigado.
—Alegro-me muito, Harry. Por verdadeiro... —o idoso diretor dirigiu sua mirada para o professor de poções a seu lado, em claro sinal de querer incluir na conversa. —Já tens decidido o que farás quando te gradues?
—Eh... não senhor, ainda não —o rapaz dirigiu sua mirada verde para seu Diretor. —Estou-o pensando.
—Pois se precisas apoio sobre orientação vocacional não duvides em nos o pedir, o professor Snape e eu estaremos encantados de te ajudar. Não é assim, Severus?
—Se não há outra opção… —respondeu o citado professor enquanto observava com intensidade ao rapaz, contradizendo com esse ato suas próprias palavras. —Tenho alguns livros sobre o tema que poderiam te servir, Potter.
—Se... agradeço-lhe muito, professor. —respondeu um trémulo Harry—. O... o tomarei em conta. A...adeus...
O jovem saiu correndo para sua Torre, vermelho até as orelhas.
—Hum... tens notado a este rapaz muito raro nos últimos dias? Severus, escutas-me?
— Eh? Ah... sim, Albus. Eu também penso que a todos os estudantes de último ano lhes conviria esse curso... dê que te estás rindo?
Enquanto na Torre, sentindo-se a salvo de intensas miradas negras capazes de roubar o fôlego, Harry perguntou-se que lhe teria dito Dumbledore ao professor Snape que o fizesse rir desse modo. Agradecia-lhe muito, já que por fim tinha podido conhecer o riso aberto de seu professor de poções. E se ao conhecer seu sorriso pensou que era formosa, agora sabia que seu riso era em verdade maravilhosa.
Essa mesma noite Harry Potter dormiu-se sonhando com essa doce melodia.
—De modo que este verão deixarás aos Dursley...
O professor Remus Lupin achava-se sentado na orla de seu escritório conversando com Harry. Estava esperando ao resto de seus alunos, para aplicar-lhes seu exame.
—Sim, Remus .—Harry jogava com um pequeno relógio muggle que enfeitava o escritório do homem lobo. —Sirius pediu-me que me fosse viver com ele. E por suposto, aceitei.
—Alegro-me muito por ti. Já vai sendo hora de que passes verões mais agradáveis —o professor de Defesa se levantou de sua mesa e se dirigiu para uma banca próxima. —E disseste-lhe sobre tuas intenções de ficar-te em um ano mais em Hogwarts?
—Comentei-lhe algo ao respeito —o rapaz se removeu, incómodo. —Mas sobre o de ser auxiliar do professor Snape ainda não lhe tenho dito.
—Pois não acho que a ideia lhe vá gostar muito. Já sabes o ódio mútuo que esses dois se têm. —o professor revisou a consciência as bancas próximas a ele. Ao ver a mirada interrogante de Harry só se encolheu de ombros. —Acordeões. Já sabes...
—Ah, já... estará muito difícil teu exame?
—Nada que não se tenha visto em classe.
Nesse momento começaram a chegar os alunos e Harry dirigiu-se a seu lugar depois de que o professor lhe desejasse boa sorte. Depois de entregar-lhes o pergaminho do primeiro exame e dar as devidas instruções, o catedrático regressou a seu lugar em sua mesa. O silêncio que seguiu a esses momentos serviu ao homem lobo para perder em seus pensamentos.
"Harry tem muita sorte de poder ir-se a viver com Sirius..." Suspirou. "Oxalá eu tivesse essa mesma sorte."
Desde que Sirius fosse resgatado do Véu do Departamento de Mistérios, e depois de comprovar-se sua inocência ante o Ministério, o animago tinha regressado a sua casa de Grimmauld Place. Mal terminou de se estabelecer, lhe propôs a seu afilhado se ir a viver com ele quando saísse do colégio.
Harry mostrou-se entusiasmado com a proposição. Comentou-lhe a Remus, quem alegrou-se ao saber que o rapaz já não teria que voltar à casa de seus tios em Privet Drive. Mas durante uma conversa entre Sirius e o Diretor, este lhe tinha dito que não teria nenhum problema desde que Voldemort não se manifestasse ainda como um perigo próximo. De ser assim, o rapaz teria que ficar no Castelo.
Decidiram não lhe comentar nada a Harry pelo momento, já que não tinha caso lhe arruinar a ilusão ao garoto. Mas o Diretor tinha-lhes dito que tinha a Severus ao pendente de qualquer mudança de rumo que tivesse o instável comportamento do Senhor Escuro. E que em dado caso, o professor trataria de lhes dar o aviso oportuno.
Por outro lado, Remus sentia-se abatido. Seu sonho de estar em algum dia com Sirius era algo a cada vez mais longínquo. Estava apaixonado pelo animago desde sua época de juventude, mas jamais se permitiu lhe demonstrar por temor a uma rejeição. Anos atrás, tinha conseguido reunir o valor para confessar-lhe seus sentimentos, mas algo sucedeu que o fez mudar de ideia.
Melodiando pelos corredores de Hogwarts durante sua época de estudantes, encontraram-se ocultos na semipenumbra a um casal de Ravenclaw de quinto ano, beijando-se com paixão. O detalhe foi que ambos eram varões, pelo que Sirius teve intenção de molestar. Remus conseguiu convencê-lo de que os deixasse em paz, e se retiraram do lugar sem fazer escândalo.
—Eu jamais me apaixonaria de outro homem. É algo antinatural —lhe tinha comentado o animago de regresso a sua Torre.
Foi quando Remus se deu conta que nunca poderia lhe confessar seus sentimentos, e muito menos ter algo com ele. Preferiu guardar silêncio. Em vez disso, decidiu lhe dar o sim a um dos garotos mais cotados de Hogwarts: o Slytherin Lucius Malfoy, quem desde fazia algum tempo tinha tentado apaixoná-lo.
Ambos sustentaram apaixonados encontros durante o último ano que estiveram no colégio. Depois disso se frequentaram algum tempo mais até que suas vidas tomaram rumos diferentes, depois do qual nunca voltaram a se ver. Os dois estavam conscientes que jamais ninguém devia conhecer a história dessa relação, e por acordo mútuo decidiram a manter em segredo.
Lucius, porque considerou que lhe demonstrar a Remus seus verdadeiros sentimentos não era digno de um Malfoy, e sustentar uma relação com um Gryffindor a plena luz do dia não era próprio de um bom Slytherin. Remus também teve suas próprias razões, uma delas era que não amava ao Slytherin, ainda que devia reconhecer que durante o tempo que estiveram juntos sua relação lhe deixou muito belas lembranças.
Outra razão eram seus amigos. Se eles se inteiravam dessa relação com toda segurança não a aceitariam. E a razão mais importante: Sirius jamais devia se inteirar que seu melhor amigo era homossexual. Ainda que ele já se tinha resignado a ter a Sirius só como um amigo, a dor lacerava seu coração ao o ter tão perto, e ao mesmo tempo tão longe.
Não soube quanto tempo mais permaneceu o homem lobo perdido em suas lembranças, até que o timbre do pequeno relógio muggle lhe indicou que já era hora de recolher os exames.
—Acabou-se, rapazes —o professor levantou-se de sua mesa. —Entreguem-me seus exames. Têm dez minutos para esticar-se e após isso passaremos ao exame prático.
Remus afastou de sua mente as memórias e as ilusões do passado para concentrar-se em seu presente que, ainda que doloroso e triste, era razoavelmente real.
— Já estás pronto para o exame da quinta-feira com Snape, Ron?
—Eu jamais estarei pronto para nenhum exame com Snape, Harry. Toca-te mover.
Ron e Harry encontravam-se sozinhos na sala comunal jogando uma partida de xadrez. Eram mais das onze da noite e seus colegas fazia um bom momento que se tinham retirado a seus dormitórios.
—Ainda bem que é até a tarde. Assim me dará tempo de dar um último repasso. —Harry buscou uma melhor postura no andar enquanto continuava—. Toca-te...
—Isso estará bem. Só não o faças adiante de Hermione ou te lançará um discurso sobre algo bem como: "Harry, não vais aprender em uma sozinha manhã o que não aprendeste em todo o curso..." —imitando o tom de sua noiva—. Xeque...
—Tens razão. Toca-te...
—Xeque... Mate. –Ron jogou-se para atrás no sofá. —Tens estado muito distraído nos últimos dias. Tenho-te estado ganhando com muita facilidade, há algo que te preocupa?
—Em realidade não. —o rapaz se pôs de pé e se sentou no outro extremo do sofá onde seu amigo se encontrava. —Só é pelos exames, já sabes... —tratou de mudar de tema. —E, como te foi com Hermione? Vai em sério o de ir-se a Itália?
—Sim, Harry. —A cara do ruivo contraiu-se em um gesto de incerteza.
— Que pensa em fazer? —Harry sabia que seu amigo ainda não tinha decidido que carreira seguir, e estava seguro que a decisão tomada por sua namorada o tinha feito se sentir pressionado.
—Não o sei… sabes? Faz momento falei com ela. E disse-me algo que me deixou muito surpreendido. Bom, em realidade não me disse de forma direta, mas me insinuou. —o ruivo se levantou e começou a caminhar de um lado a outro. —Disse-me que se eu queria, podia eleger uma carreira para estudar na mesma escola que ela. E então...
—E então, que?
—Disse-me que assim poderíamos nos apoiar o um ao outro. Que ambos trabalharíamos e nos dividiríamos as despesas da casa... entendes?
— Estás-me querendo dizer que... propôs-te casamento? —Harry saltou do sofá, entusiasmado. —Vá, Ron! Isso sim é incrível. E daí respondeste-lhe?
—Pois... nada.
— Como que nada?
—É que quando me dei conta de para onde ia todo o assunto pois... preferi mudar o tema.
—Ah... vá. —Harry acercou-se a seu amigo e tomou-o pelos ombros para sentá-lo novamente a seu lado no sofá. —Imagino-me que Hermione não se terá mostrado muito comprazida com tua resposta.
—E que o digas... —o moreno dirigiu-se para uma das mesas e tomou um copo com água para oferecer-lhe a seu amigo, que não duvidou um segundo no tomar. —Parece que se deu conta que estava tratando de evadir o tema e já não fez questão do assunto, mas... acho que decepcionei-a.
Um momento de silêncio seguiu a este último comentário.
—Ron, que é o que te impede estar com ela? —Harry acomodou-se até ficar em frente a seu amigo. —Estás seguro que só é porque não sabes que carreira eleger?
—Não o sei, Harry. A verdade é que... estou confundido —Ron deixou a um lado o copo que seu amigo lhe oferecesse, e se esfregou o rosto com frustração. —Verás... por um lado sim quero estar com ela e sei que na Itália há muitas carreiras de onde eleger. Mas também quisesse me dedicar a estudar alguma criatura mítica.
A Harry tivesse gostado de gostado ajudar a seu amigo nesses momentos, mas quanto ao assunto da carreira sua situação não era muito diferente da dele. Ele também não estava seguro sobre que fazer quando se graduara, e vendo que sua ajuda poderia o confundir mais decidiu deixar limpado o tema.
—O que passa é que gostaste muito das aranhas gigantes do Bosque Proibido e agora queres as estudar, verdade? —caçoou o moreno tratando de sacar a seu amigo do poço de incerteza onde se encontrava. E conseguiu-o, junto com um longo escalafrio por parte do de olhos cinzas.
E tendo deixado o tema do casal e carreira a um lado, falaram durante um momento mais sobre diversos temas, até que o relógio da torre indicou que já era meia noite. Ron retirou-se a seu dormitório, deixando a Harry um momento mais na solidão da sala comunal.
Já metido entre as cobertas, Ron meditava sobre sua conversa com Hermione.
Estava surpreendido que ela tivesse dado esse grande passo, e ainda que por um lado se sentia lisonjeado, pelo outro achava que primeiro deviam aclarar muitas dúvidas respeito do que ambos queriam para o futuro. Ele estava seguro de a amar, disso não tinha nenhuma dúvida. A verdadeira pergunta radicava em se era o correto casar-se tão jovens. Ele queria conhecer primeiro o mundo, viajar.
Proveniente de uma família numerosa na que as decisões. —importantes ou não. —, se tomavam entre todos, Ron nunca tinha tido a oportunidade de decidir por si só. Era por essa razão que se lhe fazia tão difícil eleger uma carreira. Inclusive até tinha-se abstido de comentar a sua família as opções que tinha, a risco de que se convocasse a uma junta familiar e terminassem decidindo entre todos, que carreira devia eleger.
E com seu casal passaria o mesmo. Se tão só a Hermione ou a ele se lhes ocorria mencionar em algum momento. Ele queria estar só por um tempo para assim poder experimentar a liberdade, e achava que ao se casar com Hermione, essa liberdade ficaria limitada de forma drástica.
Ele mesmo tinha visto como, durante seus anos de estudante, ela era a que tomava as decisões mais importantes. Harry e ele nunca lhe discutiram esse ponto, já que consideravam à rapariga como a mais madura e inteligente dos três. Jamais tinham posto em injunção a capacidade e a maturidade de sua amiga.
Mas agora as coisas eram diferentes. Eles já não só eram amigos, senão noivos. E se tinham pensado casar-se, ele devia estar disposto a tomar decisões importantes tanto como ela, sem se sentir nenhum dos dois relegados a um segundo plano. Sentia que se não aprendia a tomar decisões só, sempre estaria dependendo de sua esposa para as tomar, e isso era algo que em realidade lhe aterrorizava.
Ele não queria ter liberdade para abusar dela, senão para madurar. Queria essa classe de liberdade que dá responsabilidades e ensina que as decisões que um tomada ao longo de sua vida, são as que nos levam a cometer os erros mais desastrosos, mas também os acertos maiores.
"Amanhã falarei com Hermione." Ron acomodou-se acima em sua fofa cama. "Não posso permitir que pense que não a amo, ou que não quero me casar com ela."
Acomodou-se baixo das cobertas, disposto a dormir. Dantes de fechar os olhos, atingiu a ver uma aranha patona descendo com lenta parcimônia à altura de seu nariz, o que fez que Ron a visse bem mais grande do que em realidade era, e colasse um aterrador grito.
Uma chuva de objetos de diferentes formas e tamanhos —enfeitiçados para castigar a quem atrevesse-se a interromper o sonho de seus proprietários—, caiu em cima de Ron. Este aproveitou a tomar um sapato que tinha caído perto e o usou como arma para matar à intrusa que se atreveu a perturbar por completo uma, já deu por si, perturbadora noite para ele.
"Como ódeio às aranhas..." Ron terminou de acomodar para ao fim poder conciliar o sono. Precisava estar lúcido para enfrentar a Hermione ao dia seguinte. Preocupava lhe sua reação quando falasse com ela, mas era o mais conveniente.
Dantes de ficar dormido perguntou-se se não seria melhor se enfrentar ao mesmíssimo Aragog que a sua inteligente e bela, mas temperamental apaixonada.
—Já falta muito pouco... não me vás falhar...
Severus Snape encontrava-se absorto por completo em uma poção que Madame Pomfrey lhe tinha pedido que lhe perfeccionara. Levava em vários dias tentando-o, mas por um ou outro motivo, sempre devia começar de novo.
Por sorte, essa mesma noite tinha conseguido dar com o ingrediente que lhe estava dando problemas. E após analisar a quantidade exata, esperava que a poção que nesses momentos se alinhava em seu velho caldeirão por fim fosse a definitiva.
Após verificar que a poção se mantivesse pelo caminho correto, o professor pôde dar o luxo de descansar uns minutos enquanto a vigiava. Ao mesmo tempo, dispôs-se a terminar de preparar o exame que à manhã seguinte a primeira hora, apresentariam os alunos de último ano de sua Casa.
A cada ano tentava que os exames para a cada Casa fossem diferentes. Em anos anteriores, com outras matérias, tinha-se dado o caso de alunos de casas diferentes passando informação sobre o visto no exame, o que provocou que muitos deles obtivessem máximas qualificações sem o merecer.
Após ter elegido as perguntas correspondentes ao exame teórico, o professor dispôs-se a eleger a poção que os alunos elaborariam em seu exame prático.
"Tem que ser uma poção complicada, mas que sua elaboração não seja demasiado demorada, já que terão o tempo contado." Após analisar algumas poções, por fim elegeu a que lhe pareceu a mais indicada. "Esta poção é de sétimo ano, já lhes ensinei em teoria. Agora lhes pedirei que a elaborem."
Recordou que seu afilhado já tinha elaborado essa poção antes, durante as aulas extras que o professor lhe dava. Decidiu dar-lhe outra poção diferente à de seus colegas. Devia ser bem mais difícil, e teria que a elaborar à perfeição para passar o exame. Só então lhe ofereceria o posto de ajudante que tanto queria.
Nesse momento voltou a ver seu caldeirão para verificar se sua poção tinha resultado. Tinha a consistência e o cheiro adequados, e uma cor verde jade que de imediato lhe fez recordar certos olhos de um jovem Gryffindor. Deixou o pensamento a um lado e dedicou-se a terminar de envasar a poção. Uns minutos depois, o professor sustentava em sua mão um frasco com a poção perfeiçoada.
"Tivesse gostado que Draco me ajudasse." Pensou o professor enquanto depositava a poção sobre sua mesa. Sustentou o pergaminho com os ingredientes e as instruções para elaborá-la. "Estou seguro que se teria alegrado tanto como eu do ter conseguido."
Após observar uns momentos mais o pergaminho, deu-se conta que a poção já perfeiçoada era bem mais complicada que dantes, e então se decidiu.
—Esta será a poção que Draco deverá elaborar manhã.
Após enrolar o longo pergaminho e guardá-lo junto aos demais, Snape dispôs-se a dar sua rodada noturna pelos corredores. Tinha vontade de castigar a algum Gryffindor que se atrevesse a romper o toque de recolher. "E de passagem, talvez me encontre de casualidade com ele..." Pensou Severus enquanto apanhava sua capa e saía de seu escritório para dirigir para a Torre Gryffindor.
A essa mesma hora, Blaise Zabini dava-se pressa em não ser descoberto enquanto se dirigia à sala dos mestres. Tinha-se-lhe feito tarde e não queria ter problemas com seu adorado loiro, que com toda segurança já o estava esperando. Voltou para ambos lados para se assegurar que não o tivessem seguido e abriu a porta para se encontrar em uma pequena saleta, muito acolhedora e decorada com as cores de sua Casa.
—Demoraste muito. —reclamou-lhe a pessoa que, sentada no sofá muito a gosto, o esperava com duas copas de vinho.
— Sabes que está proibido beber no colégio, Draco? —o loiro pôs-se de pé e ofereceu-lhe um copo ao recém chegado, que não duvidou em tomar. —Levas muito tempo esperando-me?
—O suficiente para impacientar-me . —respondeu-lhe Draco Malfoy enquanto abraçava-o pelas costas e recargava por completo seu corpo contra o seu. —Achei que não virias, como soube que tinhas detenção com McGonagall.
—Foi uma jogada suja desses Gryffindor. —o jovem estremeceu-se quando o loiro mordiscou sua orelha. —Mas não quero falar disso agora...
—Então vêem aqui... —o jovem de olhos cinzas tomou pela cintura a seu colega e o beiju com paixão. —Sabes que me molesta não poder te ver o tempo todo que queira?
—Mas se vemo-nos todos os dias. —Blaise começou a perder consciência de seu ao redor, ao sentir como seu loiro o acariciava acima da roupa.
—Refiro-me às noites... —Draco dirigiu seus lábios ao pescoço de seu acompanhante enquanto desabrochava sua camisa.
—Sabes bem que o dormitório não é um lugar muito privado. Ademais, gosto de ver-te assim... ansioso...
—És um malvado, sabia-lo? —Draco tomou a mão de seu casal e guiou-o através da habitação para uma ampla cama, coberta de finas folhas de seda verde, onde o empurrou com lentidão enquanto o beijava.
O beijo devorador de Draco arrancou suspiros em seu colega, que não foi capaz de seguir raciocino e se decidiu a corresponder a seus caricias. Enquanto o loiro percorria com seus lábios a fina pele de seu pescoço, o outro dedicava-se a enredar seus dedos entre seus dourados cabelos, despenando-os.
— Tens ideia de quanto te amo, Draco?
—Eu também te amo, Blaise. Eu também . —lhe respondeu o loiro enquanto terminava de desvesti-lo.
Momentos depois, dois jovens nus por completo davam rédea solta a sua paixão.
Lucius Malfoy entrou pela porta principal de sua mansão, e sem deter em nenhum momento dirigiu-se para seus aposentos. Mudou-se de roupa com um feitiço e acercou-se em completo silêncio na cama. Tratando de não acordar a sua esposa, se deslizou com sigilo entre as cobertas. Não bem teve posto suas costas sobre o colchão, emitiu um profundo choramingo, o que fez que sua mulher acordasse.
— Que horas são, Lucius? —Perguntou a mulher, emergindo devagar das brumas do sono. —Já amanheceu?
—Ainda não, Narcisa. Segue dormindo. —,mas ao tratar de acomodar-se entre as cobertas, outro choramingo, mais forte ainda, saiu de seus lábios sem que o loiro pudesse o evitar.
— Encontras-te bem? —Com um feitiço, a mulher fez alumiar a habitação—. Por Merlín, Lucius!—exclamou azorrada ao observar a seu marido a plena luz. —Que te ocorreu?
A pálida pele do homem, desde seu rosto até onde a roupa ocultava, se encontrava coberta de golpes e hematomas. Um fio se sangue, já seca, partia desde sua orelha e se perdia em um vermelho caminho para seu pescoço. Narcisa Malfoy conjurou um feitiço que deixou a seu esposo nu por inteiro. E o que viu a impressionou bem mais.
Os trabalhados músculos do mago, aderidos e tensos, indicavam que o homem tinha sido vítima de poderosos cruciatus. E as marcas em seu pescoço, pulsos e tornozelos, faziam ver que o homem tinha estado sujeito a uma parede com grilhões. Ao olhar seu torso, a mulher atingiu a distinguir o que pareciam ser arranhões que partiam desde os custados e se perdiam em suas costas, pelo que adivinhou que se tratavam de chutes.
Tratando de manter acalma-a e tendo-se evaporado por completo os últimos rastros de sonho, a esposa de Lucius Malfoy pôs-se de pé e dirigiu-se para o criado-mudo. Depois da palpitação um pouco, ao final sacou um pequeno frasco do que parecia ser uma poção.
—Toma-te isto, Lucius. Te acalmará a dor —a mulher lhe estendeu o frasco a seu marido, que ele tomou com mãos trémulas. —Chamarei a Severus para que me ajude a...
—Não, Narcisa. Não molestes a Severus agora. É tarde. Ademais... ele não deve o saber.
—Mas, Lucius... —a senhora Malfoy sentou-se a um lado do ferido. —Não é a primeira vez que isto passa. Deveríamos dizer-lhe.
— E arriscá-lo a ele também? —o loiro negou de forma categórica. —Não, Narcisa. Não esqueças que ele é nossa única esperança. Tratarei de ser mais prudente a próxima vez.
— A próxima vez? Por todos os céus Lucius, te olha! A próxima vez te matará! —a mulher levou-se as mãos ao rosto, abatida. —A hora acerca-se, Lucius. Não podemos seguir atrasando o inevitável.
—Poderemos, Narcisa. —o homem acariciou com ternura os suaves cabelos de sua mulher. —Ainda há tempo, enquanto tratarei de encontrar uma solução para o evitar.
A mulher pôs-se de pé outra vez e mandou chamar a um elfo doméstico. Deu-lhe uma série de instruções, depois do qual o servente desapareceu. Dois minutos depois, o elfo regressou com uma indeterminada quantidade de frascos de diferentes poções.
—Já pensaremos em algo depois —voltou ao lado de seu esposo—. Pelo cedo deixa-me curar-te as feridas —a mulher suspirou, entristecida. —Limparei primeiro as mais profundas e tratarei de fechá-las. Também te porei uma pomada para que não te fiquem cicatrizes...
Enquanto sua mulher começava com as curas, Lucius permitiu-se recordar as circunstâncias pelas que agora sua esposa e ele, se encontravam nessa terrível situação.
Tudo começou três meses atrás. Voldemort tinha chamado a alguns de seus fiéis, para lhes comunicar que já era hora de ir preparando a seus filhos em seu labor de futuros servidores. Após isso, lhe tinha pedido ao loiro que o acompanhasse a seus aposentos para lhe explicar os planos que tinha para seu filho Draco.
Lucius sempre tratou de fazer a seu filho a um lado, não o envolvendo em nada que tivesse que ver com sua condição de mortífero. Mas nesse dia deu-se conta que o Senhor Escuro não tinha passado por alto a existência de seu filho. O Lord confiou-lhe que seu confronto com Potter estava muito próximo, e que ainda que não tinha nada que desejasse mais no mundo que acabar com ele, também queria assegurar seu futuro unindo sua vida à de um mago de sangue puro.
—E ninguém melhor que teu filho Draco, meu querido Lucius, para me dar um herdeiro. —lhe tinha dito seu Senhor. —Pelo que te sugiro que tu e Narcisa vão o preparando todo para dentro de quatro meses. Que será quando o tome como meu.
E Lucius Malfoy não tinha podido fazer nada, mais que inclinar sua cabeça ante o Lord em sinal de submissão e se retirar do lugar, com seu peito afogado em uma grande angústia. Semanas após aquela reunião, o Senhor Escuro mandou-o a chamar. Perguntou-lhe como iam os preparativos para a incursão de seu filho a suas filas e sua próxima união.
Malfoy se desculpou dizendo que não tinha podido ter contato com Draco, devido a que Dumbledore tinha modificado o regulamento de visitas. Os pais que quisessem visitar a seus filhos no colégio, podiam o fazer com a única condição que o diretor ou alguma outra autoridade do plantel estivesse presente.
E conquanto o loiro não tinha enganado a seu Senhor a esse respeito, também estava consciente que como membro ativo da Junta Escolar, ele tivesse podido fazer algo para impedir essa nova disposição. No entanto, não tinha feito nada em absoluto para evitá-lo. Só esperava que seu Mestre fosse tolerante com ele, se tratando de um mortífago que além de ter sido todos estes anos seu mais fiel servidor, era também considerado como seu braço direito.
E pôde dizer então que seu Senhor foi em verdade considerado com ele, tomando em conta que o que o escuro mago chamou como "um ato de simples descuido" só lhe custou um par de poderosos cruciatus. E pôde-se considerar afortunado.
Conforme passava o tempo, a hora de que seu Senhor voltasse a solicitar sua presença se acercava. A segunda vez que o chamou, Lucius não teve desculpa alguma. Desta vez não só lhe choveu os cruciatus. Voldemort castigou-o em um dia inteiro encerrado como um prisioneiro mais em suas masmorras.
—A próxima vez quero que me tragas notícias de teu filho. —lhe repreendeu com fúria o Lord.—Ou tudo o que te fiz até agora, meu querido Lucius, não se comparará com o que te farei então...
E desde esse momento, nos dias de Lucius Malfoy converteram-se em um pesadelo. Ao ver que a situação lhe escapava das mãos, e vendo que sua esposa estava a cada vez mais preocupada, optou por lhe contar a verdade que até então lhe tinha mantido oculta. E a reação de sua esposa não se fez esperar.
— Não devemos o permitir, Lucius! —A mulher tinha estalado em pranto, presa de um profundo pânico. —Nosso filho não deve cair em suas mãos! Ele tem um futuro brilhante! Devemos protegê-lo!
E Lucius Malfoy só tinha podido estreita-la entre seus braços. Tratando de tranquilizá-la, tinha-lhe noivo que, passasse o que passasse, seu filho jamais pertenceria ao Lord.
O mortífago voltou ao presente ao sentir as mãos de sua esposa massageando a cada um de seus músculos, lastimados por tantos feitiços torturadores.
—Já quase termino... —disse-lhe ao ouvido sua mulher. —Depois te darei uma poção para que possas dormir tranquilo.
O loiro não contestou. Só se acomodou um pouco mais para facilitar o labor de sua esposa, e seguiu com seus pensamentos.
Desde então Voldemort não tinha voltado ao convocar, até essa noite.
Ao olhar aos olhos do que considerava como um de seus mais fiéis servidores, além de Severus, o Lord pôde adivinhar que não obteria notícias do herdeiro Malfoy. E não teve mais remédio que cumprir a promessa que lhe fizesse a última vez.
E ainda que o Lord assegurou-lhe enquanto castigava-o com mais cruciatus, golpes e chutes, que aquilo lhe doía mais a ele, Lucius pôde ter jurado que seu Senhor em realidade o tinha estado desfrutando. E muito.
— Como te sentes? —Sua esposa já tinha terminado de curar suas feridas. —Queres jantar algo?
—Obrigado, Narcisa. Mas não tenho fome. —o homem tomou da mão a sua esposa e a fez recostar-se junto a ele. —Descansa tu também, já quase é de dia.
Narcisa Malfoy tomou a mão de seu esposo entre as suas, e antes de dormir lhe sussurrou ao ouvido:
—Sem importar qual seja a decisão que tomes, eu te apoiarei em todo momento, Lucius.
Lucius Malfoy ficou acordado um momento mais, meditando nas últimas palavras de sua esposa.
—Não te preocupes, querida Narcisa. Contanto que nosso filho não caia em suas mãos, sou capaz de qualquer coisa. —cobriu com as cobertas seu corpo ainda dolorido. —O que seja...
E com este último pensamento conseguiu dormir.
Continuará...
Próximo capítulo: Decisões importantes.
