O anime Naruto não me pertence.
*Esta história é uma adaptação do romance de Carole Mortimer.
Razões do Coração.
Capítulo I
Hinata examinou detidamente o homem que estava sentado atrás da escrivaninha. Depois, entre confusa e irritada, virou-se para a secretária que a acompanhara até o escritório, procurando esclarecer a situação.
— Acho que deve haver algum engano...
— Não há engano nenhum, srta. Hyuuga.
A voz grave a fez olhar mais uma vez para o homem, que agora se encontrava em pé. Ao observá-lo, ela compreendeu por que motivo a mobília era tão austera: qualquer outro estilo pareceria ridículo como cenário para aquela figura alta, de constituição atlética, de quem o elegante terno sob medida ressaltava a virilidade. Ele irradiava força, poder, seriedade.
Tudo isso Hinata percebeu numa questão de segundos. Só depois notou que o cabelo preto e os olhos igualmente negros que a estudavam com curiosidade davam-lhe um charme irresistível, assim como a boca sensual, o nariz arrogantemente levantado e o queixo quadrado, firme.
"Pare com isso!", ela se censurou. "Não é a aparência dele que importa, mas sim de quem se trata."
— Obrigado por trazer a senhorita, Suiya — ele disse dispensando a secretária, enquanto atravessava a sala e fechava a porta. Então, dirigiu-se de novo a Hinata: — Sente-se, por favor.
Ela não sabia o que fazer. Fora até ali preparada para uma verdadeira guerra e agora era tratada com cortesia por um entranho de quem nem sequer conhecia o nome. Onde estaria Sasori?
— Acomode-se — insistiu o homem, um tanto intrigado com a relutância dela.
Hinata sentou-se na cadeira que ele indicara, em frente à escrivaninha, desejando ter telefonado e marcado um encontro antes de aparecer ali assim, de surpresa. Mas estivera furiosa demais para pensar nisso.
Bastou lembrar-se do motivo da raiva, para que começasse a se recobrar do susto. Apertou os lábios. Os olhos perolados faiscaram desafiadores.
— Vim até aqui para ver...
— O sr. Akasuna — o homem completou, enquanto dava a volta na escrivaninha para acomodar-se de novo atrás dela.
Senhor Akasuna? Não tratava Sasori de maneira tão formal havia semanas!
— Sinto muito, porém ele não se encontra no momento — o estranho continuou, pousando nela um olhar avaliador. — Como a senhorita disse o problema que gostaria de discutir é importante... Meu nome é Uchiha, srta. Hyuuga — acrescentou, ao notar que Hinata ainda parecia confusa. — Sou sócio do sr. Akasuna.
Surpresa, Hinata arregalou os olhos. Sasuke Uchiha! Claro! Mas ele não era nem de perto semelhante à imagem que ela fazia do sócio de Sasori.
Pelas palavras dele, o companheiro de negócios parecia um senhor, talvez um velho, e o homem que estava a sua frente devia ter menos de trinta e cinco anos. No entanto, Sasori se referia a ele como se fosse o próprio Matusalém!
E agora? O que fazer? Como sair daquela situação embaraçosa? Não iria, evidentemente, tratar do assunto com aquele homem.
— Desculpe-me, porém prefiro falar com o sr. Akasuna.
Ele soergueu as sobrancelhas escuras, com um ar indagador. Mas sua expressão se manteve séria. Até mais do que antes. Ao que tudo indicava Sasuke Uchiha não ficara nem um pouco satisfeito com a insistência de Hinata.
— Creio já ter dito à senhorita que meu sócio não pode atender no momento. A voz tornara-se mais áspera. — Posso assegurar, srta. Hyuuga que estou credenciado a tratar de qualquer assunto. Fique à vontade para dizer a mim o que pretendia falar com o sr. Akasuna.
A expressão então se suavizou um pouco. No entanto, era indisfarçável a impaciência contida atrás daquela fachada polida.
Hinata suspirou. Claro que não poderia dizer àquele homem nenhuma das coisas que tencionava conversar com Sasori. Bem, mas havia o problema da carta, que com certeza podia ser discutido com qualquer um dos dois sócios.
Hinata olhou mais uma vez para o homem sentado a sua frente. Será que Sasori contara sua existência a ele? Será que ambos haviam dado boas gargalhadas juntos por causa dela? Provavelmente não. Sasuke Uchiha não parecia o tipo de pessoa que se sujeita a uma coisa dessas. Isso, porém, não significava que estivesse alheio aos problemas pessoais do sócio.
Fosse como fosse, no entanto, Hinata não tinha opção. Ou falava com Sasuke ou com ninguém mais. Além disso, havia a possibilidade, embora um tanto remota, de ter julgado mal o procedimento de Sasori. Contudo, ela não punha muita fé nessa possibilidade.
Abriu a bolsa e tirou de dentro um envelope.
— Recebi esta manhã.
Desdobrou uma folha e estendeu-a na direção de Sasuke, com os olhos perolados, costumeiramente tranqüilos, fuzilando de raiva.
Dedos longos e firmes pegaram o papel, enquanto a outra mão tateava no tampo da escrivaninha à cata dos óculos de aro escuro. Ele examinou rapidamente as linhas e, intrigado, fixou outra ver a atenção em Hinata.
— Parece-me bastante clara.
Dito isso, pôs a carta sobre a mesa e continuou a observar Hinata através das lentes.
Ela estava mais do que ciente da "clareza" da mensagem, e até mesmo a decorara do começo ao fim. O advogado de Sasuke Uchiha e Sasori Akasuna a informava oficialmente que o contrato de locação de sua loja, a vencer no próximo mês, não seria renovado, e que por isso devia desocupar o imóvel dentro do prazo legal.
Hinata encontrara o envelope aquela manhã, ao abrir a loja. Tinha sido colocado por debaixo da porta. Ela não perdera tempo: dera alguns telefonemas e avisara a assistente de que iria ver Sasori. A última coisa que esperava era que ele não estivesse no escritório e que se visse obrigada a tratar do problema com o sócio.
Será que Sasuke percebia o ato de vingança que havia por trás daquelas linhas? Impossível saber. Ele não era do tipo que demonstrava seus sentimentos tão facilmente. Além disso, os óculos escondiam qualquer expressão que pudesse ser lida em seu olhar.
— Tem razão. A carta ó bastante clara.
Ele franziu a testa, confuso.
— Então, qual é o problema?
— O problema, sr. Uchiha, é que, quando assinei o contrato há dois anos, ficou subentendido que o mesmo podia ser renovado quando do vencimento.
— Este assunto tem de ser aprovado por ambas as partes, srta. Hyuuga.
— Sim, mas...
— E é claro que, como prova esta carta, nós não aprovamos — ele declarou com impaciência, na certa se perguntando por que Hinata o fazia perder tempo com aquilo.
Os olhos perolados relampejaram mais uma vez, e uma mecha de cabelo negro azulado caiu sobre o rosto fechado numa expressão séria.
— Por que só meu contrato não pode ser renovado? Telefonei para os outros inquilinos que a firma tem em Cooper Mews, e fiquei sabendo que com todos eles foram feitos acordos nos últimos doze meses.
Hinata fizera questão do obter esse tipo de informação antes de ir para o escritório. Queria armar-se de quantos argumentos fossem possíveis para a conversa que pretendera ter com Sasori.
Sasuke Uchiha continuava impassível
— A senhorita então ligou para eles...
Percebeu Hinata que o tom de voz, a despeito de educado e formal, escondia irritação. Precisava tomar cuidado com aquele homem. As rugas de expressão em torno dos olhos e boca indicava que ele podia ser extremamente perigoso.
— Claro que sim! E já que estamos falando nisso, sr. Uchiha devo dizer que moro no apartamento que fica em cima da loja.
— Sozinha? — Ele pareceu tão surpreso quanto Hinata com a pergunta. Era como se a tivesse feito sem querer, como se tivesse pensado alto. A chama do desafio brilhou em seu olhar.
Quanto a Hinata, ficou um pouco aliviada. Claro que, se Sasori tivesse lhe contado sobre seu envolvimento com ela, Sasuke não faria tal pergunta.
— Não, não vivo sozinha — foi a resposta seca.
Hinata não tinha a menor intenção de prolongar o assunto. Já que Sasori não dissera nada sobre ela, não precisava explicar como ou com quem morava. Não era da conta de ninguém. Além do mais, o contrato não fazia nenhuma referência aos ocupantes do apartamento.
— Sei. — O ar de desaprovação com que Sasuke pegou a carta para lê-la mais uma vez era patente. — Houve algum problema com relação a pagamento de aluguel?
— E evidente que não!
Os olhos de Hinata brilharam de novo de indignação.
Ele deu de ombros, atirando a folha em cima de uma pilha de papéis que se amontoavam ordenadamente na escrivaninha.
— Então provavelmente nosso departamento jurídico cometeu um erro — tornou Sasuke, pensativo. — Não creio que tenhamos algum plano para nossas propriedades de Cooper Mews, a não ser mantê-las alugadas.
Hinata estava certa disso, como também tinha certeza de que Sasori se encontrava por trás daquilo tudo, para obrigá-la a privar-se da loja e do lar. Havia um dito popular que recomendava tomar-se cuidado com mulheres rejeitadas, mas agora ela via que o mesmo preceito se aplicava aos homens. Pelo menos a um.
Sasuke Uchiha notou a mudança na fisionomia de Hinata com olhos atentos.
— Se quiser que eu resolva este problema...
— Sempre cuidei desse tipo de coisa com o sr. Akasuna.
Na verdade, conhecera Sasori por causa de um defeito no teto da propriedade, que o departamento jurídico do escritório se negara a atender. Depois disso, ele começou a aparecer na loja, segundo explicava, "para ver se tudo corria bem". Então, há algumas semanas o objetivo dessas visitas tornou-se mais claro...
— Asseguro-lhe, srta. Hyuuga, que posso cuidar disto aqui — declarou Sasuke num tom gelado, afastando-a das recordações. — Se a senhorita permitir, darei uma resposta assim que for possível.
Hinata percebeu-lhe a irritação com sua insistência em levar o caso até Sasori. Afinal, sua loja não passava de uma entre as centenas que a firma Uchiha & Akasuna possuía.
— Quando acha que essa resposta... ahn... será possível? — ela perguntou, decidindo-se, por fim.
Sasuke deu um longo suspiro, como se não estivesse acostumado a esse tipo de indagação. Ou a nenhum questionamento. Era como se suas ações nunca fossem contestadas, e sim acatadas. Mas Hinata não tinha nada a ver com isso. Estava ali para defender seus interesses, e não ia deixar que seu problema caísse no esquecimento, fosse posto de lado.
Nos dois anos que se passaram desde que abrira a loja Vida e Saúde, ela formara uma clientela grande e fiel, à qual se juntavam com freqüência novos fregueses. Felizmente, mais e mais pessoas conscientizavam-se de que uma comida saudável era essencial para uma vida saudável.
A loja transformara-se numa espécie de tábua de salvação, ocupando seus pensamentos e seu tempo completamente, sem deixar espaço para mais nada. E ela não pretendia perdê-la só porque um homem, que um dia considerara charmoso, não conseguia controlar nem a libido, nem o sentimento de rejeição.
Lembrou-se de que as flores começaram a chegar algumas semanas depois das visitas "casuais" de Sasori. Vinham todos os dias. Religiosamente. Até Hinata transgredir todas as suas normas e concordar em jantar com ele. Coisa que jurara a si mesma nunca mais fazer com homem algum.
Aquele primeiro encontro foi seguido de outro, e mais outro, até ela se dar conta de que estava vendo Sasori duas vezes por semana, no mínimo. Ele mostrara-se uma companhia agradável, uma pessoa atraente, e, embora seus beijos de boa-noite às vezes fossem um tanto atrevidos, a coisa não passava disso. Nem mesmo fazia força para ser convidado a entrar. Havia só uma semana Hinata descobrira que tudo não passara de um plano muito bem arquitetado.
A desconfiança de Hinata começou com as sugestivas rosas vermelhas que ele mandara no dia de seu aniversário, e aumentou ainda mais com o bracelete que recebera à noite, como presente. A recusa em aceitar a jóia de uma pessoa que considerava simplesmente um bom amigo acabou provocando em Sasori uma reação inesperada e a proposta de que deixassem de serem amigos para se tornarem amantes. E depressa.
Hinata voltou para casa de táxi, culpando-se por não ter percebido antes as intenções dele, por ter-se deixado levar por um falso interesse, que só servia para encobrir um golpe descaradamente sujo.
A vingança de Sasori chegara à forma daquela maldita carta. Hinata estava certa de que, se concordasse em ir para a cama com ele, o contrato seria automaticamente renovado.
Bem, talvez fosse melhor que Sasori não estivesse no escritório, afinal de contas, e que ela se visse obrigada a falar com Sasuke Uchiha, o envolvimento dele na questão talvez pudesse se transformar em sua única salvação. Tinha certeza de que, mesmo que o sócio procurasse saber do comportamento de Sasori, ficaria a seu lado. E, no momento, precisava de toda a ajuda de que pudesse dispor.
— Srta. Hyuuga — ele começou, devagar —, compreendo seu receio. Sei que não me conhece, mas acho que, durante o tempo em que tem sido nossa locatária, nada fiz para merecer sua desconfiança. Creio estar capacitado para verificar os termos desta carta junto a nosso departamento jurídico.
Hinata corou violentamente diante de tanto sarcasmo. Talvez estivesse sendo indelicada com Sasuke Uchiha, porém depois do que Sasori fizera quem poderia culpá-la?
— Desculpe-me — murmurou, sem jeito. — Acho que estou... Um pouco ansiosa.
O semblante dele serenou um pouco.
— Posso entender. Não se preocupe. Volto a procurá-la tão logo seja possível.
Era uma forma sutil e educada de pôr um fim na conversa. Ela olhou para ele com as faces ainda coradas e um sorriso pálido nos lábios bem-feitos.
— Peço desculpa mais uma vez. É que para o senhor aquela propriedade representa só mais um aluguel, enquanto para mim...
— Sei disso, srta. Hyuuga... Com licença, um minuto — disse, apertando o botão do interfone, que tocava. — Sim, Suiya?
— Não se esqueça do almoço de negócios — avisou a voz da secretária.
— Claro. Estarei livre em alguns minutos. — Dirigiu-se a Hinata: — Bem, tenho de ir. — Tirou os óculos e os guardou no bolso do paletó.
— O senhor vai se lembrar de meu problema depois... do almoço?
No olhar de Sasuke brilhou primeiro raiva, depois incredulidade e finalmente divertimento.
— Srta. Hyuuga... — Olhou para a carta que estava sobre a escrivaninha e corrigiu-se: — Hinata, você é sem dúvida a mulher mais desconfiada que já conheci.
Ela levou um susto com aquele tratamento informal.
— Sou?
— Sim, é — ele confirmou, sorrindo. — Estou saindo para um almoço de negócios, não para um encontro amoroso, como sua pergunta sugeriu.
Hinata enrubesceu de novo.
— Não foi minha intenção ofendê-lo.
— Talvez, mas foi assim que me senti.
Ela não conseguiu atinar por quê. Afinal, nada mais comum num homem atraente e maduro do que casos e romances.
— Eu só quis dizer que...
— Não tenho nenhum encontro, Hinata — ele a interrompeu suavemente. — Ou uma namorada. Ou uma amante casual.
O rosto dela denotou surpresa imediatamente. Por que aquele homem lhe dizia aquilo?
— Sua vida não me diz respeito, Sr. Uchiha. — Frisou bem a palavra senhor. — Só seus negócios.
Sasuke deixou escapar um suspiro, massageando as têmporas com os dedos longos e bonitos.
— É, parece que hoje o dia começou bem...
— Sinto muito se o arruinei, porém o meu também não foi melhor.
— Não se preocupe. Sei que a única coisa que podia fazer, nas atuais circunstâncias, era vir até aqui para tentar resolver seu problema. E não estou aborrecido com isso. Intrigado talvez, mais nada.
Ela se levantou. O que menos desejaria no momento era algum tipo de complicação com aquele homem.
— Bem, acho que já o fiz perder muito tempo. — E se dirigiu, decidida, para a porta.
Mas Sasuke se adiantou e chegou lá antes. A proximidade daquele corpo forte, seu calor, fez com que um arrepio percorresse a espinha de Hinata.
— Você não pediu nada que eu não tivesse condições de dar — ele falou com voz mansa.
A surpresa dela aumentou.
— Bem, tenho de ir — insistiu.
— Entrarei em contato.
Hinata não sabia se ficava perplexa ou irritada, enquanto caminhava pela calçada em direção a seu carro. A última coisa de que precisava era que o sócio de Sasori se interessasse por ela!
A não ser que os dois já tivessem se cansado de conversar a seu respeito. Nada lhe garantia que Sasori não tivesse falado a Sasuke sobre a mulher obstinada com quem andava se encontrando, e esse talvez fosse um desafio irresistível.
No entanto, essa hipótese era bastante remota. Esse comportamento era próprio de Sasori, e não de alguém como Sasuke. Ela não podia deixar que a insegurança atrapalhasse sua capacidade de julgamento.
Contudo, fossem quais fossem as conclusões a que chegasse sobre Sasuke Uchiha, isso não alterava o fato de Sasori tentar se vingar dela através do contrato com a loja. E possivelmente, ao voltar para o escritório, ele trataria de convencer o sócio a agir conforme sua vontade.
OooOooOooOooOooO
O dia se revelou para Hinata pior do que o esperado. A todo o momento imaginava ver Sasori entrando furioso na loja, ou ouvir o telefone tocar com alguma notícia de Sasuke.
— Você está bem? — quis saber Ino, sua assistente, pronta para voltar para casa, onde a esperavam um marido inválido e três adolescentes famintos. — Parece tão nervosa...
Hinata suspirou.
— Estou só cansada — respondeu. Ino já tinha problemas suficientes para se preocupar com mais um. — Amanhã estarei melhor.
Pelo menos esperava. Se Sasuke não ligasse na manhã seguinte, ela o procuraria. Não podia passar outro dia horrível como aquele.
A ajudante saiu e Hinata observou atentamente a loja, com orgulho e prazer. Era clara e arejada, com prateleiras arrumadas e cheias dos mais variados produtos. E lhe pertencia. Não a perderia por causa dos caprichos de um mau-caráter.
Essa certeza cresceu quando ela subiu para o apartamento e encontrou a mãe, sempre atenciosa e simpática, esperando na sala.
— Olá, mamãe!
A velha senhora tirou os olhos da televisão, onde via um desenho animado, e os pousou na filha.
— Nossa, querida, como o tempo voou!
— É o que parece — Hinata respondeu, dando-lhe um beijo. — Já pôs o gato para fora?
— Ainda não.
— Então, eu farei isso. O jantar estará pronto daqui a pouco.
— Deixe que eu cuido disso. — A mãe respondeu, mas sua atenção voltou-se de novo para a telinha.
Hinata sorriu, enquanto rumava para a cozinha. Toda noite era a mesma coisa: a mãe se oferecia para preparar a refeição e acabava se esquecendo por causa da programação da televisão.
Aos quarenta e cinco anos, Hana Hyuuga atingira o estágio invejável de não se incomodar com absolutamente nada. Via o lado bom de todas as coisas, porque enxergar o outro significava viver a realidade e ela se negava a isso. Tinha sido assim desde que o pai de Hinata morrera.
A sra. Hyuuga nunca fora uma pessoa muito forte, e a morte do homem que amava acabara com a sua resistência, levando-a a um mundo onde não havia responsabilidades nem deveres. Quando não estava assistindo a puros e inocentes programas infantis, simplesmente ficava sentada sonhando, e pela expressão de tranqüilidade parecia transportada a um universo onde tudo era bom e belo.
Os médicos haviam já diagnosticado: choque. E garantiram que isso passaria num curto espaço de tempo, que era uma reação comum a quem passava por uma grande tragédia. Ledo engano. A despeito do tratamento e das opiniões dos especialistas, a sra. Hyuuga parecia ter optado por viver num mundo de sonhos e, embora aceitasse a morte do marido, preferia achar que ele a deixara apenas temporariamente.
Hinata também sentia muito a falta do pai. E às vezes o sentimento era tão desesperador, que falar sobre o assunto com a mãe se tornava uma necessidade. Mas isso não era possível. A sra. Hyuuga não trocaria aquela dimensão onde a dor não existia por uma realidade dura e cruel.
Como seria sua reação a uma provável mudança? Aquele apartamento agora fazia parte de sua vida, era sua segurança.
Enquanto punha a mesa e chamava a sra. Hyuuga para jantar, ela se lembrou de que a mãe sempre fora de boa paz e nunca discutia nem fazia valer seus pontos de vista. Aliás, mal se sabia quais eram estes, já que nunca vinham à tona. Jamais, no entanto, fora uma mulher infeliz, e o estado em que se encontrava agora, de total apatia, comovia a filha.
O fato de Sasori tê-la tratado com carinho tocara o coração de Hinata. Contudo, agora ela sabia que essa gentileza também fora falsa, parte do plano para conquistá-la, seduzi-la.
Pensar nisso fez com que perdesse o apetite e recusasse a ajuda da mãe para lavar a louça e arrumar a cozinha. Queria ficar só e ocupar-se com alguma coisa, para descobrir o que fazer, caso Sasuke Uchiha não reconsiderasse a renovação do contrato. Teria de procurar outro lugar para viver se isso acontecesse, e o tempo que gastaria nessa tarefa seria valioso.
A voz da mãe a tirou desses pensamentos e trouxe mais uma preocupação: será que ela agora dera de falar sozinha?
Hinata suspirou, enxugou as mãos e entrou na sala a tempo de ver a sra. Hyuuga convidando Sasuke Uchiha para entrar.
— Cheguei em hora errada? — ele indagou, vendo o olhar espantado de Hinata.
Qualquer hora seria errada. Por acaso aquele homem não percebia isso?
A Hyuuga prendeu a respiração e tratou de se acalmar enquanto a mãe diminuía o volume da televisão. Tinha de ser pelo menos educada. Mas a sra. Hyuuga se adiantou:
— Chegou na hora certa, sr. Uchiha. — Deu um sorriso. — Hinata acabou de lavar a louça do jantar, e eu...
— Mamãe! — ela interrompeu, enquanto a sra. Hyuuga pegava um livro de cima do sofá.
— Como ia dizendo — tornou a outra, imperturbável —, estou me recolhendo. Boa noite.
Sasuke a observou afastar-se, e parecia haver ternura em seu olhar.
— Ela é adorável — comentou.
— Concordo — respondeu Hinata, já recomposta do susto, notando como ele ficava bem mais bonito com a roupa informal e a jaqueta de couro que vestia no lugar do terno escuro que usava pela manhã. — Quanto a sua vinda aqui, seria para me dizer que...
— Ela parece não fazer parte deste mundo, não é? — ele quis saber, ignorando a pergunta que Hinata estava preste a fazer.
— Tem razão. Agora, por favor, poderia me falar...
— Mas é muito bonita.
— Sr. Uchiha!
— Sasuke — ele corrigiu, cruzando a sala com duas passadas. — Não espere que eu seja coerente, depois de ver como você ficará daqui a uns vinte anos... Hinata.
E, antes que ela tomasse conhecimento do que estava acontecendo, Sasuke tomou-a nos braços e a beijou sensual e apaixonadamente, segurando-a pelas costas e pela cintura, despertando dentro de Hinata uma estranha emoção que a levara a mergulhar os dedos no espesso cabelo negro e a acariciá-lo, como se essa fosse a coisa mais natural do mundo.
Mas, quando Sasuke lentamente a soltou, trazendo-a de volta à realidade, ela o fitou com certo espanto, perguntando-se como pudera achar aquele homem frio e controlado... O desejo que havia em seus olhos desmentia essa idéia de forma categórica. Hinata recuou ofegante.
— Você não devia ter feito isso!
Ela queria que a voz tivesse saído firme, e não incerta e rouca.
— Talvez, porém posso repetir o gesto a qualquer momento. Antes disso, contudo, temos negócios a tratar. Porque, depois, duvido que qualquer um de nós esteja em condições de discutir o quer que seja.
— Ouça, o que acabou de acontecer entre nós...
— ...foi algo que quis fazer desde que a vi pela primeira vez. — ele completou mansamente, os olhos verdes fixos nos lábios entreabertos e vermelhos de Hinata. — Eu quero você.
Hinata ficou sem fala. Os homens costumavam dizer coisas como aquela, mas isso não impedia que corasse. De raiva ou de vergonha, não sabia definir.
— O... Senhor disse que veio tratar de negócios.
— Está bem — ele concordou, tirando um envelope do bolso interno da jaqueta e estendendo-o a Hinata. — Seu contrato. Só precisa de sua assinatura e de duas testemunhas, claro.
Hinata o encarou, duvidando que estivesse ouvindo direito. Rapidamente, abriu o envelope e verificou o documento. Sim, era um contrato de locação, válido por cinco anos.
Sua primeira reação foi sorrir de alegria. No entanto, o sorriso logo desapareceu. Olhou para Hinata, desconfiada.
— Qual é o preço?
Ele franziu a testa, intrigado.
— Está aí, no papel.
— Quero saber qual é o seu preço. — E o encarou com ar de desafio.
Sasuke pareceu tornar-se outro homem. Seus olhos gelaram, a boca se comprimiu e o semblante endureceu. Então, Hinata se conscientizava de que não conseguia compreender por que motivo aquele homem resolvera ajudá-la.
— Desculpe-me. Eu só... queria saber... o que fez você e seu sócio mudarem de idéia.
— Não mudamos — ele corrigiu. — Eu não me neguei a renovar o contrato, e Sasori na certa cometeu o erro na pressa de deixar o trabalho e tirar férias. Sinto muito se isso a deixa magoada, porém é a única explicação que posso dar.
Ela percebeu que o insultara e que Sasuke não se esqueceria disso tão cedo. Mas o que podia pensar? Estava tão acostumada a lidar com homens como Sasori!
— Eu realmente sinto tê-lo tratado dessa maneira... Sasuke. E ter pensado...
— Esqueça. Está desculpada... Por ter me chamado de Sasuke. - Hinata pôde ver que ele mentia, que ainda estava magoado, porém que se esforçava para esquecer o incidente.
— Se seu sócio está fora e não pode assinar este documento, ainda assim ele é válido?
Sasuke sorriu torto, fazendo a pele de Hinata arrepiar.
— Pode ter certeza que sim.
— Mas...
— Quer saber de uma coisa? Um dia desses você vai ter de me contar por que é tão desconfiada. Contudo, não agora. — Fez uma pausa e, como ela não retrucasse, continuou: — Acho que devo lhe explicar que, quando um dos sócios se encontra fora da firma, o outro tem poderes para decidir tudo. Se eu fosse esperar por Sasori toda vez que ele viaja com a mulher, estaria perdido!
Hinata sentiu-se empalidecer. Mulher? Então, Sasori era casado? Deus do céu, que destino era o seu, de viver a mesma história duas vezes! Não era possível!
Lentamente ela baixou o olhar e disfarçou um soluço silencioso.
Fim do primeiro capítulo :D
OoOoO
Oi !
Espero que gostem, pois é a primeira história que posto aqui. Infelizmente não é minha, mas espero que cativem vocês!
Criei coragem e fiz uma conta... Depois de ler tantas histórias. Rs. Mas resolvi começar devagar com uma adaptação e prefiro deixar bem claro para que não venham acusações depois. Plágio é deplorável. E logo postarei minha primeira one-shot NejiHina. ( é, gosto de Hyuugacest ;) )
Mas vamos falar do capítulo!
Que Sasuke diferente né? Acostumem-se, pois aqui os papéis se invertem. Hinata desconfiada, Sasuke romântico... ai ai *suspiro*
E o Sasori, cretino (mas lindo) , enganando a Hinatinha ? Logo logo saberemos onde vai dar ;)
Beijos e até o próximo :)
E por favorzinho... reviews? Preciso MUITO saber a opinião de vocês.
