I – Lembro-me
Ainda assim sinto que tenha perdido muito mais que ganho quando saí daquele mundo. Aquele elástico com que ainda prendo o cabelo, é-me tão querido ainda permanece intacto, como por magia. Sim, essa é a palavra certa, pura magia.
- Não penses mais nisso… não vale a pena. – falo para o ar enquanto me levanto da cadeira da escrivaninha, não me vale de nada ficar sentada a pensar. Vou até á janela e observo o movimento das folhas nas árvores, o caminhar das pessoas, cada sorriso em cada cara, cada cara com sua expressão. Todas diferentes, todas tão únicas.
- Chihiro – ouvi – estás pronta? Os convidados estão chegando.
- Claro, obrigada pelo aviso Miya. – agradeci à minha colega de casa, ainda que demonstre traços de tristeza que tento esconder.
- Então passa-se algo? – entrou no quarto e fechou a porta devagar.
Olho para a mesa de cabeceira atrás de mim, onde tenho uma fotografia antiga emoldurada, onde apareço eu e os meus pais, tinha sido à dez anos e ainda assim parecia que a tinha tirado ontem.
- Os teus pais haveriam de querer que estivesses feliz. – respondeu ao perceber a que me referia. Aproximou-se da moldura, pegou nela e riu-se. – Ainda me lembro quando eras assim, tão teimosa! Ainda não sei como conseguimos ser amigas, lembras-te?
Lancei um sorriso e abanei a cabeça que sim. Havia acabado de voltar do Mundo dos Espíritos, a teimosia reinava-me na altura.
- Vamos, é a festa do teu noivado! Não te deixes que isso te afecte hoje, amiga.
Deu-me a moldura e dirigiu-se para a porta. Pergunto me se há dez anos atraz valeria a pena deixar o Mundo dos Espíritos, para pouco tempo depois ver os meus pais morrerem nas mãos de um incêndio.
Não posso pensar nisso agora, estão á miha espera.
