Eucharist Lily

Uma folha seca caiu de um galho baixo da árvore e desceu, rodopiando com o vento até o chão. O laranja distraiu do azul do céu uma nuvem branca que passava solitária. A folha caiu sobre um pedaço liso de madeira gasta, preso a um dos galhos fortes por duas cordas.

O balanço, escondido na paisagem de outono, era muito popular entre as crianças nos dias quentes de verão, floridos de primavera e brancos de inverno.

Ninguém lembrou do lugar naquele dia claro, fosse pela chuva que caíra na manhã, fosse pelo vento que soprava frio do norte. As noites ficavam cada vez mais curtas e o chão mais laranja.

Pés descalços esmagaram algumas folhas, em seu caminho até o balanço. Um dente-de-leão não resistiu ao vento e suas sementes foram todas levadas, algumas se prendendo aos fios longos que também voavam.

Mu sentou-se na madeira lisa, suas roupas leves caindo nos membros finos, e puxou os joelhos até que lhe batessem no peito. Sabia que não ia cair. Sentia a brisa lambendo o rosto e correndo entre o cabelo.

Não tinha motivo para estar ali, como não tinha motivo para esperar a noite. Não havia ninguém lhe esperando para voltar, e essa era uma sensação maravilhosa.

Endireitou o tronco e balançou o corpo, subindo e descendo, com um assobio nos ouvidos. Fechou os olhos, imaginando se o momento poderia ficar melhor. Sem saber quanto tempo ficou assim, um forte empurrão nas costas o trouxe de volta para o pôr-do-Sol vermelho.

O impulso foi mais que bem-vindo, e seus pés roçaram as folhas secas antes de se soltarem no ar. E ficou, balançando até um pássaro passar, rumando o ninho, para fugir da noite que chegava.

Não precisava olhar para trás, mais os instintos que o costume lhe diziam quem viera lhe fazer companhia. Andando até a sua frente, Shaka fechou os olhos, o barulho suave das folhas sendo quebradas. Sem uma palavra, abaixou até que seus rostos ficassem da mesma altura e seus lábios pusessem se encontrar em um beijo que durou menos que um instante.

Eles caíram na grama e juntos assistiram o céu tingir de azul. No pé da árvore, uma cesta, recheada de doces a serem divididos. O pote de geléia dividia o canto com a garrafa de suco fresco e a toalha; mas por mais cheia que estivesse a cesta, sempre haveria um pequeno canto para uma eucharist lily, flor branca que lembrava uma estrela, colhida no caminho.

Fin

19 de dezembro de 2005

Para K.

Happee Halloween

Sorry pelo tamanho.