Os gemidos baixos de um choro arrependido ecoavam pelo quarto e só eram cortados pelos soluços profundos que pareciam querer cuspir partes de sua alma, as lágrimas empapavam o seu rosto.

Mantinha a cabeça abaixada, observando sua mais nova obra-prima jogada no chão. Vez ou outra trazia às costas da mão até o rosto e dispersava algumas lágrimas que distorciam sua visão, mas evitava faze-lo. Isso só trazia para mais perto o cheiro nauseante de sangue presente em seus braços.

Aliás, o quarto estava impregnado por aquele cheiro desprezível. Cheiro de morte.

- Oh, Naruto-kun, eu sinto tanto...

A garota falou, com dor, enquanto seus olhos perolados opacos encaravam o cadáver caído a alguns metros da cama, sobre o tapete de veludo.

Ele estava usando um terno preto com rasgos pelo peito e braços, de onde brotava o sangue, manchando todo o tecido ao redor. No rosto, um misto de horror com incredulidade. Era possível saber quais foram seus últimos pensamentos. "Por que você está fazendo isso? Por que, Hinata? Por que?".

Os olhos ainda abertos a encaravam sem um pingo de piedade – não que ela merecesse, afinal.

- Eu sempre te amei tanto, Naruto-kun. Sempre, sabia? Por que você nunca foi capaz de entender isso? Por que você disse aquilo, Naruto-kun? Por que você não conseguiu ouvir o som do meu coração se despedaçando? Você foi muito cruel, Naruto-kun. Muito cruel.

A mão que segurava o cabo de madeira da faca o apertou com mais força e as lágrimas voltaram a atrapalhar sua visão.

- Mas tudo bem, Naruto-kun, porque eu perdôo você. Mesmo depois de tudo, eu perdôo você. Sabe por que, Naruto-kun? Porque eu te amo. Eu te amo como ninguém nunca amará. Esse amor se tornou a razão da minha vida, e agora, a razão na nossa morte.

A voz rouca agora era expulsa da garganta, as palavras cortadas pelos soluços. Mas, apesar de tudo, ela sorria. Sorria ternamente enquanto seus olhos encaravam com amor o que um dia fora o seu amado.

Ergueu o rosto e viu seu próprio reflexo maníaco no espelho. Seu vestido de formatura alugado verde-claro tinha inúmeras manchas de sangue espirrado, a sua maquiagem havia sido completamente borrada e seguia o caminho das lágrimas pelo rosto, o coque impecável antes existente em seu cabelo agora não passava de um emaranhado confuso de fios azuis violentamente bagunçados, a faca pingava sangue fresco no chão.

A luz que entrava pela cortina cor vinho, ela pode notar, deixava o quarto avermelhado e acrescentava um certo tom mais bizarro à cena. Encarou a si mesma por alguns segundos, vendo a sombra da morte perambular ao fundo, e trouxe os olhos de volta ao amado.

- Eu gostaria de dizer que lhe verei novamente um dia, mas você vai para o céu, Naruto-kun, e o céu é mais do que eu mereço.

As duas mãos se ergueram, segurando o cabo de madeira, e apontaram a lâmina da faca para a própria dona. Ela olhou novamente para a figura de uma adolescente obcecada refletida no espelho. Um riso brotou em seus lábios avermelhados enquanto as lágrimas ainda escorriam.

- Eu vou pro inferno, Naruto-kun. Por amar você, eu vou pro inferno.

E a faca veio em sua direção. Enterrou-se em seu peito. Uma, duas, três vezes. O sangue escorreu pelo vestido, espirrou sobre o espelho, sobre a imagem de uma jovem suicida. Não gritou enquanto a navalha afiada perfurava a sua carne. Não. Aceitou a dor. A abraçou enquanto sentia o fogo negro do purgatório aquecer a sua alma.

A faca não atingiu seu coração. Não. Ele já havia secado e caído há muito tempo.

OHOHOHOHOHO. °-°

Então, gente, historinha que eu fiz ontem de madrugada ao invés de estar estudando pra química, espero que tenham gostado, né. 3

Pessoalmente confesso que achei a Hinata e o Naruto perfeitos pra esses papéis. °-°

Xingamentos à autora, parabenizações, pedidos de mortes = Review. x3

Kisu Kisu.