1.

Emma acordou em uma cama de dossel e olhou em volta. Aquele não era o seu quarto. Olhou para si mesma. Aquela também não era sua roupa. Vestia uma camisola na qual caberiam duas dela dentro. Saltou da cama e correu para abrir as enormes cortinas brancas. Arregalou os olhos. Nada de ruas asfaltadas e lojas ao redor. Estava em um lugar arborizado com um jardim imenso e ainda viu uma charrete ricamente decorada passar embaixo de sua janela. Definitivamente ali não era Storybrooke.

Colocou a mão na testa, pensando no que poderia ter lhe acontecido quando viu duas criadas entrando no seu quarto, segurando roupas de cama passadas.

- Princesa, já está acordada!

- Bom dia, princesa!

- Bom... bom dia... acho... – Emma gaguejou, ainda confusa.

- Quer que a ajude a se vestir, princesa? – ofereceu-se uma das criadas sorridentes.

- Não. Não, eu acho que consigo me vestir sozinha... – Emma falou e logo uma criada buscou sua roupa. Emma fez uma caretinha ao ver o vestido branco. – Não tem vermelho?

- A senhorita não gosta de vermelho, odeia a cor de sangue. – falou uma das criadas. – Tem verdadeiro horror a sangue.

- Hum... – Emma falou, coçando a cabeça.

- Mas ama... rosa! – a outra criada colocou um vestido rosa bebê em cima da cama. – Sua cor favorita!

- Ai, que coisa de mulherzinha... – Emma fez uma careta involuntária. – Quer dizer, não que rosa seja ruim, mas... – ela desistiu de explicar. – Vou ficar com o vestido branco.

Emma não sabia que era tão difícil vestir algo cheio de babados, camadas, tantas roupas que ela pensou que morreria sufocada dentro delas. E o pior ainda quando lhe colocaram o espartilho, que quase deixou a loira sem ar.

- Está bom, está bom, chega de apertar! – exclamou e as criadas pararam. – Oh meu Deus! Quase esmagou os meus órgãos internos!

- Seus pais a aguardam para o café da manhã, princesa. Precisa de algo mais?

- Não, obrigada.

As duas criadas fizeram uma reverência e saíram. Emma sentou na beirada da cama e ficou pensativa. Como viera parar ali? Fechou os olhos e se sentiu sem ar. Procurou por uma faca e encontrou uma tesoura. Deu um jeito de cortar os cordões e respirou, livre, ao sentir o espartilho cair no chão.

- Que maravilha! É oficial: odeio espartilho! – respirou fundo e teve um estalo na mente. Viu-se discutindo com a Evil Queen, que agora estava separada da persona de Regina Mills e então viera parar nesse mundo. – Ai, desgraçada! – Emma deu um soco na própria mão. Ergueu-se. – Ok, Emma. Se você veio pra cá, pode sair também. Afinal, não é a primeira vez. Só preciso achar um artefato mágico que me tire daqui... Mas o que? – mordeu o lábio e sentiu o estômago roncar. – Com a barriga cheia eu penso melhor.

Emma segurou a barra do vestido e desceu a escadaria. Admirou o lindo castelo. Se tinha uma coisa nos contos de fada que achava bonito, era os castelos enormes e lindamente decorados. Lembrou-se da primeira vez que leu uma história infantil. Era uma menina ainda, órfã, criada nas ruas e que mal conseguia o que vestir e comer. Achara um livro na Branca de Neve no lixo. Mergulhar naquela história a fez esquecer, por um momento, de sua dura realidade onde não havia pai, mãe, família, ninguém que se importasse com ela e ninguém que pudesse proteger uma garotinha frágil e assustada que tinha que se virar sozinha para não morrer.

Emma viu os pais à mesa, tomando o café da manhã. Snow White e Charming estavam mais velhos, com rugas e alguns fios brancos nos cabelos. Eram felizes, dava pra ver pelas suas expressões, olhares e sorrisos. Emma se sentiu bem por isso.

- Bom dia. – falou e os pais a olharam.

- Bom dia, querida. – Snow sorriu.

- Bom dia, anjo. – respondeu o amoroso Charming.- Dormiu bem?

- Sim. – Emma começou a se servir.

- Estamos tão empolgadas com a festa para Henry! Dezoito anos! Já é um homem, se bem que pra mim será sempre aquele bebezinho gorducho e fofo! – Snow comentou.

- E agora é um cavaleiro. Henry tem um grande futuro pela frente. – afirmou Charming.

- Henry é um cavaleiro... – Emma murmurou, orgulhosa.

- Baelfire ficaria feliz em vê-lo assim... – Snow comentou.

- Neal... Quer dizer, Bealfire não existe aqui? – Emma franziu a testa.

Antes que os pais respondessem, Henry se juntou à eles. Emma estava feliz por saber que seu filho fora criado por ela e seus pais naquela realidade. Uma parte sua sabia que era uma ilusão da Evil Queen, mas era algo realmente bom. Algo que sonhara. Ficara triste por Neal não existir, mas esperava que Henry tivesse tido a oportunidade de ter convivido um pouco com o pai. Sua maior dor era não ter dado à Henry a família que ele merecia. Por tê-lo privado, assim como ela foi, de ter pessoas que cuidassem dele. Claro que Regina assumira a função de mãe, mas ainda criança, Henry descobrira que ele era descendente do casal Charming e fora em busca de Emma em Boston. Ou seja, Henry sentiu a necessidade de conhecer aqueles que tinham o seu mesmo sangue. Não fazia de Regina menos mãe de Henry, mas o menino merecia sim uma família completa em todos os sentidos.

- E então, como foi o treino ontem? – perguntou Charming.

- Melhorei e muito os meus golpes. – afirmou Henry, erguendo o queixo e olhou para Emma. – E não, mãe, eu não me feri. Sei que você tem medo de armas, mas não sou mais aquele garoto inexperiente.

- Ah... Que bom. Fico feliz por você, Henry. – disse Emma, sincera. Ela voltou a comer. Podia ser um mundo ilusório, mas a comida era ótima. – Esse pão está divino!

Snow , Charming e Henry estranharam ao ver Emma comendo tanto.

- Você está com fome, não é, filha? – sondou Snow.

- Nunca se sabe quando vai ter mais por perto. – respondeu Emma, automaticamente. Nas ruas, aprendera a comer o máximo que podia, já que nem sempre havia comida no dia seguinte. Ela percebeu e se corrigiu. – Quer dizer, hoje estou com muita fome...

Henry, Snow e Charming acharam graça e voltaram a falar da festa de aniversário de Henry. Ele estava sendo preparado para futuramente ser um rei, pelo menos esse era o desejo dos avós maternos, mas Henry não parecia muito inclinado à isso.

Após o café da manhã, Emma viu Henry treinando na sala de armas. Viu-o decepar a cabeça de um boneco com um só golpe de espada. Emma bateu palmas.

- Você é muito bom nisso, filho.

- Obrigado. – ele sorriu.

- Ahn... Então... Seus avós estão empolgados com a sua maioridade... De príncipe à futuramente um rei... – ela sondou.

- Pois é. – ele concordou. – Sei que é o seu sonho, mãe. Sei que se o papai estivesse aqui você e ele seriam os próximos regentes, mas... – ele meneou a cabeça. – Ainda acho que você poderia sim governar sozinha o reino caso um dia a vovó e o vovô nos faltem.

- Pelo visto, você tem outros planos para a própria vida. – disse Emma, acertadamente.

- Eu sou um guerreiro, mãe. Um cavaleiro. Sinto isso nos meus ossos. Claro que eu governaria se não houvesse outro jeito, mas você é a princesa. A próxima na linha de sucessão. Quero lutar, proteger nosso reino, mas à minha maneira. – ele suspirou. – Sei que você acha muito perigoso e por isso quer me manter aqui. Não quer que aconteça comigo o mesmo que houve com o meu pai...

- Bom, lutar em guerras é perigoso mesmo. E toda guerra é burra, Henry. Só traz desgraça e dissabores. – afirmou Emma. – Mas nosso reino é pacifico.

- Até segunda ordem, não é, mãe? Aquele maldito Rumpelstiltskin quer nos tomar tudo! Ele quer dominar toda a Floresta Encantada e tem o apoio da Evil Queen! Sei que ele é o meu avô, mas isso não me obriga a gostar dele!

- Rumpelstiltskin quer dominar tudo? Porque eu não fico surpresa? Tudo o que valoriza é o poder, nada mais do que isso. Ele diz que amava o Neal, que ama a Belle, mas na verdade ele não ama nada além de si mesmo.

- Quem é Neal? – perguntou Henry.

- Ahn... – Emma pigarreou. – Alguém que conheci...

- Ah. – Henry olhou para a espada na sua cintura. – Nunca vou esquecer que é por causa de Rumpelstiltskin que não tenho mais um pai. Ele é o culpado por todas as nossas desgraças. – disse Henry, rancoroso.

Emma colocou a mão no ombro do filho.

- Henry, não deixe que as suas mágoas suplantem quem você é. Acredite, a vingança não leva ninguém a lugar nenhum, a não ser a novos problemas e arrependimentos.

- Não vou me arrepender quando enfiar a minha espada no peito de Rumpelstiltskin. – afirmou Henry, seco.

Emma viu, apreensiva, seu filho sair da sala de armas decidido.