Disclaimer:Tudo pertence à Markus Zusak.

Der Abschied

As árvores eram altas e triangulares. Permaneceram caladas.

Liesel tirou da bolsa A Sacudidora de Palavras e mostrou uma página a Rudy. Nela havia um menino com três medalhas penduradas no pescoço.

- "Cabelos da cor de limões" – leu Rudy. Seus dedos tocaram as palavras. – Você falou de mim com ele?

No começo, Liesel não conseguiu dizer nada. Talvez fosse a súbita turbulência do amor que sentiu por ele. Ou será que sempre o tinha amado? Era provável. Impedida como estava de falar, desejou que ele a beijasse. Quis que ele arrastasse sua mão e a puxasse para si. Não importava onde a beijasse. Na boca, no pescoço, na face. Sua pele estava vazia para o beijo, esperando.

Anos antes, quando os dois haviam apostado corrida num campo lamacento, Rudy era um conjunto de ossos montado às pressas, com um riso irregular e hesitante. Sob o arvoredo, nessa tarde, era um doador de pão e ursinhos de pelúcia. Um tríplice campeão de atletismo da Juventude Hitlerista. Era seu melhor amigo. E estava a um mês de sua morte.

- É claro que falei de você com ele – disse Liesel. Sua voz saiu como um mero murmúrio no vento frio que os percorria.

Rudy se aproximou dela e fez a pergunta inevitável, e que ela não queria responder.

- Por quê? – ele tocou-lhe o rosto delicadamente, e ela fechou os olhos enquanto seu coração se acelerava com aquele gesto. – Por que, Liesel? – perguntou novamente, fazendo-a abrir os olhos.

Rudy ainda a encarava com aquela expressão que ela não era capaz de decifrar, mas pôde ver o momento em que a resposta chegara em seus olhos e ele a decodificara. Liesel ouviu o som dos passos que se aproximavam mais e mais de si, e esperou.

Seus lábios se tocaram inocentemente quando ele puxou-a mais para si, e Rudy foi o primeiro a fechar os olhos enquanto o beijo se tornava mais profundo, apesar de suave. Liesel fez o mesmo, depois de se certificar de que jamais se esqueceria daquela imagem de seu melhor amigo.

Ele tinha um gosto adocicado, e ela tinha lábios carnudos. Os braços dele grudaram-na mais a seu corpo, e Liesel enroscou seus braços em volta do pescoço de Rudy.

Rudy Steiner fora seu primeiro amigo, a primeira pessoa depois de seu irmão e Hans Hubermann, com que pudera contar. Era a pessoa com que ela roubara seus últimos livros. O menino dos cabelos da cor de limões estava fazendo seu sangue correr cada vez mais rápido com aquele beijo que exalava suavidade e verdade. Liesel não queria perdê-lo para o que quer que fosse acontecer naqueles tempos de guerra, mas sentia que se despedia dele quando se afastou e tocou-lhe a boca com os dedos.

- Ich liebe dich, Saukerl.

Essas seriam as palavras em que ele pensaria antes de dormir naqueles últimos dias, antes de eu ir buscá-lo e tirá-lo para sempre de Liesel Meminger.