A pedra de Aisha

Capitulo 1 – Conhecendo a bruxa e a pedra

Tranqüilo e calmo com certeza não eram adjetivos que combinavam com a atual vida de Severus Snape, talvez não combinasse com nenhum momento de sua turbulenta vida.

Filho de mãe bruxa e pai trouxa viu sua infância se transformar em pesadelo com as bebedeiras do pai. Sofreu apanhando e vendo sua mãe, Eillen Prince, perecer deixando para trás dois filhos, Severus de apenas dez anos e Morgana de quatro.

Dês do dia do falecimento de sua mãe, Severus prometeu proteger a pequenina Morgana. A menina era igualzinha ao irmão tirando somente o nariz, tinha a mesma cor de olhos e cabelos e até o mesmo penteado. Os dois eram muito ligados e Morgana sempre consolava o irmão quando o mesmo mandava cartas de Hogwarts dizendo as brincadeiras que os tais marotos lhe pregavam.

Severus sentia muita saudade da irmã. A via apenas nas férias onde ficavam o tempo todo no quarto brincando e conversando. Quando Severus estava no sétimo ano Morgana entrou em Hogwarts, assim como o irmão ela foi para a Sonserina.

Passaram um ano maravilhoso juntos, mas Severus entrou para o ciclo dos comensais da morte do Lord Voldemort junto com Lucius Malfoy. Os dois perderam contato e só voltaram a se falar quando Severus se tornou espião para a Ordem da Fênix e entrou para a equipe de professores ocupando a cadeira de mestre de poções.

Depois de se formar, Morgana foi morar com o irmão em uma casinha humilde em hogsmead. Tornou-se aurora entrando para o Ministério da Magia e também para a Ordem da Fênix.

Severus só mostrava seu lado mais humano quando estava a sós com a irmã, aos olhos dos outros ele permanecia com sua permanente expressão de desdém. Todos seus alunos o achavam sinistro e frio, sempre o comparando com um morcego com suas roupas negras esvoaçando pelos corredores de Hogwarts, aparecendo de repente e silenciosamente. Mas no fundo ele era um bom homem.

Sempre que possível Severus saia com a irmã para passear. Tudo parecia calmo e tranqüilo no mundo bruxo, até Harry Potter ingressar em Hogwarts e coisas estranhas começarem a acontecer. Varias vezes ouvia-se rumores de que o Lord das Trevas estava retornando.

Por quatorze anos Severus viveu uma vida normal, lecionando em Hogwarts e cuidando da irmã que vivia reclamando que podia se cuidar sozinha. Morgana era uma bruxa excepcional, portadora de 1,75 de altura a bruxa de cabelos negros até o meio das costas exalava poder. Tinha um corpo muito bonito, era alta, magra e tinha um sorriso que encantava muitos bruxos. Em plenos trinta anos, a irresistível bruxa não tinha namorado, pois seu querido irmão os assustava a ponto deles nunca mais voltarem.

Severus era super protetor quando se falava de sua irmã, sabia que a caçula teria um namorado um dia, mas ele teria que aprová-lo e essa era a parte mais difícil.

A volta do Lord das Trevas atingiu todo o mundo mágico menos Severus que no momento tinha preocupações mais importantes. Morgana havia passado muito mal durante duas semanas. Severus a levou ao ST'Mungus e descobriu que a sua irmã era portadora de uma doença desconhecida que afetava totalmente o seu sistema imunológico.

Morgana foi internada e os medibruxos faziam de tudo para descobrir a cura da doença sem nome. Severus passava horas ao lado da irmã, sempre lia uma das historinhas que ela tanto gostava. Apesar de seu uma mulher adulta Severus a tratava como uma criança indefesa.

No mesmo ano, os irmãos Snape herdaram a mansão da família quando seu pai morreu do coração. Severus sempre ia para lá depois de visitar a irmã.

- Olá Severus. Espero que não se incomode, eu cheguei aqui e você não estava então resolvi entrar.

- Não tem problema Alvo.

Alvo Dumbledore deu um leve abraço no homem que tinha como filho.

- Como ela está?

- Igual ontem, antiontem e todos os dias anteriores. Continua com febre, náuseas e dor em todo o corpo. Os medibruxos dizem não conhecer o que ela tem, mas parece ser um veneno do próprio corpo.

- E como você está?

- Igual ontem, antiontem e todos os dias anteriores. Não posso perdê-la Alvo.

- Eu sei meu filho, é por isso que eu vim aqui. Tem uma mulher ou melhor garota, que mora no Brasil. Ela é uma bruxa, mas não sabe. Apesar de ter dezessete anos a sua magia não se manifestou.

- Então ela é um aborto?

- Não, ela é uma bruxa e poderosa, mas nunca usou seus poderes. Ela é doutora, é especialista em riso. Ela estuda e pesquisa os efeitos que o riso causa em uma pessoa doente. Eu quero que vá até o Brasil conhecê-la e convencê-la a ir a uma expedição com você.

- Expedição?

- Sim, você irão atrás de uma pedra valiosa. A pedra de Aisha.

- A pedra de Aisha? Eu pensei que ela não existisse de verdade, que fazia parte de um conto.

- Mas ela existe. Talvez essa pedra seja a única coisa capaz de salvar Morgana.

- Como sabe se esta pedra pode realmente salvá-la?

- Eu sei porque eu já estive com a pedra na mão, já a usei uma vez. – Dumbledore deu uma pausa pensativa antes de continuar – Quando eu era criança, também fiquei muito doente, assim como Morgana e assim como no caso de Morgana os medibruxos não sabiam o que eu tinha. A única coisa que sabiam era que eu morreria se não encontrasse uma cura. Meu pai era um alquimista muito respeitado, ele fez pesquisas atrás de pesquisas e criou a Pedra de Aisha. Depois de me curar, ele a escondeu onde ninguém fosse capaz de achar. A pedra tem poder de curar qualquer doença, mesmo maligna, ela pode trazer uma pessoa morta à vida, transformar metal em ouro e aumentar o poder da pessoa que a possui. Foi por isso que meu pai a escondeu. Se algum bruxo com má intenção possuir essa pedra, poderá acarretar a destruição do mundo.

- E por que eu teria que ir com essa bruxa que nem ao menos sabe que tem poder?

- Porque você a ensinará a usar esses poderes e ela é uma das poucas pessoas que podem pegar a pedra. Se a pessoa que não tiver poderes suficientes pegar essa pedra com as mãos acabará virando cinza. Mas não vou obrigá-lo a fazer o que não quiser fazer, a escolha é sua meu filho.

- Acho que não tenho escolha Alvo, Morgana precisa de uma cura, ela está piorando cada dia mais. Preciso fazer alguma coisa.

Severus ficou um tempo em silencio apenas olhando o crepitar da lareira. O copo de vinho estava apoiado em seu joelho e o liquido permanecia intacto. Dumbledore respeitou o momento de Severus e esperou até o professor falar novamente.

- Está bem, eu vou. Quando devo partir?

- A coisa não é assim tão simples – Disse Dumbledore – Meu pai escondeu a pedra um pouco antes de morrer, ele temia deixar alguém pegá-la. Como eu disse, em mãos erradas ela pode acarretar o fim do mundo. Ninguém sabe onde ela está, eu mesmo tenho só uma suposição.

- E o que você supõe?

- Que ela esteja no pólo Norte.

- Você quer que eu vá para o pólo Norte? Quer que eu traga um picolé e uma carta do Papai Noel também?

- Pensei que quisesse salvar Morgana.

- Eu quero. Mas está me mandando ir atrás de uma pedra lá no pólo norte sendo que nem ao menos tem certeza de seu paradeiro.

- Você não vai para lá agora. Antes vai para o Brasil treinar a jovem bruxa, enquanto isso eu procurarei ter certeza do paradeiro da pedra e mando-lhe a resposta urgentemente.

Snape olhou atentamente para o diretor, conhecia o velho manipulador melhor que qualquer um no mundo bruxo. Alem de já ter sido aluno em Hogwarts, tornou-se espião para a Ordem da Fênix pouco antes da queda do Lord das Trevas. Quando não estava dando aulas ou nas masmorras, estava no escritório do diretor rejeitando o chá e os drops de limão, mas aceitando o bolo de morango.

Conversavam muito e sobre muita coisa, ultimamente sobre Harry Potter. Snape foi encarregado de proteger o menino dês do dia em que seus pais morreram. Fazia seu trabalho com o máximo de cuidado para não deixar suspeitas entre seus sonserinos no qual muitos deles são filhos de comensais. Sempre que o diretor falava sobre Voldemort seus olhos perdiam o brilho habitual e ficavam vazios como agora.

- Isso tudo tem haver com o Lord não tem?

- Talvez sim.

- Não me tire como um ignorante Alvo, você está preocupado com algo. Acho que tenho o direito de saber já que serei mandado para um congelador gigante para passear de trenó com Papai Noel.

- Acho que ele não dividiria o trenó com você, mas tem razão, eu realmente estou preocupado – Respirou fundo e acomodou-se na belíssima poltrona de couro negro – Alem de você, eu também tenho outro informante no circulo de Voldemort. Esse informante disse que Voldemort também está atrás da pedra, ele a quer para ter pleno poder e dominar o mundo nos cobrindo de trevas. Não posso permitir que ele a possua.

Severus sabia que Dumbledore faria tudo para impedir o Lord das Trevas e não podia deixar seu velho amigo sozinho. Por isso logo depois de se despedir do diretor, foi para seu quarto e arrumou as malas com tudo que precisaria. Partiria no dia seguinte, mas antes precisava visitar duas pessoas.

- Milorde.

Snape fez uma reverência típica de um elfo domestico quase encostando o avantajado nariz no chão.

- Sim Severus, o que quer?

- Vim avisá-lo meu senhor, de que ficarei fora por tempo indeterminado. São ordens do velho gaga, ele quer eu vá treinar uma bruxa no Brasil. Não sei ao certo o por que, mas suponho que seja para integrá-la a Ordem da Fênix. Ele acha que ela é muito poderosa.

- Então – Gritou Voldemort – Aquele velho acha que poderá me vencer com uma bruxa que nem sabe usar os poderes corretamente? Ele tem a audácia de achar que ela é mais poderosa que eu?

Snape podia sentir as ondas de ódio emanando do corpo esquelético do Lord. A raiva do Lord era evidente e Snape sabia que isso não era nada bom. Normalmente quando isso acontece todos que estão perto passam por uma intensa seção de tortura inclusive ele que é o mais próximo.

Dito e feito. Snape voltou para a mansão logo depois. Estava cansado e seu corpo doía. Bebeu a poção que deixou separada e desabou na confortável cama.

No dia seguinte Snape já estava com as bagagens arrumadas e encolhidas no bolso do casaco. Antes de ir embora tinha que visitar mais uma pessoa.

- Eu quero ver Morgana Snape.

O atendente do ST'Mungus era um menino franzino que tremia cada vez que Snape aparecia.

- Desculpe se...senhor Snape, mas não posso deixá-lo entrar.

- O quê? – Perguntou Snape com a voz baixa.

- É que não é o horário de visitas – Disse o atendente que preferia que Snape gritasse do que falasse com aquela voz massacrante.

- Preste muita atenção, senhor...?

- Crawford.

- Senhor Crawford. Eu vim até aqui para ver a senhorita Snape e não sairei daqui sem vê-la. Não me interessa se está no horário ou não eu irei entrar, a não ser que um garoto impertinente que nem saiu das fraudas igual a você queira me impedir.

Crawford tremia da cabeça aos pés, Snape estava com o rosto praticamente colado ao dele. Crawford podia ver nitidamente os negros olhos do homem, e percebeu que no olho esquerdo havia uma manchinha na íris que parecia um gota de cor mais clara. Se não tivesse com tanto medo poderia achar bonito, mas os olhos penetrantes do homem o fazia temer se mover.

- Eu vou entrar e ver a senhorita Snape e da próxima vez que eu voltar espero que tenha dado um jeito na sua incompetência.

- Si..sim senhor.

Snape saiu fazendo suas negras capas esvoaçarem pelos corredores. Crawford ainda permanecia petrificado, Snape lhe garantiu uma bela noite de pesadelos.

Parou diante de uma porta com o numero cinco escrito na placa. Deus dois leves toques e entrou.

- Posso entrar?

- Mas é claro que pode Sev – Disse a bruxa que apesar de doente ainda sorria magnificamente – Vem, chega mais perto.

Morgana estendeu a mão e chamou o irmão para se sentar junto dela. Snape pegou na mão gelada da irmã e sentou-se ao seu lado.

- Sua mão está gelada.

- É por causa das poções que preciso tomar, os medicamentos são fortes.

- Eu sei, a maioria fui eu que recomendei.

Snape deu um leve sorriso enquanto olhava atentamente para a irmã. Ela tinha olheiras não muito fundas e sua pele estava com menos cor, ate Snape parecia mais corado. O belíssimo cabelo negro agora estava sem brilho e descuidado, estava mais magra, se é que isso é possível.

- Para de ficar me olhando, eu sei que estou horrorosa.

- Me diga quem é o infeliz que coloca essas coisas em sua cabeça e eu juro que ele terá uma morte rápida.

Qualquer outra pessoa se assustaria com isso, mas Morgana sabia que o irmão estava fazendo uma piada e acabou rindo.

- Sempre querendo matar quem chegar perto de mim.

- Sou seu irmão mais velho, tenho que zelar pela sua honra.

- O irmão mais lindo.

- E você a irmã mais mentirosa.

- Não sou mentirosa, para mim você é o homem mais lindo. Jamais esquecerei seu rosto Sev, jamais.

- Por favor Morg, não fale desta maneira, sabe que não gosto.

- Por que?

- Porque soa como uma despedida.

- E você odeia despedidas.

- Principalmente a da minha irmã.

- Sev, Sev – Suspirou passando a mão pelo rosto do irmão sentindo os pelos da barba que estavam nascendo – Temos que encarar a realidade.

- A realidade, minha irmã, é que talvez haja uma cura.

Morgana que estava deitada até o presente momento sentou-se ficando de frente para Snape.

- Como assim uma cura?

- Deite-se e eu lhe conto tudo.

Snape explicou toda a história para Morgana como se estivesse contando uma historinha de ninar para uma criança. Morgana ouvia tudo com atenção e esperou até o irmão terminar para assim poder fazer todas as perguntas que bagunçavam sua cabeça.

- Então é verdade, a pedra existe. Nossa, isso é incrível. Sev você acha que essa pedra pode me ajudar?

- Se não achasse não estaria com as malas prontas para partir.

- Você vai demorar?

- Não sei quanto tempo demorarei, mas pretendo ir e voltar logo – Segurou as mãos da irmã e chegou bem perto olhando nos olhos tão negros quanto os dele e com a mesma marquinha em forma de gota no olho esquerdo – Eu prometo que irei achar a cura minha irmã. Você ficará curada e voltaremos para a mansão juntos.

- E você vai me colocar na cama e antes que eu durma contará uma historinha para que eu possa sonhar com anjos.

- Não precisa ser exatamente anjos, podem ser cobrinhas.

- Como sempre um sonserino legitimo – Riu acariciando os cabelos do irmão – Você tem que ir maninho.

- Que eu saiba você é a maninha aqui, mas tem razão, tenho que ir. Quanto mais cedo eu for, mais cedo voltarei.

Deu um beijo na testa da irmã e fez carinho em suas bochechas.

- Morg. Você sabe que – Suspirou olhando nos olhos dela – que eu...

- Eu sei Sev, eu também – Disse sabendo o quanto era difícil para o irmão falar de seus sentimentos mesmo para ela.

Snape deu um leve sorriso e saiu. Ao fechar a porta, todo o carinho que ele demonstrava ficou no quarto de sua irmã. Ali no corredor vazio estava apenas Snape e sua velha expressão de desdém constante. Passou pelo atendente e antes de sair deu-lhe uma longa olhada que o fez derrubar as pranchetas que estavam em suas mãos.

Do lado de fora do ST'Mungus estava um dia maravilhoso. Ainda era cedo e o sol começava a brilhar no céu. A brisa gelada balançava seus cabelos negros e levantava sua capa. A paisagem do bosque ao lado foi substituída por uma parede de tijolos altos com cartazes colados.

Snape desaparatou em um beco sem saída que dava para uma rua movimentada e pelo que via era muito movimentada. Haviam muitas pessoas andando de um lado para o outro, algumas trombavam com outras e falavam coisas que pela expressão em seus rostos, não era nada educado.

Seguindo as instruções de Alvo, Snape transfigurou suas vestes para um belíssimo terno preto comum sobretudo. Qualquer um que o visse diria que é um belo presidente de alguma empresa de grande porte.

Snape dirigiu-se até um hotel que ficava na próxima esquina, lá deveria encontrar um homem chamado Douglas Martine. O senhor Martine é um bruxo de mais ou menos uns cinqüenta anos de idade que veio para o Brasil viver pacificamente entre os trouxas. É dono de toda a rede de hotel Martine's. Sua mulher é uma trouxa muito bonita e seus dois filhos, já formados em Hogwarts são seus sócios.

Foi ele quem aceitou rapidamente o pedido feito por Alvo Dumbledore. O diretor da escola de magia e bruxaria queria um lugar para seu mestre de poções se hospedar e Douglas não pôde deixar de atendê-lo. No passado Dumbledore ajudou muito a família Martine e para Douglas qualquer coisa que pudesse fazer pelo velho bruxo seria uma honra.

Douglas já estava pronto para receber seu convidado especial.Apesar de nunca ter visto Severus Snape pessoalmente, sentia uma grande vontade de conhecê-lo. Seus filhos eram da grifinória e apesar de reclamarem das injustiças cometidas pelo professor para com os grifinórios, os dois sempre o elogiaram dizendo que ele era o melhor professor de poções que existia no mundo.

Foi com um grande sorriso que o senhor Martine abriu a porta dupla de madeira inglesa envernizada, detalhada com desenhos de rosas desabrochando em um jardim de pedra para que o Mestre de poções entrasse.

- Seja bem vindo ao Hotel Martine's senhor Snape, eu sou Douglas Martine, dono do hotel e estou as suas ordens para o que precisar.

- Prazer senhor Martine e obrigado pela recepção, mas creio que o professor Dumbledore já tratou com o senhor sobre tudo que preciso.

- Oh sim, ele já me disse tudo. O senhor ficará hospedado no quarto mil e doze, fica no décimo andar. Aqui é o maior hotel que tem na cidade e somente aqui encontrará o conforto que precisa para descansar.

- Não preciso de conforto, muito menos de descanso.

O homem ficou desconcertado com o tom rude com que Snape pronunciou a ultima frase e decidiu apenas ser formal sem tentar ser gentil.

- O hotel tem sala de jogos, salão de festas, piscinas, hidromassagem, sauna, restaurante e um cinema.

- Não vim aqui para me divertir senhor Martine, quero apenas me hospedar e fazer o meu trabalho. Agradeceria se os empregados não me incomodassem, se precisar de lago eu peço.

Snape falava inglês com o senhor Martine e mesmo que muitos dos empregados não entendessem o que era falado sabiam que aquele era um homem com quem tinham que tomar cuidado.

- Sim senhor, aqui estão as chaves senhor.

Snape pegou as chaves da mão do homem de olhos arregalados e foi em direção as escadas.

- O senhor não acha melhor usar o elevador?

- Quando quiser sua opinião senhor Martine, eu a peço e não fique pensando que sou um mau agradecido, o favor é para Dumbledore, não para mim.

- É falta de educação ler a mente dos outros.

- É burrice não fechá-la.

Snape subiu as escadas rapidamente, chegando ao décimo andar sem uma única gota de suor no rosto. Estava acostumado a subir escadas e odiava elevadores. Primeiro porque não confiava nesses aparelhos de trouxas e segundo porque preferia andar mesmo. Severus tinha complexo com idade, se achava velho e acabado, nem sua irmã dizendo o contrário o fazia mudar de opinião.

O quarto mil e doze ficava no final do longo corredor. A porta era branca e simples com apenas uma plaqueta com o número. Snape abriu a porta e entrou, a principio não havia nada de extraordinário no quarto, mas ao olhar direito via-se que todos os móveis eram do século XVIII.

As cortinas, lençóis, tinta de parede, eram de tons claros para deixar o local com ar de calmo e tranqüilo, e ajudar a deixá-lo mais iluminado. Snape particularmente odiava claridade e raramente saia ao sol, não é a toa que sua pele é pálida como se nunca tivesse saído de dentro do quarto.

Com o uso de magia, transfigurou as cortinas brancas para cortinas pretas, mudou a cor dos lençóis também e diminuiu a iluminação do quarto deixando-o parecido com os seus aposentos em Hogwarts. Tirou os malões encolhidos do bolso e os transfigurou para o tamanho normal, guardou suas vestes e pertences organizadamente dentro do magnífico guarda roupas.

Ainda faltava uma hora para ir se encontrar com a bruxa inexperiente, nesse meio tempo resolveu sentar em uma poltrona no canto mais escuro e ficar olhando para a janela.

A paisagem era muito diferente do que normalmente ele via nas janelas de Hogwarts. Na escola era possível ver uma paisagem linda com muitas árvores, um lago imenso e uma linda vista do sol nascendo e se pondo. Aqui era diferente, era possível ver somente prédios, carros, pessoas, uma pequena vista do céu onde não se enxergava o sol e nenhuma árvore. Snape pensou que jamais Morgana gostaria de morar em um lugar como esse, nem ele.

Ficou sentado na poltrona o tempo todo, suas mãos estava, apoiadas ns braços da poltrona e suas pernas cruzadas, sempre achou vulgar sentar de pernas abertas e pernas fechadas o machucam. Sentando dessa forma fica confortável, elegante e com ar de superioridade.

Essa mania de ficar sentado no escuro vem dês da época de criança quando seu pai o trancava no porão da mansão. Era um lugar sujo, frio, escuro e tenebroso. Como tinha medo de seu pai, sempre se escondia no canto mais escuro e ficava sentado olhando para o nada, esperando alguém vir tirá-lo de lá.

Apesar de viver em uma masmorra no castelo, Snape tinha medo de ficar em lugares pequenos e fechados. Quando criança, o pequeno Snape caiu em um poço e só foi resgatado três dias depois quando seu pai o procurava aos gritos dizendo que iria colocá-lo de castigo por não respondê-lo. Quando foi retirado pelos elfos domésticos da mansão estava em um estado deplorável, seu corpo estava mais magro do que já era, com machucados superficiais na pele que estava praticamente transparente e continha fundas olheiras. Teve que ficar no ST'Mungus por alguns dias até poder melhorar. Ate hoje Snape não chega perto de nenhum poço e não fica em lugares que sejam pequenos e fechados.

Depois de quarenta e cinco minutos sentado olhando a paisagem, levantou-se e se arrumou e às onze horas em ponto estava batendo na porta do laboratório cinco do Instituto Cristal.

- Pode entrar – Disse uma voz feminina dentro da sala.

Snape entrou no que parecia ser uma enorme sala de estar de uma casa com pelo menos umas sete crianças, o local nada se parecia com um laboratório, havia poltronas, sofás, mesinhas com brinquedos e uma televisão pequena.

- Olá – Cumprimentou uma mulher que aproximava-se.

Era alta, na média uns trinta e cinco anos, cabelos castanhos, postura reta e olhar sério.

- O senhor deve ser o senhor Snape, certo?

- Sim, sou eu mesmo.

- Prazer, eu sou Dana Burns.

- Prazer.

Snape apertou a mão magrela da doutora, tinha o aperto forte e mostrava confiança.

- O senhor não tem jeito de ser daqui, é americano?

- Não – Respondeu com cara azeda. Odiava ser comparado com os americanos que nada mais são do que ingleses sem barbatanas – Sou inglês.

- Fala bem o português e tem pouco sotaque, mas quando analisamos bem percebemos seu charme inglês que é inconfundível. Já fui à Londres uma vez, lugar bonito, muitas coisas bonitas, pessoas bonitas, homens bonitos.

Snape deu um passo para trás indicando que queria distância dela.

- A senhorita Martins encontra-se?

- Senhorita Martins? Ah! Deve estar falando a Ana Carolina, não ela ainda não chegou, ela me telefonou e disse que chegaria dez minutos atrasada e pelo horário ela deve estar chegando agora. Venha ver se estou certa.

A doutora caminhou até a janela e olhou para o estacionamento.

- Venha ver, ela sempre dá um show quando chega atrasada. Para alguns como as crianças tudo é engraçado, para gente de classe como eu é ridículo. Não que ela faça de propósito, é que ela é ridícula mesmo.

Snape adiantou-se até a grande janela a uns três metros de distância de onde a doutora estava e olhou para fora. Não viu nada de espetacular no estacionamento e começava a duvidar da sanidade mental da doutora quando viu alguém entrar desgovernado em cima de uma bicicleta.

Começou a achar que a doutora tinha razão quando viu a pessoa bater com tudo em um carro e cair em cima de uns sacos pretos de lixo que estavam do lado.

- Eu disse que ela era um desastre.

Snape pensava se ainda era tempo de desistir. Ensinar aquela menina seria pior que tentar ensinar Crable e Goile.. Pensava nisso enquanto via a menina pegar a bicicleta e prendê-la com uma corrente em um cano trás do carro.

Quando ela entrou no Instituto, sua voz era ouvida de longe, mesmo ele que estava um andar acima pôde ouvi-la pedir desculpas pelo atraso e cumprimentar muitas pessoas. Sua voz estava ofegante, talvez pela batida ou por tentar chegar a tempo no local, mas mesmo assim ela parecia alegre.

Veio cantando enquanto subia as escadas e entrou no laboratório com um sorriso bonito. Era uma menina de estatura mediana, não era magra nem gora, digamos que ela era "fortinha", seu cabelo tinha um tom avermelhado e suas roupas era, simples, uma calça jeans, camiseta preta e tênis. Não era atraente nem tão bonita como de suas alunas, mas tinha seu carisma.

Snape ficou parado esperando ser notado pela menina que ainda cantarolava.

- "Era tanta saudade, é pra matar. Eu fiquei até doente eu fiquei até doente menina..." Nossa – Disse ao ver a Drª ao lado daquele homem alto vestido com um terno preto muito bonito – Desculpe, eu não os vi, pensei que não houvesse ninguém aqui.

- Ana, esse aqui é o senhor Snape.

- Ai meu Deus, me desculpe – Disse apertando a mão do homem – Eu acabei me atrasando um pouco, peço perdão senhor, espero que não esteja zangado, bravo ou magoado comigo por isso, está?

- Digamos que esse inconveniente me mostrou que pontualidade não é o seu ponto forte senhorita.

- É, você está zangado. Bom, se o senhor puder me acompanhar, eu mostrarei todos os locais que o senhor precisa conhecer.

- Ana eu adoraria saber sobre o que está acontecendo aqui – Disse a doutora que não parecia muito feliz.

- Eu pensei que a senhorita soubesse, mas parece que não. O senhor Snape é um especialista em medicamentos naturais e está aqui para nos ajudar nas pesquisas.

A doutora olhou para ele como que esperando uma confirmação. Snape confirmou toda a história. Dumbledore disse que ele deveria usar esse disfarce para conquistar a confiança da menina e depois poder lhe contar a verdade.

Os dois caminharam-se para a sala no fundo de um corredor que ficava logo após a aconchegante sala com brinquedos.

Ali tudo era parecido com um laboratório de trouxa, com corredores compridos claros e frios. Entraram no local com a porta que continha o nome da menina em letras coloridas, uma cor para cada letra e feitas à mão provavelmente por crianças que mal sabiam escrever.

- Foram as crianças que fizeram para mim, pode perceber que as outras placas são no estilo padrão, mas eu não me encaixo em um padrão, prefiro ser eu mesma, ainda que isso queira dizer ser diferente. Sempre digo que até mesmo irmãos gêmeos idênticos tem diferenças, então por que tenho que me portar igual a todos?

Indicou uma cadeira em frente à sua mesa e Snape sentou-se. Não falou nada dês da hora em que se cumprimentaram. Uma de suas estratégias de espião era sempre observar as pessoas antes de fazer um julgamento conclusivo do que estava vendo.

A primeira coisa que aprendeu sobre a menina era que ela falava muito e isso o incomodava. Não era uma pessoa de fácil comunicação, por isso sempre preferiu o silêncio.

- Desculpe de novo, eu falo demais, é que é uma maneira de quebrar a timidez que eu tenho, não dá para saber nem acreditar, mas eu sou tímida. Ora vamos parar de falar de mim, fale-me um pouco de você.

- Tudo que a senhorita precisa saber está no formulário que recebeu.

- Sim eu recebi o formulário com todos os seus dados e referências e posso dizer que estou feliz de poder trabalhar com alguém de sua categoria. O senhor poderá começar hoje mesmo se quiser.

- É preferível.

- Então se puder me acompanhar vou levá-lo ao seu laboratório.

Ana guiou Snape pelo corredor novamente e entrou em um outro laboratório, desta vez um tradicional com bancadas, microscópios e vários outros materiais de estudos.

- Aqui o senhor poderá fazer as pesquisas necessárias para produzir os medicamentos que serão usados no tratamento das crianças do instituto. Naquela salinha no final do laboratório estão todos os ingredientes naturais colhidos diretamente de florestas. Queremos fazer medicamentos naturais para que as crianças não sofram tanto com os efeitos químicos.

O laboratório era um lugar bastante amplo e claro que era a única coisa que incomodava Snape. Fechou as cortinas e abaixou o nível de claridade da luz.

Ana estranhou um pouco o ato do homem. Normalmente os cientistas e doutores pediam que as salas tivessem bastante claridade, mas esse homem não queria claridade alguma, era possível notar que ele não tomava muitos banhos de sol.

- O que foi senhorita? – Perguntou ao notar que a menina não parava de olhá-lo.

- Estava apenas observando céus modos de preparar o laboratório.

- Tem alguma objeção?

- De maneira alguma. Gosto de fazer meu trabalho da minha maneira, por isso não dou opinião na maneira dos outros. Por mim o senhor podia vir trabalhar até de cueca se quisesse.

- Acho que não seria muito apropriado.

- Apropriado não, mas engraçado sim – Olhou no relógio, já era hora do almoço – Quer almoçar comigo? Tem um restaurante muito bom na esquina.

- Acho que isso também não seria apropriado.

- Realmente você é inglês. Tive minhas duvidas quando o vi. Você não tem sotaque e fala bem o português, mas tem as características físicas de um inglês, tem o charme e o jeito conservador de um inglês.

Snape deu um passo para trás da mesma forma que fez com a Drª Burns.

- Calma, não vou te atacar. Você é bonito e charmoso, mas eu tenho bom senso e não sou tarada – Deu um sorrisinho – Eu tenho que ir almoçar, pois acabei de chegar da faculdade e estou faminta, você pode ficar aqui e arrumar tudo d sua forma, pode ver os ingredientes que temos e se familiarizar com tudo o que puder. Daqui a pouco eu volto com seu jaleco e a lista de medicamentos que precisamos.

Ana foi em direção à porta, mas antes de sair chamou Snape que levantou uma sobrancelha esperando a menina falar o que tinha para falar.

- Sim?

- Seja muito bem vindo senhor Snape.

- Obrigado – Disse vendo a menina sair.

Durante a uma hora de almoço de Ana, Snape ficou arrumando o local, fez apenas alguns feitiços, o restante foi feito à mão. Snape não gostava de feitiços usados em seus ingredientes pois poderia alterá-los.

O estoque de ingredientes era imenso, mas só continha folhas e ervas, foi Snape quem acrescentou os vidros de fígado, olhos de bode, patas de aranhas e vários outros ingredientes esquisitos.

Quando Ana chegou estava vestida com um jaleco branco que ia até seus joelhos, não era um branco tradicional, o dela vinha com uns desenhos de coração, flores e estrelas.

Ana entrou no laboratório e não achou Snape ali, então resolveu procurar na salinha, entrou e ficou em silencio vendo Snape de costas para ela. Ele limpava alguns vidrinhos de ingredientes, sua perfeição era admirável.

- Vai ficar a tarde inteira parada me olhando senhorita?

- Quer dizer que você também tem olhos na nuca. Interessante.

- Apenas sei quando estou sendo observado.

Snape virou-se e olhou para o jaleco que a menina usava e para um que ela carregava.

- Pode ficar tranqüilo – Mostrou o jaleco que carregava – Esse não é desenhado. Quer que eu o ajude a colocá-lo?

- Posso muito bem por sozinho.

- Então pegue. Espero que seja do seu tamanho.

Snape colocou o jaleco e o fechou.

- Ficou perfeito. Fiquei com medo de não caber. Você é alto, deve ter o que? 1, 85 de altura?

- Exatamente.

- Olha só, acertei na mosca.

- Desculpe senhorita, mas não entendi o que quis dizer come esta expressão.

- Eu quis dizer que acertei o seu tamanho na primeira tentativa.

Ana deu um sorriso e olhou para os vidrinhos nas prateleiras.

- Você já limpou bastante aqui dentro. Desculpe o estado do lugar, é que não o usamos muitas vezes, então ele fica fechado por bastante tempo. Quer que eu chame uma faxineira?

- Não será necessário.

- Está bem. Aqui estão os medicamentos de que preciso. – Entregou uma pasta, um crachá e uma chave – Alguns medicamentos estão listados em vermelho, pois precisaremos criá-los, os outros já existem. O crachá é a sua identificação, sem ele você não entra. A chave é do laboratório, contem também a chave do armário e dessa sala. Seu horário de entrada é ao meio dia e a saída é às oito horas da noite, terão alguns dias que precisará fazer plantão. Espero que os turnos sejam do seu agrado.

- Sim

- Então deixarei você trabalhar sozinho. Quase ia esquecendo, você pode vir trabalhar com uma roupa mais confortável. Tchau.

Snape agradeceu mentalmente a ultima informação, preferia muito mais vir com as suas tradicionais vestes negras. A lista entregue continha nomes de medicamentos que nunca havia visto, mas conhecia suas composições, poderia fazê-las com facilidade e rapidez.

Trancou a porta do laboratório e começou a fazer o trabalho que mais sabia fazer, poções. Transfigurou uma caneca normal em um caldeirão. Foi ao estoque e pegou os ingredientes certos para assim poder cortá-los, moê-los e cozinhá-los.

Às oito horas tudo estava em seus devidos lugares e as poções ou melhor, medicamentos, para dores de cabeça e náuseas estavam prontos e na quantidade desejada já que seu preparo era feito em grande quantidade e em pouco tempo. Fechou tudo e já ia saindo quando avistou Ana vindo em sua direção.

- Senhor Snape. Eu estava indo avisá-lo que já podia ir, mas vejo que não preciso.

- Gosto de pontualidade – Snape viu a menina dar um sorrisinho sem graça – Não vai embora senhorita?

- Só mais tarde, ainda não terminei o trabalho que tenho que fazer.

- Não é perigoso uma pessoa como a senhorita ir para casa tarde da noite?

- Eu sei me cuidar, obrigada pela preocupação.

- Então boa noite.

- Boa noite.

Snape saiu e foi caminhando pelas ruas escuras até chegar ao hotel. Subiu as escadas e foi para o quarto. Precisava escrever uma carta para Alvo. Pegou tinta e pena e começou a riscar o pergaminho.

"Alvo,

Conheci a bruxa chamada Ana Carolina, a principio minha opinião é básica, ela é uma adolescente inepta e esquisita como qualquer aluno de Hogwarts.

Farei o possível para me aproximar e assim poder contar a verdade à ela. Creio que não será difícil dela acreditar, pelo que vi ela ainda acredita em Papai Noel.

Mantenha-me informado dos acontecimentos no mundo bruxo.

Voltarei a escrever

Severus"

Snape selou a carta e entregou para a coruja marrom que havia chegado mais cedo mandando dinheiro trouxa para que ele pudesse comprar o que precisasse. Abriu a janela e permitiu que a coruja passasse.

A lua já estava no alto quando Snape saiu do banho enrolado em um roupão. O quarto estava escuro mas ele não precisava de luz para tirar o roupão e deitar na cama nu em pêlo para poder dormir.

Normalmente Severus não tem sonhos quando dorme, mas esta noite algo apareceu em sua mente, um par de olhos âmbar. De onde os conhecia? Eram bonitos e vivos. Olhos sensuais, envolventes, olhos que possuíram seus sonhos durante o restante da noite.