O Lar Algália Dourada
Esta história terá doze partes, cada uma com uma temática. A história passa-se no Lar Algália Dourada, um lar de idosos, que se vão meter em alhadas ou dar o ar da sua graça. Aqui estão as personagens principais:
Barnabé Bernardes - 82 anos - Um velho que é um pouco forreta e muito batoteiro em tudo o que faz.
Jacinta Bernardes - 78 anos - Esposa do Barnabé, é hipocondríaca, mas boa pessoa.
Evaristo Aleluia - 72 anos - Um velhote muito falador e cheio de lábia, que gosta de dizer piadas.
Odete Gomes - 79 anos - Uma velhota com a doença de Alzheimer e que se esquece de tudo.
Enfermeira Vitalina Viana – 35 anos - Uma enfermeira interesseira que sonha em ser rica e casar-se.
Director Hélder Palhais – 40 anos - O director do lar, que é meio maluco da cabeça, mas que gosta de todos os velhotes.
E pronto, vamos começar com a história!
Capítulo 1: Coisas de Velhos
Parte 1 – Fatalidade
Era mais um dia normal no Lar Algália Dourada. O director Hélder Palhais estava no seu gabinete a tratar da papelada, a enfermeira Vitalina Viana andava a tratar dos velhotes e a resmungar e os velhotes ou estavam nos seus quartos ou numa das três salas de convívio que o lar tem.
Numa dessas salas, o batoteiro Barnabé Bernardes estava a jogar às damas com o já meio surdo, Zeferino Albuquerque. A esposa do Barnabé, Jacinta Bernardes, estava a fazer malha, enquanto ia conversando com a Odete Gomes, a velhota com Alzheimer, que se esquece de tudo. Por fim, o Evaristo Aleluia, um velhote que fala pelos cotovelos, andava por ali a cirandar.
Evaristo: Sabem qual é o cúmulo da abelha?
Jacinta: Lá está ele com as adivinhas outra vez...
Evaristo: É casar-se e não ter lua-de-mel!
Os outros: ¬¬
O Evaristo começou a rir-se e a sua dentadura caiu no chão. Enquanto ele a foi apanhar, a Jacinta aproveitou para continuar a conversar com a Odete.
Jacinta: E eu disse à Clotide Semedo que não podia ser. Era para ela tomar uma aspirina, um ben-u-ron e mais nada. Mas ela não tomou isso. Eu cá sou muito certinha tomar os compridos. Não achas que devemos seguir as coisas à risca?
Odete: Claro.
Jacinta: Pois. Eu disse isso à Clotide, mas ela não quis saber. Qualquer dia morre por causa disso, não achas?
Odete: Não acho o quê?
Jacinta: Que qualquer dia a Clotilde morre por não tomar os comprimidos.
Odete: Ah... mas quem é a Clotilde? – perguntou ela, confusa.
Jacinta: Pronto... já te esqueceste outra vez...
Odete: Esqueci-me?
Jacinta: Deixa estar Odete. Esquece.
Odete: Esqueço o quê?
Jacinta: ¬¬ Raios partam o Alzheimer!
O Evaristo lá conseguiu apanhar a dentadura.
Evaristo: Sabem quando é que um homem sente que está a ficar velho?
Barnabé: Quando vai para um lar?
Evaristo: Não. É quando tem mais prazer no trabalho e muito trabalho no prazer.
Desta vez o Barnabé e o Zeferino riram-se.
Barnabé: Essa foi boa!
Zeferino: Também achei, apesar de não ter ouvido nada, porque sou meio surdo, mas pronto.
Evaristo: ¬¬
Barnabé: Sabem, tenho saudades da minha fazenda.
O Evaristo aproximou-se dele.
Evaristo: Pois é, eram outros tempos. Agora passamos os dias todos aqui no lar.
Barnabé: Bem, até me estou a lembrar de uma vez lá na fazenda... upa upa...
Evaristo: O que é que aconteceu?
Barnabé: Bom, eu tinha lá um lago na fazenda, mas ficava numa ponta afastada e eu ia lá poucas vezes. Ora, um dia eu fui lá e o que é que eu vi? Umas cinco moçoilas todas despidas a tomarem banho no meu lago.
Evaristo: Ena pá. Então e houve festa ou quê?
Jacinta: Vê lá o que vais responder, Barnabé. Olha que senão, dormes no chão hoje!
Barnabé: Que disparate, Evaristo. Eu sou um homem muito fiel à minha querida Jacinta. Ora bem, eu quando eu lá cheguei, elas fugiram para as partes mais fundas do lago e gritaram-me que não saiam dali enquanto eu não fosse para bem longe.
Evaristo: Então e depois?
Barnabé: Aproxima-te, Evaristo. - disse ele e o Evaristo aproximou-se. - Depois eu disse-lhes que não tinha lá ido para as ver nuas, mas que tinha ido para dar comer ao crocodilo.
Evaristo: Ena pá. Tinhas um crocodilo no lago?
Barnabé: Claro que não, Evaristo! Quando eu disse isso, as moçoilas saíram dali a correr e eu vi-as como elas vieram ao mundo. Sou muito esperto.
Os dois velhotes riram-se.
Barnabé: Bem, agora vou mas é continuar o meu jogo de damas. Ó Zeferino, é a tua vez!
O Zeferino não se mexeu.
Barnabé: Está mesmo surdo. Ó Zeferino!
Mas ele continuou sem se mexer.
Evaristo: Zeferino, estás a dormir?
Ele tocou no Zeferino e viu que não.
Evaristo: Olha que esta, morreu!
Jacinta: Ai credo! Valha-me nossa Senhora! O Zeferino morreu! – gritou ela, em pânico.
Nesse momento, apareceu a enfermeira Vitalina.
Vitalina: O que se passa?
Barnabé: O Zeferino morreu!
Vitalina: Ah, é normal. Já é o décimo esta semana. E olhem que só é terça-feira.
Odete: Eu sei quem o matou!
Todos se viraram para a Odete.
Jacinta: Quem foi?
Odete: Bom... não me lembro.
Todos: ¬¬
Vitalina: Querem dizer algumas palavras antes de eu o levar daqui e o atirar para uma cova? Quer dizer... antes dele sair daqui e ter um digno funeral?
Barnabé: Não vale a pena. Mesmo que a gente fale, ele não ouve porque era surdo.
Nesse momento, a Odete deu um salto.
Odete: Já sei! Quem o matou... foi a velhice!
Os outros: O.o
Parte 2 - Aniversário
Passou-se um mês desde que o Zeferino tinha morrido. Entretanto, estava a chegar o aniversário da Jacinta.
Evaristo: Então, já compraste uma prenda para a tua mulher, Barnabé?
Barnabé: Já. Foi difícil, já que não saímos aqui do lar, mas o Alfredo Pandolho ajudou-me e encomendámos a prenda pela intermet.
Evaristo: Intermet?
Barnabé: Pois. É uma coisa lá dos contadores ou lá como se chama. Chama-se intermet porque a gente mete lá o que queremos e pronto, encontramos tudo.
Evaristo: Ai é?
Barnabé: É sim senhor. Até há lá coisas com moiçolas em trajes menores, vê lá tu.
Evaristo: Ena pá. Tenho de ver se aprendo a mexer na intermet.
Barnabé: Sabes, até pensei em contratar um stripper para a minha Jacinta, mas é melhor não, ainda lhe dá alguma coisinha má, da emoção.
Evaristo: Pois é... mas podias era contratar uma stripper para animar-nos a nós.
Barnabé: Não me parece que a Jacinta fosse gostar...
Entretanto, a Jacinta estava a conversar com a Odete.
Jacinta: Ai, ai... estava agora a lembrar-me de umas férias que eu e o Barnabé tivemos há muito tempo... quando os nossos filhos ainda eram pequeninos e a chata da minha sogra Helga ainda era viva.
Odete: Ah, lembrar é bom. Pena que eu só consigo é esquecer-me das coisas.
Jacinta: Nesse ano, nem fomos à praia, mas era como se tivéssemos ido. A alcatifa era verde-mar, os miúdos eram uns autênticos mexilhões, a minha sogra todos os dias armava barraca porque não a deixávamos fazer ondas...
Odete: Então e o Barnabé? O que é que ele fazia?
Jacinta: Nada.
No dia seguinte, era o dia de aniversário da Jacinta e todos estavam a fingir que não se lembravam.
Jacinta: Ó Barnabé, sabes que dia é hoje?
Barnabé: Quinta-feira.
Jacinta: Não é isso. Que dia é hoje?
Barnabé: Dia vinte e sete.
Jacinta: Também não é isso. Não te lembras que dia é hoje? – perguntou ela, novamente.
Barnabé: Já te disse que dia é hoje.
Jacinta: Mas hoje é um dia especial. Não te lembras?
Barnabé: Não.
Jacinta: ¬¬ Estás pior que a Odete.
Um bocadinho desanimada, a Jacinta foi tomar o pequeno-almoço, deixando o marido para trás.
Enquanto isso, o Evaristo, a Odete e a enfermeira Vitalina estavam noutra parte do lar, a preparar a festa surpresa.
Evaristo: Ó dona Vitalina, tem a certeza que esse queijo é bom?
Vitalina: Claro. Só tem dois meses. Está muito bom.
Evaristo: Mas eu pensei que esses queijos só tivessem validade de duas semanas...
Vitalina: Não se preocupe que vocês velhotes têm bom estômago para aguentar isto. - disse ela. - Além disso, se morrerem, vão para um lugar melhor.
Evaristo: -.-"
Odete: Ó enfermeira, onde é que ponho estes pratos?
Vitalina: Ponha-os ali ao fundo. E não os parta, está bem?
Odete: Claro.
Vitalina: Óptimo. É que quando eu trabalhei em França, havia muita gente que partia pratos por descuido.
Odete: Já esteve na França?
Vitalina: Já. Eu sou uma mulher muito viajada.
Odete: E os pratos estrangeiros, são muito diferentes dos nossos? . perguntou ela, curiosa.
Vitalina: Não. Partem-se na mesma.
Entretanto, chegou o director Hélder Palhais.
Hélder: Olá! Cheguei! – disse ele, animado.
Evaristo: Pois, ainda não tínhamos reparado...
Hélder: Senhor Evaristo, sempre na brincadeira. Então, não lê nos meus olhos que eu estou muito feliz por estar aqui?
Evaristo: Até lia, mas não posso, porque sou analfabeto.
O Hélder e o Evaristo desataram a rir-se.
Hélder: Você não é analfabeto.
Evaristo: Pois não. Mas teve graça.
Entretanto, a Jacinta já tinha tomado o pequeno-almoço e o Barnabé estava perto dela.
Barnabé: Anda, vamos dar uma volta.
Jacinta: Está bem...
De volta à festa, já tinham chegado mais velhotes.
Vitalina: Olhe lá director, veja lá se me pode ajudar.
Hélder: Diga, cara enfermeira Vitalina Viana.
Vitalina: Sabe, é que recebi uma carta do meu irmão a pedir-me cem euros emprestados. Mas não me apetece nada ter de lhos emprestar. O que é que acha que devo fazer?
Hélder: Isso é fácil, minha cara Vitalina, é só você escrever-lhe a dizer que não recebeu a carta dele.
Vitalina: O.o
Evaristo: Pessoal, eles vêm aí!
Os velhotes ficaram todos quietinhos no lugar. Fora daquela sala...
Barnabé: Ó Jacinta, vamos descansar um bocadinho aqui nesta sala de convívio.
Jacinta: Está bem.
O Barnabé abriu a porta e eles entraram os dois. Nesse momento, todos gritaram.
Todos: Parabéns Jacinta!
Jacinta: Ai cruzes credo, iam-me matando do coração.
Hélder: Ó Vitalina, se calhar é melhor ir ver se ela está bem.
Vitalina: Ela ainda está aí para as curvas. – disse ela, despreocupada.
Jacinta: Vocês fizeram-me uma surpresa...
Barnabé: Pois foi, Jacinta. Parabéns.
Jacinta: Ah, obrigada a todos.
O Evaristo e a Odete aproximaram-se.
Odete: Eu comprei-te uma prenda.
Jacinta: E onde é que ela está?
Odete: Olha, esqueci-me, mas se algum dia eu me lembrar, eu dou-ta.
Jacinta: ¬¬
Evaristo: Eu comprei-te uma bengala. Ainda não usas, mas nunca se sabe.
Jacinta: Ah... obrigada. – disse ela, sem saber bem o que dizer.
Barnabé: E eu comprei-te um kit de medicamentos, porque sei que gosta muito deles.
Jacinta: Ai Barnabé, foi a melhor prenda de sempre!
Parte 3 - Dentista
Algum tempo depois do aniversário da Jacinta, num dia como outro qualquer, o casal Bernardes, Barnabé e Jacinta, levantou-se cedo e foi arranjar-se. Apesar de serem velhotes, ainda conseguiam tratar sozinhos da sua higiene pessoal.
Enquanto o Barnabé foi à casa de banho, a Jacinta ficou a tomar os seus remédios.
Jacinta: Ora bem, vou tomar um comprimido de fluconazol, dois comprimidos de sporanox, um comprimido de pantozol, dois comprimidos de reminyl e... um se calhar tomo um dos comprimidos prometax...
Entretanto, o Barnabé saiu da casa de banho.
Barnabé: Jacinta! Ó Jacinta! - gritou ele, aflito.
Jacinta: E um inicox também não fazia mal nenhum...
Barnabé: Jacinta!!
Jacinta: O que foi homem de Deus?
Barnabé: É o meu dente, Jacinta.
Jacinta: Dente? Qual dente? Aquele dente que foi o único que não caiu?
Barnabé: Claro. Se é o único dente que tenho, tem de ser esse, não achas? - disse ele, aborrecido.
Jacinta: O que é que tem o dente?
Barnabé: Acho que está a abanar... acho que vai cair, Jacinta.
Jacinta: E o que é que tem homem? Mais um ou menos um, não faz falta nenhuma.
Barnabé: Claro que faz! Este dente é muito importante!
Jacinta: Ai sim? Para quê?
Barnabé: Ora... para me dar brilho. Fica sabendo que as enfermeiras quando passam por mim e eu lhes sorrio a mostrar o meu dente, elas ficam todas contentes.
Jacinta: Das duas uma, ou elas estão a precisar de óculos ou estão a sorrir por causa da tua cara de parvo. - disse ela. - Bom, vamos falar mas é com a enfermeira Vitalina. Pode ser que ela consiga fazer alguma coisa.
Eles foram ter com a enfermeira Vitalina.
Vitalina: O que foi?
O Barnabé explicou a situação.
Vitalina: Ah, esse dente não faz falta nenhuma. De qualquer maneira, a maioria das vezes vocês comem uma mistela que parece papa, por isso não precisam de mastigar.
Jacinta: Por acaso, nunca cheguei a saber o que é que põe naquilo...
Vitalina: Acredite em mim, é melhor não saber.
Jacinta: O.o
Barnabé: Enfermeira Vitalina, pode fazer alguma coisa para me ajudar ou não?
Vitalina: Eu sou enfermeira, não sou dentista. Não posso fazer nada para o ajudar. – disse ela, severamente.
Barnabé: Nada?
Vitalina: Não. Estou ocupada.
Barnabé: Não parece.
Vitalina: Claro que estou. Estou a ler uma revista interessantíssima.
Jacinta: Pode ao menos telefonar ao dentista para irmos lá?
Vitalina: Isso dá muito trabalho. Mas posso dar-lhes o número e ligam vocês.
E assim foi, a Jacinta ligou ao dentista e a consulta foi marcada para o dia seguinte. No dia seguinte, o Barnabé andava nervoso.
Evaristo: Ó meu camarada, tem calma. É só uma ida ao dentista.
Odete: Não custa nada.
Barnabé: Achas que não?
Odete: Eu acho que não... mas não tenho a certeza, porque não me lembro da última vez que fui ao dentista.
Barnabé: -.-" Grande ajuda...
Pouco depois, apareceu o director Hélder Palhais.
Hélder: Meu caro Barnabé Bernardes, já chegou o táxi que o vai levar ao dentista.
Jacinta: Eu vou acompanhar o meu marido.
Hélder: Vá. Faz bem. É que pode acontecer alguma coisa ao Barnabé. Pode cair num buraco ou cair-lhe um vaso na cabeça e assim sempre a tem por perto.
Jacinta: Pois, mas espero que não aconteça nada disso.
Odete: Boa sorte.
Evaristo: Coragem camarada!
E lá foram a Jacinta e o Barnabé até ao dentista. Como era o lar que pagava o dentista, era o pior dentista que havia nos arredores. O dentista era bastante novo, mas era só ele, porque os equipamentos eram super velhos. O dentista chama-se Carlos Dummond.
Carlos: Então, do que é que se queixa?
Jacinta: Olhe, dói-me a coluna e tenho aqui um joanete que...
Carlos: Desculpe, mas eu estava a falar com o seu marido.
Jacinta: Ah... está bem... – disse ela, calando-se.
Barnabé: É por causa do meu dente, senhor doutor dentista. Acho que está a abanar.
Carlos: Tudo bem. Vamos ver isso. Sente-se ali naquele banco.
Jacinta: Olhe lá, mas não havia de haver uma cadeira daquelas modernas onde ele se deitasse?
Carlos: Não há dinheiro para isso. Vá, sente-se no banco.
O dentista examinou o dente do Barnabé.
Jacinta: Então?
Carlos: Não me parece nada mal. Está fixo. Não se preocupe que não cai. Quer ver? Eu vou tocar no dente e ele nem vai abanar.
O Carlos tocou no dente e mal lhe tocou, o dente caiu no chão.
Jacinta: ¬¬
Barnabé: Ai o meu dente!
Carlos: Calma. Já que está sem dentes, está na altura de comprar a melhor das dentaduras, a dentadura KXV4 com tudo incorporado.
Barnabé: Isso é uma dentadura ou um aspirador?
Jacinta: Se fizer as duas funções, ficamos com ela, senhor dentista. – disse ela.
Carlos: Vai é custar-lhe algum dinheiro.
Jacinta: Pois, mas isso é que a gente não tem...
Carlos: Não têm dinheiro?
Barnabé: Não. O lar fica com quase todo o dinheiro da nossa reforma.
Carlos: Bem... nesse caso, só há uma solução.
Barnabé: E que solução é essa?
Carlos: É só eu usar cola tudo e colar o seu dente no sítio outra vez.
Barnabé: Ah, está bem, pode ser.
E pouco depois, o Barnabé tinha o dente de volta na boca, mas com cola tudo à mistura.
Parte 4 - Óculos
A Odete entrou na sala de convívio e bateu logo contra uma mesa que ali havia, espatifando-se no chão. Os outros velhotes ficaram a olhar para ela e a Jacinta e o Evaristo ajudaram-na a levantarem-se.
Odete: Esqueci-me que estava aqui esta mesa...
Jacinta: ¬¬ Para variar...
Evaristo: Ó Odete, tu não estás com os teus óculos. Não deves ver quase nada.
Odete: Ah, pois, era por isso que eu aqui vim. Não os encontro em lado nenhum.
Jacinta: Não estarão no teu quarto?
Odete: Não. Eu já procurei lá e não estavam.
Evaristo: Se calhar deixaste-os nalgum lado do lar...
Odete: Pois, não me lembro é onde.
Jacinta e Evaristo: -.-"
O Barnabé que estava a ver televisão, levantou-se e veio ter com eles.
Barnabé: Então, o que se passa?
Jacinta: A Odete perdeu os óculos.
Barnabé: Outra vez? Já perdeu os óculos uma carrada de vezes!
Evaristo: Bom, é mais uma, para variar.
Barnabé: Desta vez eu não vou procurar. Vou ficar aqui sentadinho a ver o programa da Fátima Envelopes e mais nada. Boa sorte.
E foi sentar-se no sofá outra vez.
Jacinta: Anda lá Odete. Nós ajudamos-te a procurar.
Eles começaram por ir ao refeitório. Estavam lá umas senhoras gordas e mal encaradas, que eram as cozinheiras do lar.
Jacinta: Ó senhoras cozinheiras!
Elas nem se viraram para ver que as chamava.
Evaristo: Ó senhoras!
Odete: Senhoras!
Elas continuaram sem nada fazer. A Jacinta já estava a ficar enervada.
Jacinta: Ai que eu tenho de tomar um voltaren para os nervos. - disse ela, tomando os comprimidos. - Ó senhoras, já chamámos três vezes, mas vocês são não têm orelhas?!
Uma das cozinheiras virou-se para eles.
Cozinheira: Temos, mas é só para o almoço, velhotes. Vai ser orelha de porco com feijão.
Os outros: ¬¬
Jacinta: Vejam lá se têm é atenção à sopa. No outro dia encontrei um cabelo que não era meu, ouviu?
Cozinheira: E o que é que fez com o cabelo?
Jacinta: Ora, mandei-o fora.
Cozinheira: Está mal. Devia era ter-nos dado o cabelo para nós guardarmos. Podia vir alguém à procura dele.
Os outros: O.o
Odete: Por acaso não encontraram aqui nenhuns óculos?
Cozinheira: Hum... não sei... acho que pus qualquer coisa na sopa que era parecido com isso...
Odete: O.o
Cozinheira: Ah, não era uns óculos.
Evaristo: Menos mal.
Cozinheira: Era um relógio. Vai dar um gostinho bom à sopa. – disse ela, abanando a cabeça.
Os outros: O.o
Eles saíram rapidamente dali.
Jacinta: Vamos procurar no gabinete de enfermagem.
Eles foram até lá e bateram à porta.
Evaristo: Enfermeira Vitalina, está aí?
Vitalina: Não. Não está cá ninguém. Podem ir-se embora.
Jacinta: Mas nós estamos a ouvi-la!
Vitalina: Isso é impressão vossa. Vocês estão mas é mal dos ouvidos.
Odete: Mas desculpe lá, eu também a oiço...
Vitalina: Isto é uma gravação, meus queridos velhotes. Agora dêem meia volta e vão-se embora que eu estou ocupada a ver televisão.
Odete: E por acaso não ficaram por aí nenhuns óculos?
Vitalina: Não ficou aqui nada. Adeus.
E lá foram eles procurar noutro lugar.
Evaristo: Nunca mais encontramos os óculos.
Eles entraram noutra sala de convívio.
Odete: Por acaso não ficaram aqui nenhuns óculos?
Respondeu-lhe a velha Albina Barulho.
Albina: Não ficou aqui nada, Odete. Mas hoje veio um extraterrestre aqui ao lar.
Jacinta: Um extraterrestre?
Albina: Pois foi. – disse ela, abanando a cabeça.
Evaristo: Como é que isso aconteceu?
Albina: Ah... bem, aconteceu com o director... é que bateram à porta e era o extraterrestre.
Odete: E o que é que ele disse?
Albina: Bem... o extraterrestre disse... que vinha do Planeta Agostini!
Os outros: -.-"
Ele saíram dali e foram para o corredor.
Jacinta: Nunca mais encontramos os óculos.
Odete: E eu não vejo quase nada...
Evaristo: Animem-se! Olhe, vejam lá se sabem responder a esta adivinha. Qual é o animal mais triste?
Odete: Hum... não sei...
Jacinta: O Camelo?
Evaristo: Não. É o touro, porque a mulher é vaca!
Jacinta e Odete: -.-X
Eles continuaram a procurar, mas nunca mais encontravam os óculos.
Evaristo: Já estou cansado. Mas vale comprares outros óculos.
Odete: Mas aqueles têm valor sentimental. Foram comprados na Multi-ópticas com oitenta porcento de desconto!
Evaristo: Isso faz-me lembrar... sabem qual é a diferença entre um advogado e uma cebola?
Jacinta: Não, mas tenho a certeza que tu nos vais dizer.
Evaristo: É que quando metemos a faca numa cebola, choramos.
Jacinta: Pois... que engraçado... bom, Odete, eu levo-te ao teu quarto e vais mas é descansar. Procuramos os óculos depois.
Odete: Está bem.
Evaristo: Até logo.
A Jacinta levou a Odete até ao quarto.
Jacinta: Pronto. Agora vais deitar-te um bocadinho.
Quando elas chegaram perto da cama, os óculos estavam na mesa-de-cabeceira.
Jacinta: Então mas... os óculos estão aqui! – gritou ela, surpreendida.
Odete: Ai estão?
Jacinta: Claro que estão! Mas tu não os vistes?
Odete: Eu não. Sem óculos não vejo quase nada...
Jacinta: Mas tu disseste que não estavam no teu quarto.
Odete: Ai disse? Não me lembro...
Jacinta: ¬¬
E assim terminam as quatro primeiras partes da história. O que acham das maluquices do Evaristo, da Odete, da Jacinta e do Barnabé? Não percam o próximo capítulo!
