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- Charlie não! – Gritei.

Mas já era tarde demais...

- Oh.. Droga! Ele está vivo? – Perguntou enquanto descia do carro.

- Acho que não... – Procurei não olhar o cachorrinho que meu pai acabara de atropelar. – Como você não viu ele aqui?

- Olha o tamanho dele! Parece mais um rato do que um cão.

- O que aconteceu? – Minha mãe apareceu preocupada. – Ai meu Deus!

- Papai é um assassino. – Expliquei.

- Foi um acidente Bells, você é minha testemunha. – Ele olhou para os lados de um modo suspeito. Para se certificar de que eu era realmente a única testemunha.

- Você fez de propósito não foi Charlie? – Renée questionou decididamente irritada. – Você reclama dos latidos do pobrezinho sempre que escuta.

- Vou admitir que esse rato me dava nos nervos... – Ele dizia enquanto massageava as têmporas.

- O que vamos fazer com... O corpinho? – Perguntei me sentindo mal pelo yorkshire.

- Quem vai dar a notícia... – Renée olhou sorrateiramente para a casa do vizinho.

- Eu vou, fui eu que fiz isso e... – Charlie me lançou um olhar piedoso. – Bells?

- Ok, eu vou com você... Mas tente ser delicado pai!

Meu pai era uma boa pessoa, mas não tinha muito tato.

- Seu cachorro morreu parece bom para mim. – Ele deu de ombros.

- É melhor eu dar a notícia... De quem era o cachorro? – Perguntei para minha mãe que sempre estava a par sobre tudo da vizinhança.

- Não me lembro o nome dela... Se mudou faz um mês eu acho. – Renée informou enquanto espiava a casa novamente. – Vou fazer um bolo como pedido de desculpas.

Dito isso ela correu para a cozinha. A minha mãe sempre tentava animar uma situação ruim com bolo, quando eu me sentia triste por algo na escola ou quando quebrava algum osso e precisava ficar em casa de repouso, ela fazia um bolo ou algum doce para alegrar a situação. Mas infelizmente não acho que "meus pêsames" de glacê vão melhorar o humor da nossa nova vizinha.

- Ah Bells, como foi na entrevista? – Meu pai perguntou enquanto caminhávamos para a porta da casa ao lado.

Ah, isso...

- Eu tentei ser simpática com a Editora chefe... Mas acho que ela não gostou de mim...

Resolvi não contar ao Charlie que eu derrubei café quente na mulher e quando eu fui "tentar" melhorar a situação, me vi apalpando os seus seios na tentativa de secar com um lenço que eu encontrei. Ah e aproposito, o lenço era de uma cliente importante. E pelo olhar dela, devia ser caro também.

Perdida na minha lembrança lamentável, não reparei que Charlie já havia tocado a campainha. Pois o que me fez sair dos meus devaneios foi o cara mais lido do mundo.

- Olá? – A voz era musical. – Em que posso ajudar? – Ele perguntou confuso.

- Seu cachorro morreu! – Falei.

Acho que comecei a transpirar.

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Até domingo que vem !