Capítulo 1 – Refletindo o brilho vazio.
Fazia um clima ensolarado, porém ainda sim muito estranho tanto para minha sensação térmica quanto para minha impressão pessoal. Era normal que eu não estivesse muito adaptada por ser uma garota-morcego mesmo me atirando as ruas a procura de mais "caças" já que era uma caçadora de pedras preciosas, mas desta vez que não estava a procura de jóias... Estava à procura de um lugar, daquele lugar, em que tanto tempo não havia voltado a ver.
Não podia ser nada mais que o Club Rouge. Por incrível que pareça, nem eu tinha entendido o porquê de muito tempo sem freqüentá-lo, a questão mais provável era que a G.U.N havia arrancado grande parte do meu tempo, chegando até a dormir por lá ás vezes. Pousei na frente no antigo bar e pude confirmar minha crença de que não mudou nada. Isso acalmou grande parte da saudade que causava uma estranha pressão dentro de mim.
Entrei no local que pela primeira vista as características que conhecia também não mudaram, não sabia se era normal eu ter a sensação de velho sendo que o lugar insistia contrariar a minha impressão. Enquanto andava eu passava os dedos nas paredes macias e escuras. A primeira coisa que fiz questão que ver era o balcão e as longas prateleiras com diversas bebidas, naquela parede o tom roxo forte de luz iluminava dando um contraste atraente e reconfortante para mim. Sentei-me no banco, assim o velho amigo balconista me recebera, era o modesto Gaspar.
- Quanto tempo Rouge... – Se aproximava enquanto enxugava a taça de vidro com o pano. Sorriu com doçura, uma das coisas que gosto muito nele, me faz sorrir de volta quando ele faz isso.
- Oh Gaspar! - Abracei-o mesmo ocupado o balcão incomodava nosso abraço o que me fez interrompê-lo tornando a me sentar. – Não sabe o quão é bom te ver novamente!
- Que tal um drinque? O de sempre? – Sugeriu já preparando-o.
- já que já está o fazendo. – Dei um pequeno riso sedutor. – Você sempre sabe à hora certa para me fazer o que me agrada... – Suspirei com profundidade. Ainda sentia aquele peso no peito. Mudando minha expressão para preocupante.
- O que houve? Parece cansada!
Uma coisa muito marcante nele é que ele é um bom observador, nota com muita facilidade as pessoas e lugares onde passa, era inevitável, mas tirando a isso eu estava realmente mal. Sentia o corpo arder á pressão surgindo uma leve dor de cabeça e para completar falta de ar viera de modo enjoativo. Tomei logo num só gole para aliviar de um jeito imediato, meus olhos estavam quase se fechando, estavam cansados de assistir tudo daquele modo tenso e concentrado por tantas horas.
Os ombros e as asas resolveram protestar com mais vontade caindo, já não conseguia os sustentar. Isto forçou também o rosto não forçar mais a inútil expressão de "Tudo bem!" o gole deu um refresco ao corpo, porém não durou muito tempo, suspirava profundamente, deixando por fim os olhos se fecharem. Fazia esforço para pensar em algo, mas me viera o que tanto me perturbava.
- Gaspar... Agora eu me pergunto... –Olhei firme. – será que minha vida só era baseada nisso?
-No que? – Perguntou confuso, franzindo as sobrancelhas e deixando a cabeça cair para o lado.
- Em roubar jóias? – Ele fez uma pausa, se afastou centímetros de mim tentando entender.
- Você parece que está falando como aquele equidna vermelho que você falava antes? – Estranhou sem pestanejar. – Que quer dizer?
- Minha vida valeu à pena?
- Não posso responder isto, apenas você pode! Não sei sobre sua vida completa! – Insinuou rápido, apelando para que não complementasse a pergunta. – Todos os seres de vida inteligente Rouge têm a obrigação de viver, sendo a vida boa ou ruim, rica ou pobre, até mesmo inútil. Se você viveu e já tem algo para contar considere isso uma coisa boa!
Inspirei fundo, o que ele tinha falado era, sem dúvidas, certo. Reanimou-me um pouco, passava com delicadeza meus dedos sobre a taça, traçava-o detalhando a posição dos dedos sobre vidro que delineava todo o formato e no final passava o dedo indicador sobre a boca. Lembrava de um milhão de coisas ao mesmo tempo deu um leve sorriso sedutor... Acho que finalmente tinha encontrado tal resposta.
- Sabia que aqui eu iria encontrar a resposta! – Exclamei acomodando- me na cadeira juntamente apoiando o braço no balcão.
- Quem procura acha! E procurar é um dos seus dotes! – Rimos. – Mas por que esta pergunta te assombrou? Tem uma vida tão vazia assim? – Suavizou a voz procurando não errar.
- Agora eu já nem sei te dizer, entretanto vazia nunca foi. Creio eu que eu me perguntava qual é meu objetivo e o que conquistei com todo este tempo de vida.
- E então o que conseguiu? Conte tudo. – Olhei-o admirando sua curiosidade.
- Curioso... –Balbuciei com ironia. – Por que será?
- Talvez seja porque você está sempre com algo interessante para dizer... Porque não contar agora?
- Já que quer saber, eu vou contar...
