Estava chovendo. Mas isso não importava para ele, pois chuva era algo tão normal e presente quanto dor. Dor que o queimava tão intensamente, os olhos ardiam, a pele ficava em brasa, o coração parava por um único momento. Por que não para sempre?

E a chuva que caia, do céu e dos seus olhos, fazia-se ouvir por todo canto. Soluços breves, trovões pesados, relâmpagos que clareavam e gemidos – de dor, pois era tudo o que sentia – que escureciam.

Alguém me salve, alguém me mate. Alguém me tire ou me coloque. Alguém me explique, mas não me diga, alguém, alguém... Só alguém. Preciso de alguém que me mate, me tire, não me explique. Preciso de alguém que me queira!

O coitado gritava, pensando que alguém ouviria. Como? Como ouvir quem não grita, como dar a quem não pede? Ele não ligava para isso, porque lhe importava precisar. Não pensava na razão ou na forma. Precisava, apenas isso. Precisava sair da chuva e parar de escutar os trovões. Precisava estar no sol e não pensar nos relâmpagos.

E do que adiantava não pensar em relâmpagos, e em sorrisos, e em trovões, e em risadas, e em lágrimas, e em cabelos dourados? Do que adiantava não pensar em Granger se ela voltaria de novo? A tempestade sempre volta, sempre volta, sempre volta. E isso não mais importava para ele, pois gostava de estar na tempestade.

Ele gostava de vê-la voltar todos os dias, os olhos baixos, a chuva mansa, as mãos trêmulas, as árvores que cantavam uma melodia fúnebre. E ele então esperava. Esperava a tempestade voltar. Sempre esperou. Ela sempre chegou.

Mas dessa vez ela vinha protegida. Tinha nas mãos o vermelho sangue, tal sangue que a protegia. Tinha nos olhos os trovões, tais trovões, que ele não escutava. E tinha no coração tais relâmpagos, relâmpagos que não o iluminavam. Ela a tinha, sempre tinha. Mas não parou dessa vez. Ela passou direto, sem olhar para trás. E tudo se foi, menos o vento. O vento e a brasa que o queimava. O vento e seus pensamentos tão pesados. Isso, ele lamentava, o vento não conseguia levar.

A tempestade fora embora.