Título: A poesia das ruínas.
Autora: Nanda Magnail.
Censura: M.
Notas: Essa fanfic demorou de sair. Um ano e alguns meses escrevendo. Foi um daqueles plots que me perseguiu, que me fez fazer anotações no celular por conta de citações e cenas que eu sabia que acabaria esquecendo. Um plot que eu não poderia escrever em qualquer momento, porque ele precisava de um clima diferente e não poderia dar errado. Não poderia permitir que ele saísse errado. Era para ser uma oneshot, mas como as coisas andam difíceis para o meu lado decidi que vou postar em partes. É isso ou essa fanfic nunca veria a luz do dia.
E para uma história tão difícil de ser escrita, dedico a uma pessoa excepcional: minha quenga Perséfone. Pers, espero que você goste. Ela foi bem problemática e demorou bastante para sair, mas não poderia te presentear com nenhuma outra fanfic além dessa. Era o que eu tinha em mente desde que o plot apareceu para mim.
Qualquer erro, perdão, a fanfic não foi betada. Bem, espero que todos vocês gostem.
A POESIA DAS RUÍNAS
Para Perséfone Black.
Com amor,
da sua cafetina
001
the carnage of the fiery sun
open up your eyes
you keep on crying
baby, I'll bleed you dry
skies are blinking at me
i see a storm bubbling up from the sea
and it's coming closer
Kings of Leon, Closer.
Fora em um dia como aquele que ele a conheceu.
Naquela época, ainda vestia Armani e tinha tanto dinheiro na conta bancária que sequer conseguiria contar. Tinha suas próprias leis e regras, pois as do mundo ficavam inválidas perante o poder de seu nome.
Agora, a sensação da terra cedendo à força dos seus pés descalços e das gotas de chuva molhando seu rosto era uma das melhores coisas que poderia sentir. Tinha gosto de liberdade – daquela que antes pensava ter e a da que achava ter conquistado.
X
"Posso me sentar aqui?"
As notícias no jornal não eram interessantes, e o mundo fora daquelas janelas também não. Altos e baixos da Bolsa, senhoras comentando sobre os problemas no casamento real, promoções para férias em Cancun, o bebê chorando a alguns metros de distância. A voz que interrompe seu silêncio é insegura e baixa, como se ainda não estivesse acreditando no que estava fazendo. Relutantemente, ele ergue os olhos cinzentos para a figura agasalhada a sua frente, que carregava uma pequena sacola com um embrulho de tons em verde e vermelho. Com um aceno de cabeça seu, ela senta na cadeira à sua frente, chamando o garçom logo em seguida. Um muito ruivo e atrapalhado passou em sua mesa para deixar o seu pedido, e a mulher em sua frente aproveitou e pediu um mocha coffee shake com mais chocolate do que chantili, rápido, por favor.
A situação era tão simples que parecia uma daquelas cenas de filmes antigos – tão trágica quanto, apesar da única tragédia foi tê-la conhecido.
Era véspera de natal, pessoas corriam em todas as direções em busca dos últimos presentes, e naquele cenário caótico havia uma mulher tomando uma bebida gelada em um dia frio, parecendo bastante despreocupada em relação à data festiva. Não que ele estivesse querendo aumentar o número de embrulhos embaixo da sua árvore, mas era um ritual particular ir todas as manhãs até a cafeteria a dois quarteirões do seu apartamento, tomar um expresso e começar seu dia. O feriado já era uma quebra na sua rotina, e agora havia esta pessoa comum demais, indiferente demais, sentada na sua mesa, tomando uma bebida gelada em um dia frio.
E eles eram apenas dois estranhos compartilhando uma mesa. E deveriam ter sido, mas não foram.
"Você não se importa de tomar isso nesse frio?", questionou com o tom de voz ameno.
Ela pareceu surpresa por um momento, e um brilho de medo pairou no castanho dos seus olhos, mas ainda assim os ergueu para encontrar os seus, esquecendo o caos lá fora. "Na verdade não", e foi tudo o que disse naquele momento.
X
"Ainda dá tempo de desistir", tentou argumentar em seu último fio de esperança. "Isso vai estragar tudo, Ron, tudo...".
"Já chega, Hermione. Nós já discutimos isso antes e não é logo agora que faremos isso", disse o homem enquanto fechava a porta do carro. Seu tom de voz encheu-a de apreensão, temor e muitas outras coisas horríveis que não deveria sentir ao lado dele. Não era certo. Ron era bom, sempre fora, mas o homem ao seu lado poderia ter os mesmos cabelos ruivos e a mesma voz, mas não era o seu Ron. O homem ao seu lado tinha o olhar de alguém que havia se perdido no meio do caminho.
A dor fazia coisas terríveis com a mente de uma pessoa.
"Você se lembra do Harry? E da Ginny? E do bebê? É bom você lembrar, Hermione, porque é por eles que estamos fazendo isso. Você não pode desistir. Você não pode se dar ao luxo de esquecer."
Girou a chave do carro e deu a partida. Não havia mais volta, de qualquer jeito. Ela sabia, os dois sabiam, mas ainda assim ela precisava tentar. Deus, isso não é certo, é tão injusto...
"Alias, nós já estamos fodidos, não tem como ficar pior. Ao menos podemos levar um pedaço daquele maldito conosco."
X
Ron, em toda a sua ignorância, não poderia estar mais errado. Poderia ficar pior, muito pior. O inferno para aqueles que amam e sofrem e perdoam.
Apesar disso, ninguém poderia prever o que aconteceria.
O problema das tragédias é saber que tudo está fadado a dar errado desde o início. E eles não poderiam ter começado de um jeito pior.
X
Assim que a consciência o alcançou, foi atropelado por várias sensações. A primeira de todas era a dor ao redor das têmporas, que se misturava ao enjoo e o frio. A segunda era a desorientação. No meio de tanto atordoamento, encolheu-se inconscientemente ao ouvir o som de uma porta rangendo, passos e um riso de escárnio.
Quando teve a coragem de abrir os olhos, pontos brancos enchiam a sua visão, mas ainda assim conseguiu enxergar uma silhueta masculina descendo as escadas, indo ao seu encontro.
"Hermione, ele acordou."
Hermione, a estranha da cafeteria, um ponto destoante na sua vida de tons beirando o preto e branco. Hermione, que tem a fala mansa e indiferente, digna daqueles que sabem demais. Hermione, que fora a última pessoa a ver antes de suas lembranças se tornarem areia escorrendo por entre seus dedos.
Hermione, a filha de uma puta.
"A droga deve estar perdendo o efeito, já era tempo."
Piscou os olhos, atordoado. Aos poucos as coisas ficavam nítidas em sua mente. O lugar onde se encontrava parecia ser algum tipo de porão, as paredes descascando um papel de parede avermelhado. O ar estava pesado, com um forte cheiro de mofo, e estava deitado em um colchão em frente da escada onde os dois estranhos se encontravam.
A silhueta pequena tomou forma quando se aproximou. Hermione tinha prendido o cabelo, e isso a fez parecer quase uma criança, com o nariz arrebitado e a boca proeminente. Quando ela se atreveu a tocar sua bochecha para verificar seus olhos, empurrou-a com raiva.
"Sua vagabunda estúpida, onde eu estou?!" gritou.
Um punho forte o acertou em cheio antes de concluir devidamente sua pergunta. Encostou-se na parede, enjoado. Seu rosto estava molhado e doía como u inferno, então provavelmente o maldito havia quebrado seu nariz. Conseguiu equilibrar-se o suficiente para levantar e encarar seu agressor.
"O quê? Agora vai me bater até a morte?" perguntou com escárnio, apesar de suas mãos continuarem tremendo. Disse para si mesmo que era apenas a droga.
"Ron, não!..."
Recebeu um soco na costela por conta do seu atrevimento. Quando havia se curvado de dor até estar novamente deitado, recebeu um chute no peito. Sentiu o ar escapando de seus pulmões e uma dor lancinante no local. Conseguia ouvir vagamente a voz de Hermione implorando-o para parar. A voz estava distante, como antes, mas dessa vez ele estava sangrando e provavelmente com uma costela quebrada.
Ouviu o som de algo se quebrando e passos apressados. A inconsciência o abraçava novamente, e antes que a escuridão o alcançasse, Hermione estava novamente em seu campo de visão. Havia enfiado alguma coisa macia em suas narinas antes de colocá-las no lugar. A dor o fez gemer alto.
"Me desculpe", foi o que ela disse, e não parecia estar se referindo apenas ao nariz quebrado.
N/A: Por enquanto ficamos por aqui. Já tenho alguns parágrafos prontos para a segunda parte, mas não sei quando irei continuar a desenvolver. Falta tempo, falta vontade e sobra preguiça. Acho que é compreensível. Reviews?
.
Publicado em: 06/07/2013.
Atualizado em: 17/04/2014.
