Fic escrita para o projecto Em Busca Dos Personagens Perdidos - Ficletes, do fórum Marauders Map.


Forgetting

Ela gargalhava alto. Gargalhava em vez de gritar, soltava o riso em vez das lágrimas. Ria porque não mais conseguia mais chorar. Não assim, não por ele.

A garrafa de vodka que segurava na mão esquerda já ia a meio, os sapatos de salto já estava algures, perdidos entre a suavidade da erva daquele enorme jardim. Os cabelos negros esvoaçavam ao vento forte ao mesmo tempo que a garrafa de vodka voltava a tocar nos lábios vermelhos, deixando-a beber mais daquele veneno que lhe queimava o corpo e lhe sujava a alma.

Beber para esquecer, era o diziam. E, para Pansy, essa parecia ser a melhor solução no momento. Não conseguia lidar com a realidade naquele momento, então que a loucura do álcool lhe permitisse esquecer e, por míseros instantes, acreditar que era feliz.

Abriu os olhos castanhos ao sentir uma gota de água sobre o seu rosto. Levantou a mão que não segurava na garrafa, sentindo a chuva a cair, provando a si mesma que não estava a alucinar. Voltou a gargalhar enquanto a tempestade se intensificava e as suas roupas começavam a ficar coladas ao corpo. Sentia o frio do vento sobre a pele como se cada gota de chuva que lhe tocava abrisse mais uma janela.

A garrafa novamente sobre os lábios, mais álcool corria-lhe para a boca, descia-lhe pela garganta, queimando o que a chuva gelava. Pansy ainda conseguia lembrar-se do rosto dele, da cor impessoal dos seus olhos, do loiro platinado dos seus cabelos. Ela precisava de esquecer, precisava de o esquecer, mesmo que por momentos.

Afastou os braços, ouvindo a sinfonia que o vento e os trovões tocavam, rodopiando lentamente, sorrindo de forma insana, sem querer controlar nenhum dos seus movimentos. Estava completamente encharcada, a maquilhagem borrada como se tivesse chorado por horas a fio, o corpo trémulo lutava por se manter em pé, a alma desfeita iludia-se com o efeito do álcool.

Escorregou na erva molhada, deixando-se cair de costas e ficando a encarar o céu carregado de nuvens. A vokda na sua mão, firmemente segura, os cabelos espalhados, uma perna dobrada, os braços abertos, recebendo a chuva que lhe lavaria o corpo de todos os seus pecados. Sorriu, naquele momento não existia dor, não existia sofrimento, não existia Draco, nem existia Astoria. Naquele momento, perdido no meio de um temporal, apenas existiam as lágrimas de chuva que ela, incoscientemente, chorava e o álcool que lhe deixava falsamente feliz.

A chuva purificava-lhe o corpo enquanto o álcool lhe queimava a alma e Pansy se perdia na ilusão de uma felicidade inexistente. Tudo estava bem, tudo ficaria bem. Ou assim ela acreditava.


N.A.: Reviews são bem vindos.

Just