O rio Spinner estava cada vez mais sujo, assim como a neve e a velha Spinner's End. As casas velhas e descascadas tinham algumas daquelas luzinhas trouxas de enfeite, mas mesmo assim não me parecia que era a véspera de Natal.
Não que eu já tivesse tido um Natal de verdade em casa. Quando eu era criança, tínhamos um jantar simples e trocávamos poucos presentes; não éramos mais uma família rica. Meu pai nunca me dera nada ou se importava com os presentes que eu dava pra ele, o maldito. Ele me odiava por ser uma aberração e desprezava minha mãe por ter dado à luz a aberração.
Invejoso.
Mas esse também não é um pensamento muito natalino.
E por que eu deveria me importar com isso? Quero dizer, o Lorde das Trevas não apóia a comemoração do Natal pelos Comensais da Morte. Ele acha que isso é uma maneira de deixá-lo de lado para adorar outra pessoa.
Mas, pra falar a verdade, eu também não me importo muito com ele.
Eu sinto mesmo falta do único natal que passei em Hogwarts. Era tão feliz, e, ao mesmo tempo, tão triste de lembrar...
Enfim, esquece. Há três anos meus feriados de final de ano se resumem a missões dadas pelo Lorde das Trevas, ou, mais freqüentemente, à leitura dos velhos livros da biblioteca dos meus pais ou a caminhadas sem rumo como essa.
Ao meu lado, o rio se vira para carregar seu lixo a oeste. Sem ele, a paisagem começa a ficar até agradável: as luzes ficam bonitas com a neve caindo e o céu escuro, apesar de ser apenas sete horas da noite.
Estou a uma quadra do parquinho onde nós brincávamos.
Aquele lugar me trazia as mesmas boas e indesejáveis lembranças. O pior é que fui eu que destruí tudo.
Estúpido.
E ainda estúpido. Pra quê me torturar com aquilo de novo? Eu podia ter voltado pra casa ou escolhido outro caminho, mas não, segui em frente.
