Era um tipo de vontade que não poderia ser explicada nem com um dia de pesquisa assídua na maior biblioteca do mundo. Nem os maiores artistas poderiam lhe soprar o que era, de fato, aquilo que o consumia como uma espécie de doença, e se alastrava por todo seu ser. Ele nunca fora adepto a lidar com sentimentos, não sabia como proceder, nunca sabia quando estava sentindo algo. Sai era, definitivamente, um pergaminho em branco, e sentimentos exteriores, muitas vezes, o pintavam aqui e ali. Mas ele nunca sabia o que era de fato, pois eram coisas indistinguíveis, imperfeitas. E ele, por sua vez, ia em busca da resposta sozinho.
Por vez, agradecia mentalmente suas habilidades excepcionais por chegar até ali sem fazer barulho e sem chamar atenção. Afinal, já era pra lá da madrugada. Postou-se em um ângulo da janela da garota que desse para observá-la bem. Para sua surpresa, ela dormia nua. Aquela informação lhe deu comichões na barriga, os quais, mais uma vez, não conseguiu explicar pra si mesmo.
O modo como aquele punhado de oxigênio, carbono, hidrogênio e de tantos outros elementos podiam formar algo com tão belas formas, curvas, simetria era algo que se questionava. Em sua percepção de artista, aquilo era o que poderia chamar de harmonia, aquele monte de genes recessivos que deram a liga para sua pele tão clara, aos seus cabelos róseos, aos seus olhos verdes.
Sua visão merecia um desenho, mas temia que o monocromático não desse conta de todos os detalhes que eram obrigados a serem retratados. Pelo menos teria algo no qual se apoiar, caso a vontade prevalecesse outra vez. Por impulso, foi chegando mais perto, e mais perto, a ponto de entrar no quarto dela. Ia fazendo rabiscos, não queria perder um detalhe daquela magnífica obra viva que seus olhos presenciavam. Ficou ali por horas a fio, rabiscando e rabiscando.
A menina ressonou. Ele permaneceu ali, aparentemente impassível, prosseguindo seus rabiscos.
"Eu sei que é você, Sai." Ela disse, constipada.
Logo ele não estava mais ali.
Amanheceu, a aurora pairava lá fora.
N/A: Feliz 2013 pra vocês. Entendam essa fanfiction aqui como quiser.
