Resumo: Aparentemente impossível. Entretanto, quis o Destino que as vidas de Hilda de Poláris e Shura de Capricórnio fossem entrelaçadas pelas forças da dor, da guerra... E do amor.
Aviso: Saint Seiya pertence à Masami Kurumada e às empresas licenciadas.
Para evitar dúvidas quanto aos personagens dessa fanfic, Fler será o nome adotado para a irmã caçula de Hilda (Saga Asgard) e Freiya, o nome da irmã de Frey (Ova: A Batalha dos Deuses).
Boa leitura!
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Destinos Que Se Cruzam
Por Arthemisys
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Naquela tarde cinzenta que prenunciava o final do Inverno, o vento trazia consigo uma considerável quantidade de minúsculos cristais de gelo que se chocavam contra um rosto delicado. Com gestos suaves, a nobre dama tornou a ajeitar o capuz negro contra o corpo branco e magro, retornando à sua caminhada que se tornava uma tarefa um tanto incômoda, graças à neve que jazia no chão e que lhe dificultava os passos.
Porém, não precisou se desgastar muito, pois seus azulados olhos avistaram àquela pessoa que seu coração tanto ansiava ver. Um pouco mais calma, a jovem caminhou até à outra jovem com cautela, a fim de que seus passos não tirassem a concentração dela.
De joelhos sobre a límpida neve, ela acariciava com um carinho muito intenso, um bloco rochoso caprichosamente talhado, onde seus dedos finos contornavam o baixo relevo que formava uma única palavra.
- Siegfried... – a voz finalmente saía, na forma de um sussurro triste e agonizante.
Prevendo ser aquele o momento certo para desperta-la daquele "sonho" repleto de nostalgia, a jovem dama inclinou seu corpo para assim, tocar com as mãos, o ombro daquela que ainda, permanecia de joelhos.
- Hilda... Por favor, se levante.
Ao se virar, Hilda de Poláris percebeu um olhar preocupado sobre si, o que a fez reagir imediatamente.
- Freiya? O que faz aqui?
- Vim buscá-la Hilda. Já está ficando tarde, não percebeu?
- Não percebi que o Sol já estava se pondo, me desculpe.
- Desculpas não são necessárias. Agora vamos, prima.
Auxiliada por Freiya, Hilda se põe de pé e abraçadas, tomam o rumo que as levaram de volta para os seus lares, o Castelo Valhala. Porém, antes de abandonarem de vez aquela enorme campina semeada por pedras sepulcrais, Freiya olhou para trás discretamente, e viu que aos pés do jazigo do guerreiro-deus Siegfried de Double, havia sido depositado um delicado botão de rosa vermelha.
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O Sol terminava seu curso em meio a um vasto mar recortado por enormes blocos de gelo flutuantes. Nesse meio-tempo, uma carruagem que tinha talhado em suas portas o brasão do Castelo Valhala, cortava a sinuosa estrada que serpenteava pela encosta litorânea. Em seu interior, duas pessoas aguardavam com certa ansiedade, o final daquela viagem que se mostrava cansativa, graças às pedras que faziam com que o transporte saltasse de vez em quando.
- Já está começando a escurecer. – Miro, o cavaleiro de ouro de Escorpião observou, enquanto vislumbrava os céus escurecerem mais rapidamente. Não podiam sentir a presença do sol, uma vez que aquelas terras tinham como punição, a eterna ausência do astro-rei. Mesmo assim, a coloração dos céus servia de guias para o anuncio do dia ou da noite.
- E já estamos nos aproximando do Castelo, finalmente. – declarou Shura, o cavaleiro de ouro de Capricórnio cujos olhos castanhos estavam fixos no horizonte rubro.
- Pelo que soube, hoje iremos descansar no Palácio e amanhã, acompanharemos a sacerdotiza de Odin nos festejos que prenunciam à chegada do Primavera.
- O novo guerreiro-deus de Double será escolhido amanhã?
- Sim, Shura. Amanhã conheceremos quem irá ficar no lugar de Siegfried.
Permaneceram mais algum tempo calados, até que Miro voltou a falar:
- Ouvi falar desse guerreiro. Um dos soldados mais leais a Odin...
- E à sua sacerdotisa. – Shura, completou.
Voltaram a se calar. Era óbvio que a perda de todos os sete guerreiros de Odin trazia não somente ao povo de Asgard, mas aos seus governantes, o sabor amargo da derrota de um país e a triste lembrança daqueles que foram perdidos nesse tortuoso caminho traçado pelas batalhas. Entretanto, Siegfried de Double era diferente. A morte daquele guerreiro trouxe à alma de Hilda de Poláris, uma grande ferida que mal imaginavam, ainda não havia cicatrizado.
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Algum tempo depois, no Castelo Valhala...
Tudo já estava devidamente preparado para a chegada dos ilustres convidados. Enquanto os cavaleiros não chegavam, Hilda resolveu se dirigir até o quarto de sua irmã mais nova. De um cabide de madeira ricamente trabalhado, a sarcedotisa de Odin pegou um longo casaco de pele, o vestindo por cima do vestido azul-celeste, que muito se assemelhava às suaves túnicas greco-romanas. Saindo de seu quarto, a nobre atravessou o corredor iluminado, virando à direita e parando em frente à pesada porta. Com cautela, ela girou a maçaneta, abrindo a porta com acurado cuidado. O que viu a deixou de certa forma, preocupada: Fler orava em frente a um pequeno altar feito por ela mesma sobre uma cômoda. Entre os apetrechos religiosos, havia uma pequena rocha talhada na forma de uma lápide. Era o túmulo simbólico de Haguem de Merak.
Ao notar que alguém a observava, a adolescente se virou um pouco assustada e indagou:
- Hilda?
- Fler... – a sarcedotisa notou que os olhos e o rosto de Fler estavam avermelhados, denunciando assim que ela havia chorado há pouco tempo. – Não vai descer? Nossos convidados estão prestes a chegar.
- Sim, eu já irei descer.
E assim, as duas nobres irmãs desceram as escadarias que dariam acesso à sala comunal do Palácio Valhala. Neste cômodo por sua vez, os dois santos de Athena já aguardavam a recepção das princesas asgardianas.
- Fantástico... – Miro murmurava perplexo ao ver a riqueza que preenchia cada pedaço daquele salão.
Os dois homens vestiam suas couraças douradas, como era ditado pelo protocolo das formalidades. Foram enviados por Saori Kido, a atual reencarnação de Atena, a fim de representá-la nos festejos anuais que anunciam a chegada do Primavera. Haviam chegado à residência real não fazia cinco minutos, medidas de tempo contadas por Shura através de um imponente relógio de coluna que lembrava os antigos contadores do tempo europeus.
- Senhores, sejam bem vindos à Asgard e ao Castelo Valhala.
Imediatamente, Escorpião e Capricórnio flexionaram seus joelhos, em reverência às duas presenças femininas que acabavam de adentrar no recinto.
- Permitam-me que eu apresente minha irmã Fler. – Hilda recomeçou e pôde sentir então o olhar dos dois cavaleiros sobre si. A jovem irmã da sacerdotiza por sua vez, segurou com ambas as mãos os lados do vestido branco que usava e fez uma rápida inclinação corporal.
- Em nome de Atena, queremos dizer que nos sentimos honrados pelo convite que foi feito. – finalizou o grego.
Capricórnio por sua vez, permanecia calado, apenas observando tudo ao seu redor. Os olhos castanhos e vivazes também se surpreenderam com o luxo europeu que o castelo aspirava. Mas seu senso crítico se tornou ainda mais cauteloso quando viu as duas damas à sua frente.
"Então aquela era Hilda de Poláriss? Então era aquela dama de feições delicadas e olhar cristalino que um dia empunhou sua espada contra Atena? Isso parecia ser impossível." Assim pensava o espanhol ao contemplar a jovem princesa mais de perto.
Esta por sua vez, retomou as saudações, dizendo:
- Como amigos que demonstram ser, peço-lhes que se levantem. Seus aposentos já estão prontos e os aguardam para que possam descansar.
Nesse momento, vários empregados apareceram, dispostos a levarem os convidados aos seus devidos quartos. Sem mais nenhuma palavra a ser proferida, os dois cavaleiros deixaram-se serem levados pelos servos de Hilda que no momento da passagem deles por ela, não deixou de inclinar levemente o corpo, em sinal de respeito pelos servos de Atena.
Shura a olhou de relance, mais uma vez.
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O dia amanheceu repleto de orvalho e parcialmente iluminado. Nos jardins que circundavam o Castelo Valhala, as cores voltavam a encher de beleza os olhos de quem ali se encontrava. E tomado por essa repentina inspiração que os mais antigos diziam ser vinda de Flora, a eterna deusa floral, Miro resolveu caminhar por entre as baixas paredes que as plantas bem podadas criavam.
Suas vestes se resumiam a uma calça jeans e uma camisa de algodão, escondidas por um pesado sobre-tudo feito de lã. Com as mãos nos bolsos do casaco, o grego admirava o cuidado que os jardineiros tinham àquele pedaço de chão que com a chegada da primavera, certamente se enchia de flores e músicas. E era com pensamentos poéticos que os olhos de Escorpião puderam avistar, sentada em um banco de pedra, a silhueta de uma bela dama.
Quis se aproximar, mas ao mesmo tempo recuou, pensando que poderia assustar a donzela que contemplava o cume de uma montanha, sonhadora. Então olhou ao seu redor e com satisfação, colheu uma singular rosa vermelha que caia preguiçosamente de sua roseira. Se sentido menos perigoso, Miro caminhou até a jovem que não havia sentido sua presença.
- A primavera chegou e trouxe consigo, a sua melhor dama.
A jovem o olhou, mas ao contrário do que esperava, ela não se assustou e sim, lhe ofereceu um belo sorriso.
- Sou apenas uma admiradora dessa estação que está porvir meu caro senhor. Jamais teria tal ousadia de me afirmar como uma dama de honra da deusa primaveril.
- Também afirmo com certeza de que a deusa das flores jamais teria a ousadia de se proclamar mais bela que a você.
- Sem dúvida, é um homem que profana os deuses com palavras suaves.
- Na realidade, sou um homem que não consegue ficar insensível diante de uma mulher tão bela quanto você.
Ele então lhe estendeu a rosa que trazia em suas pétalas, algumas gotículas de orvalho. Ela recebeu a rosa com delicadeza, tomando apenas o cuidado de não se machucar com os espinhos que surgiam de seu caule. Sentindo-se explorada pelo olhar azul do homem a sua frente, a moça corou, fazendo assim, menção de se retirar.
- Vai embora sem nem ao menos me dizer seu nome?
- O que pode valer um simples nome?
- Às vezes nada, mas muitas vezes, tudo.
Distante cerca de cinco metros de distância, ela se virou e disse com um sorriso ainda adornado pelo rubor da face.
- Meu nome é Freya.
- Freya? – Miro repetiu. – Pelos deuses! Estaria eu me apaixonando pela deusa do amor?
Ela se foi sem nenhuma resposta. Miro sorriu, vendo a bela loira de cabelos curtos e ar nobre, desaparecer por entre os arbustos. Sentou-se no banco, pensando no que havia dito.
"A primavera chegou e trouxe consigo, a sua melhor dama? Pela deusa, que cantada mais piegas!" pensou o grego que começou a rir se si mesmo.
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O momento do início do Festejos de Primavera – que também eram conhecidos como os Festejos da deusa Freiya - finalmente havia chegado. Para o povo de Asgard, que há pouco tempo atrás amargavam a tristeza da guerra, viam naquele festejo em honra à deusa do amor, um convite à convivência pacífica.
Na sacada da imponente mansão dos governantes de Asgard, os principais cidadãos – e por conseqüência, nobres – ocupavam uma área considerável de onde se podia ter uma visão privilegiada dos enormes jardins que repletos de cidadãos dos mais diversos níveis sociais, também estavam comportando um palco improvisado e uma curiosa arena.
As princesas de Asgard ainda não haviam chegado. Portanto, as vozes estavam alteradas e as conversas, por sinal, bastante animadas. E nesse ínterim repleto de uma feliz balburdia, os dois viajantes do Santuário acabavam de adentrar na sacada.
Miro imediatamente, começou a inspecionar o local, a fim de ver a jovem com quem conversara mais cedo. A encontrou próxima de outras damas que ao verem os dois cavaleiros, riram baixinho e começaram a cochichar algo que Miro infelizmente não conseguiu discernir. Em compensação, a dama que realmente o interessava sorriu gentilmente, fazendo com que ambos começassem a trocar olhares cúmplices, o que logo foi percebido pelo calmo cavaleiro de Capricórnio.
- Miro, vejo que não perdeu a mania de cortejar insistentemente uma dama.
- Shura. Espero que um dia saia dessa clausura em que vive e que finalmente, possa conhecer a felicidade. – Miro retorquiu, sem retirar os olhos felinos de sua estonteante presa.
- Bom, se ela lhe interessa tanto, creio que o fato dela ser irmã gêmea de Frey, o general do exercito de Asgard, também o deixará interessado. – o espanhol, dando um leve sorriso de escárnio.
- O quê? Ela tem um irmão?
- Sim. Veja.
Shura acenou discretamente para um rapaz de cabelos loiros e possuidor de uma estatura física invejável. Vestia-se nobremente e portava uma espada que tinha em seu cabo, um relevo do brasão da família real. Não precisava ser um adivinho para saber que Frey era um homem de grande influencia naquele país.
Ao avistá-lo, Miro sorriu debochadamente e respondeu.
- Creio que ele ficará feliz em saber que um cavaleiro de ouro deseja pertencer a sua família.
Shura não deixou de sorrir com o comentário do amigo. Se conhecia bem o cavaleiro de Escorpião, sabia que a sua teimosia em relação ao coração da dama só terminaria quando ele finalmente conseguisse o que almejava. Assim, virou-se em direção a porta que dava acesso à sacada, onde no exato momento, Hilda e Fler se fizeram presentes.
Como era de se esperar, todos os convidados calaram-se e à medida que as jovens passavam pelos homens e mulheres presentes, que inclinavam o corpo em sinal de reverencia pela presença real que se fazia ali. Hilda e Fler por sua vez, fizeram o mesmo gesto diante dos cavaleiros. Apesar de saber que toda a atenção estar voltada para ela naquele momento, Hilda sentiu ser observada por Shura que permaneceu sério ao constatar que ela havia se virado em direção aos cavaleiros.
- Espero que a noite tenha sido agradável aos senhores. – Hilda falou, pousando os olhos claros nos negros de Shura.
- Não somente à noite, como o começo dessa clara manhã, minha senhora. – quem respondeu foi Miro, em seu costumeiro tom jocoso.
- Fico feliz... – Hilda não continuou a falar, pois uma leve tontura a fez erguer uma de suas mãos até a altura da testa, sentindo-a suada e fria.
- Hilda, você está bem? – Fler perguntou um pouco preocupada.
- Sim, estou. Não se preocupe. – a sarcedotisa de Odin interpôs, forçando um sorriso que se desfez rapidamente.
Nesse momento, um arauto anunciou não somente à multidão, como também aos nobres que ali se faziam presentes, que o início do festival já estava prestes a começar e que o primeiro evento que abriria os festejos seria o "duelo dos deuses".
- Duelo dos deuses? – Miro indagou.
- É um duelo que define quem poderá ter o direito de erguer a armadura de guerreiro-deus, Miro. – Shura respondeu, enquanto se dirigia ao parapeito da sacada. - Decerto que hoje, a armadura em questão será a que um dia pertenceu ao guerreiro-deus Siegfried.
- Mas pelo que soube – Miro continuou em um tom de voz baixo, como um sussurro. – os últimos guerreiros-deuses não foram escolhidos dessa forma...
- Tem razão, cavaleiro. – Frey respondeu, se aproximando dos cavaleiros. Miro por sua vez, se maldisse por ver que o irmão de Freiya além de tudo, era bastante perspicaz. – Após incontáveis anos, as sete principais armaduras do exército de Odin foram despertas pelo poder da princesa Hilda que naqueles tempos sombrios, era guiada pelo poder maligno do anel de Nibelungos. Hoje, faz-se necessário que haja substitutos para os guerreiros que sucumbiram à batalha contra vocês. Afinal, o povo de Asgard necessita de heróis.
Assim como Shura, Hilda – que não ouviu o teor da conversa entre Miro e Frey - também se dirigiu ao parapeito, a fim de poder ter uma melhor visão da arena que àquela hora, já estava apinhada de expectadores. No exato instante que todos puderam se acomodar, os dois portões extremos da arena se abriram, dando passagem para dois personagens. Shura que de vez em quando dirigia seu olhar – mesmo que de uma forma discreta – para a princesa de Asgard, pode notar que ao ver um dos competidores, seu tom de pele mudou drasticamente.
"Então aquele rapazote deve ser Gunther." – Shura pensou.
Gunther era um jovem de dezoito anos. Possuidor de pele branca e cabelos da cor loiro-mel, era bem mais alto que os jovens do mundo atual, mas naquelas regiões onde seus moradores tinham uma propensão a estaturas físicas grandiosas, podia-se dizer que ele estava na faixa de normalidade. Era magro, mas tinha músculos bem definidos, o que significava que ele era acostumado com exercícios físicos. Mas algo a mais chamava a atenção do cavaleiro de Capricórnio em relação àquele rapaz de olhar fixo e decidido.
O outro oponente também possuía os traços nórdicos, mas seu sorriso era irônico e sádico. A cada passo que dava, era possível sentir um cosmos que além de forte, parecia ser destronador. Era sem dúvida, um combatente hostil. Seu nome? Surtur.
Cabia a Hilda erguer a mão, simbolizando assim que o reino de Asgard permitia o começo daquela batalha de honra. E esta o fez, mesmo sentindo que sua mão tremulava não apenas pela ação da ventania que anunciava o fim de uma turbulenta estação, mas sim, por outros motivos que apenas sua alma poderia conhecer.
Finalmente, a princesa asgardiana efetuou o gesto, fazendo com que a batalha tenha início. Logo, os dois oponentes avançam, demonstrando que não estavam ali apenas para encher os olhos de uma multidão sedenta por emoção, mas na realidade, para provar a Hilda e por conseqüência, a Odin, que poderiam sim obter a honra de envergar a armadura de Double.
- Gunther! Gunther! Ainda pensas que poderá ser um guerreiro-deus? – bradava Surtur, enquanto desferia uma seqüência de socos no oponente que apenas sorria sarcasticamente.
- Eu não penso, uma vez que já a sinto comigo, como se a armadura já fizesse parte de mim, Surtur seu imbecil. – retrucou Gunther, enquanto se desviava dos golpes com maestria.
- Sente ela! Deixe de falar asneiras, irmão do perdedor! – respondeu Surtur, levantando com o pé, um punhado de areia que acertou os olhos de Gunther, o deixando temporariamente impossibilitado de enxergar e aproveitando a fresta aberta, deu um soco traiçoeiro no queixo do rapaz, fazendo com que seu corpo fosse projetado a alguns metros.
Surtur rapidamente se aproximou de Gunther, começando a golpeá-lo com o pé em suas costas. Gunther permanecia no chão, sentindo que alguns dentes haviam se quebrado com o impacto e também, sentindo-se impossibilitado de se levantar, por conta dos chures que recebia. Porém, mais que a potencia dos golpes, o ódio que sentira ao ouvir tal insulto ao seu irmão teve sem dúvida, um efeito mais devastador em seu espírito.
- Senhorita Hilda. – Frey interveio, preocupado com preocupação pelo rumo inesperado daquela batalha. – Erga sua mão novamente, dando fim a batalha. Gunther está em uma situação bastante delicada.
- Frey, não pode pedir isso! – Fler interveio rapidamente. – Sabe que Gunther jamais se perdoaria se porventura perdesse essa batalha. Sabe o quanto ele treinou, o quanto se dedicou para o dia de hoje. Se minha irmã decretar o termino da batalha, será a mesma coisa que decretar o fim de seu sonho.
- Mas senhorita Fler...
Em meio a esse ínterim, Shura pode perceber que o olhar de Hilda parecia perdido em meio a tudo que se passava a sua volta. Era como se seu espírito passeasse entre lembranças, imagens, medos e ânsias. A sarcedotisa de Odin personificava naquele momento, a presença invisivelmente elegante que somente as belas e austeras estatuas gregas poderiam concretizar.
Mas seus lábios se moviam. Ora ligeiros, ora lentos. Quando rápidos, pareciam emanar uma muda oração e quando diminuíam o ritmo, pareciam querer balbuciar uma única palavra ou um nome. Shura se amaldiçoou por não ter entre tantas qualidades que possuía, o dom de poder ler os lábios daquela dama que de forma inconsciente, o intrigava.
- Vejam! Gunther se levantou!
Na arena, Surtur, que havia caido ao chão graças a um soco que desferiu uma curiosa corrente de ar, olhava atônito para um Gunther tomado de um cosmos tão poderoso que sobrepujava o seu centenas de vezes.
- Maldito Surtur. Hoje será o dia da tua maior derrota e humilhação... Arrependerá-se mil vezes por me chamar de "irmão do perdedor".
Mal havia terminado de proferir a frase e todos os que assistiam aquele digladio viram no segundo seguinte, o oponente de Gunther caído ao chão, coberto por uma misteriosa cinza que parecia ser oriunda de um vulcão. Ninguém havia compreendido muito bem como uma luta que a principio pareceria ser tediosa e a favor de Surtur, pode em segundos, virar de uma forma tão impossível. Mas para os cavaleiros de Atena ali presentes, aquela batalha já estava ganha para Gunther, há tempos.
- Ele invocou as larvas subterrâneas... – Miro analisava o instante do golpe que quase ninguém pode enxergar. – No exato instante que ele projetou uma corrente de ar com um soco, em menos de dois milésimos de segundos, ele deu outro soco no chão, abrindo milimétricas crateras que cuspiram fogo...
- A corrente de ar serviu para desestabilizar Surtur que logo em seguida se viu rodeado por lava vulcânica. – Shura interveio. – O resto foi obra da natureza.
- Então o moleque é bom. – Miro completou. – Está na cara que a armadura de Double será dele.
Mas ainda faltava a palavra final de Hilda, ou melhor, o gesto que finalizaria o embate. Shura, assim como todos, virou-se em direção a sacerdotisa esperando alguma reação. Mas o que foi realmente visto fez com que o cavaleiro de Capricórnio se apressasse em direção a Hilda, a tomando nos braços.
- Hilda! – Fler exclamou assustada.
- Ela desmaiou. – Shura respondeu com frieza ao observar o corpo aparentemente inanimado entre seus braços. – Está com muita febre.
Sem nenhuma cerimônia, ele se retirou da sacada com Hilda, sob os olhares atônitos do povo.
- Onde fica o quarto dela? – o cavaleiro perguntou a uma das serviçais do palácio enquanto caminhava apressadamente.
- No final do corredor, senhor!
Os apressados passos metálicos se dirigiram até o aposento da princesa. Tão logo repousou Hilda em sua cama, Shura tratou de verificar a temperatura dela novamente. Sua mão percorreu as temporas, até as maçãs do rosto dela. Sentiu que a temperatura corporal era consideravelmente alta, assim como a maciesa que sua pele. Aquele simples contato, fez com que o cavaleiro sentisse que sua pele arrepiasse e por mais que quisesse, seus olhos não deixavam de contemplar a jovem que começava a recobrar os sentidos.
- Onde... Estou?
- Em seu quarto, majestade. – Shura respondeu, afastando-se de seu leito. – Teve um desmaio por causa da febre.
- Febre? – Hilda indagou instintivamente. Talvez fosse o grande peso da responsabilidade que trazia consigo, ou então, a pouca preocupação que dispensava para si mesma nos últimos tempos. Na verdade, o fato era de que a sarcedotisa estava fraca há vários dias, o que fez com que seu corpo reclamasse por cuidados.
- Obrigada... Guerreiro.
- Hilda...
Nesse exato instante, entraram no quarto Fler, Freiya e Miro.
- Hilda! Irmã, o que aconteceu?
- Ela desmaiou devido à febre. – Shura respondeu.
- Fler, peça a uma das servas para trazer água morna e lenços limpos. – Freiya pediu enquanto se aproximava do leito de Hilda.
- Ela precisa descansar. – Shura outorgou. – Vamos Miro.
Antes que deixassem aquele cômodo, os cavaleiros puderam escutar a princesa asgardiana indagar, mesmo enfraquecida.
- E Gunther?
Miro se virou para ela e respondeu:
- Venceu a luta e Frey o proclamou guerreiro-deus.
O grego e o espanhol puderam ver um sorriso cristalino surgir em meio aquela face cansada pela fraqueza física. Shura também sorriu, como se quisesse fazer de seu sorriso, o melhor companheiro para aquele outro sorriso que já havia se desmanchado nos lábios da sacerdotiza de Odin.
- Por Afrodite, a deusa. Como a princesa Hilda é linda! Jamais teria coragem de feri-la, pelo contrário... – Miro comentava enquanto caminhava pelo corredor, com Shura.
Ao perceber o semblante distante do amigo, o escorpiano alfinetou:
- Diga-me Shura... Como foi a sensação de ter aquela linda mulher em seus braços?
- Miro. – o capricorniano respondeu, o encarando seriamente. – Cale-se.
- Ora, ora! Eu só fiz uma inocente pergunta! Está muito nervoso por pouca coisa! Sabe o que você deveria fazer? Pedir férias à Atena e ir para a Espanha, a fim de descansar e também, pegar uma espanhola bem quente e...
Enquanto Miro continuava com seus conselhos, as únicas reações que passavam pela mente do espanhol foram: "Partir Miro ao meio."
- Err... Shura. – Miro tornou a falar, sentindo que o amigo já o partia ao meio, apenas com o olhar. – Seu quarto é aquele ali, esse é o meu quarto.
Uma indiscreta gota de suor rolou pela testa do espanhol que respondeu rapidamente:
- Eu sei!
Ao ver o amigo entrar no seu quarto, Miro suspirou, pensando: "Será que ele se apaixonou?"
Vendo-se sozinho, o espanhol retirou a capa que as ombreiras de sua armadura sustentavam. Por mais que tentasse, sua mente não conseguia se desviar da imagem da princesa asgardiana. E não somente a visão, mas também a sensação daquele corpo perto do seu, o perfume que exalava... Já havia ouvido falar muito dela, de sua infinda bondade e também de seu ímpeto de fúria. Entretanto, nada, nenhuma palavra poderia sintetizar o que aquela mulher significava realmente. Todavia, Shura de Capricórnio já começava a compreendê-la, quando sussurrou instintivamente:
- Hilda de Poláris... Você é única.
...x...x...x...
Florestas de Asgard.
O vento frio sacudia com violência o capuz negro e mal cheiroso que aquele homem de estatura gigantesca usava. Mas a ventania noturna não lhe significava nada, uma vez que sua ânsia em chegar à caverna também conhecida como a "Morada de Fafnir" era sem dúvida, bem maior.
Logo, seus olhos puderam avistar a entrada da caverna completamente soterrada por pesadas rochas. Sentado sobre uma delas, outro homem o aguardava.
- O que está fazendo aqui, completamente exposto! Por acaso quer que nos descubram!
Indiferente às ameaças do gigante, o homem se levantou e se ajoelhou a sua frente, dizendo:
- Não seja tão dramático, mestre. Ninguém nos reconhecerá, depois de tanto tempo. E se por acaso isso acontecer, sem dúvida nos chamarão de fantasmas.
- Puf! Não é a toa que lhe deram o nome do nosso grão-mestre.
O homem que estava ajoelhado sorriu. Mas o seu momento de descontração parou quando o outro começou a falar.
- Dois dias. Apenas quarenta e oito horas.
- Mestre, os Berserkers já estão a postos.
- Espalhados da forma como eu lhe ordenei?
- Sim. E em cada região, estão recrutando mais soldados. Creio que nesse exato momento, nosso exército está contando com mais de dois mil homens.
- Perfeito. – dessa vez, foi o gigante a sorrir. – Eles não terão a menor chance.
- E quanto a eles?
- Está falando daqueles dois cavaleiros de ouro?
- Sim.
- Não se preocupe. Eles partirão de Asgard amanhã.
De repente, a caverna começou a emitir sons que se assemelhavam a grunhidos de um animal em fúria. Os dois homens começaram a gargalhar.
- Está ouvindo? Fafnir está prestes a se libertar de sua prisão subterrânea, meu mestre!
- Sim! E junto com o dragão, o nosso deus!
- Finalmente...
- Sim! Finalmente nosso senhor conhecerá a liberdade! E nós, o poder por estarmos servindo a ele!
Ainda ouvindo os sons vindos da caverna lacrada, o gigante olhou em direção a estrela Poláris e com um extremo ódio no olhar claro, cerrou os punhos, dizendo:
- Hilda de Poláris... Suas horas estão contadas!
Continua...
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Berserkrs: guerreiros enfurecidos que desprovidos de armadura, lutavam dominados por uma espécie de frenesi louco chamado berserksgangr. São designados pelo termo berserkr ou bare sarkr, isto é, "camisa de urso". Costumavam aparentar ursos, ou usar peles de ursos, e possuírem a mesma força e selvageria desses.
Gunther: herói nórdico, irmão do também herói Siegfried. No épico Das Nibelungenlied, Gunther foi auxiliado por seu irmão Siegfried a conquistar a valquiria Brunhild, usando sua capa mágica Tarnkappe. A mesma artimanha foi usada por Siegfried para consquistar a vassalagem de Gunther, ao derrotar os exércitos de seus inimigos, Saxões e Dinamarqueses.
Fafnir: Um gigante metamorfoseado em dragão. Filho de Hreidmar, e irmão de Andvari e Ottr. Fafnir matou seu pai para apoderar-se do tesouro que teria de dividir como os irmãos, e transformou em dragão para melhor proteger o tesouro. Algumas lendas contam que Siegfried matou Fafnir.
Surtur: Mestre dos gigantes de fogo, responsável também pela destruição de Asgard, no dia do Ragnarok. Sua morada se chama Musphelhein ou Muspellsheim, significa "Casa da Desolação". Era uma zona quente de onde se dizia terem originado os primeiros seres vivos. Situa-se no Sul, por oposição a Niflheim no Norte. A partir das faíscas de Muspelheim foram criados os planetas, cometas e estrelas.
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Notas da autora:
Essa fic surgiu após insistentes pedidos de uma amiga (Luluzinha Bay) que queria ler uma fic com o casal - mais que impossível – Hilda e Shura.
Infelizmente, eu sou péssima escrevendo com os cavaleiros dourados. Por isso, peço desculpas se eu tiver cometido deslizes nesse primeiro capítulo.
E finalmente, o meu "muito obrigada" vai para a Alana, Analuisa, Juli.cham e Priscilla Gilmore que me deram a maior força para escrever essa fanfic.
Até o próximo capítulo!
Arthemisys
