Título da fic: Sentido Obrigatório

Casal: Camus x Milo

Sinopse: U.A./ Camus-Milo Francês, ruivo, elegante… o instrutor perfeito. Loiro, grego, desastrado… o aluno perfeito… quando Camus é encarregue de ensinar Milo a conduzir… a junção entre os dois dá tudo… menos a perfeição.

Autora: Áries Sin

Disclaimer: As personagens de Saint Seiya não me pertencem (apesar de eu sonhar que sim) mas sim ao salve salve mestre Masami Kurumada que nos fez sonhar com seres tão lindos, magníficos e tuti quanti!

Agradecimentos: A Washu e Blanxe… pelo acompanhamento da fic, incentivo, surtos de msn que acabaram por ser muito úteis… Obrigada mesmo!

Dedicatória: A Litha-chan… aqui esta como prometido a primeira parte da fic '
Era para ser one-shot… mas acabou sendo two-shot (dois capítulos) XD Beijao enorme e PARABENS!!!


Sentido Obrigatório

Parte 1

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- No próximo cruzamento, vire à direita…

A voz gélida e inexpressiva deixava qualquer um nervoso… já que estava nervoso sozinho… quanto mais com aquele ser ao seu lado.

- Eu disse para virar à direita, non?

Tremia por todos os lados… tinha falhado a rua… e agora? Teria de voltar na próxima? De continuar em frente? Não se atrevia a perguntar…

Virou o volante calmamente seguindo por uma paralela à indicada anteriormente.

- Eu mandei virar?

Travou a fundo, não sabendo o que fazer. Aquele silencio… aquelas horas de condução eram infernais… Viu a personagem imponente sentada no banco ao seu lado rabiscar alguma coisa no dossier.

- Pode sair! Eu conduzo de volta à escola…

Saiu do carro tremendo… como era possível ser tão insensível… tão frio. Viu o instrutor sair pela outra porta. Os longos fios ruivos caíam pesados sobre as costas, com a mão alva mantinha a porta no seu lado aberta, esperando que chegasse perto dele. Sentou-se no lugar indicado, vendo através do vidro do carro o ruivo passar à frente da viatura e chegando do lado do condutor. Suspirou… mais uma vez tinha feito asneira, e ia voltar com nota negativa para a escola. Tinha de fazer algo… talvez pedir para mudar de instrutor… quem sabe daria certo.

O caminho de regresso parecia mais longo que nunca… o clima naquele carro era infernal. O silencio constrangedor fazia-o sentir-se ainda pior… sufocava naquele carro. Queria sair dali a todo o custo.

Jubilou internamente ao vislumbrar finalmente o edifício de chegada. Carro estacionado, tinha de esperar pela ordem que lhe permitisse sair. Ordem que demorava a chegar. Não aguentava mais aquilo…

- Não foi brilhante. Não só não conduz convenientemente, como parece ter problemas auditivos. Espero sinceramente que para a próxima aula faça melhor, se não garanto que não passa no exame de certeza…

Ouvia aquelas palavras afiadas sem protestar. Estalava os dedos inconscientemente, devido aos nervos.

- Pode sair… vemo-nos na próxima aula!

Sem mais palavras, viu o instrutor sair do carro, o dossier na mão direita, afastando-se na direcção da porta do edifício. Respirou fundo algumas vezes, antes de ganhar coragem para sair do carro. Não aguentava mais aquilo… tinha de fazer algo…

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Mais um dia de trabalho, tentando ensinar algo que prestasse a um daqueles incompetentes que chamava de 'alunos'. Seria possível serem tão incapazes de fazer algo que prestasse? Não era assim tão difícil dirigir um carro, nom de Dieu! Mais complicado era ter de os aturar naquelas aulas, e no entanto, ele aguentava! Então porque alguns alunos chegavam ao cumulo do ridículo de chorar por não conseguir fazer? Aquilo era demais… não havia paciência.

Estacionou o fiat em frente ao edifício no qual trabalhava à relativamente pouco tempo. Desligou o motor e apagou o rádio colocando-o no porta luvas. Aquele lugar tinha o mínimo de segurança, não havia necessidade de o levar consigo. Tirou o cinto e pegou no celular colocando-o no bolso das calças.

Abriu a porta, saindo do veículo. Frio… estava bastante frio para aquela altura do ano… felizmente para ele. Detestava o calor. Amava o frio. Porquê? Porque era assim e não tinha de dar explicações a ninguem!

Fechou o carro, com o alarme, colocando o casaco sobre o ombro. Avançou calmamente até a entrada do prédio, subindo os poucos degraus que o separavam da porta.

- Camus Phillipe Lenoir… Está em maus lençóis…

O ruivo olhou o alto das escadarias apercebendo-se da personagem que o mirava de alto. Sorriu de canto ao reconhecê-lo.

- Shaka, tem sempre de estar mais alto que os outros, não é mesmo?

Viu o loiro começar a descer as escadarias sorrindo. O longo cabelo dourado preso numa trança caprichosamente penteada, as calças jeans e a camisa branca impecáveis. Cumprimentaram-se com um aperto de mão, fixando-se.

- Estava dizendo que?

- Bom dia para você também Camus. – o ruivo bufou ao notar o semblante divertido do companheiro. – Começa bem o dia… houve mais uma queixa de si… um aluno que quis mudar de instrutor.

Camus deu de ombros. Com ele, não eram raros os casos em que isso acontecia.

- Óptimo. Com quem o colocaram?

Shaka abriu ainda mais o sorriso, negando com a cabeça em sinal reprovativo. Camus… sempre o mesmo…

- Tente não meter medo assim aos alunos… se não o meu horário de trabalho ficará sobrecarregado por causa das trocas de instrutor… - deu duas leves tapas no ombro do colega, dirigindo-se à porta.

Camus continuou o seu caminho escadaria acima. Com que então, todos os seus alunos frustrados eram recambiados para os braços de Shaka… riu debochado, chegando ao balcão de atendimento da escola.

Como pensava, teria direito a um aluno novo… esperava que esse fosse mais esperto que o anterior.

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Finalmente a hora tinha chegado. Encostado ao carro, Camus retirava um cigarro do maço, levando-o aos lábios. Esperava que o novo aluno não fosse desastrado como o anterior…

Sugou o fumo do cigarro longamente, expelindo em seguida a primeira lufada. O cigarro destressava-o.

Agora sozinho, pensava nos últimos acontecimentos. Ele não podia ser assim tão inacessível… então porque nas ultimas semanas o numero de alunos a pedirem transferência veio a aumentar? Suspirou. Não, o problema não era ele… aquela nova geração é que era demasiado mal acostumada… não passavam de meninos dos papás querendo que tudo lhes fosse entregue de bandeja… um aglomerado de incompetentes sem um pingo de…

- Camus Lenoir?

Inspirou uma ultima lufada de fumo, lançando o cigarro ao chão. Apagou-o com o pé, voltando a encostar-se ao carro. Alguém o tinha chamado, e ele sabia muito bem que era a nova 'ovelha sacrificada'. Mas como sempre, fazia questão de tomar todo o seu tempo para responder, ou mesmo se dignar a olhar para ele.

Fechou os olhos. Sentia o 'intruso' se aproximar, mas ele mantinha os olhos cerrados. Interiormente, sorria. Sabia que com aquele acto simples de ignorar o outro, era o inicio de um relacionamento que ele chamava de "instrutor-aluno". Baseada no respeito pelo superior… abriu os olhos lentamente, finalmente dando a devida atenção ao novato. Mas foi quando se apercebeu de duas orbes azuis a poucos milímetros de si que se assustou, dando um pulo para trás. Infelizmente não havia muito por onde se afastar… o carro atrás dele impedia a sua fuga. Sentia a respiração morna do intruso bem próximo se si, fazendo-o engolir em seco…

- Acordou?

Acordou? Mas o que era aquilo? Como assim 'acordou'? E quem aquele ser pensava que era para estar tão próximo de si? Num gesto brusco, estendeu o braço colocando a mão do ombro do loiro, afastando-o de supetão.

- O que pensa que está fazendo?

- Eu? Acordando o meu instrutor que parecia ter adormecido encostado a um carro… sabe que pode ser perigoso? Alguém podia assaltá-lo ou… pior!

Camus olhava pasmo para o loiro a sua frente que gesticulava muito e SOBRETUDO… ultrapassava a linha limite de 'espaço autorizado'! Era inacreditável! Como aquela criatura se atrevia a fazer aquilo consigo? Estendeu o braço, empurrando o loiro com a mão bruscamente.

- Milo Kalomiris? – perguntou com cara de poucos amigos, vendo este assentir sorrindo – Parfait! Ponto para si, não chegou atrasado! – comentou ríspido, afastando-se.

PORQUÊ as coisas não estavam a correr como sempre aconteciam? Daquela vez, tinha sido diferente… não era possível… olhou de relance para o novo aluno, voltando a encontrar aqueles olhos azuis. Com alguma distancia, conseguiu mirar o 'conjunto' que serviria de ovelha sacrificada nas suas mãos pelos próximos… 2 meses no mínimo…

Parecia da mesma idade que ele… mais um tardio. Mas não podia negar que a visão lhe estava a desagradar… os fartos cabelos loiros caíam pesados pelos ombros e costas largas, os olhos de um azul profundo… magníficos… cativantes…

A pele de uma tez bronzeada… sim… era um espécimen e tanto.

- Já teve alguma vez aulas de condução?

- Sim. Meu pai ensinou-me algumas coisas aqui e ali, acabei por conseguir aprender algumas outras sozinho! – era visível a empolgação do pobre coitado ao vangloriar-se dos seus 'pseudo' dotes de auto-aprendisagem.

Camus olhava-o do alto do seu metro e oitenta e quatro, imponente, altivo, mirando-o de cima abaixo… céus… o que era aquela coisa?

- Concluindo… não entende nada de condução! Muito bem. – deixando um Milo abobado no passeio, entrou no carro acomodando-se no lado do condutor, esperando que ele fizesse o mesmo.

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- Aqui tem o acelerador, ali o freio – Milo quase caía de sono ao ouvir aquele despejo sobre a localização das principais funções da viatura. Tão… tedioso! Os olhos teimavam em fechar lentamente… Porque não passavam logo à acção? Suspirou pela milésima vez dentro daquele lugar.

- Senhor Kalomiris! Quer prestar atenção no que eu digo?

Milo sobressaltou no assento, abrindo automaticamente os olhos completamente. Olhou abobado para o ruivo ao seu lado direito, acabando por deixar escapar um bocejo longo. Seria possível tamanho tédio?

- Sim sim… estou ouvindo… - respondeu com a maior cara de fastio ao cimo da terra.

- Parfait! Pode arrancar com o carro então, como eu acabei de dizer para fazer!

Milo ligou o carro, sem dar atenção ao restante, não reparando que a primeira mudança estava activa. Camus tinha-se apercebido desse facto, mas deixara o loiro ligar o carro assim mesmo, concluindo que ele realmente não estivera com a mínima atenção aquele tempo todo. O carro bolçou, projectando ambos para a frente.

Camus suspirou. Aquela criatura ia dar bem mais trabalho que o que esperava…

- A mudança… - disse simplesmente sem desviar o olhar do vidro.

Ouviu Milo resmungar algo na sua língua natal, voltando a ligar o carro convenientemente. As feições vitoriosas do instrutor não lhe agradavam… quem aquele metido pensava que era? Lá por ser instrutor julgava-se o senhor de tudo não? Instrutor de uma figa! Frigido!

Um sorriso travesso desenhou-se nos lábios do loiro ao ter tal pensamento. Frigido… seria ele realmente tão frio como parecia naquele momento? Ou talvez… apenas fosse tudo só fachada! Vendo melhor, ele era sensivelmente da sua idade… ruivinho… sardento…

Mordiscou o lábio inferior, sorrindo.

- No próximo cruzamento vire à direita!

Aquelas aulas prometiam… oh se prometiam…

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- Como se esta a safar com o novo aluno?

Camus bebia o café tranquilamente, soprando a tempos e outros com intenções de arrefecer o liquido. Pousou a xícara de volta sobre a mesa, suspirando.

- Irresponsável… Irreal… Incompetente…

Shaka riu. Camus bufou. Como sempre acontecia aliás. Os muitos anos que se conheciam e Shaka sempre fazia aquela cena diante plateia… ele não era exuberante… longe disso. Mas gostava sempre de o colocar em situações não muito agradáveis. Segundo ele, "o maior divertimento que pode haver ao cimo da terra, é de poder vê-lo se safando de certas situações"…

- Não seja tão gélido Camus… ele parece uma pessoa decente!

Mais uma vez, Camus se sentia incompreendido. Suspirou, voltando a beber o café calmamente. Ao menos assim, não tinha de dar satisfações.

- Mas o que ele fez para o ter posto da 'lista negra'? – perguntou o loiro, divertido com as atitudes de Camus.

- Tirando… ter tentado arrancar o carro com a 3º mudança colocada, só num dia ter passado dois semáforos vermelhos, ter tentado ultrapassar um carro numa via única, ter cantado duas garotas largando o volante em plena avenida e ter entrado numa rua em sentido contrario… nada, realmente não fez nada!

Assustou-se com uma sonora gargalhada mesmo atrás de si. Quase entornava o liquido quente sobre a camisa, se não fosse os seus excelentes reflexos.

- Mu! – encarou o incrusta com cara de poucos amigos, lançando-lhe olhares assassinos.

Mu contorcia-se, a mão na barriga, tentando controlar a crise de risos pelo qual tinha sido pego. As lágrimas nos olhos de tanto rir, tentava tomar posse da respiração, arrastando-se para a mesa e sentando-se numa cadeira. Aquilo era demais…

- Mu Shaki Vajra! – Disse autoritário, tentando impor respeito… se é que ainda lhe restava algum depois de ter conhecido o novo aluno.

- É Shakti… e não Shaki… - comentou o loiro sorrindo, atingido pela crise de risos do namorado.

- Vocês e os vossos nomes complicados… - suspirou resignado. Decididamente não valia a pena argumentar com aqueles dois. Muito menos estando num dia tão pouco propicio para isso!

- Ah claro! – Mu acabava de finalmente entrar na conversa de forma coerente – Porque Camus Phillipe Lenoirrrr – comentou dando ênfase à entoação francesa, imitando a pronuncia do ruivo de forma exagerada – é tão pouco pomposo…

Decididamente… aquele não era o seu dia... o único problema era que os dias tinham deixado de ser seus a partir do momento em que conhecera um tal de Milo Kalomiris

- Tudo bem… vou parar… - o examinador resignou-se, vendo que o amigo não estava nos seus melhores dias. – Quem é a criatura que o está massacrando tanto?

- Milo Miklos Kalomiris! – afirmou Shaka, tomando um semblante sério, cruzando os braços sobre o peito – Boa tarde para você também!

Mu sorriu, pegando carinhosamente no queixo do loiro e dando um leve beijo nos seus lábios. Em publico, era melhor não dar muito nas vistas.

- Boa tarde pequeno Buda… quem é esse tal de… Kalomiris?

Apenas ao som do nome, Camus suspirou profundamente. Melhor era prevenir logo Mu da peça pela qual devia esperar… Milo não ia ser uma pessoa fácil… muito menos no exame de condução…

- Vai ter muito tempo de o conhecer… quando tiver de o reprovar umas quantas vezes no exame…

- Camus… não seja tão negativista! Pode ser que ainda venha a ter uma agradável surpresa!

- Que os deuses o ouçam Shaka…

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Um mês… que passava horas e horas tentando dirigir com aquele ser ao seu lado… um longo… penoso… desastroso… mês. E la estava ele, de novo do lado do motorista, tentando ouvir algo do que aquele ruivo lhe tentava ensinar.

Um longo mês em que ele pensava de tudo naquele carro menos dirigir… ou apesar de tudo, "aquilo" era dirigir… apesar de não ser um carro… e seria de outra forma.

Sorriu de lado, verificando se estava tudo em ordem no veículo: banco, espelhos, retrovisor…

- Bien! Pode arrancar…

Sem pensar duas vezes, ligou o carro confiante. Daquela vez, ia conseguir impressionar o francesinho fazendo-o cair do alto do seu iceberg, esparramachando o focinho no chão!

Pé na embraiagem, colocou a marcha ré. Acelerador… o carro não mexeu.

Milo levantou uma sobrancelha, olhando tudo com atenção. Estava tudo em ordem! Tentou uma segunda vez: marcha ré… acelerador… nada…

Camus mantinha a pose séria, mantendo o olhar em frente. Suspirou. Levou a mão direita às temporas, massajando levemente fechando os olhos.

Terceira tentativa… nada. Milo começava a achar aquilo muito estranho. Ultima e fatídica tentativa. Dessa não passava! Marcha ré… acelerou a fundo, os pneus chiaram soltando fumaça… mas o carro não se mexeu.

Levou a mão aos cabelos loiros, tentando entender o que estava acontecendo ali. Carro ligado... Mudança colocada…

Sem desviar os olhos do vidro, Camus com um longo suspiro descruzando os braços. Elevou a mão esquerda calmamente desviando-a na direcção do grego. Avançava… perigosamente… descia… céus! O que aquele homem ia fazer com ele! Estaria ele a pensar no mesmo?

Foi quando a mão pálida do francês acabou a sua viagem… no freio de mão. Um clique… e o freio foi desactivado.

- Agora… Pode arrancar… - comentou suspirando longamente.

Continua…