Minho cerrou os olhos, tentando ignorar o olhar de Thomas que queimava como brasa em suas costas. Estava consciente do que o amigo estava pensando, ou ao menos, desconfiava. Estalou a língua nos dentes, sentindo raiva de repente. Não era tempo e nem lugar para aquilo, não era! Como ele havia deixado aquilo acontecer? Ponderou, engolindo a raiva que parecia o querer devorar.

Como aquilo havia acontecido? Piscou os olhos, sentindo sua mente ficar frenética com aquela mesma questão. Como? Como? Como?! Inconscientemente levantou o olhar e observou a garota . Ela não tinha nada de interessante, pra falar a verdade. E ele também não gostava nem um pouco dela, pra ser honesto.

Era rabugenta demais, reclamava demais, era...demais. Soltou um grunhindo, abaixando o olhar para a sua garrafa térmica que encontrava-se já vazia. Tinha tantos, tantos problemas e lá estava ele, pensando naquela garota. Sentiu vontade de se bater.

Talvez o sol do deserto o estivesse fazendo delirar e pensar coisas inúteis demais. Jogou a garrafa no chão, tentando descontar aquela raiva que sentia no momento em algo, nem que fosse só numa garrafa. Mas não sentia só raiva. Não era só raiva. Não mais...

Ele sentia algo além, algo que ele não queria. Fechou os olhos, contando de um até dez. Por céus, o que não daria para detonar um verdugo bem naquele momento? Ou até mesmo uns Cranks?

Abriu os olhos e não ficou nem um pouco surpreso de encontrar o olhar da garota. Tinha um sorriso arrogante no rosto e sabia muito bem que estava sendo dirigido para ele.

Curvou os lábios, tentando segurar o instinto de avançar contra ela. Sentia tanta raiva dela, tanta...E sabia exatamente o porquê.

Droga, droga, droga! Por que ela? Não, melhor, por que alguém? Não era tempo, nem lugar. Afinal de contas, nunca seria tempo e nem lugar! Havia nascido no século errado, chegou a triste conclusão.

Talvez, se fosse em alguma outra época e...Bufou, desviando o olhar.

— Você gosta dela.

Ouviu a voz de Thomas e quase, quase riu. Se a situação não fosse tão trágica, talvez tivesse mesmo. Mas, no momento, não estava com humor nenhum para aquilo.

— Se você confirma que gostar de alguém, é o mesmo que igualar essa pessoa na maioria do tempo com Verdugos e Cranks, e querer explodir a cabeça dela sempre, então sim. Eu gosto. - Conclui, com uma revirada de olhos.

Thomas continuou sentado, fitando as costas largas do amigo, agora tensa. Não conhecia Minho o tanto quanto Newt, mas reconhecia que o comportamento dele havia mudado. Ele parecia...Aterrorizado. E ele nunca pensou que viveria para ver Minho aterrorizado com alguma coisa.

— Seja o que for que você diz.

Minho sentiu o olhar de Thomas queimar sobre sí. Fingiu coçar a nuca, tentando evitar que seu desconforto se mostrasse - mas ele sabia, bem lá no fundo que Thomas, assim como ele, havia chegado à uma terrível conclusão. Minho estava inegavelmente, atraído pela garota, ou pior. E não conseguia esconder o quão tenebroso e aterrorizado estava naquele momento. Odiava aquele sentimento. Odiava, odiava!

O fazia ficar mais fraco. Prova disso era Thomas com Teresa, vinha assistindo de camarote o estrago que ela havia feito com o seu amigo. Não era tempo para aquilo, nunca foi. Era questão de sobrevivência, não podia se dar o luxo de se apegar à alguém. Simplesmente não.

Respirou fundo, pela a quinta vez só naquele pequeno intervalo de tempo.

Aquele sentimento havia serpenteado sobre o seu corpo de uma maneira rápida, assim como uma cobra peçonhenta, ele havia sido atingido em cheio pelo seu bote. E não fazia idéia de como se livrar daquela enrascada. Mas iria, com certeza iria.

Estava ali para sobreviver e não se sobrevivia daquele jeito.