Capítulo 1

"Não existe homem na Terra que faça o bem sem jamais pecar." Eclesiastes 7.20

Fevereiro, 2007.

O silêncio na pequena propriedade era mortal, os sons da floresta pareciam ter desaparecido por completo naquele instante ou ele realmente estava muito fora de órbita. Um piscar e uma fração de segundo pareciam durar mais do que uma era na Terra; o que dizer então de três dias, onde cada milésimo de segundo conta para salvar sua vida ou, no caso de Spencer Reid — agente especial, doutor e com mais PhDs do que se pode contar — para que outros entendam suas mensagens e o salvem. Ou era isso que ele esperava até estar com Raphael, a terceira personalidade de Tobias Hankel, á sua frente e com uma pistola pronta para ser disparada — "se fosse a vontade de Deus", é claro. Talvez ele realmente fosse morrer, não conseguia imaginar uma saída — a não ser a sorte — para aquela situação. Era a roleta russa de Tobias e ele.

Houve outro apagão.

"Me desculpe", disse bobamente várias vezes sob o olhar inquisidor de Tobias, ou quem quer que fosse. Raphael — a outra personalidade — perguntou o que havia acontecido e ele contou, havia mandado sua mãe para um hospital psiquiátrico e, por isso, era um pecador. Spencer novamente pensou que fosse jogar a roleta russa, mas viu o algoz libertá-lo das algemas e manda-lo segui-lo. Cavar sua própria cova era o fim da linha e ele estava acreditando piamente naquilo.

O silencio foi quebrado pelo som das viaturas e dos agentes correndo pela mata. Ele pôde ouvir a cabana sendo invadida e seu nome sendo chamado, também pôde ver a distração de Tobias Hankel e pôde usá-la contra ele. Ouviu-se um disparo e o anjo caiu.

Quando a equipe finalmente deixou Atlanta, Spencer sentou-se no local mais isolado do avião particular. Estava confortável, tinha uma caneca grande café nas mãos e sabia que estava seguro, porém nada parecia ser suficiente. "O doutor Spencer Reid", pensou em si mesmo na terceira pessoa, "está com medo e um medo aterrador". Morgan pôde notar o leve tremor nos dedos do rapaz, mas preferiu não mencionar isso, aliás, ele gostaria de esquecer as imagens de seu amigo sendo torturado.

"Você está seguro. Pode dormir agora." Morgan falou mas Reid não respondeu.

"Ele vai precisar de ajuda." Hotchnner confidenciou para Gideon. "E vai precisar mais ainda da SUA ajuda. Você é o mentor dele e precisa estar lá para ele." Sua expressão era severa.

"Eu sei. Me pergunto se fiz o certo, se pedir para Garcia bloquear aquele site era o certo a se fazer. Eu me culpo por isso." Gideon comentou em um sussurro, não queria que Reid ouvisse e, talvez, o culpasse.

"Não foi sua culpa. Ele era um assassino. Iria castiga-lo independentemente de qualquer outra coisa." Hotchnner assegurou-o. "Apenas passe um tempo com ele."

Gideon assentiu e observou o olhar distante de Reid. "Tobias Hankel foi condenado a cadeira?" Ele encarou Hotch novamente, que olhava o visor do celular.

"O promotor acaba de me enviar a sentença. Ele vai receber tratamento adequado e passará o resto da vida na prisão." Respondeu. "Embora eu ache que ele devesse ir para o corredor da morte."

"Não." Gideon exibiu um fraco sorriso. "Tobias não era o assassino. Raphael e Charles Hankel é que eram, afinal foi Tobias quem salvou Reid ao droga-lo. Para Tobias, estar condenado pelo resto de sua vida tendo consciência do mal que fez, irá puni-lo." O mais velho suspirou e sentou-se em um dos lugares vagos. Hotchnner nunca chegou a mencionar, mas Spencer quis interceder por Tobias.

Fevereiro, 2015.

Penelope Garcia estava desconfiada que algo não estava certo. Seu cubículo do oráculo estava da mesma forma como costumava estar, mas havia algo faltando. Concentrou sua visão em seus monitores, estavam ligados, ok; começou a observar os arquivos abertos, os relatórios enviados, ok; vasculhou suas pastas e os servidores, e então soltou um grito de ódio:

"Não! Não! Não!" Bateu a mão na mesa e sentiu lágrimas escorrerem. Um arquivo havia sido corrompido. Seu selo mágico, seu lacre de ouro havia sido quebrado e ela não havia percebido, mas isso não era o pior. "Não este, por favor, de novo não." Suspirou, pegou o notebook e correu em seus salto cor de rosa.

"Garcia, preciso da sua..." JJ começou a falar, mas a analista passou correndo. "Onde você..."

"Agora não!" Berrou ela. "Saiam da frente! Alerta Vermelho! Alerta Vermelho!" Ela corria até a sala de conferências encontrar outros agentes. "Senhor, senhor!" Rossi e Hotchnner arregalaram os olhos ao ver o estado em que ela adentrava a sala de reuniões. "Alerta Vermelho, senhor. Preto! Negro! É terrível!"

"O que houve, baby girl?" Morgan, seguido por JJ, Reid e Blake, entraram na sala após a analista. "O mundo está acabando e eu não sei?" Brincou.

"Depois do Fisher King, quando aquela criatura grotesca invadiu meu sistema, eu criptografei um arquivo sobre todos nós, para que ninguém pudesse ficar exposto, já que eu é que sou sua analista e..." Ela arfou. "Enfim... Então eu levei aquele tiro e tive que abrir o arquivo, depois tive que criar outro selo melhor, então eu e o Kevin criamos uma criptografia dupla para proteger a todos e..." Ela dizia sem parar. "O selo foi quebrado! Invadiram meu sistema! Invadiram o sistema do Kevin!"

"Você já sabe o que foi perdido?" Hotchnner perguntou sério. Não queria ter que sofrer outro ataque de um replicador. Um já havia sido o suficiente.

"Todos os dados estão aqui, mas os do Reid estão abertos, pois em cada arquivo separado por agente, coloquei uma segunda criptografia. A única quebrada é a do Reid." Declarou. "São dez anos de dados armazenados, senhor, preciso de um tempo para ver qual exatamente foi aberto."

"Faça isso." Ele pediu. "Enquanto isso, temos outros problemas."

Rossi e Hotch ficaram em pé, enquanto os agentes acomodavam-se em suas cadeiras em torno da mesa. Reid ficara visivelmente preocupado com a notícia dada por Garcia, mas não queria que sua preocupação atrapalhasse o novo caso.

"Christine Beauford, 26 anos." A foto de uma moça loira foi exibida na tela grande. "Agente Especial do FBI em treinamento, que deveria chegar á BAU exatamente três dias atrás. Ela seria designada a um agente supervisor para começar o treinamento."

"Morgan seria o supervisor dela?" Jennifer Jareau perguntou enquanto passava os arquivos em um tablete.

"Faríamos um trabalho conjunto, eu e Blake." Respondeu ele observando a imagem da moça loira. "Blake faria um excelente trabalho sendo Oficial Supervisor pela primeira vez."

"Ela é nova para isso, não?" Reid ergueu uma sobrancelha.

"Q.I. 180. Três faculdades: matemática, línguas e psicologia. Dois mestrados." Rossi enumerou.

"Teremos uma competição e tanto!" JJ riu. "Ela não entrou como Agente Supervisora aos 24, Reid, não se preocupe."

"Entramos em contato com Seattle, pois acreditávamos em algum imprevisto, porém eles também estão sem notícias dela há três dias." Rossi adicionou. "Os agentes de lá estão refazendo os passos dela para localizá-la."

"Isso é terrível, senhor." Garcia disse de maneira triste. "Não posso arriscar usar nossa base de dados agora, não com essa falha na segurança. Eu não acredito que permiti isso!" Ela culpava-se.

"Garcia, não foi sua culpa. E não estou tão preocupado com qualquer arquivo meu. Vamos nos concentrar nela." Reid sorriu e confortou-a. "Qual seria o cronograma para a viagem dela?"

"Beauford deveria vir de avião até Los Angeles, onde faria uma parada rápida e viria com o Agente Ford, entretanto, Seattle não identificou quaisquer rastros dela após seu embarque no avião lá." Hotchnner mostrou um mapa com todo o roteiro.

"Isso é quase como um episódio de Lost." Rossi murmurou. "Muito bem, vamos nos dividir."

"Garcia, procure o Kevin e comece a vasculhar os servidores. Precisamos saber O QUE sumiu e QUEM pegou." O chefe ordenou e ela levantou-se batendo continência. "Reid, Rossi e Blake devem ir para Seattle, enquanto Morgan, JJ e eu vamos para Los Angeles. Vamos encontrar Christine Beauford."