Capitulo IComeço do Fim

Inglaterra, 1889

O sol incidia na janela batendo do outro lado da parede.

A mulher ergueu os olhos para o alto contemplando o esplendor do por do sol. E em um breve momento se indagou em como seria aquele entardecer em outro lugar do mundo? Quão vasta era a terra? Existia lugares tão belos quanto aquele? Balançou a cabeça abdicando tais pensamentos, seu mundo era aquele, nos limites da propriedade Inuzuka até quando seus serviços não fossem mais necessários.

— Já está bom por hoje crianças.

Três crianças levantaram-se alegres em direção a porta

— Devagar!- pediu a professora sem sucesso.

Era um belo entardecer de junho, o verão se aproximava e tudo indicava que seria uma época quente e de muito sol.

— Está esquentando, não é, senhorita Hyuuga? Esse verão será bem quente.

— Sim, senhora Izume.

— Vejo que essas pestinhas estão um pouco mais comportadas – sorriu, ignorando o olhar severo da jovem mulher ao lado. – quem diria que a senhorita tão franzina colocaria ordem em tudo. Fico feliz por isso, menos trabalho para mim.

Hinata sorriu sem jeito engolindo seu comentário enquanto a mulher lhe dava as costas para ir à cozinha. Izume era a cozinheira da família Inozuka há mais de trinta anos, assim achava-se no direito de dizer o que bem entendesse, já que se considerava praticamente um membro da família. Mas Hinata não gostava dela, era uma mulher baixa e corpulenta, de andar desengonçado, sorriso podre e feições desagradáveis, no entanto tinha mãos de fada, cozinhava as mais belas delicias do mundo, admitia Hinata que nunca havia comido tão bem em toda a sua vida. No entanto o que mais lhe desagradava era que tanto ela quando os outros a subestimavam quando simplesmente não a ignoravam.

Perdida em seus pensamentos a morena seguiu seu ritual desde que chegara à mansão Inozuka há mais de dois anos. Silenciosamente sem ser notada subiu as escadas até chegar ao segundo andar. Na ala azul que pertencia às crianças abriu a terceira porta de onde surgiu um pequeno quarto. O recinto era mobiliado sem muita ostentação ao contrario do restante da mansão, havia apenas uma cama, um guarda roupa e um tocador. A Hyuuga desfez o laço que prendia a touca que sempre usava deixando os longos fios negros azulados caírem sobre seus ombros. A tarde avançava e junto olhando para o horizonte a pequena mulher sentia-se mais ansiosa e inquieta. desejava, almeja algo, mas o que? Indagou-se.

Hyuuga Hinata era uma mulher de vinte e seis anos, solteira, ou melhor, para sua idade solteirona, sem um dote, sem nome e nenhuma perspectiva de casamento. Não se enquadrava nos padrões de beleza da sociedade londrina, não era uma ninfa de beleza grega, nem tinha a altura adequada e muito menos era loira. Mesmo tendo a pele igual ao marfim mais branco que existia, parecia que essa qualidade tão valorizada na sociedade vitoriana não se encaixava com o resto de sua aparência, pois era uma mulher baixa e muito magra com olhos estranhos, acinzentados como a lua cheia em uma noite estrelada. Era tímida e insignificante, nem ao menos os lacaios da propriedade lhe laçavam olhares cobiçosos. Nunca em sua vida havia atraído o olhar de um homem. Pensou que talvez fosse por causa dos vestidos cinza de tecido grosseiro que usava contratando com a pele pálida dando lhe a aparência doentia, de um fantasma.

Balançou a cabeça, o que isso importava? Afinal não tinha nome e apesar de vir de uma família respeitável e educação impecável não à favorecia em nada, já que não tinha um dote cobiçoso que a fizesse ser atraente à um homem. O que lhe restou foi o papel de governanta, posição não muito bem quista na sociedade. Era apenas um mal necessário como dizia sua patroa.

— Senhorita Hyuuga? – ouviu-se a voz calma do mordomo após uma batida na porta.

— Sim.

— A senhora Inozuka deseja falar-lhe.

— Já estou indo. – respondeu.

Amarrando apressadamente a touca na cabeça a Hyuuga pôs-se a ir de encontro à senhora da casa. Parou diante da porta respirando fundo e tentando ser a mais calma e serena possível.

— Mandou me chamar senhora?

— Oh, sim. – sorriu a mulher de cabelos castanhos num vestido azul turquesa que realçava os belos olhos castanhos. – por favor, se sente senhorita Hyuuga.

A morena obedeceu.

Hinata não se sentia confortável na frente da senhora Inozuka, nunca se sentiu, afinal ela era uma linda mulher de cabelos castanhos e pele rosada, sorriso coquete e especialmente foi sua novata na escola onde estudou, sim, Matsuri foi uma de suas aprendizas na escola para moças, isso significava que era dois anos mais nova que ela. Mesmo que fosse racional e realista, afirmando consigo mesmo que Matsuri era uma jovem aristocrata, filha de uma família abastarda ao contrário dela, que era apenas uma órfã que freqüentara a escola graças a uma bolsa de estudos, por este motivo não teria qualificação para se tornar uma dama da sociedade, ainda assim, sentia-se infeliz por aquela mulher ter casado tão jovem, aos 17 anos e ela ainda permanecer solteira.

— O que deseja senhora? – indagou a Hyuuga depois de um longo tempo em silêncio.

— Sim… sabe senhorita Hyuuga, eu estava observando os meus pequenos essa manha e notei que eles andam um pouco acima do peso, não acha?

Hinata maneou a cabeça educadamente encorajando o discurso da distraída patroa que não notara seu desagrado.

— Pois bem, não quero que minhas amigas comentem que meus filhos estão se tornando porcos comilões como os filhos dos Akimichi – franziu o pequeno nariz arrebitado de desaprovação. Hinata apenas apertou os lábios, pensando que as crianças da família Akimichi eram umas gracinhas, fofinhas e comportadas. – por isso quero que você as leve todos os dias para cavalgar.

— Como? Eu levá-las pra cavalgar?

— Sim, algum problema? Você não é a preceptora deles? – arqueou uma sobrancelha autoritária.

Não lhe importa o fato de não saber andar a cavalo e que sou apenas a preceptora não a babá? Pensou a morena, no entanto a Hyuuga baixou a cabeça encolhendo os ombros, não se encontrava em uma posição em que pudesse confrontar os patrões, não tinha para onde ir a não ser a casa da irmã, mas nunca teria coragem de incomodá-la, não agora que estava casada, e muito menos bater a porta do primo, apesar de amável que seja não queria ser um fardo para ele também, assim no final era uma mulher sozinha e sem dinheiro, se fosse despedida acabaria na sarjeta. Entre a fome e sofrer humilhações preferia a ultima.

— Sim, senhora.

— Está certo. Agora pode ir. – Matsuri balançou a mão indiferente ignorando novamente a presença da mulher.

Hinata voltou devagar para seu quarto sendo arrebatada por um péssimo pressentimento.

Os cavalos relinchavam nervosos batendo os cascos no chão lamacento do estábulo. O vento frio baita contra a pele alva de Hinata como chicote de coro açoitando um escravo fugitivo. A inquietação dos cavalos deixava Hinata cada vez mais nervosa. Tinha medo de cavalos, na verdade, tinha medo de quase tudo, mas principalmente de cavalos. Naquela manha acordara mais cedo para falar com o homem que cuidava do estábulo para ter com ele algumas aulas antes que as crianças chegassem. Mesmo assim, ainda não se sentia segura e parecia que o animal também sabia disso.

— Senhorita Hyuuga! – gritou três lindas crianças em suas belas roupas de campo indo de encontro a Hinata.

O primogênito da família Inozuka mostrava uma linda fileira branca de dentes com dois caninos pontiagudos, os olhos afilados mostravam intenções obscura fazendo a espinha de Hinata se arrepiar quando perguntou:

— Vamos cavalgar hoje? - o cachorrinho de pelo castanho claro se contorcia entre seus braços.

— Vamos? – os olhos pequenos do filho do meio brilharam de animação.

— Sim - respondeu Hinata não muito contente.

A pequena Sasame abraçou a perna da professora quando os cavalos se agitaram nervosos.

— Tudo bem querida, não precisa ter medo – sussurrou Hinata pegando-a no colo.

Aquilo era um absurdo pensava Hinata, mas a comitiva continuou. Os cavalos foram selados depois de uma pequena discussão com Rui que queria pegar o garanhão do pai, no entanto, não obteve êxito já que ele apenas tinha sete anos de idade. Decido assim que Rui cavalgaria Nuvem branca uma égua calma e tranqüila - para contrariedade do garoto. Os mais jovens por ser pequenos iriam em dois pôneis brancos com um lacaio para a infelicidade de Hinata que teve que montar em um cavalo chamado chama negra. O animal era um pouco arrisco, mas era o único que havia sobrado já que as outras éguas estavam com a patroa e as amigas em um passeio.

A primeira hora de cavalgada seguiu-se tranqüila, apesar disso Hinata apertava com força a rédea do animal como se estivesse preste a cair. Era desconfortável o passeio, como era pobre não tinha uma roupa adequada para montaria. O sol erguia-se no céu forte e imperioso, aumentando assim a temperatura. A Hyuuga desejava parar para descansar como as crianças menores, no entanto Rui parecia não notar o cansaço da preceptora continuando a dar cavalgadas vigorosas andando de um lado para o outro enquanto seu cãozinho o acompanhava animado. O menino já demonstrava ser um bom cavaleiro tinha habilidade e destreza com o animal ao mesmo tempo em que demonstrava muita energia, se parecia muito com Kiba, seu pai.

— Rui, vamos parar um pouco. – pediu Hinata se aproximando do garoto.

O cavalo de Hinata não aprecia estar muito contente, batia nervoso as patas no chão. E quanto mais se mexia, mais ela apertava as rédeas.

— Mas senhorita Hyuuga – resmungou o garoto emburrando

— Já esta ficando tarde, depois do almoço terá aula. Sua mãe não gostara que cheguem atrasado para a refeição.

Nesse momento o animal de Hinata deu um pulo inquieto e a mulher quase se agarrou a crina do animal devido o medo.

— Professora a senhora tem medo de cavalos?

O coração da Hyuuga parou quando se deparou com o sorriso do garoto.

— Por que está perguntando isso Rui? – indagou sentido as gotículas de suor escorrer pela fronte.

— Não sei. Mais parece que a senhora ta mais pálida que antes. Ta pior que um fantasma.

— É impressão sua. – respondeu ríspida. – vamos encontrar seus irmãos.

O que aconteceu foi muito rápido. Rui seguiu em disparada em direção a Hinata passando muito perto da mulher na intenção de assustá-la, no entanto Hinata apertou ainda mais a rédeas do animal que incomodado começou a galopar descontrolado, colina abaixo. A Hyuuga não sabia como parar o animal que percorria o caminho em alta velocidade. O grito de terror não saia de sua garganta paralisada e os olhos perolas nublados d'água viam o caminho tumultuoso que se seguia veloz. Hinata agarrou as crinas do cavalo no desespero fechando os olhos, pedindo aos céus para que tudo acabasse logo.

O animal endemoniado seguiu feroz pelos campos da propriedade Inuzuka com a pobre senhorita Hyuuha Hinata no lombo segurando da melhor maneira que podia, ela sabia que se caísse à morte seria a única opção. Mesmo que sua vida não valesse tanto e que fosse tão tediosa ainda sim queria viver, afinal era o instinto básico e primitivo da raça humana. A morena não soube de onde tirara tanta força, mas o grito do cavalariços logo atrás lhe dava esperanças. Quando não podia segurar mais em uma curva o cavalo escorregou nas pedras cobertas de musgo caindo com Hinata. A última coisa que a morena viu foi um lindo céu azul sorrir pra ela.

Olá, ^^

Espero que tenham apreciado essa humilde fic \o\

Inté a próxima *.*