"Perfeitos elementos"
By Carlinha-chan*~
Gaara se encontrava sentado em sua mesa, com papéis espalhados por todo o lado. Estava cansado e não conseguia mais sequer distinguir as letras minúsculas que povoavam os papéis que ele deveria ler.
Resolveu descansar um pouco, virando sua cadeira para a janela às suas costas, onde a lua cheia brilhava.
Ao olhar a lua, uma sensação de nostalgia acometeu-o. Lembrou-se de um olhar. Um olhar que o perseguia desde que ele o vira pela última vez, indo embora de Suna, acompanhado do resto daquele corpo que Gaara tanto amava.
Amava.
Seria essa a palavra correta pra Gaara?
Amor?
Não, seria algo mais como uma adoração sem limites que ele sentia por ela. E desejo. Havia muito desejo.
Mas, sem dúvida acompanhada de amor.
Uma nuvem escura encobriu a lua, tirando Gaara de seus devaneios. Com uma leve sacudidela de cabeça o ruivo se virou de volta para sua mesa.
Seria uma longa noite.
xXxXxXxX
Ino regava um vaso de dálias amarelas quando escutou um barulho de porta se abrindo. Se virou rápida, para apenas constatar de que era sua melhor amiga que adentrava o recinto fracamente iluminado.
-Ino, porque ainda acordada tão tarde?
-O mesmo pra você, Sakura.
-Eu estava caminhando quando percebi que você ainda estava aqui na floricultura. – Sakura disse, se sentando em um banquinho de madeira.
-Não consigo ir dormir cedo. – Ino balançou a cabeça, ainda absorta nos vasos de dália. – A floricultura me relaxa.
-Ino, você vai matar a flor afogada.
-A florista aqui é você ou eu? – Ino perguntou, meio ríspida.
-Desculpe. Você parece não estar tão bem hoje. – Sakura suspirou – Essas rosas parecem estar precisando de água.
Ino se virou para olhar para onde Sakura apontava. Viu que se tratava de um vaso de rosas vermelhas.
A loira levou o regador até a torneira para enchê-lo novamente e voltou sua atenção para as rosas vermelhas, ao lado de onde a Haruno estava sentada.
Ino começou a fitar as rosas e uma ardência lhe subiu pelas bochechas até os olhos. Aquela cor.
Vermelho lhe lembrava o cabelo dele.
Ino sentiu uma lágrima rolar por sua face. Isso não passou despercebido a Sakura.
-Está chorando, Ino? Está tudo bem?
-Eu estou bem. Só...me lembrei de alguém.
Sakura ficou em silêncio por alguns instantes, fitando as rosas que Ino regava, até que perguntou, em voz baixa:
-É dele?
-Dele o que? – Ino perguntou, confusa.
-É do Gaara que você se lembrou, não é?
-É. – Ino sussurrou depois de um longo instante de silêncio.
-Porque?
-Porque o que?
Aquilo já estava começando a ficar irritante. Sakura não explicava do que estava falando.
-Porque você voltou? Deveria ter ficado em Suna.
-Não poderia.
-Se você realmente quisesse, você teria ficado, Ino.
-Eu não sou de Suna. – Ino disse, limpando com as costas das mãos uma lágrima insistente que havia rolado novamente.
-Mas ele não fez objeção a você vir pra cá?
Ino demorou a responder. Colocou o regador no chão e se sentou em outro banco, de frente para Sakura.
-Não.
Sakura não comentou nada, apenas ficou em silêncio, respeitando as lágrimas que rolavam pela face pálida da amiga. Ino quebrou o silêncio. Dessa vez, ela não se preocupou em esconder as lágrimas e os soluços.
-Eu achei que ele gostasse de mim, Sakura. Ele até disse que me amava. Mas quando eu disse que precisava voltar, pensei que ele fosse ficar chateado, ou mesmo me impedir. – Ino soluçou – Que tola eu fui!
Sakura não podia continuar sentada vendo Ino se contorcer em choro. A rosada se ajoelhou ao lado da loira e passou um braço pela costa desta.
-Não fique assim, Ino. Ele não te merece.
-Eu não mereço ele. Ele sempre foi melhor do que eu, Sakura.
-Isso é ridículo, Ino. Você está sendo masoquista.
Ficaram por um bom tempo assim, em silêncio, até que Ino murmurou:
-Eu só queria conversar com ele uma última vez. Pra poder entender porque ele me enganou tanto.
xXxXxXxX
-Entre! Ah, olá, Sakura.
-Tsunade-sama, eu preciso conversar com a senhora.
-Diga.
Tsunade largou os papéis que lia e cruzou as mãos esperando que Sakura falasse. Esta passou as mãos pelo cabelo, nervosa, e finalmente disse:
-Tem alguma missão em Suna disponível?
-Ah...não, nada. – Tsunade estranhou a pergunta, franzindo a testa – Porque esse interesse repentino por Suna, Sakura?
-Não é pra mim, Tsunade-sama. É...é pra Ino. – Sakura baixou os olhos, envergonhada.
-Pra Ino? Mas...porque ela mesma não veio me pedir?
-Porque ela não sabe que eu estou aqui. – Sakura suspirou diante do olhar inquisidor da mulher - Tsunade-sama é o seguinte...
Sakura contou para mulher do outro lado da mesa o que se passara entre Ino e Gaara, esperando que ela entendesse.
-Bem, Sakura...eu não posso simplesmente mandar uma ninja para Suna porque ela tem problemas amorosos com o Kazekage...
Sakura olhou desapontada para Tsunade.
-...mas assim que surgir uma missão em Suna, eu prometo designá-la a senhorita Yamanaka. – Tsunade completou com um sorriso cúmplice.
xXxXxXxX
Simplesmente Gaara não conseguiu se concentrar nos papéis durante todo o dia. Isso não passou despercebido a Temari em todas as vezes que ela entrava no escritório.
-Gaara, você está com algum problema?
-Não. – ele respondeu, frio.
-Pois não parece. Você esteve o dia todo tão quieto. Mais do que o normal, quero dizer. – ela acrescentou.
-Não é da sua conta.
-Ahá! – ela exclamou, apontando pra ele – Então, há alguma coisa.
-Some daqui, Temari, eu preciso trabalhar.
Ela lançou um olhar carrancudo pro irmão e saiu da sala, batendo a porta com toda a força que podia.
Gaara revirou os olhos.
Temari estava errada. Não havia alguma coisa agora. Sempre houve. Pelo menos desde que ela fora embora.
O que ele queria era poder conversar com ela uma última vez, pelo menos, mesmo que não houvesse chance de reconciliação entre ambos. Só para esclarecer o porque de os dois não terem dado certo.
Uma idéia iluminou a cabeça do ruivo, fazendo-o sorrir de canto.
xXxXxXxX
-Ino? – Sakura chamou, entrando na floricultura, alguns dias depois.
-Oi, Sakura.
-A Tsunade-sama quer falar com você.
-Comigo? – a loira se surpreendeu.
-É. Ela pediu que você fosse com urgência na sala dela.
Ino lançou um olhar preocupado à floricultura vazia.
-Eu cuido dela enquanto você estiver lá. – Sakura disse, sorrindo.
Ainda com um olhar de dúvida, Ino tirou o avental e disse à Sakura:
-Não recomende flor nenhuma pra nenhum cliente. Você sabe que não entende nada de flores.
xXxXxXxX
Ino chegou a sala da Hokage e bateu à porta, ainda em dúvida sobre o que a mulher poderia querer com ela.
-Entre. – ela ouviu a voz da Hokage responder.
Ino abriu a porta com cautela e entrou na sala.
-Tsunade-sama, a Sakura me disse que a senhora precisava falar comigo...
-Sim. – ela respondeu – Tenho uma missão em Suna pra você.
-O...o quê? – Ino perguntou, confusa.
-Tenho uma missão em Suna pra você. – Tsunade repetiu, calmamente.
-Mas...não pode designar outra pessoa para essa missão?
-Eu preciso que seja você, Ino.
-Tu...tudo bem. Quando eu devo partir?
-Amanhã cedo.
xXxXxXxX
Ino se encontrava no portão de Suna quando uma idéia lhe ocorreu. Aonde ela dormiria?
-Veio de Konoha para uma missão?
Ino se virou, rápida, reconhecendo a voz fria que havia perguntado isso a ela.
-Gaara?
-Ino.
-O que está fazendo aqui?
-Eu moro aqui. – ele revirou os olhos.
-Quero dizer o que está fazendo aqui no portão? – ela reformulou a pergunta.
-Vim te buscar.
-Co-como? – Ino indignou-se. – Mas e a minha missão?
-Sua missão é ficar hospedada na minha casa pelo tempo suficiente pra mim entender porque nós não demos certo.
-Tsunade apoiou isso?
-Eu não falei pra ela qual era a missão. – ele sorriu, maroto.
Ino virou as costas para o ruivo e saiu andando com passos firmes, antes de sentir uma mão forte que a agarrou no braço.
-Me solta!
-Não. – Gaara respondeu, indiferente.
-Está me machucando.
-Desculpe. – ele respondeu, afrouxando o aperto, mas ainda sem soltá-la.
-Me solta, idiota! Anda, seu retardado, me solta, eu vou voltar pra Konoha! – ela gritou, atraindo vários olhares para os dois.
-Quer que eu diga para Tsunade que você faltou com respeito ao Kazekage e ainda por cima não quis completar sua missão? – ele perguntou, irônico.
-Eu não vou ficar aqui nem mais um segundo! – Ino gritou, mordendo o braço do ruivo, que agüentou com firmeza.
Quando a loira viu que sua mordida não deu resultado, ela começou a chorar.
-Gaara, me solta! Por favor, não me faz ficar aqui!
O ruivo, impotente diante de lágrimas, soltou a garota, que continuou no mesmo lugar, ainda chorando.
-Não vai voltar pra Konoha? – Gaara perguntou, gélido.
Ino levantou os olhos vermelhos pra Gaara e meneou a cabeça.
Por mais que ela não quisesse, ela sabia que ele tinha razão. Ela precisava ficar e se resolver com Gaara.
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-Não vai comer? – Gaara perguntou, mostrando um prato de comida que ele havia colocado em frente a loira, na mesinha da sala.
Ino sacudiu a cabeça.
O ruivo se sentou ao lado dela e passou um braço pelas costas da loira, que saiu desse abraço com uma sacudida de corpo.
-Ino, porque foi embora?
-Você não me queria aqui. – ela respondeu, encarando os próprios pés.
-Quem disse isso? – ele perguntou.
-Ninguém me disse. Quando eu contei que precisava ir embora, você não fez objeção. – Ino olhou nos olhos de Gaara pela primeira vez desde que haviam entrado em casa.
-Eu achei que você quisesse voltar.
-De onde você tirou essa idéia, Gaara?!
-Nós não estávamos muito bem na época em que o comunicado pra você voltar chegou. – Gaara murmurou depois de longos minutos de silêncio.
-Nós estávamos em uma simples crise! – Ino exclamou. – Não era motivo para nos separarmos. Quando eu percebi que você não me impediu de voltar pra Konoha, eu decidi que o melhor era voltar mesmo. – Ino conseguia, finalmente, depois de muito tempo, colocar pra fora o que a estava incomodando.
Novas lágrimas começaram a brotar dos olhos já inchados da moça.
Gaara ficou boquiaberto ao ouvir aquelas palavras da garota. Ele nem sequer imaginara que, por um mal-entendido, ele havia sido o maior culpado por Ino ter ido embora. Por sua própria causa, ele não estava feliz com Ino até agora.
-Quando começamos a brigar com mais freqüência, eu percebi que você não era mais a Ino que eu conhecia. A minha Ino. Aquela garota feliz, sempre sorrindo. Então, eu decidi que você seria bem mais feliz se eu não estivesse junto de você. E quando você me contou que teria que voltar para Konoha, eu vi que essa seria a sua chance de ser feliz.
Foi a vez de Ino ficar boquiaberta. Ela olhou Gaara como se nunca o tivesse visto antes e sussurrou, como se isso fosse errado de se dizer:
-Como você pode pensar que eu seria feliz sem você? O tempo todo em que estivemos separados eu não consegui viver, era como se eu tivesse morrido por dentro, como se algo tivesse se apagado dentro de mim, Gaara.
O ruivo passou um braço pela cintura de Ino delicadamente a trazendo mais para perto dele. A loira sorriu docemente, encarando a imensidão verde que se aproximava cada vez mais dela.
Ino sentiu o hálito frio de Gaara em sua pele e, antes que pudesse controlar a torrente de pensamentos e emoções que lhe ocorreu, ela estava com as mãos agarradas ao cabelo dele como se não pudesse soltá-lo, o beijando.
A noite sem lua que tinha sido a vida de Ino no período em que ela esteve sem Gaara estava de repente amanhecendo, ficando muito clara, como se um meteoro a tivesse atravessado. Era como se eles nunca tivessem se separado, como se aqueles meses nunca tivessem existido.
Fogo e gelo em um só espaço? Seria isso possível?
Os dois, perfeitos elementos de uma única combinação perfeita, finalmente juntos.
FIM
