Uma estranha no ninho

Capítulo I: Quem é você?

– Sendo assim, permito que você passe por Áries.

– Ah... merci, monsieur Mu! – fez uma reverência.

Mu sorriu e abriu passagem para a jovem.

– Tenha cuidado, certo? Embora eu acredite que você não venha a ter muitos problemas. Poucos cavaleiros estão em suas casas hoje.

– Eu... tomarei cuidado! Muito obrigada! – falou em grego, mas com forte sotaque francês.

Mu ficou observando enquanto a garota caminhava apressadamente. Esperava que a história que ela havia contado fosse verdadeira. Não se perdoaria se houvesse colocado o Santuário em risco.

...

Quando passou por Touro, ela retomou o fôlego. Nem se dera conta de que começara a correr ao perceber que o Segundo Templo estava vazio. Ainda passaria por tantas Casas Zodiacais e, embora soubesse um pouco a respeito dos Cavaleiros de Ouro, temia que eles fossem mais cruéis do que pareciam. Ela chegaria viva em seu destino? Ah! Se todos fossem como o adorável Mu de Áries!

Firmou a mochila nas costas e olhou resignada para a próxima escadaria. Repassou a ordem do Zodíaco mentalmente. Gêmeos. Dois guardiões? Um deles com dupla personalidade, não era? Engoliu seco e continuou a caminhada.

– Ei Saga... tem alguém subindo aí.

– E?

– E daí que é uma mulher, mas está sem máscara. Seria alguma inimiga?

Saga saiu na porta do templo. Kanon estava no topo da escadaria.

– Uh! Mas que inimiga mais bo-ni-ti-nha! – deu um sorriso safado.

- Er... Excusez moi! – parou uns dois degraus abaixo de Kanon. – Eu não sou inimiga!

Kanon puxou-a pela mão e girou-a por todos os lados possíveis.

– É... não parece uma inimiga, Saga.

– Tenha modos, Kan! – Saga se aproximou e olhou para a garota. – Quem é você?

– Tenha modos você, Saga! Ela parece inofensiva. – olhou novamente para a menina. – Bem-vinda ao Templo de Gêmeos, habitado pelos mais lindos e perfeitos cavaleiros do Santuário. – piscou. – Quer entrar e descansar um pouco? Aí você pode nos explicar o que faz aqui.

Ela sorriu, um pouco sem graça. Aquele cara não parecia estar sendo bonzinho a troco de nada. Seria ele o que tinha dupla personalidade?

– Ah... oui! Merci.

Saga já adentrara o templo. Levaram a garota até um sofá.

– Então, já pode nos dizer. O que faz no Santuário?

Ela ficou aliviada por ter a chance de se explicar. E eles ouviram a história.

...

Depois de responder ao questionário imenso de Kanon, ela conseguiu sair de Gêmeos. Câncer e Leão estavam vazias. Entrou receosa em Virgem e encontrou o guardião da Sexta Casa meditando. Ele continuou de olhos fechados quando disse:

– Então você conseguiu passar pelos gêmeos. Pode seguir adiante.

– Obrigada! Mas... não vai me perguntar quem eu sou e o que faço aqui?

– O Mu já me disse. Ande, deve estar ansiosa por chegar ao seu destino, não? Seja bem-vinda ao Santuário.

Ela abriu um sorriso. Que sorte não ter de explicar toda a história mais uma vez. Acenou com a cabeça para Shaka e seguiu adiante.

Libra era mais uma das casas que estavam vazias. A francesa passou correndo por ali e subiu as escadarias com pressa. Estava chegando. Mesmo as escadas sendo longas, se ela não tivesse maiores transtornos, chegaria lá e viva!

Não viu ninguém quando parou na porta de Escorpião e então voltou a correr, adentrando o templo. Já podia avistar a saída quando tropeçou em algo e caiu.

– Ai!

– Quem está aí?

Para piorar, havia um guardião na casa. Ele ia achar que ela era uma inimiga. Fim da linha.

...

– História interessante a dela, não, maninho?

– Vou até Áries. Preciso saber se ela falou o mesmo para o Mu.

– Por que está sendo tão seco comigo, Saga?

– Com você eu me entendo depois, Kanon. – disse rispidamente, saindo porta afora.

...

Milo pensou que estivesse ouvindo demais. Ou então, que alguma de suas bagunças tivesse caído. Não se preocupou.

Terminou de vestir a calça e saiu do banheiro enxugando os cabelos. Foi quando se deparou com a menina, que estava levantando.

– Quem é você? – passou as mãos pelos cabelos úmidos e ficou segurando a toalha, enquanto olhava para ela.

Je... je suis...

Milo arqueou uma sobrancelha. Ela ficou olhando para ele, sem conseguir falar mais nada. Aquele tórax bem definido completamente exposto, os cabelos loiros úmidos, os braços fortes, o corpo todo bronzeado e aqueles olhos azuis. Aquilo era um cavaleiro ou um deus grego?

– E então... quem é você?

Ela desatou a falar em francês, contando exatamente o que contara para os outros cavaleiros. Milo não entendeu nada. Reconheceu uma ou outra palavra, mas não compreendeu nem uma frase. Não tinha importância. Ele entendera o mais importante.

– Você disse Camus?

Ela não ouviu a pergunta. Estava olhando para além dele.

Papa!

Ela correu e pulou nos braços de Camus, que estava parado na saída de Escorpião.

– Ahn? – Milo voltou-se para os dois e ficou olhando, sem compreender.

– O que está fazendo aqui, Sophie? – perguntou enquanto afagava os cabelos cor de fogo dela.

– Eu vim vê-lo, papa. – ela disse, em grego. Sabia que ele acharia desrespeitoso que ela falasse em francês na frente de alguém que não compreendia o idioma.

Milo não tinha reação. Camus estava afagando os cabelos daquela menina! A-f-a-g-a-n-d-o!

– Devia ter me avisado. Sabe o risco que correu subindo sozinha pelas Doze Casas?

– Par... er... desculpe.

Camus afastou-a de si para olhá-la melhor.

– Você cresceu muito, chérie. Está linda.

O escorpiano estava espumando de ciúmes. Pigarreou, tentando chamar a atenção.

– Ah, me desculpe, Milo. – disse Camus, como se só então houvesse notado o grego. – Esta é Sophie. Sophie, este é Milo, o Cavaleiro de Ouro de Escorpião.

Conduziu a jovem até Milo. Ela esticou a mão para cumprimentá-lo e ele hesitou. Ela não notou, mas Camus sim e lançou um olhar congelante para Milo. Rapidamente o escorpiano apertou a mão dela.

– É um prazer, Sophie.

– Igualmente, monsieur Milo.

Embora sorrisse de forma adorável, Milo estava explodindo por dentro. Queria envenená-la naquele aperto de mão. Sophie por sua vez estava encantada. Ele era ainda mais lindo de perto. E aquela mão forte, envolvendo a sua pequena e delicada. Ah! Até esquecera a presença de Camus.

– O que fez no joelho, petite? – perguntou Camus.

– Ah! – ela soltou a mão de Milo e olhou para baixo. – Eu... caí. Tropecei naquilo ali- – ia apontar o objeto que estava no chão, mas o anfitrião já correra a escondê-lo. Era o seu pinguim de pelúcia.

– Essas coisas espalhadas pelo meu templo! Sempre esqueço de guardar, sabe? – Milo deu um sorrisinho amarelo. – Já volto! – sumiu dentro de um dos cômodos.

Camus pegou Sophie no colo, como se ela fosse um bebê.

– É melhor que não force o joelho. Eu a carrego até Aquário.

Merci, papa.

Je t'en prie. – virou-se para a saída. – Allez!

Quando Milo retornou para o hall, não havia ninguém.

– Maldita garota!

...