Pensamentos na aurora.

O céu estava borrado com a chegada da aurora. Ela olhava timidamente pela janela. Sua vida estava em ordem, seus amigos estavam bem e felizes, seu pais estavam orgulhosos de sua filha. O mundo bruxo nunca esteve em tamanha calmaria, e o mundo trouxa estava como sempre: Uma guerra aqui, outra ali... Disputas veladas sobre qual país iriam explorar o outro. Mas nada que não estivesse dentro da rotineira individualidade egoísta dos governantes trouxas. Não havia mais Voldemort para aterrorizar a todos. Mas também não havia mais Dumbledore para alegrar a todos e oferecer acidinhas. Concluiu ela pesarosa.

Dumbledore havia sido a única baixa - graças à Mérlin, pensou ela – de guerra do lado da ordem. E mesmo assim – como todos descobriram mais tarde- Sua morte havia sido premeditada e pensada pelo próprio Dumbledore. É claro que houve feridos, como Gui, Harry, Gina, e Neville. Mas com o passar dos anos todos haviam se recuperado. Na verdade, com relação ao Gui, o único inconveniente foi as marcas no rosto, o gosto por carne mal passada (que se acentuava com a lua cheia), e o olfato poderoso que ele adquiriu.

Guí era capaz de saber quem aproximava-se da 'toca' só de farejar o ar. Ele captava odores dos mais imperceptíveis nas pessoas, e isso muitas vezes causava constrangimento – pensou ela com um sorriso safado brincando no rosto- Lembrava-se de uma vez que Gina e Harry voltaram de um passeio pelos arredores da casa da família Wesley, e ao voltarem foram surpreendidos com as palavras de Gui perguntando inocentemente, por que eles haviam entrado no armário de vassouras do quintal, observando o constrangimento dos dois ele farejou novamente, e sentiu um cheiro mais suave, camuflado pelo cheiro do armário. Ao constatar do que era o cheiro ele ruborizou violentamente, ficando tão vermelho quanto os próprios cabelos. Obviamente toda a família percebeu, e depois desse fato, a senhora Weasley passou a atormentar Harry todos os dias perguntando se ele e Gina não haviam decidido uma data para se casarem.

Harry agora era chefe do departamento de aurores. Ele continuava grudado em Ron, que também trabalhava no ministério, mas como vice ministro da magia, subordinado apenas ao próprio pai, que com o fracasso de Scrimgeour devido as injustiças praticadas por este, assumiu o posto de ministro da magia pouco antes da derrocada do Lorde Das Trevas.

O casamento de Harry havia sido o casamento mais lindo do mundo - pensou ela – Gina estava estupenda. Ela tinha pequenas flores do campo por todo o cabelo vermelho, e seu vestido era de um branco creme delicado, afinal, há muito tempo ela havia perdido o direito de vestir branco. O vestido era tomara-que-caia e possuía uma estampa de pequenas flores brancas, e era bem rodado. O véu era longo e bem seguro por uma tiara de ouro e pedrarias que mais parecia a coroa de uma princesa.

O casamento realizou-se em uma bela manhã num descampado gramado em frente 'A Toca'. Gina e Harry chamaram todos para o casamento e para a festa, mas a maior surpresa foi ver os elfos domésticos Wink, Dooby, e Monstro dando uma de 'damas de honra'. Dooby carregava as alianças, Wink – recuperado do vício por cerveja amanteigada - levava alegremente o véu da noiva, e Monstro jogava, raivoso, pétalas de rosas no chão. Com o retorno de Sírius da dimensão à qual ele estava preso, ele recuperou seus bens com Harry, e com isso, para seu desgosto, seu elfo 'Monstro' também. Ele ordenou que Monstro tomasse banho e vestisse um terninho branco para a ocasião.

Todos divertiram–se muito. Parecia que a dor da guerra havia sublimado, e

no final da benção da sacerdotisa, todos sentiram uma brisa morna acompanhada de um canto de fênix, era a presença de Dumbledore no coração de todos.

Alguns meses depois do casamento, Gina já exibia um barrigão lustroso de grávida. Ela teve as filhas de Harry em casa. Sim, Gina havia ficado grávida de gêmeas! Duas belas meninas de cabelos negros como os do pai, e olhos azuis como os da mãe. Nos momentos angustiantes durante o nascimento das gêmeas, todos estavam desesperados andando de um lado para o outro, dando de ombros uns com os outros ao andar pela sala. Fred e Jorge estavam extasiados por não serem mais os únicos "duplicados da família", Rony exibia uma cara pálida e levemente esverdeada, e Harry segurava os próprios cabelos, e a cada grito de Gina no cômodo a cima, ele puxava as mechas negras inclementemente, como se quisesse arrancar os cabelos do couro. Os outros homens Weasley roíam impiedosamente as unhas.

Ela e McGonagall eram as únicas mulheres na sala - pensou – e tinham que suportar perguntas freqüentes por parte dos homens do tipo: "será que ela está bem?", "será que uma das meninas já nasceu?", "será que não seria necessário chamar outro medibruxo para ajudar Ponfrei?".

A senhora Weasley estava fazendo o parto com ajuda de Fleur e madame Ponfrei, pois Gina negou-se a sair de casa para ir ao instituto Mungos. O parto não estava perigoso, mas um pouco complicado, pois Gina estava sentindo muita dor. Ela berrava, e seu gritos eram tão altos, que provavelmente, alguém que estivesse à um quilômetro da casa poderia ouvi-los sem problemas.

Todos na sala se assustaram quando Ponfrei irrompeu desesperada pela sala. Ela chamou McGonagall num canto e cochichou algo em seu ouvido. McGonagall deu um suspiro aparentemente surpresa com o que a medibruxa havia lhe dito. E sem demora, ignorando as perguntas de todos os homens, foi até a lareira pegou um pó fino que se encontrava em um vaso ao lado, jogou o pó nas chamas, e disse claramente: "Masmorra de Hogwarts!". E sumiu de vista.

A medibruxa olhava impaciente para lareira, e abaixava-se de vez em quando como se pudesse ver quando alguém estivesse chegando. De repente, o ambiente esverdeou-se com as chamas da lareira. Mas ao invés de McGonagall sair da lareira, todos viram um homem de aparência sinistra, com um narizão adunco, e cabelos compridos e oleosos irromper para fora da lareira. Ele possuía uma braçada de vidros e maços de ervas, e sem olhar para ninguém na sala além de madame Ponfrei, ele perguntou onde era a cozinha. Ponfrei indicou o lugar com um aceno nervoso.

Ele caminhou resoluto para o local indicado, ignorando as caras surpresas. Mas antes de chegar ao destino, a voz da medibruxa fez-se ouvir novamente pedindo para que além da poção de "dilatação", o bruxo fizesse também outra "calmante-tira-dor".

Quando Snape terminou as poções, ele subiu para o cômodo de cima sem pedir permissão a ninguém. Harry e Ron ainda não haviam superado o fato de que Severo Snape não era e nunca foi um traidor, e sempre que viam o professor, mostravam uma tromba maior do que a de um elefante com caxumba de dragão. Mas nunca implicavam com este, pois guardavam o medo dos tempos de escola. Portanto, não implicaram também com a subida do mestre de poções ao quarto ao qual todos os outros foram proibidos de entrar.

Cerca de dez minutos depois da subida do professor, os gritos de Gina cessaram, e os habitantes da parte de baixo da casa conseguiram ouvir a voz da senhora Wesley suplicando alto para que a filha "empurrasse com força". Mais cinco minutos, eles ouviram um choro esgoelado e desesperado de criança recém nascida. Neste momento Harry largou os cabelos e tombou para traz no sofá. Parecia que estava desmaiando. Ele exibia o mesmo sorriso bobo e confuso que Girlderoy Lokart mostrou quando acordou após receber o feitiço de memória que havia saído pela culatra da varinha quebrada de Ron.- pensou ela - Mais dez minutos, e outro choro bebê quebrou o silêncio da casa, só que desta vez o choro era mansinho e brando. Harry que havia levantado e estava novamente andando de um lado para o outro, dessa vez ao ouvir o segundo choro, bambeou sobre as pernas, sua pele adquiriu um tom pálido, e virando os olhos, ele caiu sobre o sofá. Neste momento Snape descia do quarto, e ao ver a cena virou os olhos em uma expressão de desdém e impaciência, jogou um punhado de ervas no sofá ao lado do desmaiado menino que sobreviveu, e disse para Ron e ela amassarem um pouco as ervas e colocarem perto do nariz de Harry. Snape completou dizendo a ela e ao Ron que Ponfrei havia pedido para que ele trouxesse as ervas para o caso de ter que manter Gina acordada, mas como a garota era forte, ela não havia precisado. E completou falando: "ainda bem que eu trouxe, já que o mentor da barriga dela não agüentou a pressão de ter colocado mais dois Potters no mundo, bem, na verdade 'duas', pois são meninas... Há sim... Diga a Potter quando ele acordar que eu deixei minhas sinceras condolências – disse o bruxão com um ar malvado - já que desde já eu pude perceber que a primeira que nasceu terá um gênio tão difícil quanto o dos tios também gêmeos dela". E saiu para a porta, deixando apenas um barulho alto de "CRAK", atestando que havia aparatado.

Posteriormente, ela veio a saber por intermédio de Gina, o que havia acontecido durante o parto depois que o professor subiu. Gina contou que sua cunhada não conseguia chegar perto dela de tanto medo, e que, portanto até Snape chegar, eram apenas Molly e Ponfrei que cuidavam do parto. Molly desdobrava-se em secar o suor da filha, segurar a mão da moça, lavar as toalhas, e massagear a barriga dela para que os bebês se acomodassem na posição certa. E Ponfrei cuidava do parto como medibruxa e fazia exames com a varinha para ver como estavam as crianças e a mãe, e cuidando sempre em verificar dilatação da moça.

Após um tempo a medibruxa constatou que os bebes iriam precisar de ajuda para nascer. Mas diferente dos médicos trouxas, os bruxos não cortam a barriga da mãe quando o parto normal não dá certo, eles ministram uma poção perigosa, que deve ser dada em gotas precisas à paciente. Com a chegada de Snape, e a incapacidade de Fleur ajudar Molly no parto, a medibruxa não podia ficar ministrando a poção, então pediu para que ele ficasse ao lado dela gotejando à cada dois minutos a poção de 'dilatação' e a poção 'calmante-tira-dor'. Então Gina disse que pela primeira vez na vida, viu uma expressão que não fosse ódio ou desdém no rosto do professor. Contou que o bruxão sentou-se ao lado dela na cama, tomou sua cabeça para o próprio colo, e da mesma forma que um pai faria com uma filha, a cada dois minutos ele dizia baixinho para ela tivesse calma e abrisse a boca e para que ele pudesse ministrar as poções. Gina contou também que ele tinha um ar de preocupação contida, e que quando Molly pegou o primeiro bebê e mostrou a ela, todas as mulheres no quarto puderam notar no professor uma cara boba de admiração pela nova vida que acabara de nascer.

Essa foi a primeira e ultima vez que ela havia visto o professor desde o final da guerra.- pensou. É claro ela ainda tinha noticias dele, afinal, ela tornou-se uma grande amiga de sua professora de transfiguração McGonagall, que agora era diretora de Hogwarts. A diretora havia lhe contado que Snape ganhara seu tão sonhado cargo de professor de Defesa Contra Artes das Trevas, e que após empossá-lo, ela havia encarregado o professor de entrevistar os candidatos para seu antigo cargo de poções, porém, segundo McGonagall, ele considerava todos os pretendentes ao cargo um bando de 'imbecis' e 'cabeças ocas' e, portanto indignos ao cargo. E assim, por escolha própria recusou o cargo de vice-diretor, para acumular o cargo em Poções e DCAT. Ela soube pela professora também, que ele continuava rabugento e maldoso com os alunos que não eram de sua casa, e que persistia em ser seco e sarcástico com os colegas de trabalho e, dessa forma, estava tanto ou mais recluso do que era antes. Certa vez, em um tom de segredo, McGonagall havia lhe dito que achava que o professor sentia falta de Dumbledore, pois este foi a única pessoa que compreendeu o mestre de poções verdadeiramente, que confiou e lhe deu uma chance para se redimir.

Ela sentia um misto de pena e identificação com seu antigo professor de poções. Tudo havia mudado depois da guerra – pensou ela – mas ela não conseguia se desvencilhar de antigos hábitos, como o de ser a "sabe-tudo-da-grifinoria" - pensou ela divertindo-se. Dez anos se passaram desde a morte de Dumbledore. E ela havia feito coisas dignas de seu título. A guerra durou na verdade apenas um ano. Um ano corrido, onde ela, Ron, e Harry, saíram pelo mundo para caçar as horcrux de Voldemort. Juntos eles destruíram todas, e por fim Harry destruiu o maior bruxo das trevas desde 'Rasputin'.