The Shaman
(Circa 10.000 AC)
Ele tinha olhos estranhos, e todos logo notaram isso. Não eram olhos normais, eram esquisitos e pareciam o céu antes da chuva, como no dia em que ele tinha nascido.
Diziam que ele prendera os trovões em seus olhos
Não se encaixava bem no grupo. Não gostava de catar comida, e não esperava os caçadores voltarem com a suas vitórias.
Saia sozinho, e ficava observando o mar e a imensidão além.
Ele era um garoto estranho. E logo ninguém o chamava pelo nome, mas apenas pelo apelido - Dragão.
Como as enormes bestas que viviam no mar que ele tanto observava e saiam nas noites de tempestade.
Mas Dragão não tinha medo nenhum da tempestade e a observava com tranqüilidade.
E quando chegou o tempo, ele foi levado para longe de todos.
Choveu por cinco dias, e ele jejuou sem reclamar. Ele passou por todas as provas sem nenhum comentário, e quando finalmente cortaram sua pele, ele sentou e explicou.
Contou aos outros como o dragão vinha até a terra disfarçado de serpente, como comia a pele que eles deixavam pra trás, e assim revivia - que era por isso que as cobras mudavam de pele e continuavam a viver enquanto homens e mulheres morriam. Mas não deveriam deixar de fazer aquilo, ou então, elas os atacariam, e seu veneno os mataria de qualquer jeito, amaldiçoando suas almas.
O menino dragão, agora rapaz, passou a colher algumas plantas e contar histórias para eles.
E um ano depois disso, adoeçeu, e todos acharam que ele iria morrer. Estava quente como o sol, e murmurava sem parar.
Mas ele levantou, no sétimo dia, como se nada tivesse acontecido, e contou para eles tudo que vira.
Todos logo notaram que ele era tocado pelos deuses - como diziam seus olhos atormentados.
Agora ele seguia os caçadores, e sua mágica trazia comida. E quando entraram em guerra, ele os protegeu com seus feitiços, e lutou com os espíritos dos guerreiros da outra tribo e venceu-os. E eles levaram a comida da outra tribo, suas armas e suas mulheres.
O rapaz dragão nunca pedira nada antes, mas ao colocar os olhos em uma das garotas da tribo, ele exigiu-a para si.
Os olhos dela não eram tocados pelos deuses, mas havia outras marcas bastante claras - inclusive a forma como ela o cumprimentou como igual.
Ela foi com ele para casa, e eles souberam que seu marido tinha sido morto na batalha. Ela odiava o rapaz-dragão, mas respeitava-o de forma relutante. E deu a ele filhos, crianças com a marca dos deuses.
Dizem que foi assim que tudo começou e a magia veio ao mundo - e que, através dos tempos, a cada reencontro, o mundo muda de lugar.
