Nota da autora: one shot curto, só uma ideia sobre o Rei que já amava a Garota mesmo antes de a encontrar. O Erlkonig como pai de Jareth é uma ideia roubada das fancomics Girls Next Door/Roommates.

- Eu não mexeria essa torre se fosse você.

A mão de ossos finos parou no mesmo instante. Ficou pairando sobre a peça branca, indecisa, até que o oponente suspirasse.

- Certo, faremos uma pausa. Da próxima vez, deixo você colocar sua rainha em xeque.

O jogador das peças pedras levantou e foi até a janela. Parou para contemplar a paisagem do seu reino desolado. Já teve vários nomes, mas o que ele mais gostava e usava era Lúcifer.

- Não ando com a cabeça boa para o xadrez depois de tudo o que aconteceu...

- Nunca jogou bem, Jareth. Não use essa desculpa esfarrapada.

O elfo vestido de couro negro rangeu os dentes.

- Você não sabe o que eu passei…

O Diabo perdeu a paciência.

- Eu caí do Céu, me tornei senhor de uma imensidão abjeta que fede a enxofre e tenho direito a um dia de folga por ano, quando jogo uma partida de xadrez que já dura 499 anos. E ainda aguento suas lamúrias. Isso porque me atrevi a dizer que anjos podiam ter livre arbítrio. Você levou um fora de uma mortal…

- Duas vezes…

- Como assim?

- Eu a encontrei de novo, em uma nova encarnação… e a perdi.

- Isso é proibido. Se ela o recusou da primeira vez… – o anjo caído voltou a olhar o companheiro de jogo.

- Eu nunca mais poderia encontrá-la. "Você não tem poder sobre mim". Eu sei, lembro disso. Estava lá.

- Como você conseguiu, Jareth?

- Eu barganhei com um djinn.

Lúcifer levantou uma sobrancelha.

- E o que você entregou a ele?

- Meu reino.

- Um djinn governa as Summerlands? E o seu pai?

Jareth era filho do Elrkonig, o Rei de Todos os Elfos. Uma criatura tão sinistra que até o Senhor dos Infernos preferia não enfrentar.

- Teve que recomprar as terras do djinn. Fui rebaixado e agora sou rei dos goblins.

Lúcifer fez uma careta entre nojo e pena.

- Bom, podia ser pior. Você agora vai desistir dessa ideia maluca.

- Não. Já conversei com o djinn. Vou tentar mais uma vez.

- E o que você poderia apostar agora?

- Minha alma? Minha linhagem? Não me importo. Em alguns anos, ela irá reencarnar e dessa vez eu vou conseguir convencê-la a ficar comigo. Darei-lhe poderes mágicos e ela irá compreender o meu amor.

A mão do elfo dirigiu-se para a torre. Lúcifer sorriu. Dessa vez, não iria avisá-lo, pois aquela rainha estava em xeque há 499 anos e o final da partida aproximava-se. O djinn aceitaria a barganha e novamente o orgulhoso príncipe élfico cairia frente a uma mortal. Pela última vez. A alma da moça que encantara Jareth era do antigo Anjo da Luz desde sempre, uma apetitosa isca que o levaria a ganhar poder sobre a alma dos seres feéricos. Ele teria especial prazer em condenar o Erlkonig, sempre tão presunçoso, a uma temporada no Tártaro. Talvez poupasse o filho e o tornasse seu parceiro, com um pedaço do inferno para governar. Se estivesse de bom humor, até lhe entregaria sua mortal.

Afinal, depois da partida encerrada, a preciosa Sarah seria apenas uma peça perdida. Pouco mais importante do que a pequena peça branca que o anjo caído exibia nas mãos milenares. Os últimos raios de sol iluminavam o fim do dia de folga do Senhor dos Infernos.

- Avisei para não mexer a torre, Jareth. Mais sorte ano que vem.