Disclaimer:Neon Genesis Evangelion não me pertence. Nem a Asuka me deram de presente :(

N/A: Fic totalmente reescrita.

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Na medida do impossível

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Uma criança de aparência frágil encarava o próprio reflexo, ao mesmo tempo em que não tirava o olho de uma mulher de aparência doentia deitada em uma cama de hospital.

Em suas mãos havia uma boneca de pano que ela protegia contra o seu corpo e que se dirigia como filha.

Mas aquela que nascera de dentro de si encontrava-se do outro lado do vidro, podendo apenas passar as pequenas e delicadas mãos sobre ele, como se assim pudesse ficar mais perto de quem por dever e amor, chamava de mãe.

Aqueles longos cabelos ruivos presos em duas Maria – Chiquinha já não conseguiam mais esconder a inocência perdida.

Aquela menina recusava-se a aceitar aquela cena, aquela situação e, principalmente aquela boneca.

Bastava olhar em seus tristes olhos azuis e ver como insistentemente ela ia para lá todos os dias e ficava a olhar para sua mãe o tempo que seu corpo cansado permitisse.

- Asuka, a mamãe vai ter contar uma bonita história.

- Querida, a mamãe fez aquela comidinha que você tanto gosta.

- Minha filha, eu gosto tanto de você, você é tão especial...

Lembrou-se das palavras dela e de quando ainda podia dormir abraçada naquele corpo quente e macio.

Respirou fundo juntando força para não chorar, para não fraquejar e para poder continuar sendo a querida garotinha especial de sua mãe.

Mas Asuka nunca poderia deixar de pensar que, mesmo estando separadas por aquele vidro odioso, ELA era sua filha, que era DELA que ela deveria amar e que ELA era especial.

Tão especial que...

- MAMÃE!!!! – A pequena Langley Soryu corria apressada pelos corredores do hospital.

Seus olhos azuis transbordavam aquela esperança que há muito a criança não tinha.

- Mamãe! – Ela gritou podendo sentir seu coração querer rasgar seu peito, tamanha era a sua ansiedade.

Ela finalmente iria atravessar o vidro...

- Mamãe você não vai acreditar eu... – Mas antes disso, ela sentiu suas pequenas e frágeis mãos baterem contra vidro, não conseguira atravessá-lo.

- Mamãe, eu... – Seus olhos azuis que há pouco transmitiam esperança agora estavam opacos e carregados de tristeza.

Sua mãe já estava com alguém.

Ela sempre estava.

- Eu fui à escolhida mamãe, olhe para mim, olhe para a sua filha, a filha especial que conseguiu o que você tanto queria, não era isso mamãe, não era? Mamãe, mamãe, mamãe, olhe para mim mamãe.

Por favor,...

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Levantou-se em um impulso podendo sentir uma fina e incômoda gota de suor deslizar sobre seu rosto. Sua respiração era ofegante e ela jurava ainda sentir seu coração querer rasgar seu peito.

Ela acordara de um pesadelo que não tinha fim com apenas um despertar.

- Por que mamãe? – E nessas horas ela podia sentir sua mente, seu corpo e tudo nela voltar a anos atrás. – Por que eu nunca fui boa o bastante para você?

Perguntou em meio ao quarto vazio com a voz carregada de rancor e tristeza, tendo como resposta o barulho da árvore batendo em sua janela.

Balançou a cabeça fortemente sentando-se sobre o futon.

Ela não poderia fazer aquilo. Asuka estava agindo da pior maneira possível. Estava sendo fraca e aquilo era medíocre demais.

Nojento e repugnante.

A ruiva não era como Shinji para ficar chorando pelos cantos, mas também não era nenhuma Ayamami para aceitar tudo o que lhe fosse concebido.

Ela era Soryu Asuka Langley. A escolhida a dedo entre tantos para ser a segunda criança, a pilota do Eva Unidade 02.

A garota perfeita...como sua mãe desejava.

Era frustrante, mas naquela noite em especial a exímia pilota lembrava-se de tudo aquilo que enterrou no canto mais profundo de sua mente.

Abaixou o rosto tentando esconder de si própria seu profundo e angustiado olhar, fechando os punhos com força. Poderia jurar tê-los sentido sangrar.

Ela não era apenas a criança que tinha como pai um dos espermas mais conceituados do mundo, não era apenas a criança que aos 14 anos já estava formada, não era apenas a pilota da unidade 02, e muito menos era apenas Soryu Asuka Langley.

Na verdade...

- Quem sou eu? Sou sua filha mamãe? Sou sua filha especial, não sou? – Sua mãe nunca responderia, mas a ruiva afirmava todas aquelas perguntas com seu orgulho e ego gigantesco.

Ego tão fácil de se quebrar e orgulho tão fácil de se ferir.

- Me responda mamãe, só você pode me responder... – Remexeu os pés inquietos por entre os lençóis, deixando-se cair pesadamente pelo colchão do futon por culpa do peso de seu corpo.

Aquele peso que sempre a derrotava.

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Ela podia sentir o ar enjoativo que aquele quarto a trazia, percebia sua respiração entre cortada e suas mãos tremerem levemente.

Mas não fazia mal.

A pequenina não estava mais do lado de fora, podia até mesmo sentir o cheiro de sua mãe em meio ao aroma de remédios.

Ela cheirava a morangos.

- Mamãe? – A ruiva falou, aguardando ansiosamente por uma reação que não veio.

A mulher ao seu lado apenas continuava a abraçar a boneca.

A criança a olhou desamparada, não conseguia entender, afinal...

A boneca não pilotaria a unidade 02, ela não era especial. Então...

- Mamãe, por que você não fala? Não fala comigo? Há alguma coisa de errada comigo?Por que você não fala com ninguém? Aconteceu algo? Que boneca é essa? Mamãe, mamãe, mamãe...

Sentiu sua voz desaparecer e uma falta de ar insuportável.

Seu frágil pescoço estava entre as mãos daquela que insistia em depositar o seu amor.

Por que estava a enforcado?

Por quê? Por quê? Por quê?

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-Aquela boneca era eu? – Abriu os olhos com sua voz saindo mais triste do que esperava e menos fria do que pretendia. – Impossível...

Fitou as palmas de suas mãos. Tão fracas...

Irritou-se.

Sabia que não era fraca! Não era uma chorona, não era frágil, não era delicada, NÃO ERA UMA BONECA!

Nerv? Eva? Lutas? Salvação do mundo?!?!?

Nada disso a importava, nada daquilo era a sua obrigação, nunca foi e nunca seria.

Mas aquele robô gigante e aqueles monstros denominados de "Anjos" que sempre a ensinaram ser os seres mais nobres, puros e bondosos do céu, eram as suas salvações.

O reconhecimento a salvaria junto do egoísmo, individualidade e... medo...medo do mundo, medo de tudo.

Porque Asuka se machucou e chorou, porque Asuka ainda se machucava e chorava.

Abraçou a si mesma, sentindo o ar frio cortar-lhe a pele mesmo na tentativa de ignorar o frio e o colchão perfurar-lhe o corpo como milhares de agulhas.

Aquele futon não era para confortá-la?

Aquele lençol não era para aquecê-la?

E seus olhos não eram para fecharem-se?

"Está na hora de dormir Asuka"

- Então por que ninguém vem me dar boa noite?

"Asuka querida, está frio, cubra-se"

- Então por que ninguém vem me cobrir?

Forçou um sorriso suportando o frio e todas as agulhas que lhe perfuravam o corpo.

Era sozinha afinal.

Mas aquelas perguntas nunca deixavam de assombrá-la, buscando desesperadamente por uma resposta.

Por que sua mãe morrera? Por que sua mãe a deixou, por que sua mãe a abandonou? Por que sua mãe a trocou? O que havia de errado? O que acontecia de errado, o que ela tinha de errado?

Sorriu.

Aquilo era fácil. Nada.

Levantou-se de forma decidida, ignorando qualquer trauma de infância.

A segunda criança caminhou silenciosamente até o banheiro.

Sem se preocupar em fechar a porta atrás de si, a ruiva passou a encarar a própria imagem pelo espelho retangular. Sua imagem de garota perfeita.

Como pai, um dos espermas mais conceituados do mundo, órfã de mãe e trocada por uma boneca... aos 14 anos já formada, pilota do Eva unidade 02 ... Soryu Asuka Langley.

- Filha de Soryu Kyoko Zeppelin, a segunda criança...cercada por idiotas. – Não tinha como não se sentir superior, não tinha como não se sentir diferente, não tinha como não merecer as glórias...

Não tinha como não querer apenas o reconhecimento de sua mãe.

Simplesmente não tinha como não sonhar e desejar ser perfeita.

Fim

N/A: Como já comentei, totalmente reescrita. Parece que fiz a limpa aqui XD

E claro tudo continua dedicado a Ni e a Kakau, pessoas que adoro.