Ele sempre foi apenas por ele mesmo.

-Eu adoraria ajudá-los, mas meu programa favorito irá começar.

Ele nunca se importava com a vida de seu paciente, apenas com o desvendar do quebra-cabeça.

-Estamos falando de uma vida, House! Você não pode querer abri cada parte do corpo do paciente a procura da causa dos sintomas! – gritou Foreman agressivo.

House nem mesmo se abalou com a explosão do empregado; mancando ele seguiu para sua sala respondendo por fim. – Ok, se não quiser abrir o paciente agora, eu posso esperar até a autópsia.

Ele nunca soube cuidar nem de si mesmo.

-Francamente, você parece um adolescente agindo assim! - Wilson grunhiu enquanto terminava o curativo. – Teve sorte de ter tido esses poucos machucados, bêbado como estava e pelo estado que a moto ficou a queda deveria ter lhe custado no mínimo alguns ossos.

Ele sempre viveu em eu próprio mundo, no conforto de sua vida medíocre.

Uma cerveja gelada e sua televisão a cabo eram tudo que ele veria naquele resto de tarde de sábado, e talvez, e apenas talvez, se o Truck Rally acabasse mais cedo ele poderia cogitar a possibilidade de sentar-se frente ao piano e quem sabe até chamar alguma prostituta para satisfazer-lo, mas seu domingo decididamente seria dentro daquelas poucas opções, seguro de qualquer idiota que ousava acreditar que o conhecia e principalmente longe de todos aqueles pacientes que ainda o encaravam furtivamente quando passava.

Então um segredo morto a muito tempo em seus lábios desperta e aquilo que a muito ele havia se esquecido retornou.

A carta em minhas mãos era clara, não havia escapatória, a garota viria. A garota que a muito eu havia esquecido... Como isso pode acontecer? Como agora, depois de tantos anos, ela viria? O que a justiça tinha na cabeça ao decidiu mandá-la a mim? Por Deus todos sabem que eu não tenho capacidade para criar uma garota, principalmente uma adolescente que acabara de perder a mãe e descobrir que o pai, já falecido, não é nada seu. Ela nunca seria sua filha, Gegory House não tinha filhos.

A convivência era mais difícil do que ele imaginou ser.

-Você é uma idiota altruísta! Pare de ser tão estúpida em se preocupar por alguém que nunca se lembrará de você. – Gritou House alterado. –Para de lutar por uma causa tão medíocre e morta!

(...) Antes que ela pudesse pensar direito sua mão acertou em cheio o rosto do pai, forçando-o a se virar e um vergão vermelho surgir em seu rosto. Lágrimas de ódio escorriam pela face da jovem. –E você é um cretino que só sabe ter pena de si mesmo. CRESÇA!

Aos poucos eles aprenderam a conviver e se tornarem pai e filha.

- Sinto tanta falta dos meus pais, dos meus irmãos; da minha família, da minha vida...– murmurou ela, as lágrimas silenciosas escorrendo por sua face cálida, seu olhar focou suas próprias mãos. – Tem sido tão difícil...

Em um lapso de compaixão, sentindo pela primeira vez o que ela sentia, House aproximou-se e a envolveu em seus braços, acolhendo-a em um abraço que ele nem mesmo sabia dizer se adiantaria algo, mas algo dentro de si dizia que era o melhor a se fazer no momento. - Nunca é fácil... – sussurrou ele afagando os cabelos da jovem com um carinho nunca antes visto por aquele homem.

Ele precisou aprender a ser pai da maneira mais difícil.

-Ela está em choque House, precisa de você! – gritou Cuddy. – O garoto se matou na frente dela e deixou uma gravação deixando claro que a culpa era dela! Como acha que ela se sente? Por Deus ela é só uma criança e tem o mundo nas costas! – uma breve pausa, se aproximando de House e baixando o tom de voz. – Ela. Precisa. De. Você! Ela nunca precisou tanto do pai dela como agora e você PRECISA estar lá para ela!

Quando tudo finalmente pareceu se acertar, a enfermidade afetou aquela família conturbada e nada convencional.

-Pare de se martirizar House! Você é um dos melhores médicos desse país! Vai curá-la! – Foreman grunhiu tentando fazer o chefe pensar com coerência.

-MAS NÃO SOU BOM O SUFICIENTE PARA CURAR MINHA PRÓPRIA FILHA! – Gritou House. – E agora ela está lá! Naquela cama! Morrendo... – sua voz foi diminuindo até não passar de um sussurro. – E eu não faço idéia do por quê.

A vida de Gregory House tomou rumos que ele jamais imaginou e só conseguira sobreviver a seu próprio destino permitindo que os sentimentos que a muito ele desprezava e arrancara de dentro de si voltassem a crescer ensinando-o a finalmente ter a família que ele nunca antes teve.