Anosmia*
Por: Watashinomori
Capítulo 01
Kid Flash estava em seu apartamento, comendo todo os lanches que, bom, haviam sido comprados para ele de qualquer maneira. Sorriu achando as diversas semelhanças entre esse KF e o antigo. Bart desenvolvera essa mania terrível de invadir seu apartamento quando em alguma missão sentisse fome. A primeira vez quase matou o rapaz, não se deve entrar na casa de um membro da família de morcegos sem ser convidado. Mas Dick terminou por colocar o rapaz na lista branca das defesas.
Hoje Nightwing não patrulharia a cidade, hoje era o aniversário da morte de Wally. Bart também não teria missão, nem o Flash ou Tigress. Todos esses heróis fizeram por tradição nesse dia se reunirem no Ártico, numa coordenada específica. Bart terminou seu lanche, e a refeição saudável que Richard insistira para ele comer, e olhou para o herói mais velho, esperando.
-Vamos, KF?
-Yup - respondeu se alongando.
Bart tornara-se rápido o suficiente para, quase literalmente, saltar através do espaço. Se bem alimentado ele seria mais rápido que chegar até um Zeta-Beam e teleportar até o Ártico. Isso e o fato que Nightwing ainda não retornara à Liga e não 'tinha autorização'. Não que fizesse alguma diferença ele tinha uma autorização superior advinda da Batcave e outra hackeada. Entretanto, ele preferia deixar a Liga acreditar que era independente do Batman e seus pupilos.
Tocou o ombro do rapaz. Desde que tivera um colapso nervoso em vê-lo se machucar com a roupa de Kid Flash, o manto fora reformulado e atualizado. Subiu nas costas dele, com um rubor de embaraço pelo método de transporte, e num instante encarava o Flash, no frio do polo norte.
-Tigress? - perguntou se recompondo.
-Ela está ocupada, aparentemente. Você devia arrumar algumas dessas ocupações - sorriu para ele.
-Eu arrumo, ocupações, só que nenhuma tem prioridade acima de Walls, nada vai ter - tocou o ombro do homem e caminhou até o local onde ele um dia quebrara tentando assimilar o que perdera.
Ajoelhou-se e removeu a máscara. Chorou, sentia a trilha das lágrimas queimar no frio intenso. Seu corpo tremia tanto pelo frio quanto pela tristeza. A maior parte do tempo ele se mantinha bem, saía com garotas, conversava com os amigos e não evitava tópicos sobre o melhor amigo que se fora. Ocasionalmente soltava um "Wally também fazia isso" ou "Walls gostava disso", mas não vinha cheio de tristeza e perda, mas com nostalgia. Porém naquele dia do ano ele juntava toda a tristeza, dor e perda que ficara guardada e desabava no frio do Ártico. Gritou e e socou a neve fofa, sentiu braços o apertando e um corpo vibrando o aquecendo. Apertou a figura esguia diante de si o aninhando contra o peito. Flash observou a interação entre os dois. Depois da morte de Wally, Dick se tornara membro da família, oficializado quando batizara Don Allen. O que gerou diversas piadas sobre como Barry escolhera bilionários para apadrinhar seus filhos (Bruce era padrinho de Dawn, e Hal o importunava até hoje por não ter sido ele), ele devolveu dizendo que Ollie teria que ser o padrinho de Bart então.
Aproximou-se deles e tentou consolá-los. Dick era o pior. A culpa que os velocistas sentiam era grande, mas Dick se culpava por tudo, ele acreditava que sua falta de boa liderança e planejamento, que os segredos que mantivera levou o Time a quase ser aniquilado e a morte do Kid Flash. "Eu devia saber que eu não sou o maldito Batman" ele dissera. Na opinião do Flash ele seria um ótimo maldito Batman, talvez melhor que o original. Não fora culpa do rapaz, e sim do Reach, se não tivessem seguido seu planejamento o resultado final seria muito pior.
-Bart, Dick. Vamos lá, já passou cinco anos. Não deve doer mais tanto - mentiu. Pois doía, ele sentia a dor. Abraçou os dois e alisou suas costas. Incapaz de se conter mais ele também chorou, apertando os dois.
Todo ano era a mesma coisa, Dick era o primeiro a chorar e o último a parar. Artemis desistira esse ano pois ela sentia-se mal por não sofrer tanto quanto o homem. Depois de cinco anos se tornara um vazio, uma cicatriz, e não mais uma ferida que machuca. Dick lamentava como se tivesse acabado de acontecer, embora quando aconteceu tenha sido tão ruim que o Time não soube o que fazer.
Depois de horas chorando e confortando um ao outro os dois velocistas precisaram ir. Flash era necessário com os gêmeos, Bart sentia fome. Dick olhou para os homens e disse que voltaria depois pelo Zeta-beam. Eles se entreolharam preocupados, uma coisa era ficarem ali com a speedforce para os aquecer, outra coisa era largar Nightwing com apenas seu uniforme no frio do Ártico.
-Vão, eu só vou falar uma despedida, em particular. Eu vou ficar bem - limpou as lágrimas com as costas da mão. - Eu já vou, qualquer coisa eu chamo Bart.
Os outros dois assentiram hesitantemente e se dirigiram ao tubo de zeta-beam, instalado ao lado do local de morte do herói (ordenado pelo Batman para facilitar o luto do filho). Nightwing recolocou a máscara e virou-se novamente para o nada.
-Você não poderia escolher lugar melhor - a voz saía doída pelo frio, a garganta parecia rasgar com cada sílaba. - Sabe, dizem que é sempre mais escuro antes de amanhecer, você escolheu o maldito Ártico! Não amanhece no Ártico, Wall-man. Cinco anos, há cinco anos eu aguardo esse amanhecer - suspirou olhando ao redor. Novas lágrimas queimando atrás da máscara. - Não dá pra sentir esse astre.
Calou-se por um momento deixando as lágrimas rolarem, retirou novamente a máscara para facilitar, acalmou-se e virou para o zeta-beam. Então achou que finalmente chegara ao limite e começara a enlouquecer. Estava amanhecendo, no polo norte. ESTAVA AMANHECENDO! Girou sobre o próprio eixo e encarou a luz inesperada.
Não era preciso ser um detetive, o que ele era, para descobrir que aquilo não era o amanhecer. Uma enorme rachadura vermelha cortava o céu, ela abriu e alargou, sua força empurrando Dick para longe, raios saíram da abertura, mexendo com os sistemas da sua roupa e computadores. Jogou o comunicador longe quando explodiu. Tentou correr para o tubo de zeta-beam antes que essa tempestade o estragasse e ficasse preso no Ártico, escorregou no gelo meio derretido, mal se mantendo em pé. Tentou vigiar a rachadura todo o caminho, para se preparar para as explosões de energia ou raios. Estava sem chão, quase literalmente já que o gelo derretia a velocidades impressionantes, para tentar esquivar, mas vendo de antemão ele podia ao menos diminuir o impacto. Uma explosão o empurrou até o zeta-beam, onde batera com a lateral do seu corpo, se agarrando a máquina, ainda operante. Olhou uma última vez, calculando a próxima explosão. Foi quando o viu, um vulto dentro daquela rachadura, as explosões pareciam tentar expulsá-lo. Seu instinto de superherói atacou, puxou sua arma de gancho, e graças aos deuses morcegos paranoicos, ela era mecânica, não elétrica. Mirou no chão, próximo à rachadura, implorando que o gelo aguentasse seu peso. Recolhendo a corda puxou-se até a abertura. Ele podia sentir o ar ao redor mudando consideravelmente e pela eletricidade estática ao redor, outra explosão estava se formando. Entrou na rachadura entre escorregões, puxou o homem que estava parado, inconsciente, o pegou no colo e tentou se afastar o máximo antes da próxima explosão.
Atirou o gancho mais uma vez, mas o gelo não estava suportando o peso de ambos, cortou o rosto com o gancho que retornou para a arma depois de romper o gelo. Apertando o homem contra o próprio corpo e se usando de escudo esperou a explosão. Bateram contra o zeta-beam, rezou que o homem estivesse bem, tomou seu pulso rapidamente, estável. Mal enxergando a sua frente (aquela claridade súbita, raios e explosões nublaram a visão) entrou com o homem no tubo. Escutou o som, agora abafado, da máquina.
-Reconhecido. Nightwing. Acesso Prioritário-03 - se preparou para gritar a autorização do homem, mas a voz da máquina o interrompeu. - Reconhecido. Kid Flash. B-03 - e a porta de metal abriu, enquanto a rachadura explodia uma última vez e começava a se fechar.
A explosão os empurrou pelo tubo, apareceram no meio da Watchtower, o último local usado pela máquina, o tubo declarando a chegada deles para uma sala vazia. Nightwing estava ajoelhado paralisado, consciente o suficiente para manter o corpo em seus braços seguro do impacto da explosão.
-Wa-Wally? Wally? Wally - murmurou. Acariciando os, embora ainda estivesse com a visão turva, cabelos ruivos. - Wally - o apertou contra o corpo, tremendo, chorando. - SOCORRO! ALGUÉM! - começou a gritar de repente, ciente que o homem precisava de cuidados médicos. Ignorava entretanto a própria cegueira, surdez, ossos quebrados e falta de máscara. Ele não era prioridade. - SOCORRO! ALGUÉM!
Diana entrou voando acompanhada por Hal Jordan, eles paralisaram ao notar o ruivo nos braços de Nightwing. Wonder Woman voou direto para eles enquanto Green Lantern levou a mão para o comunicador.
-Batman, Flash, parem o que estiverem fazendo e venham para a Watchtower, agora.
Dick não ouvia as perguntas de Diana, mas quando ela tentou tirar o rapaz inconsciente de seus braços ele a atacou. Mantendo o homem contra o peito atirou o gancho na mulher, tentou se afastar, sua perna dobrando estranhamente sob seu corpo. Seu olhar era feroz.
-Richard, eu preciso levar vocês para a ala médica. Deixe-me carregar Wallace.
-NÃO! SE AFASTE! NÃO VAI TIRÁ-LO DE MIM! - ele visivelmente não escutava.
-Diana, deixe-me - Hal envolveu os rapazes com o anel. - Dick, eu vou levá-los, juntos até a ala médica, ok?
Nightwing ainda não ouvia. Quando percebeu que ninguém tentava tirar Wally de seus braços ele voltou a tremer e acariciar os cabelos do outro, murmurando seu nome. Flash passou pelo zeta-beam observando a cena que surgiu diante de si. Nightwing, sem máscara, segurando um homem em seus braços, um corte terrível na bochecha, Hal os envolvendo com o anel e Diana parada, levemente surpresa com algo. Então ele notou algo errado. Virou novamente para o homem adormecido nos braços de Dick e o reconheceu.
-WALLY! - num instante estava do lado da bolha verde. - Deixe-me pegá-lo, Hal.
-Nightwing está em surto. Se você tentar tirar o garoto dos braços dele vai ser atacado.
-É O MEU GAROTO, HAL! EU AGUENTO ALGUNS SOCOS!
-Mas Dick não - Batman surgiu atrás dele. Ninguém notou sua chegada. - Dick está num estado ainda pior que Wallace. Tanto físico quanto mental, possivelmente, se tentar tirar o rapaz sem o acalmar primeiro ele pode entrar em colapso. Jordan, leve-os para a ala médica - Flash seguiu obediente, visivelmente irritado.
Green Lantern depositou os rapazes na mesma cama. Batman se aproximou devagar.
-Dick - murmurou tirando o capuz. - Deixe que examinem o rapaz - o olhar do mais novo era vago, ainda murmurava o nome do ruivo e balançava o corpo pra frente e pra trás levemente. - Dick - chamou mais firme e o rapaz virou para o encarar, mas ainda não parecia ver nada a sua frente. - Deixe que examinem o rapaz. Você também precisa de cuidados.
-Não o tire de mim, pai. Eu não quero perdê-lo de novo - chorou baixo, a voz cortando o coração de Bruce.
-Ninguém vai tirá-lo de você. Só vamos cuidar de vocês - tocou o rosto do filho com carinho.
-Não... Não o tir... - e o mundo escureceu.
-/-/-/-/-
Abriu os olhos confuso, tentando lembrar onde estava e o que acontecera. Aos poucos um pensamento se formou. "Wally, onde está o meu Wally?". Olhou ao redor, estava numa cama com cortinas fechadas, mal registrando o ambiente, só percebendo que estava sozinho.
-W-W-Wally? - murmurou baixo, lágrimas se assomando. - Walls? - sua voz saía rouca e baixa.
"Foi um sonho, seu idiota, ninguém volta do mundo dos mortos" sentou abruptamente, olhos arregalados, seu corpo todo dolorido. "Seu Wally West continua morto" e gritou. Com todos seus pulmões. Não demorou até começar a vomitar e a tremer. Havia sido um sonho muito cruel.
Bruce estava do seu lado. Mal notou o homem abrindo o cortinado e o abraçando.
-Acalme-se, Dick. Respire – ele puxou longas golfadas de ar, vomitou mais, mas essencialmente conseguiu se acalmar, ao menos o vômito cessou.
Ele controlou o próprio estômago e os gritos, porém o choro e o tremor ainda estavam presentes. Balbuciava coisas em romani enquanto chorava, coisas como "eu achei que ele tinha voltado". Ficou sem ar durante alguns momentos, mas no futuro se orgulharia de ter controlado o máximo desse ataque.
-Concentre-se em respirar. Inspire - fez movimentos circulares nas costas do filho. - Expire - apertou o rapaz contra o peito, repetindo as ordens suave.
Barry observou a interação entre eles impressionado, ele sabia que Bruce amava seus rapazes e era um bom pai, mas ver era diferente. O rapaz chorava de maneira angustiante, ele tremia e se agarrava ao homem, às vezes ameaçava retomar a vomitar. Passou um longo tempo até ele conseguir normalizar a respiração, mesmo com Bruce repetindo as ordens.
-Eu estou imundo, Bruce - tentou de afastar, a voz possuía um tom de profunda tristeza, mas havia se tornado firme.
Bruce segurou o rosto do rapaz e olhou fundo nos olhos dele procurando saber se ele finalmente se controlara. Parecendo satisfeito permitiu que o mais novo se ajeitasse na cama. Tirou a camisa dele e pegou uma outra numa cadeira vizinha, o vestiu devagar, lembrando de quando ele chegara à mansão, pequeno e em choque. Fechou as mãos no rosto do rapaz o olhando com adoração.
-Lembre de respirar - disse. - Barry, por favor.
Não foi preciso explicar o que ele queria, ergueu a mão até a cortina e abriu. Wally estava sentado na cama, o torso imobilizado e uma máscara de oxigênio, mas ele estava acordado. Os olhos vermelhos, o choro de Dick cortara o coração de todos na ala médica, Batman garantira que quando seu protegido acordasse houvesse a menor quantidade possível de pessoas presentes, ele sabia que o rapaz teria um ataque ao acordar sem o ruivo por perto. Tim garantira que Bart não ficaria por perto, o jovem fizera um escândalo para ficar com o primo e o amigo, e ele se empenhara em permitir apenas o Flash, que não sairia do lado do sobrinho por nada no universo.
Dick arregalou os olhos e a respiração começou a falhar, levantou aos tropeços, uma perna aparentemente quebrada, no entanto ele nem reparou, ajoelhou ao lado da cama do amigo, tremendo e lutando pra respirar. Ergueu a mão para tocá-lo, mas parou, temendo não ser real. West tirou a máscara de oxigênio e tocou o rosto do amigo.
-Hey - murmurou. Dick tremeu violentamente e chorou, pegando aquela mão e chorando alto.
-Wally! Walls!
-Sim, sou eu - puxou o outro pra cima, estava mais forte que Richard, sua regeneração acelerada pelo metabolismo de velocista. O colocou ao seu lado e o abraçou. - Eu estou aqui. Eu sabia que você viria - Grayson o abraçou e chorou.
Wally repôs a máscara e aninhou o outro homem em seus braços, o melhor que ele conseguia com o torso imobilizado.
-/-/-/-/-
Acordou com o local onde dormia se mexendo e vozes. Arregalou os olhos e viu Wally conversando com Artemis. Wally. Ele parecia tão entretido em sua conversa que não notou que Dick acordara, ele estava deitado ao seu lado, aninhado no travesseiro, fechou os olhos tentando aspirar o cheiro do outro.
-Deixe pra lá. Eu prefiro ele do meu lado - tocou o cabelo do outro inconsciente.
-O único ano que eu decidi não ir você escolhe voltar, Baywatch? - ele riu suave.
-Arty, não me faz rir, babe. Dói e vai acordar Dick.
-Awn, Wall-man é tão fofo preocupado com o amiguinho - fez-se silêncio e o coração de Dick afundou.
Sentou e notou que os amigos estavam se beijando, embora seu movimento os interrompeu. Ele gaguejou algo como banheiro e correu dali. Chegou no banheiro, se apoiou na pia e forçou o grito de frustração para dentro de si. Estava ainda sem muito controle e tudo que conseguiu foi não gritar, mas o enjoo retornou com toda força e o choro. Estava de estômago vazio, ficou com medo de começar a vomitar sangue, percebeu que havia feito de novo, estava com tanto pânico que se afastara da situação.
-Dick? Dick! - Wally entrou no banheiro, correu para seu lado e o segurou. - Calma, eu estou aqui, eu não vou a lugar nenhum - passou um braço ao redor dele. Richard continuava a vomitar, com dificuldade pois não havia mais o que sair. Wallace abriu a torneira e lavou a sujeira, molhou as mãos e limpou o rosto do amigo. - Olhe pra mim. Shhhh. Eu estou aqui. Olhe - limpou as lágrimas.
-Me deixe - murmurou rouco. - Artemis. Vá ficar com ela. Eu sou só amigo... ela...
-Você já viu como você reagiu a minha volta? - sorriu carinhoso. - Cara, se você não fosse um 'mano' eu me apaixonaria - ele tentou gracejar, o efeito foi contrário.
A respiração de Richard se prendeu na garganta, o choro que ele engoliu voltou com força, mas fora silencioso, ele paralisou no lugar e fixou o olhar no ruivo enquanto as lágrimas caíam. Seu olhar possuía uma desesperança tão grande que parecia que haviam arrancado seu coração do peito. E Wallace West entendeu.
-Eu… me desculpe… eu não sabia… eu não quis… - Dick começou a tremer com tanta força que Wally ficou com medo que ele atravessasse o chão. Segurou seus ombros. - OLHE PRA MIM! - gritou assustado. - Eu não vou pra lugar nenhum, olhe pra mim. Eu não quis dizer que não... argh! Não entre em desespero, eu também estou com problemas aqui! OLHE PRA MIM! DROGA! - vibrou pra fora do colete que o imobilizava parcialmente e correu uma mão pelo cabelo. - Podemos sair do banheiro? Sua perna está quebrada, eu estou sem aguentar o cheiro. Não se desculpe - o cortou assim que abriu a boca. - Eu mando Arty sair, nós conversamos, só nós - o menor assentiu.
Wallace arrastou o moreno para fora. Olhou confuso para a loira, ele não sabia o que fazer com a situação que tinha em mãos. Por um lado estava lisonjeado, para dizer o mínimo, por outro estava assustado. Mas uma coisa ele sabia, os sentimentos de Dick não eram correspondidos. Não fazia ideia de como explicaria isso para ele sem que tivesse outro colapso. Suspirando ele depositou o rapaz na cama e olhou para Artemis.
-Arty, você se importaria de nos deixar a sós um pouco?
-Seu colete? - ela perguntou.
-Ficar na speedforce aumentou meus poderes de alguma maneira, eu já estou praticamente curado. Vou ficar bem – ela olhou longamente para Dick.
-Vai mesmo? - ele assentiu, ela deu de ombros e saiu.
-Não era pra você descobrir – Dick disse saltando em pé, sua perna quebrada precisaria de toda uma nova avaliação e possivelmente um milagre, mas aquela dor era bem-vinda, uma vez que estava ajudando a manter o foco longe da dor no peito.
-Sente, antes que essa perna passe do ponto da cura – ralhou sentando o amigo na cama de novo. - Pode ser que não fosse para eu descobri, mas agora é tarde. Desde quando?
-Sempre, eu acho – olhou para qualquer lugar. Isso irritava Wallace, que fechou as mãos no rosto do outro e o virou para si.
-Você entra em colapso por não me achar do seu lado, mas olha pra qualquer lugar menos pra mim? Meio contraditório. Sempre quanto?
-Eu devia ter onze ou doze, foi antes da coisa toda da Liga – suspirou, percebeu que estava entrando no modo treinamento quando sentiu Wally apertar seu nariz.
-Eu não estou falando com o Robin-barra-Nightwing. Dick, olhe pra mim. Nos meus olhos, para de só ficar virado na minha direção. Você sabe o quanto isso me irrita.
-Não é fácil, você sabe como eu estou me sentindo? Eu te perdi mais vezes nesses últimos dez anos do que eu te tive toda a nossa vida. E eu vou ser rejeitado! - ele começou a chorar. - Não negue, está nos malditos olhos que você fica insistindo para eu olhar! EU TE AMO, SEU DESGRAÇADO! - e escondeu o rosto nas mãos chorando copiosamente. - Me deixe sozinho.
-Não – Wally disse calmamente e sentou ao seu lado. - Você vai ter outro ataque. Engraçado como eu faço a coisa toda de voltar dos mortos e você quem precisa ser consolado – passou o braço em torno do ombro dele. - Tio Barry me disse que passou cinco anos, eu nem sei quanto foi pra mim, algo em torno do dia vinte eu perdi a conta – suspirou. - Eu não sentia fome. Céus, eu só queria um Chicken Whizees. Nem anoitecia ou nada. Eu não dormia. Eu contava o tempo na cabeça, segundo por segundo, minutos e horas – apoiou a cabeça no ombro do amigo. - Inventei um monte de teorias, pensei em diversos métodos para tentar voltar para casa. Tudo que se passava em minha cabeça era poder dormir, comer e conversar com meu melhor amigo. Então fale comigo, ok – pediu.
-Droga, isso realmente não deveria ser sobre mim, como eu pude esquecer?
-Porque você é um moleque rico mimado, e eu adoro isso em você. Isso e o fato que mesmo comigo parado cinco anos no tempo você não cresce mais que a altura do meu queixo – recebeu um soco no ombro e gargalhou. - Baixinho!
-Ainda consigo te derrubar e nocautear se ficar falando demais, Kid Idiota – resmungou.
-Então, vamos falar de coisas mais importantes que speedforce e sentimentos confusos, algum filme ou série que eu perdi? Me diz que eles fizeram o filme da saga do Enishi naquele Rurouni Kenshin, mano eu queria muito ver isso!
Dick demorou algum tempo tentando decifrar o que acabara de ouvir, depois lembrou vagamente de um filme de ação japonês que havia vindo de um quadrinho que ele lera tanto quanto todos os outros que o amigo recomendava (ou seja, nada). Eles conversaram sobre bobagens quase todo o dia. Bruce viera e ficara impressionado com a velocidade que o filho melhorara. A primeira vez havia levado três dias só para o ataque acabar, e levara meses para ver um sorriso em seu rosto. Porém o corredor conseguira o feito de em menos de um dia o deixar gargalhando, destroçando a língua inglesa como fazia quando criança.
-/-/-/-/-
Dick acordou novamente sozinho. Contou até três, repetiu mentalmente que tudo era real. Que Wally voltara, só devia ter saído um instante. "Ele usa a speedforce, um instante é mesmo um instante!". Contou até dez. "Ele nunca voltou, nunca riu com você de novo, nunca o abraçou de novo. Ele se foi, para sempre". Gritou a plenos pulmões, apertando a cabeça com força e tremendo.
-Banheiro! Tinha só ido ao banheiro – sentiu o rosto ser erguido e encarou orbes verdes. Dick conseguiu se acalmar e viu que as camas da ala médica estavam juntas, a melhor solução que tinham chegado para os ataques de Dick. - Mais calmo? - perguntou suavemente.
-S-Sim. Desculpa – murmurou envergonhado.
-E agora você é o mais velho, mas continua o mais adorável – apertou as bochechas do outro, sentando ao seu lado.
-Você quem tem o olhar de cachorro pidão – retrucou normalizando a respiração.
-Quer conversar? Eu ia perguntar se queria correr pela Watchtower pregando peças nos heróis, mas você está acamado até essa perna melhorar, então...
-Eu... não sei – olhou para o amigo. - Sentimentos confusos, lembra?
-Eu ainda tenho uma lista enorme de prioridades, tipo, jogos. Qual o mais novo fps? Vale a pena? Ou Pokémon?
-O quê sobre Pokémon?
-Eu não deveria precisar explicar o uso de Pokémon numa conversa, Dick – respondeu seriamente. Eles gargalharam. - Artemis estava vendo alguém. Ou está. Ela ainda não decidiu.
-Eu sei – murmurou olhando para os lados.
-Sabe?
-Sim, ela não estava no Ártico por esse motivo. Mas sair com alguém não é necessariamente um impedimento, é? Quero dizer, eu estou saindo com alguém também.
-Quem? - Wally tentou soar o mais indiferente possível. Mas desde que percebera que Dick estava apaixonado ele criara aquela ilusão de que era como um deus na vida do outro homem. Idolatrado, único e verdadeiro. Por algum motivo a ideia de que Richard poderia namorar soava mais alheia ao seu ouvido do que a de Artemis.
-Isso importa? - Wally assentiu. - Eu não lembro o nome dela, eu estava num bar, ela também, fomos para um motel e trocamos os números de celulares, ela ligou umas duas vezes. Nunca me incomodei em decorar seu nome, não é como se eu fosse ligar pra ela – deu de ombros. - Não é como se eu realmente namorasse firme com ninguém, no fim das contas. Eu só amo você. A única que me fez considerar foi Babs, mas ela mesma sabe que no fim eu não vou ser um bom partido até me resolver com o que sinto por você.
-Babs? Tipo em Barbara Gordon? Tipo em Batgirl?
-Tipo em Oráculo – suspirou. - Muita coisa aconteceu.
-Muita coisa?
-Joker.
-Oh – o silêncio reinou. - Eu sei que vai soar idiota, mas eu preciso perguntar. Você tem certeza que é amor? Não pode estar confundindo?
-Acho que em, sei lá, treze anos eu tive tempo suficiente para entender que não é só uma confusão – sorriu dolorido, agradecendo que o quarto estivesse escuro o suficiente para Wally não perceber suas lágrimas.
-Eu disse que era idiota, só queria ter certeza, geez – passou a mão nos cabelos. - Mas você, tipo, se sente atraído por caras? Você nunca ficou antes com nenhum.
-Eu nunca fiz escândalo sobre isso, mas eu já saí com alguns caras. Kon-El, por exemplo.
-Tipo em...
-Conner Kent, sim. Pare com esses 'tipo em'. Você sabe exatamente de quem eu estou falando.
-Mas ele...
-Foi antes de Megan, ele estava confuso sobre como se sentia e eu não vou mentir que eu também. Era a primeira vez que um cara que não fosse velocista, ruivo, guloso e idiota me atraía. Foi estranho e não foi além de um beijo no vestuário.
-Velocista, ruivo, lindo e gostoso você quis dizer – corrigiu empurrando o outro de leve.
-O que te fizer se sentir melhor, Wall-man.
-Lindo e gostoso, então – Dick gargalhou. - Ok, você é bissexual.
-Não se preocupe, eu sei que você não é.
-Eu não sou – confirmou. - Mas eu mentiria se falasse que a ideia de ficar com você não me atrai, não de uma maneira sexual, mas tem seu apelo. Eu acabei de passar o pior momento da minha vida, e olha que eu tive uns bem ruins. Mas só olhar pro seu rosto e pronto. Eu sinto que consigo rir de novo. Eu achei que quando pudesse dormir só sonharia com o pesadelo que foi aquele tempo na speedforce, onde o momento mais emocionante foi contar os segundos e fechar o dia 1. Parece coisa pouca, sabe, ser apenas entediante. Mas depois de tanto tempo sem nem conseguir marcar o tempo passado. Eu achei que ia enlouquecer, eu acho que comecei a enlouquecer. Mas quando eu adormeci com você nos meus braços eu sonhei com a primeira patrulha que fizemos juntos – passou um braço em torno do ombro do outro e o apertou. - Eu te amo, mas é algo platônico.
-Eu não me importaria – Dick soluçou, mostrando agora que estava chorando. - Se eu puder ficar ao seu lado, eu não me importo.
-Eu ainda amo Artemis.
-Eu não me importo.
-Eu a desejo – explicou.
-Eu não me importo.
-Eu sou ciumento, eu não aceitaria que você ficasse com mais ninguém, mesmo eu não podendo te dar algo que você quer e ficando com outras pessoas.
-Eu não me importo – jogou o corpo contra o ruivo, o apertando e chorando. - Eu não me importo, eu não me importo. Desde que você esteja ao meu lado, eu não me importo com mais nada.
-Dick, isso é algo sério.
-EU SEI – gritou o empurrando levemente para olhar em seus olhos. -Eu sei – repetiu mais docemente. - Eu sou seu Wallace West. Desde muito antes de você perceber, eu vivo minha vida para você. Eu me darei completamente para você, para que me tome como bem entender – tocou os lábios dele com um dedo, impedindo que ele o interrompesse. - Eu só peço uma coisa em troca. Eu quero uma vez. Eu não quero retornar a ideia de morrer sem nunca ter sido seu, de apenas sonhar como seria. Eu quero saber qual é o seu gosto, seu toque, seu calor, tudo – colou os peitos, os lábios roçando uma orelha do outro. - Me tome apenas uma vez e eu serei seu por toda eternidade – murmurou.
Wally olhava arregalado para a parede a sua frente. Como tudo mudara tão rápido, eles estavam rindo sobre Pokémon, houve um pouco de conversa triste e então Richard Grayson estava sobre seu colo sussurrando de maneira sensual em seus ouvidos. E o pior era que estava funcionando. Aquela conversa sobre tomar, gosto, toque e calor, tudo que estava implícito e explícito o fizeram lembrar que ele passara cinco anos sozinho. Não era sua cabeça de cima que estava pensando. Não era justo com Dick. Nenhum pouco. Não.
Mas seu corpo ignorou os protestos de sua mente, empurrando o rapaz apenas o suficiente para tomar sua boca com sofreguidão. Sentiu mãos se fecharem num abraço firme o puxando para mais perto, pedindo por mais. Fechou os olhos e tocou o outro, o empurrando levemente para deitar na cama. Queria ir devagar, mas seu corpo implorava que fosse rápido. Havia uma urgência no ar.
-Eu não sei o que fazer – admitiu contra o pescoço do outro. Era bom morder e sugar aquele ponto, especialmente quando arrancava sons deliciados. Antes que percebesse estava com as costas na cama, Dick sobre ele.
-Deixa que eu resolvo então – ouviu a voz rouca. Estremeceu. Se desesperou por um milissegundo, algo muito longo para um velocista. Mas a promessa de alívio, fosse como fosse, era mais tentadora.
Puxou o outro para continuar o beijando. Usou as próprias mãos para tocar onde conseguia, mas as roupas ficavam teimosamente no caminho. Arrancou a camisa rapidamente e lutou contra a calça do outro. Retirá-la envolvia o homem levantar, e ele estava ocupado demais em se roçar deliciosamente sobre seu corpo para juntar coragem de o parar para arrancar o pedaço de pano. Por fim Wally decidiu por afastá-lo minimamente e usar sua supervelocidade para deixar ambos nus. O próprio Dick mal percebeu o que aconteceu até estar pelado.
-Elas... no caminho... – tentou explicar, mordendo o lábio em frustração. - Ah, que se dane – e o puxou de volta para um beijo.
Quando ambos se tocaram, pele contra pele, Dick sentiu-se desfazer. Algo no fundo da sua mente o tentava convencer que era tudo ilusão, que deveria parar e retornar a sanidade. Mas ele não pararia por nada no mundo. Se fosse qualquer artifício de vilões ou alucinação ele iria até o fim. Isso era tudo que ele desejava no mundo. Levou sua mão para entre as nádegas, tentando se preparar o mais rápido possível, antes que Walls pudesse mudar de ideia. A outra mão levou até suas ereções, já gotejantes de excitação, e as acariciou juntas. Tremia de prazer, sentiu lágrimas se formarem atrás dos olhos, mas engoliu o choro e deixou um gemido escapar.
Por outro lado, ruivo estava perplexo. Estava sendo tocado por um homem. A ereção de um homem estava sendo esfregada contra a sua, ele se movia sobre seu corpo. Um homem. Por que raios ainda estava tão bom? Por que se sentia as portas de um orgasmo? Agarrou o traseiro do outro, quando percebeu que ele usava os próprios dedos para se penetrar.
-Dick – chamou rouco, entre um ofegar particularmente ruidoso. - Chega. Pare de me provocar – era difícil juntar coerência.
O moreno tirou os dedos de si e empurrou do outro para deitar, ergueu o corpo e sentou sobre o membro do outro. Fora demorado e doloroso, as lágrimas escaparam com a dor. Wally sentou de imediato, xingando no próprio prazer, apertando o corpo diante de si. Ele não achara que Dick ia... Oh céus, ele achou que ele seria... Oh, aquilo era bom!
-Mais – pediu.
Prontamente foi atendido, o outro se moveu vagarosamente, primeiro quase nada, depois um pouco mais longe, por fim engajaram um ritmo acelerado. Wally começou a vibrar instintivamente, o que deixou o moreno em seus braços totalmente incoerente. Ele gritava em romani e a única coisa que conseguia distinguir era seu nome repetido várias vezes. Seus olhos estavam revirados, ele inteiro perdido no prazer do ato. Wally absorveu aquela visão, a coisa mais sensual que vira na vida, Richard Grayson em êxtase, rebolando sobre si. O puxou contra seu corpo, suas mãos se enterrando em sua coxa, acelerando ainda mais o ritmo. Atingiu um ponto que o fez arquear as costas enquanto atingia o clímax, quase tocando a cabeça no colchão. Maldita flexibilidade. Ele gozou seguindo o menor, entretanto ainda estava rígido.
-Desculpe – murmurou, fechando as mãos no quadril do outro e o movendo devagar. - Mas tem tanto tempo que eu acho que vou precisar de mais uma vez para abaixar de novo – beijou aonde alcançava movendo o homem sobre si.
-Você me dá um bônus e pede desculpa? - ele gargalhou, retomando o controle dos movimentos.
-/-
Por fim foram precisas quatro vezes para Wallace se satisfazer. Eles ainda fizeram uma quinta, pois na última Dick ficara por chegar. Eles adormeceram trêmulos e exaustos, sem se incomodar em vestir as roupas ou limpar a bela bagunça que deixaram nos lençóis. O máximo de juízo que juntaram fora pegar alguma comida num armário que tinha na ala médica para Wally. Um ganido baixo e som de cortinas sendo puxadas acordou os rapazes, que entraram logo em alerta.
-NÃO! EU VEJO ELES PRIMEIRO, DEPOIS VOCÊS VEM! - Bart gritava da porta. - Vô, por favor! Por favorzinho!
-Não seja irrazoável, Bart. Nós temos que verificá-los. Todo mundo tem querido ver os rapazes. Não é só você quem está preocupado. Agora se mova e nos deixe passar.
-NÃO! Jaime, me ajuda – Os rapazes dentro das cortinas tiveram a decência de corar.
Wally os vestiu o mais rápido que pôde, mas para limpar os lençóis ele teria que trocá-los ou no mínimo sair das cortinas para qualquer coisa. Não importa o quão rápido ele fosse, Flash o veria. Olhou assombrado para o companheiro que parecia estar na mesma linha de raciocínio.
-Você tinha que fazer cinco vezes? - murmurou irritado para o moreno, aproveitando que Bart e Jaime tentavam convencer o pessoal a deixá-los ir primeiro.
-Como se eu quem fosse o culpado. Eu pedi uma vez – lembrou.
-O que a gente faz? - perguntou desesperado.
-Eu quem sei? Eu esqueci que não estávamos, necessariamente, num lugar privado – corou.
-Deixe os rapazes irem primeiro, Barry. Melhor acordar Dick com a menor quantidade de pessoas possível – Batman se fez ouvir, e todos assentiram.
-Oh céus, ele sabe – Dick caiu na cama. - Eu posso morrer agora. Me enterre, Wally. Espere! Esses passos. Ah não! - enfiou as mãos na cara.
Depois de alguns segundos as cortinas se abriram e um Bart furioso olhava para eles, enquanto Blue Beetle parava atrás dele com um sorriso sem graça.
-VOCÊS TEM IDEIA DO QUÃO PERTO ESTIVERAM DE MORRER?
-Eu tenho – Dick disse por entre as mãos. - Eu ouvi... Damian.
-EXATO! SE EU NÃO TIVESSE CORRIDO ELE TERIA ENTRADO PRIMEIRO! VOCÊ ACHA QUE ELE TEM IDADE PARA VER AQUILO? CÉUS, EU NÃO TENHO!
-Cariño, vê? Uma vez sua vontade de aparecer serviu para um bem maior – Jaime gracejou retraindo a armadura.
-AGORA NÃO É HORA DE BRINCAR!
-Desculpa? - Wally falou. - Mas o que é um Damian?
-O novo Robin – todos responderam. - Filho do Bruce – Dick acrescentou ainda com as mãos sobre o rosto. - E meu pupilo e irmão mais novo. E o Bruce vai me matar por ele quase nos pegar... bem... nus numa cama cheia de... Ah, você captou a mensagem.
Wally empalideceu. Levantou o companheiro e trocou os lençóis o deixando cair de novo com a cara escondida, mas suas orelhas estavam vermelhas. Notou a interação entre os outros dois rapazes, o jovem adulto Jaime murmurava coisas entre risos para um furioso Bart que tentava não sorrir para algumas. Eles estavam segurando as mãos e em alguns momentos o latino esfregava o nariz, ou os lábios, contra a bochecha do adolescente. Ergueu uma sobrancelha diante daquilo.
-A sorte de vocês é que desde a piada da pimenta o vovô não está com o nariz muito bom, e o moleque ainda é novo demais pra entender o que esse cheiro significa, seus animais. Mas boa sorte em explicar pro Jason e pro Tim – Dick resmungou tentando se enterrar na cama.
-Jason? Tipo em Robin número 2? - isso funcionou para tirar as mãos do rosto de Dick que lhe lançou um olhar irritado.
-Oh, esse você não sabia mesmo. Ele tá vivo de novo. Mas por que meus irmãos vieram? Quero dizer, foi o Wally quem voltou.
-É, mas eles se lembram de como você ficou quando Wally desapareceu – Bart sentou ao seu lado. - Ok, o Tim lembra, o Damian ficou curioso e o Jason queria encontrar outro morto-vivo, ou o que o valha. Eu ia perguntar como você está lidando, mas considerando como eu os encontrei acho que deixa pra lá – Jaime sentou em uma cadeira diante deles.
-Só tomem cuidado de não repetirem, ese? – uma sombra cruzou o olhar de Dick.
-Não vamos – respondeu, um bolo se formando em sua garganta e lágrimas ameaçando sair.
O ruivo viu Jaime olhar para as costas enquanto murmurava inaudível, e lançar um olhar piedoso para Dick.
-Agora que mi amor resolveu tudo aqui eu vou chamar o resto do pessoal, ese? - levantou e recolocou a armadura.
-Pra que a armadura? - Wally perguntou.
-Tente namorar o neto do Flash e você vai entender – e saiu.
-/-/-/-/-
*Anosmia é a perda total do olfato. Durante toda a fanfic eu tomei o cuidado de garantir que ele não está sentindo cheiro de nada, foi um bloqueio que ele mesmo colocou (tipo aquelas cegueiras psicológicas). Ele pode até 'tentar aspirar o cheiro', mas nunca vai ser algo conclusivo. Sei que parece bobagem, mas o olfato é o melhor ativador de memórias, então bloquear ele para evitar lembrar de coisas ruins me parece bem óbvio. Lembrando também que sem olfato você não sente gosto, no máximo sabe que é doce, amargo, salgado e azedo.
Nota da Autora: Está completa no pc, só falta publicar. Há uma continuação também e eu encerrei com este universo. Eu tentei revisar o máximo possível, então ignorem os pequenos errinhos, se eu me contradisse em algum momento, avisem que eu arrumo (com relação a datas, idades etc).
