Professorinha

Professorinha

Cruzando apressada a rua, uma jovem mulher de cabelos chocolate tentava se defender da torrencial chuva com uma sombrinha velha. Finalmente chegou à calçada, e parou debaixo de um pequeno toldo onde mais três pessoas se abrigavam. Eles a observaram sacudir a sombrinha por instantes e depois guardá-la num pequeno compartimento externo da bolsa, que parecia fazer parte de sua roupa. A chuva logo estiou e as pessoas saíram tropeçando, quase correndo, cada qual seguindo seu rumo, antes que gotas mais grossas se precipitassem do céu. A moça mirou-se na vitrine escura, viu o que não estava refletido lá: um coração partido e olhos vermelhos e cansados. Então ajeitou a blusa sobre o jeans e seguiu caminho.

Em frente ao Ristorante Valentina havia um terraço com algumas mesinhas, onde clientes se sentavam ao final das tardes para saborearem uma cervejinha gelada e a especialidade da casa: sucos naturais. Naquela tarde, porém, um grande grupo de amigos e colegas de trabalho abarrotava uma das mesas, conversando alto e cumprimentando os transeuntes, conhecidos em sua maioria.

– Lá vem a professorinha de quem falei, Tony.

– Aonde, Tio Jay? - quis saber com urgência. E todos se viraram para a esquerda, para o fim da calçada, onde estava caminhando lentamente uma mulher de cabelos chocolate, olhando as vitrines de relance, não parecendo nada interessada no que outras mulheres morreriam para ter. Ela passou pela mesa e John Jay a cumprimentou retirando o boné de época. A moça sorriu, piscou suavemente e lhe disse um "Boa-Tarde" com a mesma suavidade, porém não parou ou olhou para qualquer outro homem que estava sentado àquela mesa.

– Tio Jay! - exclamou Tony. - O que foi isso?

– Ora, fui eu quem acompanhou a professorinha até a escola no primeiro dia dela! - respondeu o velhote num tom safado. Todos gargalharam e cumprimentaram John Jay. Tony ria com eles, mas acompanhou a professorinha com os olhos, até ela desaparecer na esquina há duas quadras dali.

E quase todos os dias da semana naquele verão, o grupo passou os finais de tarde debaixo do terraço do Valentina, muitas das tardes somente esperando a professorinha passar para zoarem da cara do velho John Jay. E ela, como sempre, era gentil e sorridente.