Titulo: Incompleto

Autor: shade

Beta: Hamano Miharu

Sinopse: Um dia você acorda e percebe que está sozinho. Uma sensação até então nunca sentida. O que antes parecia perfeito, agora está incompleto. E o mundo parece ter parado de sorrir.

Spoilers: Livro 7

Aviso: Personagens usados nessa fic não me pertencem, mas sim a J.K.


Capitulo 1 - Vazio

Não havia nenhuma luz ao seu redor. O escuro o encobria da forma que desejava. Seria tão bom se o mundo fosse eternamente silencioso. Seria tão mais fácil se não tivesse luz outra vez para iluminar as pessoas. Seria tão mais feliz se não tivesse mais que encarar sua própria imagem.

Estava sentado ali há horas, talvez dias, pensou. O tempo realmente parecia não importar. Essa era a verdade, seus momentos mais tranqüilos eram quando estava afastado do mundo. Apenas sua presença era sentida, apenas sua existência ainda parecia válida, contudo, sem o seu rosto. Isso era o que mais lhe doía, o que causava maior angústia.

Ficava parado, apenas encarando o nada, sem ouvir, nem enxergar um palmo a sua frente. Sentindo sua própria respiração, que variava de intensidade a cada pensamento, a cada lembrança revivida em sua mente.

O escuro e o silêncio serviam para acalmá-lo, mas também pareciam puni-lo. A ausência de luz apagava temporariamente sua visão, porém deixava as imagens em sua cabeça mais fortes. Como se aquelas cenas estivessem sendo novamente vivenciadas, como se cada hora pudesse lhe transmitir a mesma emoção que no passado. Fossem elas de felicidade ou de dor.

Nesses momentos sua respiração acelerava. Seu peito subia e descia como se lhe faltasse ar. O suor ameaçava brotar em seu rosto, suas mãos tremiam levemente. Até a hora que não agüentasse mais ficar naquele mesmo cômodo, naquela mesma situação e o escuro começasse a incomodar mais do que tranqüilizar.

Sua cama produziu um leve rangido quando ele ameaçou se levantar. Um barulho que há tempos não ouvia. Deveria estar realmente há horas ali sentado. Não sabia bem, perdia essa noção de tempo. Decidiu então levantar em um solavanco. Tão rapidamente quanto conseguisse, para não se arrepender de ter rompido seu mais novo ritual diário.

Ainda mantendo seu quarto sem nenhuma iluminação, caminhou em direção à porta, lentamente dessa vez. Apesar do escuro, conhecia seu quarto, sabia o caminho e, mesmo com a grande quantidade de caixas e objetos espalhados, não esbarrou em nada até chegar à porta.

Segurou a maçaneta, porém não a girou, quis aproveitar mais um momento naquele local. Encostou sua testa na porta. Sentiu aquele odor de madeira antiga, já conhecia bem esse cheiro. Desde a sua infância essa porta fora colocada ali para substituir a outra, que havia sido acidentalmente destruída quando eles tinham 9 anos. - "Experiências mamãe, apenas experiências." – Lembrava de seu irmão tentando se justificar aos pais.

Naquela mesma noite seu pai decidiu colocar uma porta mais resistente, de uma madeira mais pesada e com proteções mais fortes. Agora agradecia, e muito, esse fato, ajudava a manter o silêncio junto com o feitiço.

Respirou fundo novamente antes de abrir a porta. Seus olhos embaçaram ao primeiro sinal da luz que vinha do corredor. Perdeu o foco enquanto a luminosidade invadia seu quarto. Um gritou o surpreendeu e indicou que havia alguém no corredor.

- Mãe, você me assustou. – Falou Jorge apertando os olhos para tentar enxergar Molly Weasley no corredor. Sua voz saiu fraca e rouca devido ao tempo que havia permanecido calado. Levantou a mão esquerda na altura da testa para diminuir a quantidade de luz que impedia sua visão.

- Eu te assustei? Você que me assustou aparecendo assim do nada no meio do corredor, sem fazer nenhum barulho. Até se você tivesse aparatado seria menos estranho. – A mulher falava rapidamente, estava ofegante. E quando finalmente o ruivo conseguiu abrir os olhos e visualizar a cena, sua mãe estava abaixada recolhendo algumas peças de roupa, provavelmente devem ter caído ou sido jogadas para o alto durante o susto do repentino encontro.

- Desculpa – Ele se limitou a dizer.

- Tudo bem, você não fez por mal, eu já sei. Agora, o café da manhã já foi servido, eu até acho que a Gina já deve ter recolhido tudo, mas ainda dá para tentar comer alguma coisa antes do almoço. Pegue alguma fruta ou qualquer coisa que engane sua fome. Por que você não desceu? Novamente dormindo até mais tarde? Você sempre foi de acordar cedo. – A Sra. Weasley continuava falando cada vez mais rápido, e continuava recolhendo as roupas do chão.

Então o garoto percebeu, assim que sua mãe terminara de recolher tudo e já se dirigia para a escada, que ela evitou olhar para ele o tempo todo. Ela poderia simplesmente ter recolhido as roupas com a varinha, mas preferiu abaixar e fazer o trabalho manualmente, e assim que terminou apenas colocou a grande cesta em frente ao rosto e saiu.

O ruivo ficou ainda um tempo parado naquele pequeno espaço, pensando no que fazer. Esse breve encontro o desnorteou um pouco. Respirou novamente, tentou mudar sua expressão e rumou para o banheiro, sua mente ainda estava na cena anterior.

Entrou no pequeno cômodo, apoiou suas duas mãos na pia mantendo a cabeça abaixada. Todos os dias o mesmo problema, a mesma aflição de se olhar no espelho durante a manhã. Ficava ali algum tempo parado, admirando a pia enquanto reunia forças para erguer os olhos.

Seus movimentos se mantinham lentos, ele sabia em sua mente que com o tempo iria se acostumar. Tinha certeza que não seria mais tão difícil quanto parecia nesses últimos dias, que a dor iria diminuir, contudo, que ela nunca iria acabar de vez. – Esses dias estão demorando tempo demais a passar. – Lamentou em um suspiro.

Quando finalmente se olhou no espelho, viu seu reflexo, estava pálido, tinha olheiras, e viu o rastro de uma já seca lágrima em seu olho direito. Devia ter aparecido durante alguma de suas lembranças, não sabia exatamente qual. Se era uma lágrima de saudade ou de dor.

- Então deve ter sido por isso. – Falou baixinho, tentando entender porque sua mãe tinha evitado olhá-lo. Não querendo desanimá-lo fingiu não ter visto nada. Afinal perguntas ultimamente o estavam deixando pior. Apesar de saber que também havia outros motivos que circulavam entre as pessoas próximas.

Adorava sua mãe, ela sempre sabia o que fazer de melhor para cada filho, entendia exatamente como cada um se sentia. E apesar de toda emotividade que sempre a rondava, ela sabia se controlar quando não era conveniente usar seu lado maternal. Amava-a ainda mais depois dessa constatação.

Prosseguiu encarando o espelho, lavou o rosto e cuidou de sua higiene matinal. Terminado o serviço, observou novamente sua imagem antes de sair do banheiro. Seus olhos ainda pareciam sem brilho, sem expressão, até ele podia enxergar isso, mas não sabia como fazer para mudar. Suspirou e seguiu em frente.

Quando chegou à cozinha Gina estava de costas e ainda terminava de recolher a bagunça do café da manhã. A menina vestia roupas confortáveis e velhas para ajudar sua mãe com os serviços da casa. Porém, ele sabia que tão logo terminasse suas tarefas, a ruiva iria se arrumar e procurar alguma coisa para fazer.

A mesa já estava praticamente limpa. O café da manhã parecia ter sido apressado como sempre foi, onde cada um rapidamente seguia para seus compromissos. A vida parecia estar novamente voltando ao ritmo normal para a família Weasley, no mínimo para a maioria deles.

Ficou um tempo parado ao pé da escada observando sua irmã. Ela havia crescido muito, mais do que ele queria de admitir. Estava diferente, não tinha mais aquele aspecto de menina frágil, apesar de conservar aquela aparência de pessoa doce que sempre teve. E que já a ajudou muito a amolecer seus irmãos. Nesse caso, não tanto quanto ela gostaria.

- Você não desceu de novo para o café da manhã. – Falou a garota sem se virar. Sua voz era delicada, mas ainda assim o assustou e o tirou de seus pensamentos.

- Parece que sim, eu ando dormindo muito esses dias. – Mentiu, ele pouco conseguia dormir, mas tentou parecer normal, porém sua voz teimava em sair fraca e desanimada.

- Talvez esteja estranhando dormir novamente no seu antigo quarto.

- É, pode ser. – Ponderou. Falava qualquer coisa para tentar manter algum diálogo, não queria demonstrar sua tristeza, não mais do que já aparentava.

- Ou estava com tanta saudade de dormir nele que não consegue mais sair da cama. – Brincou a ruiva.

- Bem mais provável. – Arriscou um sorriso, mas quando percebeu que falhou, agradeceu mentalmente que sua irmã ainda estava de costas e não o viu.

Entretanto, quando se deu conta que Gina também parecia evitar olhá-lo diretamente, que seria mais um dia como tantos outros, o garoto ficou cabisbaixo, seus ombros caíram sem ânimo, e ele queria sair daquela cozinha o mais rápido possível.

Não agüentava mais a sensação de rejeição. Onde todos evitavam encará-lo. Contudo, não podia culpá-los, já que ele mesmo demonstrava dificuldade em ver sua própria imagem. Sabia que a dor de sua família deveria ser igual à dele, e vê-lo ali todos os dias apenas aumentava as lembranças. E conseqüentemente trazia dor e saudade. Nessas horas se perguntava por que tinha aceitado voltar para casa. Apesar de ter certeza da resposta. Era uma pergunta inútil.

Já estava quase saindo da cozinha quando uma mão tocou suavemente seu ombro. Virou para trás e viu Gina o encarando com aqueles seus grandes olhos castanhos. A menina sorria docemente como só ela conseguia. E desse modo poderia cativar até o mais temível dos trasgos. Nesse ponto ele tinha certeza, o trasgo seria mais feliz se aceitasse o sorriso dela, já que provavelmente não sobreviveria à sua fúria. A famosa fúria das mulheres da família Weasley.

- Eu lembro uma vez Jorge. – Ela começou. – Quando eu era mais nova, nas suas primeiras férias, do ano em que vocês entraram em Hogwarts, e vocês me contaram como era legal assistir às partidas de quadribol da escola.

- Você ficava doida, gritava aos quatro ventos para nossos pais deixarem você ir para escola com a gente quando as férias acabassem. – Recordou o ruivo.

- E enquanto eu dizia isso, vocês falavam o dia inteiro que não demorariam a entrar para o time da Grifinória. Eu já podia imaginar vocês jogando, voando pelo campo.

- Derrubando os adversários. – Completou. Enquanto falava, recordou de como ele e o irmão concluíram que seria muito mais divertido ser batedor. Não sabia como, mas aquela conversa estava tomando um rumo que para ele era agradável.

- Sim, e naquele mesmo dia, durante a tarde eu peguei escondido uma das vassouras. Só que eu não tinha a mínima idéia de como fazer aquela coisa voar direito, mas não importava, eu queria ser boa como vocês. – Os olhos de Gina brilhavam enquanto ela contava a história.

- Claro que lembro. – Disse Jorge já rindo. – Você se estatelou no chão na primeira curva. Não conseguia controlar a vassoura.

- Detalhes, apenas detalhes. – Disse ela de olhos fechados, balançando negativamente a cabeça. - Então vocês apareceram. Primeiro me chamaram de louca. – A caçula fingiu insatisfação ao mencionar essa frase, levantando um braço como se fosse um absurdo. – E quando viram que eu ia começar a chorar, vocês me levantaram e me mandaram sorrir. Então o Fred falou que chorar pode até fazer bem...

- Mas que rir com certeza é melhor. – Completou o garoto.

- Exato. Pensei que depois daquela queda, vocês iam me desencorajar a voar. Que nada, vocês prometeram foi me ensinar como fazer. Só que apenas voar, jogar quadribol nem pensar.

- Achávamos que seria muito violento para você. – Explicou-se.

- Mas isso não foi problema no futuro. – A garota sorriu.

- Admito que nunca pensamos que você seria tão boa. – Afirmou o ruivo.

- E depois de me prometerem uma aula. Lembro-me bem, apenas uma e básica, vocês falaram que eu tinha que comer melhor, para ficar mais forte e mais resistente em cima da vassoura. É, não esqueci não, me chamaram de fraca.

- Ora Gina, primeiro, pareceu que você aprendeu a jogar bem melhor sozinha Então não há problema nisso.

A ruiva apenas concordou balançando a cabeça. Não escondia o riso satisfeito.

- E claro que tínhamos que falar que você era fraca, você sempre foi de comer pouco. – Defendeu-se.

- Comer pouco? Claro, tendo vocês como irmãos mais velhos, que só lembram de você na hora de exagerar nos cuidados, mas esquecem da sua existência quando o almoço é servido. Realmente era difícil competir pela comida que sumia numa velocidade incrível. – Ralhou a menina ainda sorrindo. Ela parecia satisfeita por estar conseguindo deixar Jorge momentaneamente mais animado.

- Isso tem sua parcela de verdade. – Ele admitia, não totalmente. Afinal, ainda tinha orgulho.

- E como eu precisava comer mais. – Continuou ela – Você tirou uma maçã do bolso e disse que era para eu comê-la. Na época eu era inocente e aceitava tudo que vocês ofereciam. Alguns anos depois vocês não teriam a mesma sorte.

- Mas não tinha nada de errado com aquela maçã. – Ele protestou.

- Sim, naquela época vocês não usavam com tanta freqüência eu e o Ron como cobaias.

- Mas é obvio. – Afirmou. – Mamãe era brava quando mexiam com seus pequeninos filhos. Até porque se um de vocês chorasse em casa. – Ele fez questão de reforçar a palavra casa. - E a gente estivesse em Hogwarts, era carta certa para perguntar o que tínhamos aprontado com vocês.

- É a mamãe exagerava um pouco às vezes.

- Só um pouco não é? – Ele cruzou os braços.

- Mas me deixa continuar. Então vocês para me convencerem a comer, começaram com o discurso em prol da maçã. Eu lembro bem, cada um alternando um argumento – Nesse instante ela tentou imitar a voz dos gêmeos. – A Maçã é a fruta mais Weasley que pode existir. Veja bem, é linda, é toda de um vermelho vibrante. Ela faz bem e alegra nossas vidas. É bem popular. Todos gostam dela. Ela é bem gostosa...

- Sim, mas o Fred também falou que essa última afirmação você poderia esquecer. – Ele interrompeu Gina. – E é bom continuar não lembrando. – Fez questão de reforçar a idéia.

- Pois bem, tem coisas que nunca mudam mesmo. – Ela lamentou tentando parecer ofendida, falhou, adorava todos os irmãos de qualquer jeito, cada qual com seus defeitos.

O ruivo apenas sorriu em concordância. E quando se deu conta, viu que a menina estava com uma mão estendida em sua direção e lhe oferecia uma maçã. Com um sorriso ainda maior no rosto.

- Coma a maçã e sorria. – Ordenou ela. – Lembre-se, essa é a fruta mais Weasley de todas. Acho que com algumas você consegue segurar a fome agora até o almoço.

- Toda essa história para me oferecer maçãs? – Perguntou ele sorrindo e incrédulo.

- Não, a maçã eu ia te dar mesmo. – Respondeu ela. – Apesar de que eu sei que você está comendo menos do que o normal. Digamos que a história foi um presente a mais. Porém, já que você não gostou...

- Eu não disse isso. – Ele a interrompeu antes dela terminar sua frase.

- Então, pegue algumas. – Ela voltou a oferecer a que estava em sua mão e apontou um cesto em cima da mesa com as outras.

- Algumas? – Ele riu. – Uma já é o bastante, muito obrigado. – Agradeceu e pegou a maçã da mão dela. Dissera a verdade quando afirmou que apenas uma seria o suficiente. Estava sem fome esses dias, mal conseguia comer direito, e no fundo sabia que só aceitou por causa de sua irmã.

E também pelo fato de ter ficado mais animado com essa última conversa. Apesar dele já estar relembrando o passado sempre que se encontrava sozinho, ouvir bons momentos que outras pessoas tiveram com ele e Fred sempre melhorava seu humor.

Melhor ainda quando ela o encarou e sorriu abertamente, coisa que a maioria das pessoas evitava ultimamente. Sim, isso lhe rendeu algum certo entusiasmo. Não tão duradouro.

Antes de sair da cozinha, acariciou o cabelo de Gina e esboçou um pequeno sorriso para a ruiva. Queria lhe mostrar que ela teve êxito em seu objetivo. Virou-se lentamente, e passando pela porta encontrou o jardim de sua casa.

Cada pedaço de chão que olhava lhe remetia algum período passado que teve com Fred. Desde bons momentos, comemorações de vitórias, descobertas de novos truques para a loja, ou até mesmo as brigas e discussões que tinha com seu irmão. Por mais que não fossem tão freqüentes, eram sempre marcantes, e incrivelmente, de curta duração, em algumas horas já estavam se falando de novo, e rindo da própria briga.

Um tipo de cumplicidade que pouco se via entre irmãos, mesmo entre gêmeos como era o caso. Um completava o outro. Palavras não precisavam ser ditas para um saber o que o outro sentia.

Muitas vezes, na maioria delas, seus planos eram traçados apenas com o olhar, e os que mais sofriam eram os professores e os alunos mais novos, Sonserinos de preferência. Como Fred costumava dizer "Alvos perfeitos", contudo Jorge sempre tinha que lembra-lo que eles não mereciam ser chamados de perfeitos, nem mesmo nessa situação.

Quando olhou para o lado, se deu conta que ainda estava parado em frente à porta, provavelmente atrapalhando a passagem. Agradeceu mentalmente o fato de ninguém tê-lo pego ali pensativo daquela maneira. Afinal uma coisa ele sabia, apesar de muitas vezes as lembranças com seu irmão serem boas, sua expressão não era das melhores. Nela ele demonstrava toda sua frustração da perda, toda falta que o outro fazia. E como sua alegria e vontade de viver haviam se extingüido temporariamente.

Decidiu dar mais alguns passos à frente. Quando achou suficiente virou-se para analisar sua casa. Adorava a Toca, com certeza era um dos melhores lugares para se viver, em sua opinião. Apesar da simplicidade e da visível falta de organização.

– Mas quem se importa com organização? Casa tem que ser aconchegante, não importa o tamanho, o modelo, se você não gostar de estar nela, não pode chamá-la de sua. – Refletiu ele num sussurro audível apenas para si, apesar de não ter ninguém por perto para ouvi-lo. – Mas ainda assim, parece faltar alguma coisa. – Sentenciou, e ele sabia o que era.

O garoto suspirou quando avistou sua mãe ao fundo da casa, fazendo algo que ele realmente não identificou. Ela estava passando perto do armário de vassouras, e quando reparou nele, recordou da conversa com Gina. Até essa sensação de oscilação em sua mente o estava cansando. Ora infeliz, ora dava leves sorrisos por conta de pequenas coisas, mas que logo o levavam para o mesmo estado de tristeza.

Avistou um pequeno gnomo que corria pelas costas da Sra. Weasley, que parecia alheia àquela pequena criatura. Tateou em seu bolso a procura de sua varinha para tentar azarar aquele ser, quando se deu conta que havia esquecido em algum lugar. Provavelmente na cômoda em seu quarto. Outro fato que parecia ter entrado em sua rotina de vida, esquecer a varinha no quarto. Conseqüências de ficar horas sentado e sair de um quarto completamente escuro.

Voltou a encarar a Toca. Viu as cortinas fechadas no segundo andar. Fazia muito tempo que não as abria mesmo. Óbvio que o quarto iria estar carente de iluminação.

Observou o resto da casa. No momento ela vivia mais vazia, sem aquele habitual movimento dos anos anteriores. Era tranqüilo durante todo dia, apenas sua mãe e Gina permaneciam, e mesmo assim, logo as férias acabariam e a caçula dos Weasley voltaria a Hogwarts.

Caminhou pelo jardim por mais alguns instantes, dando voltas pela frente da casa. Quando decidiu andar até algumas árvores que ficavam ali perto. O Sol estava queimando no céu.

Procurou uma sombra e sentou-se embaixo de uma árvore, apoiando as costas e a cabeça no tronco. Fechou os olhos, tentou não pensar em nada, apenas sentir a brisa que cruzava o espaço que ele se encontrava. Contudo, fechar os olhos, ficar sozinho, não o ajudava a esvaziar a cabeça. E novamente ele já se pegava apoiado no passado e ficava imaginando como teria sido o presente, se tudo tivesse acontecido de outra maneira.

Sentiu algo em seu joelho. Não era pesado, ao contrário, era extremamente leve. Quando abriu os olhos para ver o que o despertara, encontrou um pequeno pássaro, menor que a palma da sua mão. Tinha penas vermelhas, com detalhes em branco. Não sabia qual espécie era. Nunca tinha se importado muito com esse tipo de coisa mesmo, porém tinha certeza de que nunca havia visto nenhum pássaro com essas características por aquela região.

Não se moveu para não assusta-lo, ia tentar pegar o pequeno animal, quando o mesmo levantou vôo e seguiu em direção a árvore oposta da qual Jorge estava sentado.

Observou que no tronco havia algumas marcações diferentes. Então a reconheceu de imediato. Levantou-se e foi rapidamente em direção à árvore, ajoelhando em frente a pequenas marcas feitas no tronco. Eram iniciais dele e de todos os seus irmãos. Feitos com suas varinhas, cada qual no primeiro ano que entraram na escola.

Passou a mão em cada lasca de árvore que continha uma marca Weasley. Encontrou um "PW" e lembrou-se de quando ele e Fred viram Percy colocar sua inicial no tronco. Queriam colocar as deles também, estavam ansiosos, não queriam esperar mais um ano. Entretanto o irmão com aquela postura naturalmente mandona e autoritária que sempre teve, não permitia que eles se aproximassem.

Quando tentaram forçar passagem, o garoto ruivo começou a chamar por seus irmãos mais velhos para ajudá-lo. Então Gui apareceu para apartar a pequena confusão. Ambos começaram a xingar Percy e dizer que também tinham o direito de colocar seus nomes ali.

O ruivo mais velho, como sempre foi mais paciente, apenas colocou suas mãos nos ombros dos gêmeos e explicou que eles realmente tinham direito sim, mas que aquela era uma tradição que ele e Carlinhos criaram quando entraram em Hogwarts, e que seria muito mais legal se eles também esperassem a vez deles.

Com uma explicação que para ambos foi convincente, os deixando sem argumentos, eles acataram a decisão, mas não sem antes xingar Percy de mais alguns nomes não muito educados.

Observando ainda o tronco, encontrou as iniciais de seus dois irmãos mais velhos, Gui e Carlinhos. Não demorou muito avistou a sua e de Fred, uma ao lado da outra. Diferentes das outras que seguiam ordem e locais aleatórios.

O dia em que finalmente marcaram aquele tronco foi um dos dias mais felizes da vida deles, quase tão bom quanto o dia em que receberam suas cartas. Na verdade, para o ruivo, aquele dia apenas confirmava e atestava a veracidade daquela carta. Como se o nome naquele tronco fosse um documento de grande importância para comprovar sua entrada e de seu irmão em Hogwarts.

Chamaram todos na casa para assistirem aquele momento, Fred insistiu até mesmo para o chato do Percy ir ver. Então os sete irmãos estavam reunidos em volta da árvore quando com movimentos de suas varinhas os "FW" e "JW" apareceram no tronco.

Não continham sua felicidade, pulavam, gritavam e apontavam para as próprias iniciais. Quando Rony e Gina tentaram imitá-los, e foi a vez deles explicarem para os irmãos, porque deveriam esperar o momento certo.

Rodou em volta do tronco até achar todos os nomes, e parou quando finalmente avistou o último. O "GW" de Gina, acompanhado de um coraçãozinho ao lado. Ela havia explicado no dia que era para diferenciar do Gui, já que eram os únicos com as mesmas iniciais.

Voltou depois para ver novamente a sua e do seu irmão, quando percebeu que algumas lágrimas silenciosas brotavam de seus olhos. Enxugou com as costas das mãos. Apoiou a testa no tronco, e quando respirou mais profundamente, sentiu um cheiro familiar.

- Nossa, tem o mesmo cheiro da porta do meu quarto. – Percebeu espantado.

Acomodou-se na mesma posição que estava na outra árvore, com as costas no tronco, e as pernas dobradas na altura do tórax, ainda debaixo da sombra. Porém nessa posição não via mais sua casa, apenas o portão de entrada e a estrada que se seguia até um pequeno morro.

Quando olhou mais atentamente ao céu percebeu a aproximação de uma coruja. Estava ainda longe da sua visão para tentar reconhecê-la, mas podia perceber que era de um tom marrom claro, e seguia na direção da sua casa.

O ruivo observava atentamente, afinal qualquer coisa que o desviasse de seus pensamentos o ajudava. Ficou tentando adivinhar se era carta para alguém de sua família, ou quem teria enviado a coruja. Afinal, agora que estava se aproximando, ele sabia que ela não era estranha, apenas não se lembrava da onde a conhecia.

O animal reduzia a velocidade e abaixava a altitude enquanto se aproximava da casa. Estava a poucos metros do chão quando passou pela árvore em que Jorge estava sentado. Agora ele tinha plena certeza que era endereçada para alguém na Toca. Quando em um movimento ágil e estranho, antes de chegar à casa, a coruja virou para a esquerda, fez a volta e seguiu na direção onde estava ele estava sentado.

Devido à velocidade da coruja e à forma brusca como ela mudou de direção, o garoto achava que provavelmente ela não conseguiria parar a tempo e acabaria batendo nele. Para sua surpresa, estava errado.

- Animal bem treinado. – Afirmou.

A coruja não era muito grande, e pouco antes de chegar até ele, ela parou e levemente pousou no chão, com tanta classe que causou certo estranhamento.

- E meio esnobe. – Concluiu, arqueando uma sobrancelha.

Enquanto pegava o pergaminho, percebeu que o animal permanecia imóvel, esperando alguma manifestação. Segurou o pergaminho e antes de abri-lo olhou novamente a coruja. Depois de tanto pensar finalmente a reconheceu. Tão logo, já podia imaginar quem havia lhe escrito.

Tirou a maçã que Gina havia lhe dado do bolso, cortou um pequeno pedaço, e ofereceu a coruja, que deu algumas bicadas e partiu.

Ficou analisando o pergaminho antes de abri-lo. Não sabia o que esperar do conteúdo. Ou não queria imaginar o que poderia estar escrito. Não parecia ser grande e nem ter muita informação. Mordeu a maçã e ficou encarando o pergaminho ainda fechado, do mesmo jeito que havia sido entregue.

Já havia terminado de comer sua maçã havia algum certo tempo, mas ainda não tinha aberto o pergaminho, que se manteve diante de seus olhos durante todo o tempo. Parecia temer algo, apesar de saber que não tinha motivos para tal. Quando se decidiu, ouviu uma voz o chamando.

- Jorge, seu pai e seus irmãos já devem estar chegando, você não quer me ajudar aqui? – Sua mãe gritava enquanto entrava na casa.

Não respondeu, apenas suspirou, levantou-se e enfiando o pergaminho de qualquer jeito no bolso, seguiu para dentro da Toca para ajudar. Iria ler mais tarde, em um local com ainda mais privacidade.

Continua...


Nota do Autor: Ah primeiramente, eu decidi utilizar os nomes dos personagens traduzidos. Por isso o GW da Gina é igual do Gui e não do Jorge (que seria George no original). Segundo, quero agradecer a minha beta, que foi excelente e é a primeira vez que ela revisa uma fic minha. (Acho que não tivemos muitos problemas não é?)

Aliás, por que não utilizei minha beta oficial (Sinistra Negra)? Motivo óbvio. Eu sei que ela adora fic dos Gêmeos. Então como eu poderia pedir pra ela betar algo assim? Sem chances.

E a Hamano Miharu, como já disse antes fez um trabalho excelente. Serei eternamente grato, mas ainda não tanto, porque faltam capítulos dessa fic a serem criados e betados. Basicamente a única coisa que eu queria falar da fic por enquanto. Agradeço a qualquer pessoa que leia a fic. Deixando ou não mensagens. Mas recebendo eu ficaria ainda mais feliz.

Nota da Beta: Pois bem, tô aqui betando essa fic, mas ainda não sei o que esperar delas... Se forem iguais às outras do shade, então não preciso nem me preocupar quanto à qualidade ()v

Divirtam-se! E Reviews!